Nos dias que se seguiram, Lady Valentiny me obrigou a retornar áquele lugar despresível. Sempre às sete da manhã, a gente partia, e retornávamos às 2 da madrugada. Eu nunca conseguia ver o que elas faziam ou diziam dentro daquele lugar, mas cada vez mais Valentiny parecia revoltada e exausta. Também reparei que ela sempre carregava uma bolsa, que continha um objeto valioso quando partíamos de Cair Paravel, e estava vazia quando retornávamos.

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Já cheguei a ver uma flecha vermelha, da Rainha Susana, um frasco com um pouco do suco da flor de fogo, alguns diamantes, e outras jóias e armas. Mas neste dia, a sacola se mexia.

Quando pousamos na clarabóia, Valentiny correu com a sacola para a sala atrás da porta. Porém, hoje, ela esqueceu de fechar. O local era uma linda sala, com vitrais coloridos nas paredes, velas de luz verde, e uma mesa de jantar de mogno escuro. Sobre ela, eu podia ver todas as coisas que Valentiny havia trazido, danificadas, de algum modo. A flecha da Rainha Susana estava quebrada ao meio, o frasco vazio, e todas as jóias e diamantes haviam perdido o brilho, tornando-se negros.

Vera também estava diferente. Não era mais a moça doce que eu conhecera no lago. Parecia uma mulher, cruel, fria e poderosa, usando um longo e comprido manto verde brilhante.

– Valentiny... - ela falou, sua voz estava assustadora - Parece péssima. Trouxe o que pedi?

Valentiny jogou a bolsa sobre a mesa. Esta se abriu, e um rato de tamanho considerável engatinhou dali de dentro, atordoado. Tinha o corpo machucado, e usava um círculo de ouro na orelha, com uma pena vermelha, que estava quebrada.

– Aqui está. O melhor guerreiro de Nárnia. - ela suspirou.

– Excelente... - Vera analisou o pequeno rato, assustado - Não me parece tão heróico agora, não é?

– E quanto ao meu pai? Agora pode libertá-lo? - Valentiny perguntou - Eu lhe trouxe tudo o que você pedi.

– Seu pai?..... Ah é.... o seu pai... - Vera falou - Sinto muito, querida, mas não posso libertá-lo.

– Não? Como não?! Eu lhe trouxe tudo o que pediu! Eu quase fui pega algumas vezes! Como assim não pode libertá-lo? - Valentiny retrucou, exaltada.

– Calma, querida, tudo vai se resolver... - Vera disse, docemente.

– Não diga isso! Eu quero meu pai! - Valentiny começou a chorar.

– SEU PAI ESTÁ MORTO! - Vera trovejou - Jamais se libertará! E se quer saber? Aslan estava certo em condená-lo, seu pai era um monstro!

– Não diga isso! - Valentiny chorava.

– Mas não se preocupe, querida. Você ainda vai vê-lo. - ela sussurrou.

– Vou? - Valentiny olhou-a, esperançosa.

– Vai, sim... Aslan também te condenará... - ela sussurrou novamente.

– Por que ele me condenaria? - Valentiny se assustou.

Porque você libertou... Vera, A Feiticeira Verde... - a voz de Vera se tornou fantasmagórica. Ela se tornou em uma fumaça, uma neblina, que encobriu Valentiny. - E eu estou mais poderosa do que jamais estive...

A fumaça brilhou algumas vezes, como trovões em uma tempestade. Valentiny tentou lutar, mas era muito mais forte que ela, e logo a dominou por completo. Em poucos momentos de terror, a névoa se dissipou. Valentiny ainda estava ali, de pé. Seus cabelos se tornaram negros, embora continuassem cacheados; sua pele se tornou quase transparente, como a de um fantasma, e seus olhos brilhavam, completamente verdes.

– Ah.... - Valentiny falou, mas eu sabia que não era ela - Como é bom ter um corpo outra vez... Vamos visitar meus amiguinhos narnianos.... Lando!

Sim, majestade? - um minotauro negro apareceu, mas por sorte não me viu.

– Prepare meu exército. Vamos ver como estão meus amigos de Nárnia muito em breve... – ela disse, admirando suas mãos, as quais agora ela podia sentir.

– Sim, majestade. - e o minotauro saiu.

Estarrecida de terror, eu comecei correr. Ela me ouviu, lançando raios contra mim. Alguns me atingiram. Era paralisantes e muito dolorosos, mas eu não parei em momento algum. Pouco antes dela me alcançar, eu consegui fugir pela clarabóia, e voei, até retornar. Eu só me lembro de avistar Cair Paravel, e então, eu apaguei.

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***

Todos olhavam para mim, aterrorisados. As moças sussurravam, perguntando-se o que fariam.

– Majestade Lúcia... - eu olhei para ela, com os olhos marejados - Me perdoe...

– Não foi culpa sua, querida. - ela abraçou meu focinho - Não foi culpa sua...

– Rainha Lúcia, leve a Guaia até o estábulo, e providencie alimento e água. - Rainha Helena ordenou.

– Obrigada, majestades, obrigada! - eu disse, enquanto Rainha Lúcia me conduzia.

Ela me levou até o estábulo, onde eu comi cenouras, favas e aveias até me fartar. Depois, eu deitei, enquanto ela se despedia de mim. Mas a imagem de Valentiny sendo possuída não me saía da mente. Como poderemos libertá-la? Ou melhor, como enfrentaremos a Vera?