Querido...

Envelope aberto.


Querido,

faz bastante tempo desde a última vez que nos vimos. Acho que, por isso, eu não te conheço bem, e vice-versa, talvez. É verdade que nunca fomos próximos, mas essa distância não me impede de sentir algo a seu respeito. Pelo que parece, é assim com você. Você me ama. Eu sei que ama. Porque eu represento a continuação de uma vida que também é sua. Porque eu te lembro da minha mãe de alguma forma, e eu sempre soube que você a amava. Porque sigo uma carreira que você por pouco não seguiu, e você tem todas as esperanças do mundo de que eu honre sua vontade. São só hipóteses minhas, mas no fim das contas tanto faz. O que importa é que você me ama, e de uma maneira tão gratuita, tão natural, um amor pelo qual eu não tive que fazer esforço nenhum. Lutar foi algo que eu precisei fazer a vida inteira. É cansativo. Às vezes dói. É bom poder descansar, respirar ar fresco, nem que seja só um pouco.

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Querido, eu nunca em minha vida tive a intenção de te machucar. Sei que não tenho culpa; não foram minhas mãos que te feriram. Mas eu fui usada como arma, e isso me destrói. Quando aquelas palavras cortantes foram ditas, eu não me importei comigo nem por um segundo. Eu me recolhi, me tornei inatingível, daquela forma que sei fazer tão bem, e desabei. Chorei com uma preocupação tão pesada, que nunca tinha sentido. Eu via o tornado diante de mim e não podia pará-lo. Ao que ele terminou, você tentou me tirar daquele estado deplorável e me devolver alguma vida. Peço perdão mil vezes por não ter sido capaz de andar com minhas próprias pernas. Não; capaz, eu era. Eu é que preferi não ter que me esconder e me mostrar a cada vez que a porta abrisse. Já estava em pedaços. Isso me arruinaria.

Querido, eu não tive coragem de dizer tudo o que precisava. Talvez seja difícil aceitar, mas eu tenho muitos medos por muitos motivos, e até sem razão alguma. Deixo a vida passar quando deveria agarrá-la com todas as forças e a seguro com unhas e dentes quando deveria só deixar fluir. Faço tudo ao contrário, e, ainda assim, existe quem seja como eu. Existe quem me aceite, quem me admire... E até quem consiga me amar. Por ser quem você é, e nunca ter fingido ser outra pessoa, obrigada. Sinto na pele, isso é de uma bravura incalculável. Eu te amo mais do que sou capaz de escrever, mas como você pode ver, não sei lidar com muitas coisas, e essa é uma delas. Peço desculpas.

Querido, estou indo para casa. O caminho é longo, estou sozinha e terei a oportunidade perfeita para pensar. Não sei o que a volta me reserva, e desejo que fique tudo bem. Quando você abrir esta carta, estarei ao mesmo tempo longe e um pouco mais perto. Pensei em dizer para não se preocupar comigo, mas sei como dói ter sua bondade recusada. Apenas confie. Não que eu saiba me cuidar, mas estou aprendendo.

Com amor,

G.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.