Conselheiro Amoroso

Delírios || Peeta


Não consigo evitar franzir o cenho de estranheza quando vejo Katniss submergir do meio de uma névoa branca trazendo as mãos uma caneca branca fumegante.

— Peeta, toma.

— Não. — não havia sonho que me fizesse provar alguma coisa sem saber antes o que era. — Isso é droga?

— Engraçadinho... O logo remédio chá algum toma efeito. — eu sei que aquilo deveria fazer sentido, mas em minha mente a eram apenas palavras não ajustadas em uma frase sem propósito. Minha cabeça doía.

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— Ahn? — passei a mão na minha testa tentando entender.

— Presta atenção. — Katniss deixou a caneca na mesinha de cabeceira e sentou-se sobre os joelhos ao meu lado na cama, tomando meu rosto entre suas mãos. — Meu Deus, você já está queimando de febre!

Eu estava? Aliás, porque eu teria febre?

Pisquei forte e de repente o rosto de Katniss se transformou diante dos meus olhos. Seu rosto afinou um pouco, seus cabelos perderam parte das ondas e o cinza dos olhos ficou um tom mais escuro. Ao redor das pálpebras, mais maquiagem surgiu e um batom vermelho característico em sua boca sempre rosada. Não pude resistir ao impulso de tocar sua face.

— Katherine?

— Quem? Deixa pra lá, vou buscar o remédio que o Finn passou.

— Não me deixa Kath.

Tentei segurar o vazio quando ela saiu às pressas da minha cama, logo em seguida voltando com um comprimido e um copo de água. Depois que tomei, me aconcheguei nos travesseiros e notei que ela estava sentada ao meu lado me encarando.

— Quem é Katherine Peeta? — não fazia sentido o menor sentido por que ela estava me perguntando quem era ela mesma.

— Saudades de você meu amor. — segurei seu pulso e a trouxe para junto de mim. O cheiro dos seus cabelos estava um pouco diferente, melhor até, mas eu sentia falta daquilo. Sentia falta de ter seu corpo junto ao meu. A envolvi com meus braços e não demorou muito para que eu fechasse os olhos e perdesse a consciência.

~

— Professor, seu remédio. — senti uma mão gelada balançar meus ombros. Abri meus olhos e Katniss estava do meu lado com notáveis olheiras.

— Noite ruim? — perguntei saindo de debaixo das cobertas e me sentando com as costas apoiadas na cabeceira. O olhar da morena baixou para meus ombros e peito nus e estranhei aquilo. Eu podia jurar que dormi ontem completamente vestido. — Onde está minha camiseta?

— Você arrancou ontem depois que começou a suar por causa do remédio pra febre. — ela mordeu o lábio corando um pouco. Ri da situação, logo em busca da roupa para colocar no lugar. Ver Katniss constrangida era um pouco divertido.

— Como você sabe disso, pensei que fosse dormir na sala.

— Foi uma noite difícil Peeta, ainda bem não te deixei aqui sozinho. Além das alucinações da febre, você teve a coisa da confusão mental que Finn previu.

— Eu não tive isso. — falei na defensiva, mas noite passada era meio que um borrão.

— Me explica quem é Katherine então. “A Kath, seu amor”. — ela fez sinal de aspas com os dedos e falou com uma leve nota de irritação na voz. Engoli seco.

— Não sei do que você tá falando.

— Ah é claro, voltou pro modo misterioso. Vou esperar você alucinar de novo pra perguntar, já que só assim pra você falar algo sobre seu passado.

— Quem parece estar alucinando é você, não faço ideia quem é Katherine. — menti sentindo meu estômago embrulhar de nervoso.

— Você sabe que eu vou descobrir cedo ou tarde, por isso nem vou me estressar. — Katniss deu de ombros. — Mas só te chamei pra dar o remédio da manhã, meu táxi já está esperando. Tem comida em cima do balcão da cozinha, e é melhor você também tomar um banho quente.

— Você já vai? — me xinguei mentalmente por parecer tão carente de repente. Ela riu.

— Calma bobinho, eu volto. Preciso pegar algumas coisas em casa, como roupas e uma escova de dentes. Apesar do frio que está fazendo lá fora, ainda preciso tomar banhos pra me manter limpa. — Katniss ficou de joelhos na cama e beijou meu rosto. — Volto em duas horas, comporte-se.

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Logo ouvi a porta bater e me joguei de volta nos lençóis. A sensação de ser cuidado era estranho pra mim. Eu estava por conta própria há tanto tempo que ter alguém que se preocupava com o horário dos meus remédios, com minhas doenças, com meu bem estar, era algo que eu nem lembrava mais. Me forcei a levantar e tomar um banho, pois se Katniss falou a verdade, e ela não costumava mentir pra mim, eu tive uma noite bem complicada, mesmo que não recordasse.

Ela deixou o aquecedor do apartamento ajustado numa temperatura amena, e como eu não estava sentindo nada além de dores nos músculos e um pouco de fraqueza, depois do banho coloquei apenas uma calça de moletom cinza e fui pra cozinha. Lá uma variedade de bolos e pães recém-comprados estava disposta no balcão, assim como uns três tipos de sucos. Torci o nariz pra tudo, eu não estava mesmo com vontade de comer nada.

O interfone tocou assim que me deitei ligando a televisão.

— Pois não?

Sr. Mellark? Chegou uma correspondência para o senhor, deve ser assinada pessoalmente, parece serem livros. Posso receber e deixar aí daqui a pouco, ou o senhor prefere buscar agora? — a voz polida do meu porteiro me questionou.

— Desço em um minuto.

Uma notícia boa afinal. Eu tinha feito essa encomenda há semanas e finalmente meus livros que me ajudariam imensamente quando eu começasse a prática cirúrgica propriamente dita chegaram. Sem paciência ou disposição para ir ao quarto e ansioso pra pegar meu pacote e dar uma boa olhada no conteúdo, desci correndo para a recepção, sem me preocupar em trancar a porta ou nos 20 graus de diferença que existiam entre o ambiente interno e externo.

— Onde está minha encomenda? — perguntei ao porteiro que me olhou desconfiado.

— Aqui senhor, mas eu poderia ter deixado lá, Katniss falou que...

— Obrigado. — peguei o pacote antes que levasse uma bronca do meu porteiro.

Na subida tive a nítida impressão que meu fôlego está sendo tirado de mim e o frio começou a causar uma dor física em meus braços nus. É, talvez eu devesse mesmo ter pedido ao porteiro trazer os livros, que inclusive mal consigo carregar agora.

Entrei, fechei a porta da sala e fui direto ao meu quarto, onde me enfiei embaixo das cobertas novamente, tentando fazer minha respiração voltar ao normal e aquele frio passar, coisa que foi inútil. Fiquei naquela situação e não tive a noção de quanto tempo passou até ouvir o barulho da porta da sala abrindo e passos vindo na direção. Katniss fez uma cópia da chave? Eu precisaria mesmo conversar sobre limites com ela depois.

— Ai meu Deus Professor, você tá bem? — ela largou a bolsa em cima de uma poltrona e chegou mais perto. — Você parece que está tendo uma parada respiratória!

— Uma parada respiratória não é assim. — falei, e minha voz saiu mais baixa e trêmula do que eu pretendia. — Eu estou bem. — mas eu tinha a consciência de que não estava.

— Você... — Katniss tocou minha testa. — Você está queimando de novo, isso não deveria acontecer, te dei remédio faz só umas duas horas. Ei, espera. — vi que ela estava observando o pacote ainda fechado de livros em cima da minha mesa ao lado do meu notebook. — Eu não acredito Peeta! — ela gritou dando marteladas na minha cabeça.

— O que foi? — questionei com os olhos fechados.

— O que foi? Foi que você é o pior doente da história!

— Para de gritar Katniss, minha cabeça...

— Sua cabeça estaria ótima se tivesse se alimentado e ficado quieto como eu pedi que fizesse! Você está com pneumonia, não um resfriado qualquer! Eu posso não ser uma médica fodona como você, mas eu sei que pessoas com pneumonia não devem correr em escadas e sair em temperaturas de menos de 10° sem camisa! — por mais que eu odiasse admitir, ela estava certa.

— Sinto muito.

— É bom sentir mesmo! Se você ama tanto seu trabalho, quer voltar pra ele e se livrar de mim aqui na sua cola, cuide em fazer o que eu mando ou eu te deixo aqui pra morrer sozinho! Agora vou buscar seu remédio e algo pra você comer. — abri a boca pra protestar, mas ela me cortou. — Sem reclamações!

Ok então, eu estava oficialmente de castigo!

~

Os cabelos de Katniss faziam cócegas na minha orelha esquerda enquanto assistíamos mais uma comédia romântica escolhida por ela. Apesar de odiar aquela categoria de filmes, não posso negar que esse tempo que tenho passado com Katniss tem sido mais legal do que achei que fosse.

Ela cumpriu a promessa de ficar na minha cola acampada no meu sofá-cama e agradeço aos céus por isso. Talvez eu não fosse mesmo a pessoa mais fácil do mundo para se lidar, e com Grease de folga por causa dos feriados de Natal e Ano Novo e Madge viajando, eu estava por mim mesmo.

Mas o melhor desses dias tem ido muito além da comida pronta no horário, dos remédios que sempre esqueço de tomar e ela lembra, ou do carinho com que sou tratado a cada vez que ela me pergunta se estou melhor. Tudo em Katniss me faz sentir melhor. A presença expansiva, a gargalhada fácil, o jeito como ela me irrita com suas histórias mais longas que o filme “Os Miseráveis” e o fato dela não conseguir cantar uma música sem errar a letra ou fundi-la com outra semelhante, criando canções totalmente novas a cada minuto.

Não tem sido o pior repouso, no final das contas.

— No que você tá pensando? E rindo? Essa parte não é engraçada. — senti o sopro das palavras dela ao meu ouvido, mas não olhei pro lado.

Enquanto eu estava sentado no chão com as costas apoiadas no sofá, Katniss estava deitada nele com a cabeça para fora do móvel, o que a fazia ficar quase de ponta cabeça. Não vejo como uma pessoa normal conseguia assistir qualquer coisa daquele jeito, mas aí é que está o ponto. Normal era antônimo de Katniss.

— Esse filme é idiota! Como um cara não consegue ver que a menina está afim dele? Tá tão na cara, e eles são melhores amigos. Deveria notar esse tipo de coisa.

— Garotos são tão estúpidos. — ela sussurrou quase que para si mesma. Olhei para o lado e Katniss estava com os olhos estreitados pra tela, mesmo que parecesse não estar mais prestando atenção no filme.

— Falou a pessoa que pediu conselhos amorosos pra um.

— Você é diferente. — ela se virou pra me encarar e a situação começou a ficar estranha.

Pela posição que estávamos, meus olhos estavam alinhados com a boca dela e vice-versa, e não havia mais de um centímetro separando nossos narizes. Logo, não pude deixar de observar quando ela puxou o lábio inferior entre os dentes em um movimento quase involuntário. Ela também observava minha boca, mas no instante seguinte seus olhos fixaram-se nos meus. O perigoso cinza. O cinza que já quase me destruiu uma vez e eu não podia deixar acontecer de novo.

— Seu cabelo está fazendo cócegas no meu nariz. — sussurrei cortando o momento, levantando o canto direito da minha boca num riso torto, meio sem jeito, então ela riu.

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— Assim? — Katniss pegou uma mecha e começou a fazer cócegas agora em meu rosto todo. — Você não pode fazer nada pra me parar seu loiro convalescente!

— Ah não?!

Segurei em seus ombros e a trouxe para baixo pra começar uma sessão de cócegas em suas costelas, enquanto a morena se debatia em meu colo, quase sem respirar, seus cabelos virando uma eterna bagunça. Não que Katniss estivesse preocupada com isso, já que desde que ela está aqui, não fez a mínima questão de se mostrar apresentável para mim ou para qualquer visita resolvesse aparecer. Ontem mesmo tive que esmurrar Finnick quando, durante uma visita, ele passou mais tempo que o necessário olhando pra bunda dela naquele short jeans curto demais pro meu gosto.

Nossa brincadeira estava tirando completamente nossa atenção do filme, mas foda-se era muito ruim e previsível mesmo. De repente Katniss parou de se mexer e tentar arrancar minha pele com as unhas e ficou me olhando estranho.

— Não tem graça se você não revida. — reclamei. Ela continuou me encarando. — Tem alguma coisa no meu nariz, pra você ficar me olhando desse jeito Katniss?

— Sabe, gosto mais de você assim, quando não deixa o que quer que aconteceu com você te afetar.

— Como assim? — ela sentou-se ao meu lado no chão.

— Eu sei que você não foi sempre esse chato sabe-tudo. Johanna foi vaga, mas sei que você aprontou um monte quando entrou na faculdade, e alguma coisa te levou a isso. Tem a história da “Katherine” também que também deve ser ruim, pra você evitar tanto. Mas em momentos como esse você é apenas é você e deixa tudo de lado. É meu lado preferido de Peeta Mellark. — Cara, eu odiava ser analisado e quando Katniss fazia isso era pior. Abri meu sorriso para tentar mudar de assunto.

— Você tem um lado meu preferido? — ergui uma sobrancelha a provocando. Ela começou a corar, mas riu.

— Não leve isso pro lado romântico Professor, não sou adepta de incestos. — Ouch! Pega na cara Peeta Mellark! — Vou sair pra comprar o jantar. — ela levantou-se arrumando a roupa.

— Ei, espera. Que tal fazermos diferente hoje? — me ergui a alcançando. — Eu cozinho.

— Você não sabe cozinhar Peeta, esqueceu do desastre que foi apenas o suco que você tentou fazer ontem? Você tinha apenas que misturar polpa de fruta com açúcar e água no liquidificador, mas quando ficou pronto, a gente nem soube identificar o sabor. — ela riu debochada.

— Só porque não consigo fazer um suco, não significa dizer que não sei preparar uma lasanha vegetariana.

— Acho que significa dizer exatamente isso Professor. Além do mais você precisa descansar.

— Eu te agradeço por tudo Katniss, mas já estou bem, e amanhã volto pro trabalho e você pra sua casa. Considere nosso jantar de despedida. — ela ponderou por mais alguns segundos.

— Ok! Mas se você estragar a comida eu te mato Professor! Você sabe como eu sinto fome à noite! — Em todos os horários, na verdade. Abafei meu pensamento.

— Claro que sei, você está falindo minha despensa. — ela rolou olhos.

— É o preço dos meus serviços Professor. — ela piscou pra mim. — Agora podemos agilizar a comida, porque conhecendo você e seu perfeccionismo, eu só vou conseguir jantar daqui a duas ou três horas.

— HA HA HA. Você vai babar quando experimentar, isso sim.

— Isso eu duvido, mas vamos lá... Eu te ajudo.

Chequei a geladeira e despensa e ainda faltavam muitos ingredientes. Teríamos que ir até o mercado pra comprar alguns mantimentos e abastecer meu estoque de comida.

— Katniss, você viu o pacote de proteína de soja que estava aqui? — perguntei com o rosto enfiado nas prateleiras. — Eu podia jurar que ainda tinha.

— Como é essa proteína de soja? — Katniss, a carnívora perguntou.

— São coisinhas que parecem carne moída só que vem em um pacote.

— Eca, aquilo? Joguei fora. — ela fez um biquinho de nojo.

— Katniss, minha soja!

— Ah Professor, tinha gosto de armazém misturado com isopor. Achei que estava estragado.

— Vamos descer pra comprar isso, o macarrão e o queijo, que a senhorita terminou de comer todo ontem. — peguei minha carteira e calcei meus tênis.

— Estou em fase de crescimento... Ei, coloque seu casaco! — rolei olhos vestindo a peça enquanto esperava ela terminar de se vestir com as botas, luvas, gorro e casaco.

— A gente está indo no mercado, não no Polo Sul!

— Por isso você é a pessoa que adoece e eu sou a que cuida.

— Vai jogar isso na cara pra sempre?

— Até você aprender a ser menos descuidado com a própria saúde.

— Tá bom, agora vamos. — a empurrei gentilmente pra fora do apartamento trancando a porta. — Isso se você quiser comer ainda hoje.

~

— Você é oficialmente a pessoa mais constrangedora do planeta! — reclamei.

— Nem sou. — coloquei as sacolas de compras em cima da bancada e voltei pra fechar a porta, já que a criança que me acompanhava estava ocupada demais com o próprio chocolate. — Não fiz nada de mais.

— “Professor, Professor, me alcança.” — imitei a voz dela num falsete esquisito. — Disse a adulta de 22 anos ganhando velocidade como se o carrinho de compras fosse algum tipo de skate. Fora que você me atormentou demais pra te comprar doces.

— Fiz aquilo pra te provocar, sabia que você ia ficar puto. — Katniss gargalhou enquanto começava o processo que envolvia tirar toda a roupa extra de frio e eu organizava os itens da mesa da cozinha. — Mas então, como vamos fazer essa coisa? — ela se aproximou da cozinha espiando por cima do meu ombro.

— Simples. Eu cozinho e você não atrapalha.

— Nem pensar! — ela passou por baixo do meu braço se enfiando entre mim e a mesa, um espaço que claramente não a cabia. — Deixa eu ver o que temos aqui...

— É sério Katniss, sai, eu cuido disso. — a carreguei pelos ombros para a sala.

— Você é o abecedário completo Professor. Antipático. Babaca. Chato. Destruidor de sonhos adolescentes que acham que todo médico loiro e gentil é legal. — gargalhei. De onde ela tira essas coisas?

— Eu só acho que você deveria usar essa sua criatividade pra alguma coisa que preste Katniss. — ela rolou olhos.

— Vou checar meus e-mails e ver TV. Se precisar de ajuda pra não ferrar com o jantar ou pra pedir a pizza quando estragar me chama. — ela se jogou no sofá já pegando meu computador que inclusive tive que lhe dizer a senha.

Voltei pra cozinha e comecei a trabalhar nos ingredientes. Começando com o preparo da proteína soja, então cozinhar o macarrão e fazer o molho. Se eu errasse aquela receita só poderia ser alguma coisa do destino tentando me desmoralizar com Katniss, afinal sempre dominei o feitio daquele prato, mesmo sem tempo para fazê-lo.

A morena voltou à cozinha quando eu já estava quase finalizando a montagem para colocar no forno. Ela tinha no rosto um sorriso enorme, mas se negou a contar qualquer coisa antes de irmos comer. Resolvi tomar uma ducha rápida enquanto Katniss se ofereceu para a mesa. Quando voltei, ela foi tomar banho e eu separei o vinho, as taças e tirei a lasanha do forno.

— Então? — ela se aproximou da mesa desfazendo o coque. — A lasanha sobreviveu?

Inspirei fundo. O cheiro de Katniss recém-saída do banho era umas melhores fragrâncias que eu já tinha sentido. Era simplesmente natural, apenas com um leve toque do sabonete líquido de pitanga que ela amava. No segundo dia que ela estava aqui, Katniss fez questão de entornar o frasco do sabonete em mim e nas minhas roupas, apenas como uma provocação porque eu disse que não gostava muito do cheiro, mesmo isso sendo mentira. Resultado: fui tomar banho e saí com o cheiro dela em mim.

— Peeta! — ela estalou os dedos.

— Ahn?

— Perguntei se a lasanha sobreviveu. Você tá distraído hoje.

— Não somente sobreviveu como tá uma delícia. — puxei uma cadeira. — Por favor mademoiselle.

— Que chique, já estou gostando.

— Vai me contar agora o que te deixou tão feliz ainda a pouco?

— Vou experimentar isso primeiro. — ela se serviu de um generoso pedaço e tirou uma garfada que achei mesmo que não fosse caber na boca dela. — Hm.

— Então? — a olhei apreensivo.

— A textura da massa e a consistência da proteína... — ela começou imitando o que achei que fosse a voz de um crítico de culinária. — Brincadeira Professor, isso aqui tá muito bom! Vou comer essa travessa toda.

— E sem um grama de carne ou excessos de gordura!

— Blá, blá, blá. O que importa é que ficou delicioso. Acho que vou te manter em cativeiro pra cozinhar pra mim.

— Vai, me conta agora, o que te deixou tão feliz?

— Você é a pessoa com segredos que mais gosta de desvendar os dos outros. Ainda não esqueci seus delírios com a “Kath”! Você tem sorte que sou uma pessoa tão compreensiva e que estou na sua vida pra te ajudar.

— Na verdade, tenho mesmo. Olha Katniss... — segurei sua mão por cima da mesa. — Muito obrigado por cuidar de mim. — ela abriu um sorriso tímido e segurou minha mão de volta.

— Você faria ainda mais por mim, tenho certeza. A diferença é que eu seria uma paciente bem mais legal.

“Eu tenho medo de injeção e de agulhas no geral!” Palavras suas enquanto agarrava meu braço e fazia um mini escândalo no dia que a gente se conheceu.

— Aquilo foi diferente.

— Se você diz. Mas é sério, valeu mesmo. — me servi de um pedaço e comecei a comer. Nossa, tinha ficado muito bom mesmo!

— Isso deve ser muito difícil pra você não é? Agradecer, eu digo. — levantei meus olhos do meu prato pra ela. — Você parece ser o tipo todo autossuficiente que se acha o cara, vive sozinho e acha que não precisa de ninguém, e quando precisa, não sabe nem como pedir.

— Já mandei parar com essas coisas de tentar me ler. — falei tentando dar menos importância àquelas palavras que me acertaram em cheio.

— É inevitável pra mim. Sou quase psicóloga, sabe? — Katniss colocou mais uma garfada de tamanho desproporcional na boca, o que acabou sujando o canto de molho e escorrendo um pouco pro queixo. — Uma psicóloga bem desastrada inclusive.

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— Pode deixar, eu limpo. — apoiei meus cotovelos na mesa, inclinando meu tronco na direção dela. — Afinal a culpa foi minha por cozinhar tão bem. — o riso dela que estava meio constrangido, foi para o tipo debochado, então ela ficou séria. Só uma coisa a fazia ficar séria, e era quando eu estava perto demais.

— Preciso te falar uma coisa Peeta. — mais perto...

— Diz. — mais perto...

— Você vai me ver mais do que nunca a partir de agora.

— Por quê? — perguntei franzindo as sobrancelhas.

— Vou trabalhar com você. — ela abriu seu grande sorriso de mais cedo. Voltei a sentar no meu lugar com o choque daquela informação. — Diga olá pra mais nova estagiária do Exempla Saint Joseph! — meu queixo caiu aberto.

Isso só pode ser algum delírio!