Challenges of The Love

Não Quebre a Perna!


P.O.V Merida

Deixo minha mochila no último degrau da arquibancada e desço para sentar ao lado de Hans:

– Oi.

– Oi. Porque faltou ontem?

– Dormi demais. – sorrio. – Porque? Sentiu minha falta?

– Aham. Não tinha ninguém pra guardar meu lugar na fila da cantina.

– Também não vai ter ninguém hoje.

– É brincadeira, Ruivinha.

– "Ruivinha"? Nossa, faz muito tempo que você não me chama assim! – digo. Sei que Hans ia aproveitar o momento para me zoar, então eu o interrompo: – Não que eu esteja com saudade, é claro. Continuo ODIANDO esse apelido ridículo.

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– Eu gosto. Hehe. – Hans sorri diabolicamente, e eu fico sem entender o porquê.

– Mas, mudando de assunto... Naquele dia, depois que eu saí, o que sua mãe falou?

– Ah, praticamente nada. Ela só me perguntou o que era aquilo, aí eu disse que eu tinha acabado de tomar banho e estava tentando tomar um filme de você. – ele explica.

Olho para ele, balanço a cabeça e depois começo a rir:

– Que desculpa BOSTA!

– Era a verdade, ué. E ela só perguntou porque era o que uma mãe devia perguntar, porque ela nem liga muito para isso. Mas o ruim mesmo foi a situação no elevador.

– Sim, o elevador! A cara da velhinha foi ótima, tipo "eu saio de casa no sol quente, volto cheia de compras pra levar e ainda tenho que aguentar esses pivetes". Coitada. – imito uma voz de velhinha, fazendo o Hans rir. Pela primeira vez, eu acho, porque sempre é ao contrário.

– Eu estava esperando que ela me desse uma surra com o guarda-chuva dela. Mas coitado da gente também, sem sorte pra se pegar... – Hans começa e eu o interrompo:

– Não gosto dessa expressão "se pegar".

– Tá. Mas coitado da gente, sem sorte pra se pegar no quarto, sem sorte pra se pegar no elevador.

– Seu menino desavergonhado! – falo com a minha voz de velhinha. – Cadê o meu guarda-chuva? Vou dar uma surra em você!

– Sai, velha louca! – ele corre de mim.

Corro atrás dele e levanto a perna o máximo que consigo sem cair.

– Cuidado que eu sou faixa preta em karatê de idosos! – grito quando Hans segura minha perna e eu me desequilibro.

No exato momento em que eu caio assanhada no chão, Vanessa e suas lacaias passam por mim.

– Parecem duas crianças. – ela diz, balançando a cabeça.

– Devia experimentar ser "criança" algumas vezes, pra ver se essa cara de velha rabugenta some. – Hans fala.

Ele estende a mão e eu bato nela, dizendo um "WOOOOW" bem animado.

– Na verdade, a mão era pra te ajudar a levantar.

– Ah. Mas eu não preciso. – digo e me levanto sozinha.

Quando estou em pé, olho em volta procurando o banheiro, depois vou andando até ele.

– Vai fazer o quê? – Hans pergunta.

Sorrio ironicamente e aponto para o banheiro:

– Vou plantar chocolate.

– Traz um pra mim. – Hans responde, com o mesmo sorriso irônico.

Entro no banheiro que, felizmente, está vazio. Não gosto de banheiros com gente. Olho no espelho para ver se meu coque ainda está bom e noto que minha boca está seca, então tiro do bolso um batom hidratante sem cor. Passo no lábio superior e espalho com a boca.

– Merida passando batom? – diz uma voz que eu não reconheço imediatamente.

– É, porque a minha boca está seca e... – começo a explicar e, quando viro pra ver quem falou comigo, paro. – e você não tem nada a ver com isso.

– Credo! Como estamos com a língua afiada! – diz a falsa e fingida Sophie.

– Sempre tive. – respondo e volto a passar o meu batonzinho com cheiro de morango.

– É mesmo. E agora que nós estamos juntas de novo, vamos falar dos garotos! O que foi que aconteceu com o Hans? Porque, minha amiga, ele melhorou muito! Será que ele ainda lembra de mi...

– Cala a boca. "Minha amiga" nada, que você é, no máximo, uma conhecida. Melhor ainda, pode fingir que não me conhece e me ignorar, não quero falar com você.

– Credo de novo! Qual o seu problema, quem você pensa que é para falar comigo assim?

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– Ai, que saco. – reviro os olhos. – Você ficou maluca? Hans é meu namorado, sua oferecida!

– Meninos com mau gosto...

– São aqueles que gostam de você. – completei.

Nunca, nunca deixem uma brecha dessas para mim. Saio do banheiro e bato a porta com força. Entro no ginásio de braços cruzados, irritada.

– Merida? Você está bem? – Gustavo segura meu braço.

– Não! Só vou estar bem quando meter uma flecha no meio da testa daquela criatura! – grito e os alunos que estão por perto me encaram.

– Fala mais baixo, maluca. Qual criatura? Nessa escola tem tantas... – Gustavo ri.

– Sophie!

– Quem é essa?

– Minha ex-amiga. Ela teve coragem de me procurar pra falar de como o Hans é bonito, é isso e aquilo!

– E daí? E falando no "gostosão"... – Gustavo faz aspas no ar. – Olha ele aí.

– Que fofa você com ciúmes! Gostei, quero ver mais vezes! – Hans aperta as minhas bochechas e joga minha cabeça de um lado para o outro.

Dou um tapa no seu braço.

– Vai, faz isso de novo que meu pescoço ainda não quebrou!

Ele faz a mesma coisa de novo.

– Ai! – grito.

– Aprenda a lição, jovem Padawan: ironia ao sofrimento leva. – diz Hans e eu reviro os olhos.

– Padawan? Isso é de Star Wars, né? – Gustavo pergunta.

– É. Você gosta? – Hans responde, ligeiramente mais animado.

– Prefiro Star Trek... – Gustavo nem tinha terminado de falar e o sorriso de Hans some.

– Mas que bosta, hein? – ele diz.

Começo a rir:

– Agora eu sei a origem da briga entre vocês!

– Me ouçam! Eu ia dizer que gosto de Star Wars, mesmo preferindo Star Trek. – Gustavo explica.

– Ahhhh. Star Trek é legal também. Você viu aquele filme em que...

O tédio bate quando os dois começam a falar sobre planetas, histórias e personagens que eu não conheço. Deixo os dois conversando animadamente na arquibancada e vou procurar algo para fazer, já que fui excluída daquele grupinho. "Pelo menos não estão brigando", sorrio.

Minha ideia é ir para o refeitório do colégio, só para andar mesmo. Tenho um pouco de dificuldade para achá-lo, mas, pensando bem, foi melhor assim. Eu não queria andar? Quando eu encontro, sinto aquele cheiro de bolo misturado com fritura e percebo que estou com fome. Há apenas um pequeno problema: não trouxe dinheiro comigo. "Droga!", penso. "Tenho que voltar para o ginásio!"

No ginásio, Gustavo e Hans ainda estão conversando. Ouço um deles dizendo algo que parece com "conta logo, cara!", meio irritado. Não entendo nada e vou pegar o meu dinheiro na mochila.

– Ei, Merida! – Gustavo grita. – Você não vai ver a apresentação da Elsa?

– Hã? É hoje?

– É! Bela amiga você é, não vai nem dar apoio moral para a menina. – Hans zoa e eu mostro a língua para ele.

– Onde ela está, Gustavo?

– Na pista de gelo. Fica perto do refeitório.

– Então tá beleza. Eu já ia comprar meu lanche mesmo. E vocês?

– Daqui a pouco eu vou. Antes eu tenho que... – diz Gustavo, olhando para Hans, tentando esconder uma raiva que eu sei que ele está sentindo por algum motivo. – Resolver umas coisinhas.

– Ah. – franzo o cenho. – Ok.

A pista de gelo é igual a da Olympic: é coberta, tem uma pequena arquibancada em volta e é fria. Procuro por Elsa enquanto dou mordidas no meu pastel. Acontece que o pastel acaba e eu ainda não a encontrei.

Vejo Jack do outro lado, perto do vestiário, e vou até lá saber se ele tem informações sobre a minha amiga. Do outro lado da pista, eu não conseguia ver as pernas de Jack. Agora, mais próxima dele, eu consigo. E elas estão cobertas por uma malha coladinha.

– Nossa, Jack. – faço um sinal de "joinha". – O senhor está muito sexy.

– É ironia, né? – ele pergunta e eu respondo mentalmente: "Claro!!!" – Porque eu estou ridículo. Como que os patinadores... hã, assim... "Bem dotados" conseguem vestir uma calça dessa?!

– Não sei. Pergunta para algum.

Jack leva um tempo para entender a piada. Quando entende, me empurra de levinho. Por pouco, ele não derruba o meu copo de suco.

– Porra, não está vendo isso na minha mão?! – grito, apontando para o copo com a mão livre. – Cuidado!

– Tá, tá. Mas o que você quer?

– Quero te zoar por causa dessa calça. Mentira, quero saber da Elsa. Viu ela por aí?

– Vi, ela está se arrumando no vestiário feminino. E você não pode ficar aqui não.

– Hã? Por quê?

– Está com comida e nesta área só ficam os patinadores.

– Ah. E eu ligo? Não.

– Ui. Que rebelde. Vamos ver se é tão rebelde assim quando aquela mulher ali... – ele aponta para uma mulher na porta do vestiário. – aquela altona e com cara de má, vier falar com você!

– Credo. Olha como ela está gritando com aquele menino! Agora fiquei com medo de que ela me engula. Tá bom então, vou para o lado dos não patinadores. Não pule muito na hora da apresentação.

Depois de alguns segundos, ele grita: "Por quê?!". Eu rio. Vou para o outro lado da pista e procuro um lugar que dê para observar o vestiário e que não esteja sujo de farelo. Depois, Hans e Gustavo chegam com comida e sentam do meu lado. Nós ficamos calados, eu observando a movimentação atrás de Elsa, até que todas as meninas saem juntas do vestiário. Estão com penteado e roupas parecidas, - o que muda são as cores - mas eu consigo identificar Elsa e Sophie no meio delas.

Elas sentam no mesmo degrau, uma ao lado da outra, com as mãos vazias. Menos Sophie, que tem uma pequena mochila nas costas e vai para o degrau acima. Quando ela senta, rapidamente esconde o objeto atrás de si. A menina de amarelo, primeira da fila e na frente de Elsa, se levanta e pega um patins da cor de sua roupa que está numa mesinha com outros patins coloridos, perto de Sophie. Ela os calça e se encaminha para a pista, com o menino que é par dela.

Penso em ir falar com Elsa, mas assim que eu levanto as luzes se apagam e tudo fica escuro, sinal de que a apresentação vai começar. Fico sem ver nada por alguns segundos, mas aos poucos minha visão vai se acostumando com a escuridão. Uma música instrumental começa a tocar e um holofote acende em cima da garota, que gira e patina até o outro holofote, o do seu par. A luz a segue e ela passa pela parte em que Jack, Elsa e Sophie estavam, iluminando o local por alguns instantes. É quando eu percebo. As patinadoras continuam lá. Mas Sophie não está. Nem a sua mochila.

– Ei! – falo involuntariamente.

– O que foi? – diz Hans, com a boca cheia de comida.

– A Sophie não está ali!

– E daí? – dessa vez quem responde é Gustavo, também com a boca cheia de comida, mas ele coloca a mão na frente da boca por ser um indivíduo educado.

– E daí que ela me pareceu suspeita!

– Ah, Merida... Suspeita? Por que?

– Porque... ela estava com aquela mochila. – respondo para Gustavo, mas depois penso: Ela estava com aquela mochila e sentada perto dos patins. Bingo!

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– Olha, eu não vou discutir com vocês, a próxima é a Elsa e algo está errado. Me dá essa sacolinha de papel aí na sua perna, Hans.

– Pra quê? – ele pergunta, me entregando a sacola.

– Para o meu plano.

Saio correndo até o lugar onde os patinadores estão. A mulher gigante e com cara de má está lá, pronta para me barrar.

– Pra onde vai, mocinha? – ela pergunta, com uma expressão menos amigável do que o "mocinha" pede.

– Eu tenho que falar com uma menina ali...

– Não pode, volte para a arquibancada! - ela grita comigo, sem necessidade.

– Então é assim? Ok, então dentro disso aqui tem um absorvente! – rebato o grito com um grito, balançando a sacolinha. – E tem uma menina ali que vai manchar a roupa de vermelho se você não me deixar passar!

A mulher gigante fica tão sem graça e atordoada com a minha fala que me deixa passar, como eu imaginava, mas não sem me assustar mais uma vez:

– Seja rápida. – ela diz. Que medo, cara.

Vou até Elsa. A sua expressão me diz que ela ouviu tudo.

– Merida, ficou maluca? Eu não estou...

– Não tem nada nessa sacola, mas finja que tem. Vá para o vestiário, acho que Sophie está lá com os seus patins, fazendo alguma coisa que vai te prejudicar. Eu posso estar errada, e se eu estiver, ignore. Mas é bom você ir olhar. – falo no ouvido dela e Elsa concorda com a cabeça, sem dizer mais nada.

Enquanto eu volto para o meu lugar, Elsa vai para o vestiário. A primeira apresentação acaba. Chamam Elsa e Jack para a pista, mas somente Jack vai para lá. Depois, Hans e Gustavo olham pra mim assustados, quando Elsa sai do vestiário gritando que tentaram sabotar a sua apresentação.

Não vi Elsa desde o fim da sua apresentação. Hans me chamou para almoçar no shopping e eu aceitei, apesar de não estar com fome. No final, nós passamos uns 15 minutos "almoçando" (eu comi um sanduíche) e o resto do tempo passei na livraria/loja de brinquedos/loja de doces.

Ele me levou pra casa. Desci da moto, entreguei o capacete pra Hans e fui até a porta. Ia abrir a porta, mas Hans interrompeu meu movimento e segurou minha mão.

– V-você gostou de hoje? Assim, do dia... – ele falou, gaguejando.

– Er... sim? O que foi?

– Nada, é só que... – ele olhou pra minha mão.

– Eu queria te contar uma coisa. Bom, é que eu... eu...

Eu comecei a ficar com medo. Da última vez que ele falou assim, ele me pediu em namoro. Talvez ele estivesse louco e talvez achasse que eu deveria ser a sua noiva. Já calculava os movimentos para a minha fuga, se ele resolvesse me pedir em casamento.

– ...E eu gosto muito de você. Muitão. – Ele falou, mas eu estava refletindo se conseguiria pular, soltar a minha mão, abrir a porta e entrar correndo pra casa.

– An, o quê? Não estava prestando atenção.

– Eu disse que gosto de você.

– Só isso, Hans? Eu sei. Por que está me dizendo isso? – ri.

– Bom, por causa... – ele pensa por um momento. – Daquele lance da Sophie... eu só queria que você não se preocupasse, porque eu estou apaixonado por você. Tá? Não se esqueça. – ele apertou a minha mão.

Declarações de amor inesperadas e fofas? Não, não sei como reagir a elas. Então eu fiz algo meio cavalar: puxei a minha mão, franzi as sobrancelhas e falei:

– Hm, tá bom. – abri a porta e apontei para dentro. – Quer entrar?

Os meus irmãos estavam almoçando e olharam ao mesmo tempo pra mim. Balançaram as mãos freneticamente, fazendo sinal de "não". Fiquei sem entender até ver o que tinha no prato deles: uma delícia, o estômago de uma ovelhinha.

– Corre, Hans. – falei, empurrando ele pra fora de casa.

– O quê? Mas você me convidou...

– É, convidei. Mas tem estômagos como prato do almoço, e minha mãe vai te convidar pra experimentar, e eu sei que você não vai querer experimentar, e minha mãe não gostará disso. Então, tchau.

– Estômagos? – ele perguntou.

– Coisas da Escócia. – disse.

Hans ganhou um beijinho e eu fechei a porta. Me voltei para meus irmãos e os parabenizei pela bela atitude com o namorado alheio:

– E como presentinho... – mostro um saco de doces que eu comprei no shopping. Na verdade, eu tinha comprado pra eles, mas agora eu tinha um motivo.