Capítulo 56 - O Javali De Caridon

O relógio de Cassandra marcava 23:50 da noite.

Estávamos todos sentados em um dos bancos que ficavam em frente ao lago do Central Park. Eu usava todo o meu autocontrole para não roer as unhas de tanto nervosismo. Ártemis havia me dito que eu passaria por testes; será que Jano estava planejando algo? Com certeza estava.

Olhei para as facas gêmeas embainhadas em minha cintura; a noite elas brilhavam prateadas, como o meu chalé. Desembainhei uma delas e olhei meu reflexo na lâmina; meu rosto demonstrava cansaço e eu tinha um pequeno arranhão na testa.

Uma claridade chamou nossa atenção. Todos olhamos para trás e lá vinha o sujeito de duas caras; com um sorriso maldoso em seus rostos.

– Pelo menos esse traiçoeiro é pontual. - comentou Cassie entredentes.

– Que bom que estão aqui! - cumprimentou o rosto da direita.

– Vamos direto aos negócios! - falou mal - humoradamente o rosto da esquerda.

– Sim, vamos aos negócios. - concordou o rosto da direita e apontou para mim - Filha da donzela, venha aqui.

Me levantei do banco e embainhei novamente a faca. Aproximei-me de Jano, com Nico, Cassandra e Percy me seguindo.

Olhei Jano com frieza e o rosto esquerdo de Jano riu.

– Você se parece com sua mãe. Aquela deusa da caça arrogante. Prometeu que seria virgem para sempre, selou seu destino e agora convence várias garotas a se tornarem caçadoras, a não terem escolhas... - sua voz era um pouco raivosa. Fiquei com vontade de fazer Jano engolir suas palavras junto com minha faca, mas minha missão era recuperar o Elmo de Escuridão de Hades.

– Bem, vamos direto ao assunto. - disse o rosto direito - Eu perdi um javali aqui no parque, Alexandra Jones, e preciso que você o casse para mim.

Tentei não pensar em como ele poderia ter perdido um javali no Central Park.

– E por que eu o caçaria? - ergui uma sobrancelha.

– Porque se você o caçar, eu lhe entregarei o Elmo de Hades. - respondeu serenamente o rosto da direita.

Hesitei por uns segundos.

– Vamos lá filha de Ártemis, estamos lhe dando uma chance de provar que é digna de ser a única filha de sua mãe. - disse o rosto da esquerda.

– Jure pelo Estige que nos dará o Elmo. - falou Cassandra.

– Eu juro pelo Estige. - disse os dois rostos ao mesmo tempo.

– Você pode fazer isso, Sandy! Se alguém pode caçar esse animal é você! - Cassandra pôs a mão em meu ombro.

O rosto esquerdo riu com escárnio.

– É claro que pode. - sorriu zombeteiro - Você seria completamente capaz de caçar o Javali de Caridon.

Um urro soou entre as grandes arvores do parque.

Olhei para meus amigos.

– Eu vou caçar um javali. - disse confiante, embora não me sentisse assim.

Me aproximei de Nico e o beijei.

– Torça por mim. - sussurrei.

Então me virei e corri em direção ao bosque. O Central Park era maior do que parecia. Tirei o anel do dedo e contemplei meu belo arco prateado. Botei a aljava no ombro e continuei correndo em direção aos urros. Eu conhecia um pouco da história do javali de Caridon, se não me engano Atalanta conseguiu mata-lo. Me lembro também que ela era a favorita de Ártemis e isso me deu um pouco de raiva já que eu era filha de Ártemis.

Vi uma árvore que parecia mais alta que as outras; parecia firme e segura para subir. Talvez se eu usasse a mesma estratégia que usara no Acampamento...

Pendurei o arco no ombro e comecei a subir até o topo. Isso foi uma boa decisão, consegui ver o javali. Armei o arco com uma flecha; o animal se movia muito rapidamente e sua pele parecia resistente demais para que fosse morto por uma só flecha. Teria que mata-lo com minhas facas. Uma ideia me veio em mente, mirei nas patas do bicho. O javali urrou de dor quando o feri certeiramente na pata; ele ficou mais lento e eu aproveitei para mirar em sua outra pata. Ótimo, agora eu poderia descer e esfaquea-lo.

Foi o que fiz, fiquei parada no meio de seu caminho enquanto ele se aproximava; poderia estar ferido mas ainda assim era rápido. Ele avançou para mim e eu pulei para o lado e depois pulei em um salto para as costas do animal. Com um grito de pura adrenalina finquei minhas duas facas em seu pescoço. O bicho guinchou e se balançou mas continuei firme, até que ele ficasse totalmente imóvel no chão. Morto.

Tirei minhas facas do animal e limpei o sangue da lâmina. Algo brilhou próximo a mim e eu olhei para o lado; uma corda prateada estava no chão. Sorri, minha mãe tinha visto minha primeira caçada.

Peguei a corda e amarrei no pescoço do Javali; estava na hora de pegar meu premio.