Our Secret!

Onze anos, Ponyo: Amor não existe.


Onze anos - Dois anos.

Querido Diário.

24/09

Eu sinceramente sabia que esse momento iria chegar... Por mais que eu evitasse, uma hora eu teria que enfrentá-lo. Essa é a hora em que eu respiro fundo e tento me concentrar ao máximo.

É o momento em que eu tenho que falar do vídeo que passaram na sala hoje sobre a puberdade.

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Eu e o Lys estávamos sentados um do lado do outro, observando com atenção a tela. Okay, no começo foi algo bem simples de se entender... A gente cresce, nasce pelos, o corpo muda, etc. O problema é que depois o filme começou a falar sobre reprodução.

Detalhe por detalhe.

Nessa parte eu não sei quem se afundou mais na cadeira, se fui eu ou Lys. Eu nunca o vi tão vermelho, embora sei que eu não estava muito melhor do que ele. Devia ser um crime passar coisas tão constrangedoras para crianças. Eles explicaram tantas coisas... Inclusive camisinhas, menstruação, masturbação, bebês e como eles nascem, e tenho que dizer, pretendo morrer sem nenhum filho. Por quê? Droga, uma melancia saindo por um buraco do tamanho de uma uva, não é nada fácil, pobre de minha mãe, que teve gêmeos.

O filme também explicou que homens fazem certas coisas no banheiro. TODOS os meninos ficaram vermelhos na hora, inclusive o Lysandre. Tenho que perguntar se ele já se... masturbou... (Pronto, falei/escrevi).

Eu estou escrevendo na sala de aula, se o professor me pega, fico um ano de castigo.

NOTAS:

– Comprar Sutiãs e calcinhas novas, os antigos já estão ficando apertados.

– Fazer exercícios de matemática, questão 2 a 42 (Obrigada professora, tomara que quebre a perna).

– Obrigar Lys a me ajudar/passar cola.

– Comprar mais remédios e mamadeiras noas.

– Comprar novas –––¹, as minhas já estão bem gastas.

– Mandar o Lysandre parar de cabular aula com Castiel².

– Encomendar uma nova blusa do uniforme, a que estou usando já está ficando meio apertada (Vou ter que aguentar Kim e Lys enchendo meu saco, falando que é por causa das “gordurinhas”, os dois se odeiam mas amam me irritar juntos).

– Esconder a prova de matemática, tirei uma nota VERMELHA, isso nunca aconteceu antes. Isso foi culpa da Lotte que me convenceu a assistir a um filme em vez de estudar.

Obrigada por me ouvir, querido diário.

(...)

Acordei bem feliz hoje, eu e Lys vamos fazer um piquenique. Sozinhos! É ótimo finalmente ser adulta e poder ter esse tipo de liberdade! Tudo bem que é no quintal dele e minha mãe vai ficar nos vigiando... Mas mesmo assim é ótimo!

Coloquei um vestido de verão amarelo com girassol e um laço marrom nos cabelos. Tentei não pentear muito, ele meio que tem uns cachos nas pontas bonitinhos, mas quando eu passo a escova eles se desfazem de demoram para ficar fofinhos novamente. Não coloquei nenhuma sandália, minha mãe não gosta como andamos com sapatos dentro de casa. Ela não gosta que a gente faça um monte e coisas.

Fui a cozinha e preparei duas mamadeiras com leite e algumas comidas para o piquenique. Levei as mamadeiras para Ambre e Andrea, minha mãe estava dormindo e elas já conseguem ficar sozinhas em casa assistindo TV. Eu sai do quarto e olhei a porta que tem em frente, a porta do quarto de Nathaniel.

Faz dois anos que eu e minha mãe não entramos ai.

Faz dois anos que trancamos a porta e escondemos a chave, como se ele nunca tivesse existido.

Faz dois anos que minha mãe fechou a padaria e só sai de casa raramente. E sempre fica no quarto sozinha.

Faz dois anos que minha mãe parou de cuidar da casa, da Ambre, da Andrea, de mim, de tudo.

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Faz dois anos que eu uso o dinheiro do divórcio para pagar as contas e alimentar todas nós, eu me tornei a mais uma "Mãe" do que uma irmã para as duas.

Faz dois anos que minha mãe resolveu descontar a raiva do divórcio e do filho morto em mim.

Faz dois anos que eu não posso usar biquíni por conta das manchas roxas pelo corpo.

Faz dois anos que não sou mais a mesma.

(...)

–Lysandre! Estamos em um piquenique! Larga esse bloco agora. -Falei pegando o bloco da sua mão e colocando do meu lado.

–Eu só estava desenhando a árvore, ela está florescendo e não quero perder isso.

Olhei para cima e percebi que a enorme árvore Ipê com umas lindas florzinhas vermelhas quase em seu estágio final. Aquela era nossa árvore, sempre sentamos em baixo dela.

Estamos sentando em cima de uma toalha azul, eu estou observando as flores crescendo no jardim por conta do começo primavera, já o Lys, pra variar, está sendo um chato. As flores estão tão magníficas, é como observar a natureza despertando de um longo sono, é tão romântico.

–Algum dia quero ter meu primeiro beijo em baixo dela, deve ser super romântico! Vai ser meu amor verdadeiro para o resto da vida. - Disse sorrindo e deitando.

–Amor é uma idiotice. - Falou Lys deitando-se ao meu lado.

–Como pode dizer isso?

–Mas é a pura verdade, Ponyo. Ele só serve para machucar e iludir as pessoas, como a...

–Como quem? - Olhei fixamente para ele e segurei sua mão.

–Como a minha mãe. Eu descobri por que ela tinha se divorciado, eu descobri por que ela tinha fugido o mais rápido possível da Rússia. Meu pai tinha outra, e não era apenas uma, eram várias, e isso foi desde que ele começou a namorar minha mãe.

–L-Lys, isso é...

–Horrível? Você nem imagina, o pior é que minha mãe também tinha um amante, e quando ela descobriu, continuo casada com meu pai. Ela só "acordou" quando descobriu que uma das amantes era sua própria irmã. - Ele apertou minha mão com força, seus olhos estavam brilhantes. - Entende, Ponyo? Isso tudo é uma idiotice tremenda.

–Eu não sei como pude falar algo assim, tudo bem que seu pai errou e sua mãe também, mas isso não significa que todo mundo também!

–Jura? E seus pais? Que eu saiba ele está na Rússia por que não quis vocês e sua mãe nem sequer lembra que tem filh...

Eu apenas sei que levantei e dei o tapa mais forte que consegui no rosto de Lysandre.

Depois disso sei que não nos falamos até o Natal.

(...)

O natal foi bom, minha mãe finalmente tinha me falado a senha do seu cartão, o que me fez ter acesso a conta com o dinheiro da venda da empresa. Pude comprar várias coisas para a ceia e presentes para Ambre e Andrea. Por mais que eu tentei resistir, não aguentei e comprei um presente para Lysandre. As vezes eu realmente sou bem fraca.

Coloquei um vestido branco calcei um chinelo branco brega escritos várias coisas como "Amor", "Paz" e essas drogas todas. Era dia 31, o réveillon.

Também coloquei roupas leves nas meninas e as deixei tomando raspadinha. É engraçado como duas gêmeas podem ser tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes. Em quanto Ambre estava com um vestidinho fofo prendendo os cabelos, Andrea estava com um short velho e com uma camiseta minha, toda lambuzada da raspadinha.

Fui para o meu quarto e peguei a caixinha verde embrulhada em cima da comoda e passei pela passagem.

Lys falou para eu o encontrar no andar de cima, na varanda que tinha no corredor. Subi para lá e o encontrei apreciando a vista, olhando para a praia que tinha no fim do nosso "Quintal". Sentei ao seu lado e vi várias fotos espalhadas pelo chão e penduradas.

–O que você está fazendo?

–Jogando fotos inúteis foras e guardando as boas.

–Tem alguma minha?

–A maioria são suas.

Eu ia falar algo, mas a Dona Giovanna entrou na varanda e me convidou para passar a virada com eles. Claro que eu aceitei, embora eu tenha que aguentar a Lívia, sua "adórável" neta, que eu sinceramente tenho vontade de socar. Giovanna me agradeceu e foi embora, deixando novamente eu e Lys sozinhos.

–Tem várias fotos de paisagens e artigos sobre isso...

–Eu quero ser fotógrafo quando ficar mais velho e viajar pelo mundo.

–Não era músico?

–Eu desisti, a algum tempo eu tire foto do nosso "Jardim"... Acho que me apaixonei pela câmera. - Disse sorrindo.- Sabe, Ponyo... Desculpe, não devia ter dito aquelas coisas para você.

–Desculpe pelo tapa...

–Tudo bem, não doeu muito. Você é bem fraquinha.

Dei um tapa nele de brincadeira e começamos a rir, era bom estar com Lysandre de novo.

–Você realmente não acredita no amor?

–Não acredito no amor de um homem para uma mulher, em amor de amigos, fraternal, paterno e materno eu acredito. - Ele possou sua mão sobre a minha e ficou com um olhar distante. - Ponyo, promete que vamos ser amigos para sempre? Não importa a burradas que eu ou você fazer?

–Eu prometo. - Estendi meu dedinho, ele estendeu o dele e selamos a promessa.

–Lys, quase ia me esquecendo. Feliz natal atrasado. - Entreguei o presente e evitei olhar em seus olhos. Não queria que ele percebesse que estou com vergonha, seria muito zoada. Era apenas um presente bobo, um colar com um pingente redondo, com a foto minha e dele no meu primeiro aniversário.

Senti seus braços rodeando o meu corpo. Era a primeira vez que ele me abraçava em muito tempo.

–Muito obrigada... Amélia.

–Não me chame assim, boboca. Você sabe o quanto eu odeio o meu nome. -Okay, tudo bem que meu nome de batismo é Amélia Desire Ivanov, mas isso não significa que tenho que gostar dele. Prefiro mil vezes meu apelido "Ponyo"³.

Lysandre colocou o colar e começou a olhar novamente as fotos. Eu nunca tinha notado antes, mas ele tem olhos lindos.

______

N/T¹: há certas coisas que Amélia escreve em seu diário que não podemos ler, podendo estar borrado, tremido ou apenas ilegivél... Lágrimas borram a página.

N/T²: Lys e Castiel costumavam cabular aulas para ensaiar ou apenas esqueciam de comparecer. Ponyo nunca dava advertências a eles.

N/t³: "Ponyo" não é apenas um apelido que coloquei por causa do meu ID ou algo assim, tem uma importância fundamental na história que será revelado no futuro.