Caminhou lentamente, sentindo-se mais cansada que o normal, embora estivesse com uma excelente disposição. Dormira mal nas últimas noites, sem conseguir uma boa posição para relaxar. As pernas estavam um pouco inchadas e a dor nas costas aumentava a cada dia. Nada que não fosse esperado para o estado no qual se encontrava.

A ansiedade também era previsível, afinal, a sua vida passaria por uma mudança radical. O pior mesmo era ficar em casa sozinha. Queria continuar trabalhando, mas praticamente havia sido expulsa do Ministério da Magia. “No seu estado, melhor é ficar descansando”, afirmou o ministro em pessoa, já que outros tinham tentado convencê-la sem sucesso.

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Há uma semana se encontrava em casa. Já arrumara e desarrumara a bagagem de mão várias vezes e nada mais havia a ajeitar no quarto da futura moradora, responsável pela grande reviravolta da sua vida. Por mais incrível que pudesse parecer, não conseguia olhar para os livros. Estava enjoada até do cheiro das páginas, que antes amava.

Subiu devagar as escadas e entrou em seu quarto sabendo exatamente o que buscava. Da prateleira mais alta do armário, que alcançou com dificuldade, retirou um pequeno baú branco com delicados desenhos de flores rosa. Colocou o baú na cama. Logo depois pegou uma caixinha de música que se encontrava sobre a penteadeira e de dentro dela tirou a minúscula chave dourada.

Antes de se sentar na cama, abriu as cortinas para deixar a luminosidade da tarde atravessar o vidro da janela. Levou as mãos às costas, sentindo mais uma pontada de dor. Estava chegando a hora. Mesmo se ansiosa, experimentava uma grande felicidade. Olhou novamente para o baú e sorriu. Sim, ali dentro se encontrava um pequeno-grande tesouro.

Já havia aberto tantas vezes aquele baú, mas, ainda assim, sempre se emocionava. O tesouro que guardava não tinha valor econômico e sim afetivo. Colocou a pequena chave na fechadura e a girou rapidamente. Com um rodopio da varinha fez voltar ao tamanho original o tesouro escondido no interior do baú: uma pilha de pergaminhos manuscritos com tinta e pena.

Letras infantis com traços inseguros que, aos poucos, se tornavam mais decididos e ganhavam personalidade. Cartas trocadas no recesso escolar ao longo do período que estudaram juntos. Apesar de não falarem abertamente dos sentimentos, não restava dúvida que eram cartas de amor. Ou seria melhor dizer que eram cartas sobre a descoberta do amor?

Sorriu mais uma vez e fez um carinho demorado na volumosa barriga. Estava grávida da sua primeira filha e o bebê, parecendo sentir a emoção da mãe, se mexeu. “Vamos ler juntas as cartas trocadas por mim e seu pai quando ainda não imaginávamos que um dia iríamos nos casar?”, convidou em tom amoroso.

Ajeitando os travesseiros para encontrar uma posição confortável para as costas, Hermione alcançou a primeira carta. Queria lê-las na ordem que tinham sido escritas para assim reviver como aquele amor tão forte e maravilhoso havia nascido e crescido até não poder mais ser guardado em segredo dentro dos corações dela e do seu futuro marido.

Ronald Billius Weasley. Ron, simplesmente, como sempre gostara de chamá-lo. Aquele menino de cabelos vermelhos contrastando com os olhos muito azuis logo chamou a sua atenção. A princípio acreditou que era porque o achara diferente e um pouco estranho até. Hoje entendia. O coração dela o reconheceu na primeira vez que se encontrou com o ruivinho, no Expresso de Hogwarts. Feliz com essas lembranças, pegou o pergaminho, já amarelado pelo tempo, e começou a ler.

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