Conselheiro Amoroso

Não persiga || Katniss


Clove estalou dedos dessa vez a apenas um centímetro dos meus olhos, e agradeci por ela manter as unhas curtas, ou nesse momento eu estaria com meu olho esquerdo perfurado e vazando líquido. Eu exagerada?

— O quê?

— Ora, o quê? Você tá viajando de novo!

— Eu só estou pensando na minha monografia. — menti.

— Só que não, não é? Sei que você não vai focar nesse trabalho enquanto não me falar, então... Desembucha! Quem é?

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— Ok. — me sentei sobre meus joelhos me posicionando melhor no sofá. — Ontem conheci mesmo um cara. — ela deu um riso de “eu sabia”, largando os livros de lado e me encorajando com um gesto de mão a continuar. — Eu estava voltando da faculdade passando naquele parque perto da casa do Peeta, sabe? Ele estava sentado tocando violão e cantando, e voz dele era tão incrível!

— Tem certeza que não tinha um chapéu na frente e pessoas estavam colocando moedas Katniss?

— Eu daria mais do que dinheiro se ele pedisse. — falei maliciosa.

— Safada! — ela me deu um tapinha no ombro. — E então, vocês vão sair?

— Sim, assim que Peeta deixar.

— Oi? Quer dizer que o senhor Everdeen tem um novo primeiro nome?

— Não teve graça. Apenas estou seguindo os conselhos dele. O Professor disse que se eu aceitar logo de cara vai parecer que não tenho nada melhor pra fazer da vida além de sair em encontros e esperar ligações dos caras, e vou me mostrar carente.

— Coisa que você está...

— Não mais baby. — coloquei novamente meu notebook no colo e continuei a leitura do artigo científico chatérrimo de vinte e cinco páginas que eu teria que resenhar num trabalho para o dia seguinte.

— Mas me diz uma coisa sobre esse seu “professor”. — Clove baixou um pouco a tela me observando atenta enquanto mordia a perna dos óculos de grau. — Qual a de vocês dois?

— Como assim, tipo juntos?

— Isso, juntos. Você sai muito com ele, ultimamente até mais do que com aquele seu amigo gato. Vai me dizer que não rola uma coisa platônica por aí?

— Eu já defini claramente o que Peeta é na minha vida depois do primeiro dia que nos conhecemos e eu quase fodi com tudo tentando agarrá-lo.

— Ah, então já rolou pegação...

— Na verdade não, ele me parou e agradeço aos céus por isso. — Clove me olhou desconfiada. Ela me conhecia há quase quatro anos quando começamos a estudar juntas e ela nunca me viu negar fogo pra ninguém como Peeta. — É sério! O Professor é muito inteligente e ocupado, e aceitou de muita boa vontade me ajudar com isso, o que o torna uma pessoa gentil. Não quero estragar essa coisa legal, sabe?

— Isso nunca te impediu antes.

— E isso me deixou com quantos amigos homens além de Gale? Nenhum! Enquanto Peeta for apenas meu professor, as coisas ficarão bem. — ela me analisou com os olhos estreitados.

— Eu devia fazer um experimento psicológico com essa sua cabecinha maluca.

— Essa aqui Clovezinha — falei tocando meu indicar na têmpora, — nem Freud explica!

— Tem razão. Mas voltando... Você já está em qual página?

— Ainda estou lendo a terceira. Que trabalho mais idiota de se passar pro último período! Esse artigo é quase tão nada a ver como aquela professora. — comecei a reclamar como sempre fazia desde que fomos apresentados àquela matéria. — Amália? Quem coloca o nome de uma pessoa de Amália? Viu, ela começou errada logo no registro de nascimento!

— Ei, já estava esquecendo! — ela pegou o note dos meus braços e começou a digitar rapidamente alguma coisa. — Vi hoje que abriram várias vagas de estágio. Podemos até conseguir uma residência integrada se tudo der certo. Olha...

Quando Clove me passou a página com os locais e vagas disponíveis, dei uma olhada rápida até encontrar um nome que fez meus olhos brilharem. Eu não tinha dúvidas de qual seria minha opção e como eu me esforçaria para conseguir alcançar meu objetivo. Eu já ia começar a colocar meus dados pessoais e profissionais na ficha online de inscrição, quando o som da marcha nupcial invadiu meus ouvidos.

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— Muda esse toque! — Clove reclamou voltando a pôr os óculos e dar atenção ao rascunho que ela já fazia no caderno.

Nem me importei já que amava aquela música e não via a hora dela ser tocada enquanto eu caminhava até meu lindo noivo bem arrumado de fraque, em meio a uma igreja cheia de pessoas bem vestidas e de fotógrafos. Alcancei meu telefone na bancada da cozinha, mas parei ao ver quem ligava: o cara do violão de sábado, Tresh. O toque parou e logo em seguida recomeçou.

— Você não vai atender essa coisa?

— Não posso. — falei esperneando enquanto roía as unhas.

— Por que Peeta disse?

— É! Não posso parecer desesperada...

— Desesperada é a exata palavra que eu usaria pra te definir bem agora, você pulando desse jeito, parecendo que quer muito fazer xixi. Vem sentar e ler o artigo então!

— Já sei, vou ligar pro Professor! — minha amiga rolou olhos e pareceu desistir de me convidar a estudar, já voltando a atenção ao próprio trabalho.

A primeira chamada caiu da caixa postal. Não desisti e novamente liguei, dessa vez Peeta atendeu com a voz arrastada.

O que é?

— Mau humor matinal: conferido. Voz de sono: conferido. Cansaço eterno: conferido. É, você ainda é você. — gargalhei e vi um riso escapar do canto dos lábios de Clove.

Você estaria de mau humor, com sono e cansada se tivesse acabado de sair quase morto de um plantão de 36 horas seguidas.

— Ah, é verdade, você me disse! Como se sente depois do primeiro plantão duplo noturno senhor doutor trabalhador?

Exatamente como você descreveu. Eu posso dormir agora?

— Se você trabalhou tanto, vai ter folga essa tarde, não vai?

E daí? Ainda vou estar dormindo.

— Tive uma ideia melhor. Perto da sua casa tem um parque muito bonito e eu prometi levar Prim pra passear nele hoje. Por que você não aparece?

Que parte do “quase morto” você não entendeu?

— Que parte do “somente à tarde” você não entendeu? Ainda é de manhã! Qual é Peeta, você é jovem, tem energia suficiente pra aguentar essas coisas. Te espero lá no fim da tarde ou subo no seu apartamento e derrubo a porta.

Mas eu não disse que iria.

— Beijo, tchau. — desliguei e joguei o celular pro lado, já voltando a atenção à leitura. Se eu queria sair hoje, teria que deixar tudo pronto para amanhã.

— Isso é muito estranho.

— Nem me fala. Esses desvios comportamentais todos juntos nesse mesmo trabalho deixam qualquer um doido!

— Não isso. Estou falando de você e esse seu novo “amigo”. Pode nem ter nada romântico, mas você não pode negar que é estranho.

— O que há de estranho nisso?

— Ele está te mudando Kat. Quer ver? Ele não te deixa sair com outros caras, atender outros caras, e provavelmente transar com outros caras. — Clove disse contando nos dedos da mão — Vocês conversam um monte pessoalmente e pelo telefone, sabem a agenda um do outro e às vezes tem umas briguinhas que parecem muito com coisa de casal. Quase já se pegaram e não escondem que se acham mutuamente gostosos.

— Ei, parou aí no último item. — a interrompi. — Eu disse que acho ele gostoso, ele não disse nada sobre isso.

— É, mas você disse que ele ficou meio que te secando quando você trocava de roupa.

— Ele ainda é um homem ok?! Faz assim desconfiada: vem hoje comigo e a Prim, que eu te apresento o Peeta. Você vai ver que nossa relação é super saudável e nada sexual. E vocês até combinariam com esses jeitinhos nerds emburrados.

— Não obrigada. Motivo um: não sou nerd. — Clove era totalmente nerd, com aqueles óculos e o fato dela virar uma mini fera por não querer burlar uma aula ou atrasar um trabalho sequer. — Dois: você sabe que não gosto de crianças. E que elas não gostam de mim.

— Mas Prim é a criaturinha mais fofa e adorável do mundo.

— Não obrigada. Prefiro manter a distância desses pestinhas melequentos e coisados.

— Coisados?

— É, coisados, tipo, cheios de coisas, sabe? Por isso estudamos sempre no meu apartamento e não no seu! Pra Prim não coisar minhas coisas.

— Depois eu sou a confusa.

— Você vai sair do seu mundo de encontros e vai finalmente focar na nossa faculdade, ou vou ter que colocar seu nome no meu trabalho de novo?

— Seria ótimo. — falei animada largando o computador. Ela me fulminou com o olhar. — Isso não vai acontecer, não é?!

— Nem se o inferno congelar!

~

Estreitei meus olhos para tentar visualizar melhor à distância. Nem sinal de Peeta ou Tresh. Sim, passear com minha afilhada e marcar um encontro com meu mentor aqui foi proposital e com a intenção de, talvez, quem sabe por acaso, ver meu violonista gato.

— Tia, a senhora me escutando? — olhei para baixo quando Prim deu um puxão forte no meu casaco.

— Claro princesa, você disse algo sobre comer alguma coisa.

— Pipoca doce e colorida. — ela completou sabendo que eu não sabia mesmo a resposta.

— Exato! Pipoca doce e colorida. Vem, vamos comprar ali.

A carreguei pela mão até o pipoqueiro e pedi dois pacotes grandes, a doce dela e um amanteigado pra mim, e logo sentamos em um banquinho ali próximo. Prim estava me contando sobre sua última visita à casa de Gale, quando Johanna acidentalmente derrubou um vaso e negociou que a pequena levasse a culpa em troca de uma caixa de chocolates. Eu provavelmente daria uma bronca na minha amiga depois, mas agora não pude evitar rir da forma como a menininha falava, acreditando ter mesmo feito o negócio do século.

— Você sabe a quantidade de açúcar, gordura e sal têm nesses enormes pacotes de morte? — me assustei com a voz de Peeta rente ao meu ouvido.

— Tio Peeta! — Prim saltou do meu colo para o dele, envolvendo seu pescoço com os bracinhos. Ela sempre foi adorável, mas eu nunca tinha a visto gostar tão instantaneamente de alguém como aconteceu com Peeta.

— Uau Prim, como você cresceu!

— Sim, a mamãe falou que eu estou dando muito prejuízo com minhas roupas.

— Ela disse o quê? — ele perguntou perplexo pra mim.

— Relaxa Professor, isso não foi nada perto de oferecer suborno pra uma criança assumir a culpa de um acidente.

— Sabe Katniss, eu realmente me preocupo com essa criança sendo criada por duas malucas como você e a Jo.

— Ofensivo, mas um pouco engraçado. Estou te mudando também Professor! — ele rolou olhos e voltou atenção à Prim. Desde o incidente com Finnick, que ficamos mais próximos e ocasionalmente ele acabava esbarrando com Johanna e Primrose, a relação dele com a garotinha tinha melhorado, considerando que o medo que ele tinha de se aproximar estava passando aos poucos.

— Vai sonhando...

Enquanto eu assistia os dois brincarem com alguma coisa no celular dele, não pude deixar de mais uma vez notar a incrível semelhança. O tom de loiro parecido dos cabelos, os olhos azuis, apesar dos de Prim às vezes tenderem ao cinza, e até a covinha que se formava na bochecha de ambos quando eles riam. Mas Johanna não me esconderia algo assim, ou esconderia?

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— A tia Kat tá encarando o tio Peeta. — Prim cantarolou.

— Não, eu não estou! Sua danadinha, vem aqui. — a peguei no meu colo e comecei a fazer cócegas.

— Para! Socorro!

— Solta a menina Katniss, ela vai acabar engasgando com a pipoca.

— Que bom que você está aqui então doutor. — ri pra ele, que apenas rolou olhos novamente. Olhos lindos que estavam com discretas manchas arroxeadas de cansaço. De repente me deu um pouco de dó de ter o tirado da cama hoje. — Mas conta, como foi seu plantão?

— Hm...

— "Hm" o que, me conta!

— Eu me importo bem pouco com a dor nas costas e nos pés, a tortura psicológica da Dra. Coin ou a enorme quantidade de papel a ser preenchido. O pior de tudo foi que perdemos um paciente no fim da noite passada.

Ele baixou o olhar para as mãos. Meu primeiro impulso foi acalentá-lo com um carinho em seu rosto com sua barba por fazer, me segurei para não fazê-lo e acabar deixando mais pra baixo.

— Você sabe que pode conversar comigo sobre isso quando quiser, não sabe? Vai contra nosso código dar conselhos profissionais pra pessoas próximas, mas ainda tenho minhas super dicas de amiga. — lancei uma piscadela.

— Eu sei, obrigado. — um riso discreto brotou de seus lábios.

— Olha, a Tiffany! — Prim apontou para um local onde várias crianças brincavam.

— Quem é Tiffany, meu anjo?

— A Tiffany tia, ela sempre vai lá em casa.

— Pensei que o nome dela fosse Brittany, eu sempre chamo ela de Brittany.

— Posso ir brincar com ela?

— Pode, mas estou te olhando daqui. — ela largou o que restou da pipoca na mão de Peeta e correu ao encontro da amiga.

— Essa garotinha precisa de um pai.

— Tá se oferecendo? Ou se revelando? — estreitei os olhos pra ele.

— Não tem a mínima condição de eu ser o pai da Prim, essa é a décima vez que te falo!

— É a sétima na verdade, mas não precisa ficar tenso por isso. Já sei o que você precisa! — dei a volta no banco ficando atrás dele. — Uma massagem, e pra sua sorte, sei fazer uma muito bem! — pude sentir a tensão sob meus dedos ao tocar em seus ombros e nuca.

— Não, não precis... Uau. Nossa. — ele falou quase sem pensar, o que me fez rir e continuar massageando, descendo um pouco minhas mãos para suas costas e braços.

— É, eu sei. Agora fica quietinho que enquanto eu te ajudo a relaxar, vou contar uma história. Ontem, eu conheci um cara...

— Ah, tinha que ser!

— Dessa vez acho que vai dar certo, presta atenção. Ontem eu estava caminhando por aqui voltando da faculdade, porque eu gosto de olhar as árvores depois da aula da Amália, que é uma professora-monstro desse último período. Ela passou um trabalho, que meu Deus...

— Volta pra história Katniss.

— Então... Esse moreno super gato estava sentado tocando violão e quando eu passei, ele cantou a frase “eu amo olhar em seus olhos” e me olhou nos olhos, sério! Começamos a conversar e trocamos telefones. Ele estuda música na Universidade de Denver, não sei como nunca nos esbarramos!

— Ele te ligou?

— Umas dez vezes, só hoje, mas eu não atendi. Além das mensagens.

— Por que não atendeu Katniss?

— Você me disse pra não fazer...

— Eu te disse pra não esperar que ele ligasse, ou você fazer alguma besteira falando demais ao telefone. Homens até gostam de um pouco de dificuldade, torna a “caçada” um pouco melhor, mas acabamos desistindo se a presa parece impossível.

— Ai Professor, isso é muito complicado!

— Não é, senta aqui. — ele indicou o lugar ao seu lado. — Você vai mandar uma mensagem pra ele dizendo que seu celular estava com outra pessoa, perdido ou coisa assim, por isso não atendeu. Então, ele vai ligar e você vai marcar um encontro.

— Na verdade, meu plano era explicar pessoalmente.

— Como assim? — um clarão de entendimento passou por seus olhos quando ele olhou ao redor. — Espera, você disse que o encontrou aqui, por isso veio nesse parque tentando vê-lo “por acaso”... Katniss, assim não! — ele brigou.

— Foi mal. — dei de ombros.

— Foi péssimo na verdade, ele não pode te ver aqui.

— Por que não?

— Um leão não gosta de ser seguido por uma zebra.

— Ahn? — perguntei confusa. — Ah, a coisa do caçador. Isso é muito sexista da sua parte Professor.

— Faça o que quiser então, não posso mandar em você.

— Você é uma pessoa particularmente depressiva e mal humorada Professor. Conversar comigo pode te ajudar, sabia? — deitei minha cabeça em seu colo sem pedir permissão, o fazendo recuar um pouco, mas nem me importei e continuei falando. — Vai, me conta sobre seu primeiro plantão triplo.

— É a primeira vez que vejo uma sessão onde o terapeuta fica deitado.

— Sou sua amiga, não sua terapeuta. Agora me conta, qual a melhor e a pior parte de estar trabalhando em um hospital?

— Pretende tentar essa área Katniss?

— Talvez. — falei misteriosa.

— Ok. Pra mim, a melhor parte é quando vou ver um paciente acordado e bem depois de um procedimento complicado em que ele quase morreu. O sorriso da pessoa e da família, não tem preço.

— E a pior? — o encarei séria, e de baixo pra cima, pude ver sua expressão entristecer.

— Deixa isso pra lá Katniss, vamos discutir sobre seu encontro com esse cara.

— Peeta... — ele me olhou nos olhos e juro que os vi marejados. — Me fala.

— A pior é... É quando esse sorriso não acontece.

Peeta deu de ombros encarando o vazio e tentando dar menos importância àquilo, mas não era preciso ser um observador tão bom pra notar como ele estava sofrendo. Ver esse sentimento em alguém que teoricamente já deveria estar se acostumando a ver pessoas morrendo era raro e precioso, então não me contive dessa vez e me sentei ao seu lado o abraçando forte.

— Eu sinto muito. — falei, e Peeta até tentou esconder uma fungada discreta com o rosto em meus cabelos, mas acabei ouvindo.

— Está tudo bem. É que esse foi o primeiro que perdi desde que comecei a residência, eu vou ficar melhor nisso. — ele limpou o rosto com a mão ainda com os braços à minha volta, na tentativa de não me deixar ver suas fraquezas, então logo se separou de mim.

— Eu não sei bem ainda como é isso, mas acho que não ia querer mudar tanto. Quer dizer, não desabar em lágrimas toda vez, mas parar de sentir... Isso é o que nos faz humanos Professor! Rir, chorar, gritar, errar... Por isso levo minha vida loucamente mesmo, me orgulho disso, e foda-se o resto!

— É como ouvi alguém dizer uma vez: há muita sabedoria na loucura.

— Tá me chamando de louca Professor? — protestei com as mãos na cintura.

— Guarda na sua cabecinha apenas a parte do sábia, ok?! — depois de um carinho na minha bochecha, ele voltou a olhar pra Prim brincando ao longe.

— Outra piadinha ruim? Acho que esse é seu tipo de humor.

— Como assim, tipo de humor? Eu não sabia que tinha um...

— Claro que você tem um, só que é bem ruim mesmo!

— Isso, continue me ofendendo...

— Desculpa Professor. Ei, quer mais massagem?

— Não vou negar que você é uma faladeira que sabe fazer uma ótima massagem.

— O segredo está na ponta dos dedos. — dei novamente ao volta no banco e quando ia encostar nele novamente, uma melodia invadiu meus ouvidos. Melodia de violão. Merda!

— Vamos Katniss, você está esperando um creme ou coisa assim?

— O cara. — falei alarmada. — O cara do violão tá logo ali. — joguei o capuz do meu casaco sobre meus cabelos e me abaixei atrás do banco. — Por que eu não trouxe óculos escuros?

— Katniss, sai daí de trás, você tá parecendo uma maluca. — Peeta começou a gargalhar.

— Tem razão, eu vou lá falar com ele.

— Isso também não. Você não quer ser conhecida como uma perseguidora.

— Ah, meu Deus, ele tá vindo pra cá! O que eu faço?

— Você se meteu nessa sozinha, se vire pra sair sozinha. — ele apoiou os antebraços no encosto do banco sentando relaxadamente. Que belo professor fui arrumar!

— Ok, vou mandar mensagem, marcar encontro, mas ele não pode me ver aqui. Leão, zebra... — comecei a revisar em voz alta. — O que eu faço?

— Olha, o cara consegue tocar enquanto caminha. Parabéns Katniss, parece que você encontrou o escolhido mesmo. — Peeta riu às custas do meu desespero.

— Cala a boca Peeta, eu estou pensando!

— Ele vai passar por aqui em dez, nove, oito, sete... — coloquei o capuz cobrindo parte do meu rosto e me joguei no banco ao lado de Peeta.

— Isso é culpa sua por não ter me ajudado.

— O que voc...

Sentei em seu colo e torci pra Prim estar distraída demais pra ver a cena. Apoiei minha mão de direita no pescoço dele e com a esquerda cobri sua boca, aproximando meu rosto. Para qualquer pessoa que passasse, nós éramos apenas um casal comum namorando em um fim de tarde em Denver e graças ao capuz, minha identidade estava segura. Fechei os olhos ouvindo a melodia doce do violão passar por trás de mim e ir se distanciando. Respirei fundo quando eu mal ouvia o toque, então abri os olhos. Peeta estava perplexo.

— O que você está fazendo?

— Resolvendo meu problema. Vamos pra casa agora? — saí de seu colo ainda olhando ao redor.

— Que merda Katniss, você me agarrou num lugar público! — ele levantou-se indignado.

— Deixa de frescura Peeta, coloquei minha mão no meio. — dei de ombros. — E só fiz porque você não me ajudou.

— Eu te disse pra nunca mais fazer isso, ou eu estaria fora do nosso acordo.

— Qual é Professor, que bobagem!

— Bobagem é caralho! Eu estou fora!

— Minha mãe disse que não devemos falar baralho.

— Prim. — falei me abaixando à altura dela quando percebi a pequena ao nosso lado. — O tio Peeta só está nervoso, você está certa, não demos falar essas palavras feias.

— O que foi tio?

— Não foi nada linda, eu só tenho que ir agora. — ele deu um beijo na bochecha dela antes de sair.

— Espera a tia dois segundos aqui no banco, tá bom? E qualquer coisa você grita! — o segui às pressas.

— Você não vai me convencer de novo. — ele falou ainda caminhando.

— Foi burrice minha, me desculpa. Eu só tenho essa capacidade incrível de ferrar com meus relacionamentos, por favor, não deixa que eu faça isso com o nosso também Peeta. Ele é importante.

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— Odeio atitudes impensadas. Odeio impulsividade. Odeio pessoas que me prometem coisas e me enganam. Pensei que fosse diferente, mas você também parece ser um pote cheio de tudo isso!

— Não vai mais acontecer, eu juro! Só não me deixa Professor. — segurei suas mãos. — Se quiser, essa é a última vez que encosto em você. — Peeta gastou mais de alguns minutos me analisando. Resolvi falar por estar começando a ficar incomodada pelo jeito fixo como ele me olhava. Parecia que ele via dentro de mim alguém que eu não conhecia. Outra pessoa. — Não haverá próxima vez, eu prometo.

— Vou acreditar em você.

— Que bom, porque temos ali uma garotinha pra quem eu prometi um sorvete e ela ainda vai me cobrar isso.

— Mais coisas não saudáveis?

— Quer saber? Vamos comer uma salada de frutas e não vou brigar mais com você por isso. — declarei. — Aliás, não vou brigar mais com você por nada. Nosso tempo é corrido demais pra gastarmos em discussões, não acha?

— Finalmente uma coisa que estamos de pleno acordo Katniss.

Peeta me surpreendeu quando passou o braço pelos meus ombros e voltamos para Prim, para um fim de tarde e noite de diversão regados à muitos risos, filmes, comidas e brincadeiras.