Artista.

Capítulo 1 - Último.


Eram três e vinte duas da madrugada, eu não dormia, eu não conseguia, era algo que simplesmente não se consumava mesmo se eu engolisse um vidro inteiro de calmante, eu não consigo parar de pensar no quanto eu quero terminar o meu projeto para a exibição de sexta-feira na galeria de artes.

Meus trabalhos são bem recebidos pelo público, na verdade, eles amam o que eu faço, eles sempre amam as minhas esculturas, eles dizem que sou um artista de mãos platinadas. Eu não consigo dormir, eu só sei pensar e pensar no meu trabalho incompleto. Está tudo sobre a mesa, as tesouras, os alicates, os lenços, a cera, menos a estrutura da minha mais perfeita boneca amarrada para que não caia do tripé, será minha última escultura antes de me aposentar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu me levanto da cama, passos largos até a mesa, ligo o fogo para diluir a cera sólida, me sento no banco e ligo a luminária. Ouço gemidos vindos de dentro do guarda-roupa, eu bebi demais, devo parar com o meu vício maldito. Abro os papéis por cima da mesa, tento achar os planos da minha nova boneca, mas não o encontro, é uma decepção, tenho certeza de que os joguei no lixo hoje cedo por conta do nervosismo em esconder o meu protótipo, se meus amigos vissem iam querer copiar, nem sei por que ainda os sigo... Bom, terei que trabalhar a mão livre, não será fácil, mas também não será tão trabalhoso. Eu ouço gemidos, eu devo parar de beber urgentemente.

Levanto-me, vou até meu protótipo, ele está mais pesado que o normal, eu devo me alimentar direito, pois estou ficando fraco. Coloco-o sobre a mesa, passo as mãos sobre sua matéria-prima pouco trabalhada, meu protótipo está quase pronto, os olhos de vidro, o cabelo sintético azul, as unhas postiças e metade do corpo artificial já costurado com enchimento, pego a tesoura e corto a mordaça, minha boneca grita pedindo ajuda, eu pego a cera já líquida, abro a boca a força do meu material novo e despejo aquilo, estranho... Meu protótipo não se move... Acho que eu perdi mais um dos meus projetos... Não gosto de trabalhar com materiais tão frios com os deste lote, devo começar a comprar de outro fabricante, esses estão muito quebradiços.

Se eu não me apressar vou perder minha inspiração. Os olhos cobertos pelas olheiras, cansado e com os ombros doendo, jogo o meu falido projeto para fora da mesa, com um suspiro vencido volto a caminhar para a cama, mas logo me dirigi para o lado, abro o guarda-roupa e vejo que ainda tenho mais três exemplares do material, estes tem os olhos assustados, não são os melhores, mas acho que vai dar para fazer algumas bonecas aceitáveis para a exposição.

De manhã trabalharei mais...

Aliás, tenho que limpar o sangue da mesa, se a empregada ver isso é capaz dela querer contar sobre o meu trabalho para os policiais...

Mas... Pensando bem...

Aquela empregada daria uma boneca perfeita...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.