Diário de Uma Bruxa - 2° Temporada
Corre, Gordinho
– Tia Petúnia... – Harry me guiou até a cozinha, onde uma mulher incrivelmente magra cozinhava algo incrivelmente gorduroso. Ela se virou e seu olhar parou em mim. – Essa é Louise...minha irmã.
Merda Harry.
Ele pareceu se lembrar de que era um segredo, e começou a se desculpar. Segurei a vontade de fazer um palmface e percebi que Petúnia quase desmaiou. Duda engasgou com as torradas que comia.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– I-irmã? – ela perguntou, em pânico. – Nos mandaram mais uma pra cuidar?
Franzi o nariz com o “mais uma”.
– Mil desculpas... – engoli em seco - ...Tia Petúnia. É uma longa história, que receio que não possa contar. Fugi da casa de meus pais adotivos e Harry foi a primeira pessoa em que pensei para me ajudar. Nós mesmos só descobrimos ser irmãos há poucos meses. Tenha certeza de que não vou incomoda-la por muito tempo. Não tenho intenção de me demorar mais do que até o final das férias.
Ela pareceu um pouco mais calma por meu discurso.
– Então...só um mês, não? – ela se sentou, enquanto Duda ainda parecia boquiaberto, olhando para mim como um bobo. – Acho...acho que tudo bem então.
– Obrigada. Ah, e...será que posso pedir para que guarde segredo? Era pra ser um segredo desde o início, mas Harry aqui. – o olhei com desaprovação – esqueceu.
– Acho...que sim. – ela assentia sem parar, parecendo ligeiramente pálida. – Mas e Walter? O que vai pensar?
– Pode dizer que sou apenas uma amiga de Harry – sorri.
– Acho que sim. – ela disse pela milésima vez. Ela pareceu se recompor um pouco e pela primeira vez, me olhou com atenção, de cima a baixo. – Você parece bem decente, ao contrário daquela outra menina...Hermina?
– Hermione. – corrigiu Harry, com certa irritação.
Ela franziu a testa.
–Você é uma deles? Uma...bruxa?
– Ah... – pensei no que dizer. Já era ruim o bastante ela saber que éramos irmãos, e achei que se falasse a verdade, ela iria pirar e me colocar pra fora. Então tomei uma decisão. – Bruxa?
Devo ter atuado bem, pois ela logo mudou de assunto.
– Ah, nada. Então...onde você estuda?
Ah,droga.
Pensei rápido e lembrei do nome de um internato que Samanta ameaçava me mandar, quando fazia alguma besteira. “Quer fazer besteira? Então vai fazer besteira numa academia trouxa”, ela dizia.
– Academia Saint Claire. – sorri - é um internato só para meninas.
Ela pareceu desconfiada.
– Onde fica? Não me lembro de nenhum internato com esse nome aqui na cidade.
– Fica...em Liverpool. – ótimo, Louise, você é um gênio. Continue mentindo e se enrolando ainda mais. E por que não escolher a cidade de um Beatle? Nem um pouco óbvio.
Ela pareceu convencida.
– Bem, esqueça o que eu disse sobre bruxas. – ela sorriu – é só uma gíria boba de donas de casa.
Levantei uma sobrancelha, mas ela ignorou.
– Já que parece ser tão decente, pode dormir no quarto de Harry. Harry, durma no armário. Já está acostumado.
Percebi que ele rangia os dentes, e me preparei para segura-lo caso ele tivesse um ataque.
– Tudo bem.
– Eu...eu posso dormir no armário. – sorri, ainda nervosa – Não me importo.
Ela insistiu para que ficasse no quarto de Harry – como o ele fez o mesmo, terminei concordando.
Ela preparou um chá com biscoitos pra mim – ela realmente parecia ter gostado de minha pessoa, risos – enquanto perguntava sobre minha vida em Liverpool. Inventei uma vida totalmente diferente; não lembrava dos meus pais, e só sabia que Harry era meu irmão pelo sobrenome (e os olhos, eu disse, rindo). Cresci junto a pais abusivos – não era mentira – que só me contaram que era adotada naquele mesmo dia. Por esse motivo, fugi. Escolhi aquela cidade aleatoriamente, já que era a passagem mais barata, e encontrei Harry na rua. Conversamos e descobrimos que éramos irmãos.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!E essa era a história de Louise Potter. Ou quase.
Um pouco depois, um homem gordo de bochechas rosadas apareceu.
– Quem é ela? – ele colocou uma pasta preta na mesa ao lado.
– Ah, Walter. – ela olhou pra mim, nervosa. – Essa é a amiga de Harry. Ela é normal.
Ela lhe lançou um olhar significativo, que ele pareceu entender. Me levantei e apertei sua mão.
– Prazer em conhece-lo, senhor. Sou Louise Bramen.
Petúnia começou a falar sobre mim e porque estava ali – além de como eu era maravilhosamente educada.
Olhei para Duda e percebi como ele estava tentado a falar que eu era a irmã de Harry. Lhe lancei um olhar mortal e sussurrei, entredentes:
– Quietinho.
Ele engoliu em seco e assentiu.
Passei um bom tempo na casa dos tios de Harry, que a cada dia pareciam gostar ainda mais de mim. Sempre que um deles me elogiava, eu sorria cinicamente para Potter (não faz mais muito sentido chama-lo de Potter já que eu era uma) e ele revirava os olhos.
Três dias antes das férias, resolvemos ir ao parque. O dia estava incrivelmente quente, e o parque infestado de crianças com as suas mães. A grama verde – com as pontas queimadas pelo sol – era curta, mas ainda sim, propensa a acidentes. Andamos por algum tempo, eu usando um vestido de verão e Harry com sua eterna camiseta e jeans. Olhei para as mães felizes, pegando os filhos no final do escorregador e fazendo cócegas. O que minha “mãe” fazia durante os dias de verão? Me colocava um vestido pomposo e apertado – além de calorento – e me trancava (literalmente) no quarto, praticando piano. Enquanto ela se refrescava à beira do lago com Louis.
Digamos que não era muito divertido.
– Deve ser legal. – ele resmungou, me fazendo ficar confusa (e mais uma vez, interrompendo meu bla bla bla interno)
– O que? – perguntei, encorajando-o a continuar.
– Ter uma mãe. – ele olhou para a minha expressão cética – Não uma mãe como aquela mulher desnaturada da Samanta, mas...uma mãe como essas.
Assenti. Ele parecia realmente deprimido nos últimos dias, e eu também, já que não descobrira nada importante ainda. Não era um motivo muito bom, mas ainda era um motivo. Não era legal deixar Você-Sabe-Quem esperando.
Olhei para o lado e vi um balanço. Fazia anos que não brincava num desses.
P.O.V. Harry
Ela pareceu ver algo um pouco longe, e sorriu como há muito tempo não sorria. Desde o Torneio.
– Venha, Harry! . – ela começou a rir como uma criancinha. – Me empurre!
Ela saiu correndo, em direção a um balanço de ferro, e a segui, com um pouco de dificuldade. De onde aquela garota tirava tanta energia?
Ela se sentou no pequeno banco, e a empurrei. A cada vez, ela gritava “mais alto”, e eu pude, olhando para seu rosto radiante, ver porque estava tão feliz e maravilhada.
Ela não tivera uma infância.
Eu tinha crescido sem uma mãe, criado por Tia Petúnia, mas ainda tinha aproveitado bastante. Ela fora criada por um casal de egoístas e possessivos. Tinha que cuidar de si mesma, pois eles não fariam isso por ela.
Ela não era tão má, vista por esse ângulo.
Ela finalmente pareceu satisfeita pela altura e parou de gritar. A um certo momento, ela disse, em um tom relativamente baixo:
– Cedrico costumava me empurrar num balanço na floresta, há muito tempo.
Olhei com atenção para seu rosto. Estava neutro. Não estava chorando, nem mesmo com uma expressão triste. Apenas olhava o horizonte, com os cabelos esvoaçando.
Parecia que tinha finalmente superado. Eu ainda tinha pesadelos, e não duvidava que ela tivesse também, mas no fundo, sabíamos que iria passar.
Mas não seria naquele dia.
– Sabe... – ela parecia extremamente nervosa e indecisa – Já que você me contou algumas coisas, devia fazer o mesmo.
A olhei, curioso e fiz um gesto com a cabeça de “continue”. Ainda a empurrava.
– Lembra quando nossos nomes apareceram no cálice? – assenti – Você me perguntou se eu tinha sonhos estranhos. Eu deveria te contar quais eram.
Ela suspirou e pulou do balanço. Quando se virou pra mim, parecia cansada.
– O primeiro é bem simples agora que tenho certeza de que somos irmãos. Eu sonhei com uma mulher ruiva...acho que era a nossa mãe. Ela me colocou no berço, e tinha um outro bebê ao meu lado. – ela me olhou significativamente – Um homem de manto preto entrou, a matou e...tentou te matar, mas então desapareceu.
– Voldemort. – murmurei, e ela assentiu, sombria.
– O segundo é um pouco mais confuso. Um outro homem, também vestido de preto, me segurava. Eu demorei muito pra entender, mas era...Severo.
P.O.V. Louise
Ele ficou boquiaberto.
– Severo? O que ele...
– Não é só isso. – o interrompi – Ele estava me segurando, e não te vi por ali, então estava provavelmente no berço, ainda. Um homem loiro e uma mulher de cachos negros também estavam lá. Acho que era Lestrange e...Lucio Malfoy.
Ele não pareceu tão surpreso dessa vez. Sempre pensou muito mal dos Malfoy.
– Eles conversaram e me lembro de só uma parte da conversa. Discutiram o que fazer comigo, e me entregaram pro casal que agora sei que não são meus pais. Eles também não sabiam o que fazer com você, mas Severo disse que era melhor deixa-lo lá, já que todos te procurariam.
Ele olhou para as nuvens, pensativo.
– Por que ninguém te procurou?
Balancei os ombros.
– Ainda estou tentando entender isso.
Ele pareceu ter uma ideia, e logo ficou agitado.
– Devíamos perguntar a Sirius. Ele tem de se lembrar de você.
– Sirius Black?! – perguntei, alarmada – Ele não é o psicopata que queria te matar dois anos atrás?
Ele pareceu realmente ofendido, e logo me arrependi pelo comentário.
– Não. Ele é meu padrinho. – levantei uma sobrancelha.
– Certo...o padrinho psicopata que queria te matar dois anos atrás, então?
Ele bufou e revirou os olhos.
– Tudo bem, eu realmente pensei ele queria me matar, mas estava errado. Ele só queria falar comigo e esclarecer as coisas.
Balancei os ombros.
– Tio Pedro se lembra de mim. – sorri, brincalhona. – Devíamos falar com ele.
Ele revirou os olhos pela décima vez.
– Claro. Por que não levamos uma torta?
Continuamos brincando e logo o assunto foi encerrado. Ainda estava confusa e cheia de perguntas, mas estar com Harry me fazia esquecer por um momento. Depois de um tempo, as mães foram embora, levando os filhos junto, e resolvemos nos deitar na grama, olhando para o céu azul.
Depois de alguns segundos apenas apreciando a leve brisa, ele falou:
– Você sabe o que isso significa, não sabe?
O olhei, e ele estava de olhos fechados. Pareceu aceitar meu silêncio como uma dúvida, e continuou:
– Significa que Severo era ou é um comensal.
Voltei a olhar pra cima, depois fechei os olhos.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Sim. Mas acho que se ele ainda fosse, Dumbledore saberia.
– Nunca se sabe. – disse em tom de escárnio.
Balancei a cabeça e bufei.
– Escuta, se ele ainda é, deve fazer parte do plano de Dumby. Ele é velho mas não é bobo.
– Dumby? – ele riu.
– Ah, vai se foder.
Alguns minutos depois, ouvimos passos. E vozes.
– Olha só os dois idiotas.
Abri os olhos e me sentei, encarando o grupo de meninos liderado por Duda.
– Vai pra casa. – disse Harry, sem mexer um músculo. – Tia Petúnia está te chamando.
– Eu não ouvi nada. – ele disse, meio revoltado. – Mas acho que ouvi a sua mãe te chamar.
O maxilar de Harry se trincou, mas ainda não tinha se levantado pra bater na cara de Duda.
– Ah, desculpa, Harry. Esqueci. Onde está sua mãe mesmo? Ela está...morta?
Senti meus lábios formarem uma linha fina – involuntariamente, tinha aprendido esse gesto com Samanta – e o encarei, sombria.
– Duda. Por favor. Pare de defecar pela boca. – Sim, essa era eu sendo educada.
Ele pareceu ainda mais propenso a continuar enchendo.
– Ah, Louise. Também tinha esquecido. Era a sua mãe também, não era? – ele riu, e os garotos o acompanharam – Acho que ela não voltou da padaria.
Me levantei e me aproximei de Duda, sussurrando em seu ouvido da forma mais assustadora que pude:
– Achei que fosse nosso segredinho. – ri.
Ele parecei ainda mais confuso, e me afastei o suficiente para ele ver o meu rosto com clareza.
– Sabe, eu não gosto de gente que revela meus segredos. – Assim que peguei minha varinha, ele a percebeu, e ficou pálido. – Mas eu não me preocupo. Posso calar a boca delas num instante.
Ele tentou ir para trás e tropeçou.
– Mas...eu achei que você...
– Que eu fosse normal? – ri, levantando a varinha. – Pense de novo.
Ele sairia correndo, mas algo aconteceu incrivelmente rápido.
O céu escureceu, nuvens escuras se fecharam em torno, e uma ventania fez os brinquedos do parque enlouquecerem. Os meninos saíram correndo, mas eu, Duda e Harry ficamos olhando para cima, como bobos. Eu e Potter (mais uma vez, não faz muito sentido eu chama-lo assim agora) trocamos olhares nervosos.
– Corre, gordinho, corre.
Fale com o autor