Surreal - Art and Insanity

Capítulo 27 - Incômodo


Anne pareceu perceber o quanto tinha dito sem ao menos pensar. E agora ela permanecia sentada no tapete aos pés da cama, com uma falsa preocupação com as unhas, que ela não parava de olhar.

_Por que não foi hoje?

_Acordei indisposta._ Ela respondeu tirando alguns fios de cabelo que tinham desprendido do rabo de cavalo e estava em seu rosto.

Eu sabia que ela estava mentindo, mas talvez fosse um pouco da minha neurose tomando conta dos meus pensamentos...

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Quem sabe tudo isso de achar Anne diferente fosse só minha TPL, meus traços acentuados de Personalidade Esquizotípica e a minha boa e velha TPH entre outras mazelas em mim, e não que ela seja muito diferente pensei tentando enganar-me, mas não sou tão facilmente ludibriado.

_É melhor você ir, logo minha mãe chega._ Ela falou levantando-se.

_Ela não se incomodaria com minha presença._ Falei permanecendo sentado.

_Ela irá incomodar-se, da mesma forma que me incomodo._ Anne rebateu abrindo a porta.

Levantei-me, já cansado de forçar Anne a ficar em minha companhia, mas antes de retirar-me algo chamou minha atenção; era um frasco branco, já tinha visto aquela embalagem antes numa das vezes em que fui a uma drogaria buscar mais de meus preciosos comprimidos que vinham numa cartela grande, dentro da caixinha.

Fui até a mesa e estiquei o braço para pegar aquele frasco branco, mas Anne o tirou de perto rapidamente antes que eu o tocasse.

_Qual é o seu problema?_ Ela falou entredentes, sem nem esperar uma resposta em quanto guardava o frasco numa gaveta qualquer do armário.

_Você, é um grande problema._ Comentei em tom ameno e vi a expressão confusa no rosto de Anne, que logo deu um suspiro pesado e fez sinal para que eu saísse.

Desci lentamente as escadas, tal qual uma miss apenas para ouvir mais daqueles barulhinhos de impaciência que saiam da garganta de Anne. Era incrível como e conseguia divertir-me e irritar-me com o comportamento dela, ao seu lado dificilmente ficava entediado ou não sentia nada, ela me fazia sentir...

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Tanto e tão pouco dentre meus devaneios,
a realidade se seus sentimentos.
Todos tão reais,
tornando os meus cada vez mais banais,
se comparados aos dela.

Torno-me tão banal, sentimental e penso ser patético...
Tudo é uma falácia inédita para minha existência, até seu luto poético,
seus olhos perdidos e um tanto destemidos.
Rogo pragas durante as madrugadas a essa que me faz sentir,
que me faz acreditar no que até então era mentir.
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