Lia Hunter, Uma Filha de Hades

-Mato um Lestrigão-


Depois de sair daquela maldita caverna, fui até meu chalé e coloquei algumas coisas em minha mochila - roupas extras, um casaco e uma lanterna - , e os irmão Stoll me conseguiram ambrosia e garrafas d'água (por três dracmas cada, naturalmente).
Quíron me apresentou à Argo, o motorista do acampamento. Um cara alto, calado, e com olhos brotando do corpo inteiro. Achei que nada me surpreenderia depois de tudo oque aconteceu. Mas a visita à Argo... Argh, me arrepio só de pensar.
Argo me deu uma carona até a cidade e me deixou em uma esquina qualquer. Pensei na possibilidade de me encontrar com Nico, mas achei melhor me focar na missão.
Eram 19:00 quando comecei a procurar. Pessoas nas ruas me olhavam estranhas, e acabei pensando no Nico me ensinara: "Monstros se disfarçam de mortais legais para nos atrair e nos devorar, às vezes com propagandas de brinquedos ou qualquer loja por aí". Mas nenhuma daquelas pessoas me olhava amigavelmente. Me senti como na escola. O modo como todos me olhavam como se eu fosse uma aberração, como me tratavam diferente. Era horrível.

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Depois de um bom tempo procurando por pistas, não consegui nada de importante. Não sabia se era tarde demais e o ladrão já tivesse sumido pra qualquer lugar com um elmo que te deixa invisível. Nada pra ajudar a ver se estava perto de alguma coisa. Nenhum sinal.
Passando no Harlem Meer, no Central Park, me sentei num banco e tirei uma das garrafas d'água de dentro da mochila, só pra molhar a garganta e tentar pensar um pouco. Passei um tempo comendo um hambúguer que comprei ali perto, uma das coisas que não comíamos no acampamento.
De repente, ouvi algo num arbusto logo atrás de mim, minha mão foi ao encontro do meu bolso, onde estava meu canivete. O transformei em minha espada e girei para trás apontando para o arbusto. Levei um susto quando um guaxinim correu apavorado para uma árvore próxima e resolvi que estava nervosa demais, precisava descansar.
Já eram 21:00 quando cheguei em um hotel qualquer e me hospedei sem tentar chamar atenção. Subi para meu quarto depressa e dormi quase na mesma hora que pus a cabeça no travesseiro.

Em meu sonho, um garoto se sentava num tipo de saguão de bailes importantes, os móveis eram todos pretos e todos estavam ocupados, cheios de pessoas, esperando por algo, algumas pareciam perdidas e outras, apavoradas. Mas não eram humanas, senti aquilo, eram fantasmas.
O garoto que se destacava também era um fantasma, mas parecia bem mais tranquilo naquele lugar. Ele era alto e tinha cabelos rebeldes apontando para os lados, que pareciam ter sido negros durante a vida (pois fantasmas eram meio que transparentes e cinzas, então as cores que eu via neles eram bem opacas), parecia ter uns quatorze ou quinze anos, os olhos eram como os de uma estátua, sem íris ou pupila. Conversava com um guarda que estava sentado atrás do balcão de segurança do saguão.

–Você acha que ela virá logo? -perguntou ao guarda.

–Não se preocupe, novato. Aposto como ela consegue em menos de quatro dias.

–Tanto tempo assim? Vou ter que esperar aqui plantado por quatro dias? Só pode ser brincadeira.

–Escute aqui, seu... Ahn, como disse que era seu nome?

–É Serj, Caronte -ele revirou os olhos.

–Isso, Serj. Você é muito sortudo de ter conseguido oque conseguiu. Imagine só, conselheiro!

–Ora, eu sei disso. Sempre quis seguir os passos do meu pai, essa foi a oportunidade perfeita. Afinal, sou o mais devotado servo do lorde Hades à séculos! Desde 336 a.C.!

–Pra quem esperou todo esse tempo por uma chance de se provar, você está bem impaciente!

–Oque esperava? Conselheiro! Estou agitado!

Acordei na manhã seguinte me perguntando do que diabos aqueles dois estariam falando. Mas tentei me concentrar na missão.
Vesti as roupas do acampamento, peguei minha mochila e saí do meu quarto.
Depois de pagar a hospedagem, dei de cara com um homem na porta do hotel. Ele era, digamos... Assustador. Tinha mais ou menos dois metros de altura, era corpulento, ficou me encarando por uns segundos e finalmente falou:

–Com licença, mocinha. Se não se importa.

–Hã... Claro. Foi mal -ele me encarou mais uma vez e eu saí correndo. Me perguntando se aquilo talvez fosse paranóia minha ou algo do tipo.
Virei umas duas esquinas e parei num beco sem saída. Pra pegar um pouco de ar.

–Que droga... -falei pra mim mesma -Eu tô ficando louca... Era só um cara...

De repente, uma voz falou logo atrás de mim:

–Você corre rápido, meio-sangue.

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Eu gelei. Não conseguia me mexer. Era minha primeira missão, e eu estava sozinha.

Vou morrer, pensei. Vou morrer...

A voz riu e continuou:

–Criança insolente! Mal consegue me olhar cara a cara!

Fiquei com raiva. Não queria nenhum monstro idiota me zombando desse jeito, eu não ia fraquejar, não logo agora. Meu pai precisava de mim, eu tinha que continuar.
Finalmente olhei para trás. Era o cara com quem eu tinha me esbarrado no hotel.

–Me deixa.... E-em paz... -tentei parecer o mais corajosa possível. Com certeza não estava dando certo.

Ele voltou a rir e disse:

–Claro que vou deixá-la em paz. Logo depois de te esmagar sua cabeça.

Dizendo isso, ele começou a mudar de forma, foi crescendo cada vez mais, os músculos rasgando as roupas que vestia, sua pele foi mudando de cor, ficando levemente vermelha e segurava um enorme porrete na mão esquerda. Um lestrigão.
Tirei meu canivete do bolso e o transformei em minha espada e corri na direção do monstro. Investi contra sua perna, ele urrou e ele tentou me acertar com o porrete, mas me abaixei, e por pouco a arma não me atinge a cabeça, apenas senti um forte vento sacudindo meus cabelo por cima da cabeça. O porrete acertou uma parede logo do meu lado, que rachou e quebrou com o impacto.

–Acha que pode comigo, filhote de deus? -berrou ele, se abaixando para me pegar, eu subi em suas costas e nem acreditei no que tinha visto ali. Uma corrente gigante estava amarrada no pescoço do lestrigão e de pingente havia um grande elmo escuro, com penachos pretos em seu topo: o elmo das trevas.
Sem pensar duas vezes, enterrei minha espada na nuca do monstro e ele explodiu em cinzas. Caí em pé no chão, a corrente e o elmo aos meus pés.

–Missão cumprida -falei, ofegante, separando o elmo da corrente e jogando-a no chão. Vesti o elmo e pensei: Mundo Inferior -Submundo, aí vou eu.