— Está frio - Ela disse enquanto arrumava seu cabelo agitado pelo sopro do vento frio daquela noite.

— Sim, chegaremos a casa em breve - Ele respondeu simplesmente e novamente o silêncio se tornou presente entre eles.

Muitos não o compreendiam. De início nem ela tinha sido capaz de compreender aquele homem de poucas palavras.

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Carl parecia sempre tão contido, tão fechado, como uma rocha... Frio e distante. Sua aparência parecia refletir isso, cabelos loiros lisos sempre bem arrumados, o terno de ótimo corte sempre bem alinhado, os olhos azuis... Escuros, fechados como cofres, a pele pálida e branca.

Nadia era o completo oposto de seu marido, espontânea, animada, parecia estar sempre rindo. Tinha a pele morena, mulher trigueira, os cabelos em cachos revoltosos de um tom entre o castanho e o vermelho, os olhos como duas pérolas negras que pareciam reluzir com o brilho de seu sorriso.

Muitos não compreendiam, não entendiam... Por quê? O que ela cheia de vida, tinha visto nele, a frieza da morte? Opostos. Diferentes. Singulares.

Carl segurou a mão de sua esposa e rapidamente abriu a porta da casa em que moravam. Um gesto simples, mas o suficiente para agitar os batimentos da morena, mesmo que suas peles se afastassem do completo contato pelas luvas em suas mãos.

Quando a porta foi fechada, Nadia teve seu corpo encostado a parede, o frio da mesma transpassando por suas costas, o calor dos lábios de Carl sobre o seu.

Voraz, aflito, faminto... E ao mesmo tempo tão cuidadoso.

Abrindo um sorriso após que seu marido se afastou em busca de ar, Nadia encarou as esferas azuis de seus olhos e sabia que estava submersa.

Ela não contaria a ninguém.

Ela não explicaria a ninguém.

Mas ela sabia por que o tinha escolhido.

Porque quando aquelas portas se fechassem e ambos estivessem a sós, ela poderia mergulhar para dentro dos sentimentos de Carl. Um lago frio, congelado em sua superfície, mas quando ela chegasse ao fundo, suportando as dores que o frio causasse em sua pele, ela finalmente sentiria que o frio queimava, ardia.

E ela queria continuar a afundar.

Queimar.

Porque o gelo queimava e ela sabia disso.