Challenges of The Love

Ouvindo Escondida


P.O.V Elsa

Assim que Jack fecha a porta, encerrando definitiva e oficialmente nossa apresentação, volto-me para ele com um ódio mal controlado e mal escondido brilhando em meus olhos e queimando minhas bochechas.

– Você. Não. Tinha. O. Direito. – digo, pausadamente, tentando refrear minha fúria.

Ele somente me dirige um daqueles maravilhosos sorrisos que só ele sabe dar.

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– Nós poderíamos perder pontos por aquilo! – quase grito.

Ele continua com aquele sorriso idiota colorindo suas feições quando fala:

– Teria valido a pena. – ele murmura, se aproximando de mim. Eu me afasto, completamente irritada para ir beber água e torcer para que ela esfrie um pouco minha fúria.

Ouço-o dar uma risada gostosa antes que eu me afaste o suficiente para que sua voz seja abafada pelos ruídos dos espectadores. A dupla seguinte já começou sua apresentação e observo-os distraidamente enquanto pego minha garrafa e ponho-a na boca, para, só então, perceber que ela estava vazia, já que eu havia passado todos os instantes antes da apresentação tentando aplacar o nervosismo com goles e goles de água. “Grande dia”, penso, extremamente desanimada, “E que dia!”, enquanto me arrasto tal qual um zumbi, completamente esgotada, à procura de um bebedouro.

Eu odeio bebedouros. As pessoas sempre enfiam as suas bocas imundas, duras de germes naquelas “torneirinhas” deles, ninguém nunca tinha a educação de beber a água sem espalhar suas doenças e germes para todos os outros que viessem depois.

Acredito que peguei essa neura da minha mãe. E claro que eu jamais me importara em compartilhar dos germes de Jack, mas esse era um assunto que estava fora de questão no momento.

Eu “dispenso” alguns jatos de água antes de colocar minha garrafinha para encher acreditando, em vão, que assim haveriam menos germes.

Porém, com a água mais limpa, o ar e o solo não pareciam ter acompanhado o processo e uma bactéria imensa encosta no lado do bebedouro, me observando.

Vanessa.

– Olá, amiga chifruda! – ela diz, seu tom extremamente alegre, quase saltitante.

Eu a ignoro. Prometi à Anna e à Zel que o faria.

De qualquer jeito, com ou sem promessa, eu não estava com pique para suportá-la, fora um longo dia, e nem estávamos na metade da tarde ainda.

Primeiro a maluca obcecada da ex-melhor amiga da minha atual melhor amiga tentou sabotar meus patins e consequentemente minha apresentação com Jack, e provavelmente quebrando minhas pernas de bônus. Pelo menos aquela vadia psicopata da Sophia, Sophie, sei lá, foi suspensa do campeonato e de todos os outros tipos de competições de patinação pelos próximos, vamos ver, não sei... oito anos? E acabou sendo suspensa da escola por um mês também – o que mais me surpreendeu foi que a tutora dela parecia mais brava e chocada com ela por ter sido apanhada do que por ter me sabotado, de fato. Foi um bafafá danado, queriam adiar as apresentações para segunda... olhe... todos nós só nos apresentamos porque a Diretora Tooth e um diretor de uma das outras três escolas interviram com um pouco que seja de razão e lembraram a todos que seria bem pior se as apresentações fossem adiadas e blá blá blá.

Depois, no finzinho da minha apresentação, Jack inventou de me roubar um beijo e eu esperava loucamente que eles, os juízes, pensassem que sempre foi parte do plano e que não descontassem pontos pela falta de juízo de Jack.

E agora eu tinha que aquentar aquela vagaba invejosa me enchendo o saco. Sério, eu realmente merecia.

– A chifruda ficou muda, foi? – junto todas as minhas forças para ignorar aquela zinha.

– A vagabunda traída decidiu juntar o pouco que lhe resta de orgulho e dignidade agora, foi?

E eu explodo em uma resposta, já não conseguindo ignorar.

Acontece que foi uma resposta calma, algo como uma explosão de gelo. Se ela quer brigar, pelo menos eu posso decidir quais serão as condições da briga.

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– Sinto em lhe informar, minha querida, – digo, carregando de ironia o meu tom – mas não me ofende em nada ser chamada de vagabunda traída pela senhorita. Aliás, eu prefiro milhões de vezes ser chamada assim e saber que dei o meu melhor para alguém que não soube me valorizar e me perdeu, do que ser igual a você: – olho para ela de cima a baixo. Vanessa estava com roupas extremamente curta, um short desfiado que parecia ter sido enfiado até o seu útero e uma regata com um enorme decote que mal segurava seu busto – de baixo nível, barraqueira, fácil e com fama de puta. – Falo e vejo seu sorriso escandalizado, mas o ignoro, prosseguindo: – Puta por pegar homem comprometido e ser tão frustrada com a própria vida que não tem nem capacidade de conseguir um homem que te assuma como namorada. Porque homem gosta de garotas fáceis como você somente na hora dos beijos, dos abraços, dos agarrados, mas para andar de mãos dadas e apresentar aos amigos e para a família como deles, você nunca irá servir! Porque, meu amor, a fama de chifruda, corna, como preferir, passa, mas a fama de puta? Essa não, ela permanece. – pisco para ela, vendo que minha garrafa já estava cheia. – Pense nisso. – digo, antes de me virar e caminhar em direção ao vestiário, a adrenalina pulsando em meus ouvidos.

Beberico minha água, mais uma vez tentando me acalmar, mas não funciona muito bem. Suspiro frustrada e decido ir me trocar no vestiário. Quando passo pelo ringue de patinação, vejo rapidamente uma menina cair feio no chão, mas depois de uma rápida careta, um sorriso forçado – dá para se perceber que por trás há uma cara de dor –, volta ao seu rosto e ela continua sua apresentação.

Passo rapidamente pela porta do vestiário masculino, que fica bem ao lado do masculino, mas não rápido o suficiente para captar três palavras no ar.

– E a Merida?

Paro abruptamente no corredor e olho discretamente para dentro do vestiário para ver se vejo quem foi que falou, mas tem dois rapazes de costas bloqueando a visão. Sei que deveria continuar andando, que isso não é certo, espionar, quero dizer, mas era da minha amiga que estavam falando e eu tinha a obrigação, como amiga, de saber o que era e, dependendo do que fosse, contar para ela depois.

– Ah, cara, isso de novo não! – sei que é Hans quem está falando.

– Mas ué, não venha com essa de “isso de novo não”, foi você quem aceitou a aposta.

Ponho a mão na boca para abafar a exclamação de surpresa. “Que aposta?”, pergunto-me em pensamento afastando o pensamento de quanto aquilo tudo era clichê.

– Que aposta? – ouço alguém com uma voz que não conheço perguntar. Deve ser alguém de outra escola.

– Oh, Charles, você nem é da Olympic e já quer saber todas as tretas que rolam por lá? – não reconheço a voz, mas tenho certeza que já a ouvi.

– Deixa de ser implicante, Robinson. Bem, Charles, o nosso Hans aqui – imagino que quem fala deve estar pegando no ombro de Hans, apontando para ele, dando tapinhas nas costas dele, algo do tipo – fez uma aposta comigo e com o Frost de que pegava a Redhead. E ele ganhou. – ouço a pessoa dar uma gargalhada e por, um impulso movido pela raiva ao saber que Merida fora usada o tempo todo – bem que minha intuição disse que Hans não prestava –, apareço novamente na porta do vestiário, olhando para dentro dele, tentando ver quem era o desgraçado que falava.

Mas o que eu vejo faz meu queixo cair. Em uma queda livre de sei lá, vinte metros?

Os dois brutamontes/barreiras humanas tinham saído e quem estava quase na porta do vestiário era somente uma bunda branca, grande, redonda e despida de qualquer roupa. Pela cor da pele, já posso presumir de quem é. Do meu Jack. De Jack. E não posso deixar de observá-la com um olhar de o que? Cobiça? Certamente.

Mas quando o vejo fazer menção a se virar, enrolando a toalha na cintura, apesar da enorme vontade de ficar observando-o, aquele garoto que parecia tanto com uma estátua de mármore, quase sem nenhuma imperfeição, a menos a que me fez nunca mais querer olhá-lo na cara, eu me distancio, tentando não fazer barulho ou alarde, tentando não correr.

E só quando eu estou debaixo do chuveiro, despida, deixando a água levada massagear minha pele e rezando para que junto com a sujeira leve os dramas e as preocupações é que a ficha realmente cai:

Hans só ficou com Merida por causa de uma aposta.