Uma Escolha

Está vendo essas duas chaves? ele pergunta me olhando A dourada te leva para o paraíso, e você terá tudo o que quiser, no entanto sua família viverá no próprio inferno. Se escolher a prateada seus amigos e família poderão viver bem, mas você terá uma vida de remorso em um mundo obscuro. Então, humana, escolha com cautela!

...

Sabe quando você vai ao dentista e sente medo daquele barulho horrível, aquele motorzinho que parece entrar na sua cabeça? Ou então quando você perde algo muito importante e tem que contar aos seus pais? Esses são medos comuns, medos pequenos, e não se comparam ao que estou sentindo agora. O pavor está a sugar minhas forças, e pensar que em um movimento, uma escolha, eu posso acabar com a vida de várias pessoas.

Está me correndo um frio na espinha que vai desde a nuca até o finalzinho da coluna. Estou sem ação, meus pés estão colados no chão, eu apenas estou ofegante e suando gelado. Meus olhos estão fixos na criatura, minha boca aberta ajudando na respiração, não sei por quanto tempo aguento o peso do meu corpo.

Com o pouco de lucidez que ainda me resta, concentro todas as minhas forças no braço direito, ergo lentamente e seguro firme a chave prateada.

Sim, vou sacrificar minha vida por meus amigos e família, pois eu sou um mero verme diante das pessoas que vou salvar. Sempre fui egoísta e até desejava o mal de algumas pessoas, como todo ser humano, mas agora é diferente, eu não estou no direito de julgar ninguém a não ser eu mesma.

Assim que pego a chave prateada vários fechos de luz saem de dentro daquele esqueleto. Movo os braços para proteger os olhos, pois está acontecendo uma explosão de luzes tão grande que é capaz de me cegar.

Ainda estou com o rosto coberto, esperando alguns segundos para poder ver o que acontecera.

...

Acho que já posso abrir os olhos. Faço isso lentamente, com medo, angústia, mas acima de tudo, estou mais curiosa do que nunca. Será apenas um sonho? Será mesmo a realidade? Mas por quê? Por que comigo? Uma simples garota de cabelos ruivos desgrenhados, que os deixa soltos apenas por preguiça de pentear. Uma garota de sardas na pele, olhos castanhos comuns e um corpo sem graça. Não sou tão inteligente, na verdade, sou o suficiente para passar nas provas escolares, não sou meiga e bondosa, sou desleixada e pouco social. Então por que isso está acontecendo comigo? Talvez eu tenha sido uma escolha aleatória, pois pessoas como eu, pessoas sem nada especial, não são escolhidas a dedo.

(continua...)