Diário de um Anjo Negro

Restos de penas e restos de luta


P.O.V. CAROLYN

Tateio as paredes em busca de algum buraco que o ar possa entrar ou que eu consiga sair, mas nada. Não há saída alguma. Está tudo escuro e abafado, escuto minha respiração ficando cada vez mais rápida novamente, os estrondos ainda são audíveis e consigo sentir as vibrações. Lágrimas ameaçam descer por meu rosto, mas não as deixo cair. Coloco minha cabeça entre meus joelhos e tapo os ouvidos. “Preciso pensar... Em alguma coisa. Preciso sair daqui.”

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Não posso usar a chave enquanto Lúcifer estiver aqui. Ele não pode sentir nenhum resquício dela. Não posso gritar por ajuda porque atrairia as bestas. Não posso quebrar a parede ou empurrar porque sou humana e fraca e além disso, poderia fazer mais pedras caírem. Encosto-me de volta a parede, bufando. Dessa vez eu deixo minhas lágrimas caírem. Percebo que estou gastando todo o oxigênio, então uma ideia louca vem até mim. “Vou dormir, assim gasto menos oxigênio. Quando acordar, espero que a batalha tenha acabado... E chamo por ajuda.” Num ato de desespero, sussurro:

_ Andy, meu amor... Nick... Jinxx... Ash... Gabee... Dani... Jake… Socorro… Me ajudem… - e nesse embalo, eu vou fechando os olhos e acabo adormecendo.

...

Era um dia lindo. Eu estava na praia, deitada na areia, de frente pro mar. Observava o litoral e claro, minha pequena Audrey. Só tem 5 aninhos e já ama o mar. Ela corre de um lado ao outro tentando pegar o Jinxx que está com seu chapéu rosa preferido.

_ Vem pegar! Você não é de nada!! HAHA! – e ela dá gargalhadas e tenta pegá-lo novamente, mas ele dá um olé nela e ela ri de novo.

_ Papai, papai! Me ajuda! – diz ela dando gargalhadas enquanto Jinxx a pega no colo e sai girando-a.

_ Jinxx! É melhor que solte-a ou vai se ver comigo! – Andy diz, também rindo.

_ Estou morrendo de medo do seu pai Audrey, tanto que estou tremendo! – ele solta ela e começa a correr e ela vai logo atrás, abrindo as asinhas.

_ Amor... Ela vai se machucar assim... Vai ajuda-la... – eu digo, rindo. Andy rola na toalha, encostando-se a mim e me beija.

_ Vai nada... E se machucar faz bem para o crescimento...

_ Ah, então quer dizer que você caiu muitas vezes? – digo e ele ri alto e depois me beija. De repente, nossa pequenina pula em cima de nós.

_ Vocês não me ajudaram! Tive que bater no Jinxx! – ela senta nos encarando com aqueles olhinhos verdes. Seu cabelo igual ao do Andy está todo bagunçado. Suas pequenas asas estão totalmente à mostra, esticadas. Eu rio do beicinho que ela faz.

_ É isso ai bebê! Não deixe esses tampinhas fazerem você de boba! HAHA! – Andy diz pegando-a e fazendo cosquinhas. Eu o ajudo e ela dá várias e várias gargalhadas.

_ Socorro! Socorro! Socorro Nick! Socorro tio Ash! – ela diz, mas todos riem mais.

...

Acordo me sentindo desconfortável. Vejo que estou deitada em cima do meu braço que está totalmente dormente. Olho ao meu redor, mas não vejo nada. Está totalmente escuro e frio. Lembro-me onde estou, numa bifurcação da caverna. “Foi só um sonho... Um lindo sonho...” Penso comigo. Fecho os olhos e aos poucos vou me sentando.

Começo a observar as coisas. Não escuto e nem sinto nada de estrondos. Parece que a batalha acabou. “Por que ninguém veio me buscar até agora?” Isso só pode ser um sinal ruim. Vejo que ainda tenho oxigênio, mas não como antes. Minha respiração está ficando difícil. Até que... Veio-me uma ideia.

A chave. Eu sei onde ela está e acho que posso usá-la. Mas se eu não fizer isso, morrerei e tudo será em vão. Levanto-me e passo a mão no meu pescoço, fecho os olhos e digo:

_ Cruz, chave do portal celeste, conjuro-te a aparecer. Obedeça á meu chamado, meu liberte dessa caverna, me leve para fora da montanha, me deixe no solo onde eu mais estarei segura. – uma luz branca e muito forte ilumina todo o lugar. Sinto um calor estranho, o vento sopra meu cabelo fortemente. Espera, calor? Vento?

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Aos poucos abro os olhos e me deparo de frente pra montanha. Agora, com várias crateras gigantes, algumas coisas pegando fogo, outras cheias de sangue e o pior. Pra todo lado havia penas, negras e brancas, com pontas laranja feito fogo, azuis do meu querido Andy, violeta, rosa-escuro, prateadas e em grande quantidade, muitas penas douradas e cinza-azulado. “Oh... Essas são de Dani e Jinxx...”

Comecei a imaginar o pior. Lágrimas começaram a escorrer por meu rosto cada vez mais rápidas e cheias. Comecei a andar pela trilha de penas que se seguia para o lado direito. Fui devagar, não conseguia me concentrar nos meus passos. “Não... Por favor, não... Não... Onde estão vocês?” Fui chamando um por um, pausadamente:

_ ANDYYY!!... NIIICKK!!... ASHLEYY!... GABEEE!... JIIINXX!!... DANIII!!!... JAKEEEE!!... – algo se mexeu do meu lado esquerdo, entre pedras. Parei e comecei a olhar tentando descobrir o que era.

_ Pensei que... Nunca ia dizer... Meu nome... – reconheço essa voz. É de Jake. As pedras caem e ele sai por elas. Estava soterrado. Assim que consegue sair e ficar de pé ele cai. Corro até ele.

_ Jake!

_ Tudo bem... Só me deu uma fraqueza nas pernas... Ou elas estão quebradas porque não consigo senti-las... Cara... Eu ia te buscar, mas não consegui mexer nem minhas asas...

_ Jake, o que aconteceu? O que mais está quebrado? Ia me buscar... Quando? Você sabe que dia é hoje? Eu fiquei presa numa bifurcação e tive que dormir pra não gastar muito oxigênio... Jake, fale!

_ Eu respondo se você deixar! – ele berra e eu me afasto. Ele me olha com os olhos arregalados. – Desculpe-me... Só estou cansado e quebrado e não sei bem mais o que... Talvez triste. – ele começa a chorar.

_ Não precisa se desculpar... Eu estou errada... – não posso cobrar mais nada dele, será ruim pra nós dois. – Bem, temos que achar um lugar pra você se recuperar. – eu o abraço e depois encosto meus dedos do colar.

_ O que vai fazer? Não é seguro usar esse troço!

_ É nossa salvação Jake.

_ Tá...

_ Leve-nos para a civilização. – a luz forte brilha novamente e num segundo depois, me vejo numa aldeia, onde africanos moram em cabanas. Ainda estou abraçada em Jake que olha ao redor um pouco confuso.

Várias crianças param de brincar e ficam nos olhando, assustadas, assim como todos os adultos. Não perco tempo e digo para uma senhora ao meu lado, em sua linguagem:

_ Por favor, nos ajude... Meu amigo está muito ferido... Estávamos em guerra... – não sabia se ela acreditaria. Mas logo ela berra alguma coisa e seu marido aparece. Ela diz alguma coisa pra ele e então, ele vem até nós e pega Jake pelo outro braço e com a cabeça, aponta pra cabana deles. Devagar, entramos carregando Jake. A senhora nos guia até uma cama, há poucos metros da porta. Só uma cortina separava ela dos outros pequenos cômodos.

Deitamos Jake e ele fecha os olhos, estava sentindo muitas dores, tenho certeza. Viro-me pra senhora e digo:

_ Obrigada... Minha senhora, eu sei que é estranho, mas ele só precisa de descanso e muita comida. Eu juro que vocês terão em dobro tudo que gastarem conosco. – ela assente e sai do “quarto”, fechando a cortina. Escuto-a mexendo em panelas. Vou até a cama e vejo que Jake já está dormindo. Sento-me ao lado da cama e faço carinho em seu rosto. Isso me conforta, já que estou tão confusa e sozinha. Encosto minha cabeça na cama e acabo dormindo.

...

_ Olha, se Andy nos visse agora, com certeza me mataria logo em seguida... – acordo com uma voz grossa falando bem perto do meu ouvido. Sinto um braço na minha cintura, me envolvendo. Alguém respirando no meu pescoço. Levanto um pouco a cabeça e vejo a senhora me olhando, sorrindo, sentada numa cadeira de frente pra cama. Então me lembro de que estava acompanhada de Jake.

_ Jake... Como vim parar aqui? Eu estava dormindo no chão e...

_ O senhor ali resolveu colocar você aqui, na cama. Não me leve a mal, mas você estava tremendo então eu te abracei e você voltou a dormir tranquilamente... Foi só isso.

_ Tudo bem... Já comeu?

_ Não, bem lembrado... Ela ai avisou que deixou comida na mesa. Vou lá. – ele se levanta.

_ Mas Jake, suas pernas já sararam? – digo me sentando.

_ Carol... Pelos meus cálculos, desde o dia da batalha com a estrelinha lá, já se passaram sete dias. – sete dias? O que? Como assim? – Por tanto estou completamente curado, mas ainda preciso de energia. Então vou lá comer e te explico tudo... Não precisa fazer essa cara de espanto. Calma.

_ T-tá... – ele passa de leve a mão na minha bochecha, acariciando e depois vai pra cozinha.

Sete dias se passaram e eu não sei de nada. Estou mais confusa do que antes. “Como dormi esse tempo todo? O que houve naquele dia?” Lágrimas ameaçam descer e eu logo me levanto, evitando-as. Vou até a janela e fico observando as crianças brincarem. Mesmo tão pobres, conseguem ser felizes de alguma forma. Estes são os humanos. Praticam sua própria tristeza e ao mesmo tempo sua própria felicidade.

_ Hum... Por onde começar? – Jake diz, sentando-se na cama. Ele estava comendo uma coxa de frango maior que sua mão. Sento-me ao lado dele.

_ Pelo começo Jake...

_ Bem, vou resumir algumas coisas, pra não ficar muito triste e chato... – ele enfia o último pedaço de carne na boca. – Lúcifer veio com sua melhor corja de demônios atrás de nós. No segundo que saímos ele nos atacou. Nos dividimos e Andy foi lutar contra a estrelinha. Sabe Carol, analisando bem agora, parece que Lúcifer não estava atrás de você e sim de Andy, pois em nenhum momento ele te procurou ou berrou seu nome, apenas foi no pescoço do Andy. – meu coração meio que para quando ele diz isso. – Continuando, Nick consegue se livrar dos demônios dela e vai ajudar Andy e logo em seguida, Ashley. No começo corre tudo bem, acho que você sentiu quando ele se chocou contra a montanha, não é mesmo?

_ Sim...

_ Pois é... Consigo me livrar também e vou ajuda-los. Só que ele dá um berro que desnorteia todo mundo, até seus demônios. Ai, Gabee liquida eles. Voltamos pro Lúci lá e damos de cara com ele enforcando Andy. Acho que ele deve ter usado algum tipo de poder que é como choques porque Andy gritava e se retorcia muito. Saia até fumaça de seu corpo e principalmente das asas. Dani que estava mais perto vai ajuda-lo e o maldito... – ele pausa e fecha os olhos e depois volta a abri-los. – Solta Andy que cai desmaiado numa espécie de portal, logo em seguida crava suas garras no coração de Dani e ela se vai. – começo a chorar e a querer berrar, mas Jake me abraça e tapa minha boca. – Shhh... Deixa eu continuar... Depois eu e você choramos. Voltando. Jinxx com raiva vai atrás dele, só que do nada, ele aparece atrás dele e puxa suas asas, arrancando-as. – por isso tinha tantas penas dele. Fico imaginado a dor e mais lágrimas caem. – Todos vamos de uma vez tentar acabar com o maldito, mas ele solta uma grande bomba de energia que nos queima e manda pra longe. Eu, como pode ver, bati na montanha e várias pedras caem em cima de mim. E lá eu fico... Por três dias, até que você aparece.

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_ Jake... Quer dizer então que talvez os outros estivessem lá também?

_ Não, não senti eles. Provavelmente, acharam abrigo em outro lugar. Mas Carol, temos prioridades agora, ainda que estamos sozinhos. Temos que achar a espada e acabar com isso logo. Estou com mal pressentimento... – lembrei-me do que ele disse sobre Andy e juntei as peças.

_ Jake... Você acha que Lúcifer só veio nos atacar pra pegar o Andy?

_ Sim, acho. Ele é o mais forte de nós e o único que você nunca machucaria. E além disso, um ótimo aliado.

_ Eu nunca machucaria qualquer um de vocês, ainda mais agora que sou humana. – tapo meu rosto, chorando ainda mais.

_ Carol, Andy é seu amado, prioridade pra ele... Olha, se Lúcifer pensa em fazer o que imaginamos, só você pode trazer Andy de volta.

_ Mas como? – digo isso perguntando mais a mim do que ele.

_ Isso você vai ter que descobrir. Antes de tudo, temos que ir. Caso Andy venha em busca de nós, os humanos estão em perigo. – concordo com a cabeça. Ele passa o polegar em voltas dos meus olhos e eu paro de chorar. – Você é muito linda pra ficar chorando assim.

_ Jake... Para. – retiro as mãos dele e me levanto.

_ O que? Não, não é isso. Só tô tentando te confortar... Ah, que se dane. Precisamos de um carro ou algo assim.

_ Por que? Suas asas não estão boas?

_ Chamaria muita atenção tanto dos humanos quanto de Lúcifer. E como sabe, segurança dos humanos em primeiro lugar. Quando chegarmos bem perto, eu uso minhas asas. Ah, e não use a chave de novo.

_ Certo. – encostei meus dedos na chave e mandei-a de volta pra dimensão. – Agora, vamos. Sabe quanto tempo temos até chegar no Egito?

_ Uns 30 ou 40 dias. Não sei...

_ É muito tempo!

_ Anjos não dormem querida. Talvez menos... Vou buscar uma caminhonete e você pega muita comida e se despede dos humanos.- ele se vai. Me viro pra senhora e falo o que preciso e num segundo ela me arruma uma mochila que vamos enchendo de comida.

Agradeço a ela e seu marido e abraço-os. Escuto alguém buzinando e vou até a porta. Vejo Jake numa caminhonete, de óculos escuros. Eu dou um risinho e vou até ele. Entro no carro, colocando a mochila no banco de trás.

_ Belos óculos.

_ Obrigado. Pronta?

_ Pronta. – então, lembro-me que a bolsinha com o diário de Andy está comigo, grudadinha no meu corpo. “Oh... Meu amado, o que foi que ele fez com você?” Olho para o horizonte, enquanto Jake acelera.

Forço-me a lembrar de todas as coisas boas que eu e Andy passamos para não chorar. E aos poucos, vou me animando, dando pequenos sorrisos.

...