A testemunha- HIATUS
A casa dos Vieira
Uma semana já se passou desde que cheguei aqui. Nesse momento, uma psicóloga fala comigo, para ver se estou com problemas, a sessão já está quase acabando e já contei muita coisa.
– Como se sente sobre isso? - Ela pergunta, falando de minha fobia da noite
– Sinto que toda vez que escurece, ele irá aparecer. Um aperto enorme se forma em meu peito, como se o coração fosse esmagado.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!–Ele quem? - Ela anota minha frase em um bloco de papel
–O assassino. Quando o escuro chega, quero morrer.
–Não quero assustar, mas isso pode ser inicio de depressão sazonal.
Bela noticia para começar o dia.
– Nossa sessão acabou, vou analisar em meu escritório, fique bem e tente resistir a noite, certo?
– Tá
A psicóloga sai de meu quarto e fecha a porta. O relógio marca nove horas em ponto. Me deito na cama, mas o sono não vem.
Levanto-me e vou para o banheiro. Tomo um banho gelado, para despertar mais rápido. Estou naquela sensação estranha de estar com sono, mas não conseguir dormir, como se eu fosse uma âncora (comparação tosca, até demais).
– Toc toc - minha mãe fala , batendo na porta do banheiro.
– Ei
– A psicóloga falou sobre a sessão de hoje, se sente depressiva?
– Papo legal para se ter na porta do banheiro. - Falo, vestindo um shorts jeans e blusa regata amarela.
– Me responda.
– Não deve ser depressão, a mãe da Marisa já teve e foi bem pior o modo como se sentia. Acho que é trauma
– Sei, sei - Minha mãe diz, ironicamente - Ian e Clara estão na sala, querem falar com você.
Encaro a mim mesma no espelho
– Eu fiz algo errado? - Pergunto
– Parecem animados
Relaxo os ombros
– Tá, diga que já irei descer
– Beleza
Ouço passos se distanciando do banheiro. Amarro o longo cabelo em um rabo de cavalo e escovo os dentes. Vou para meu quarto, aplico um pouco de base para diminuir a pequena espinha em minha testa e passo gloss de morango nos lábios, acho que esqueci de comentar, mas Clara detesta quando me vê de "Cara lavada", desde o dia em que ela falou isso, passo pelo menos um gloss nos lábios.
Assim que termino de me perfumar, desço as escadas e vou para a sala. Ian está lendo uma revista de carros e Clara está trocando os canais na TV, provavelmente procurando um filme de romance daqueles bem melosos. A menina veste um vestido rodado estampado de flores, e o menino usa moletom e calça jeans.
– Ei pessoal, o que fazem aqui? - Pergunto
– Bom dia para você também - Clara diz
– Clara, não seja chata- Ian a adverte
– Só quando ela falar bom dia
Tenho que admitir, a garota era bem teatral
– Bom dia - Resmungo
– Agora sim. Escuta, vamos aproveitar esse tempo até o almoço para ir na minha casa...
– Nossa - Ian interrompe
– Que seja. Assim, nós conversaremos e trocaremos experiências e blá blá blá. O que acha?
– Parece legal,mas tenho que perguntar para minha Mãe...
– Vai ter uma vida social -Minha Mãe grita
Fico espantada, ela sempre teve boa audição, mas ouvir a conversa dos outros me incomoda.
– Nesse caso, eu vou.
Os irmãos se levantam, indo para a porta de entrada. Eu os acompanho e eles saem rua adentro, vou os seguindo até a casa deles.
– Uau! - Exclamo
A casa não é diferente da minha, o mesmo molde, só que pintado de amarelo canário. O lugar onde deveria ser somente grama, habita um campo de flores dente de leão (Alguns já brancos e prontos para o sopro, outros amarelinhos), o único lugar vazio é uma trilha de pedras de caminho que acaba na porta de entrada (que é branca e tem um vitral na parte de cima) .
–Admirando a casa? - Ian pergunta
– É tão requintada - Falo, enquanto caminhamos
– Meu pai trabalhava no parque botânico da cidade - Ele comenta - E, com o tempo, foi arrumando a casa conforme seu jeito.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Quanto tempo faz que estão aqui, digo, no programa de proteção? - Pergunto
– Dois anos - Clara, que estava soprando um dente de leão fala.
Penso um pouco. Dois anos nesse lugar parece muito tempo.
– Vocês veem seus amigos com frequência?
– Não os vejo desde que botei os pés aqui dentro - Ian fala, seus olhos azuis transmitem tristeza
Penso em Marisa, quanto tempo eu aguentaria sem ter ela para desabafar e contar tudo o que sinto?
– Uma vez por mês eles nos permitem um bilhete para os amigos, mas não podem ser extensos e devem seguir as regras de privacidade, é horrível - Clara fala, com raiva.
– Crianças - Uma voz feminina soa - Por que não entram?
– Devo te alertar sobre minha madrasta - Ian sussurra em meu ouvido - Ela é um pouquinho... deixa pra lá
Arregalo os olhos
Clara abre a porta de entrada, revelando um ambiente parecido com minha casa.
Uma grande escada de mármore é a primeira coisa que noto, ela não tem corrimões. O lugar onde em casa fica a mesinha com flores, deu lugar a uma luxuosa poltrona vermelha (Não que eu veja sentido em ter uma poltrona vermelha de costas para a escada).
– Bem vinda, Lisa. - A voz feminina fala
Olho para os lados e vejo um mulher glamourosa. Ela em olhos verde escuro e cabelos castanhos claro. A mulher deve ter uns 1,70 e tem uma magreza quase excessiva, apesar de exibir belas curvas.
Suas roupas não me deixam duvida sobre quem organiza o armário de Clara. O rodado vestido de bolinhas pretas e brancas no estilo anos 50 deixam a cintura da mulher bem marcada. Os sapatos pretos estilo boneca a deixam ainda mais alta. O longo cabelo preto está abrigando uma faixa preta sob a cabeça, e, apesar de ser dia, a mulher ostenta um colar de pérolas.
– Roupa bacana - Falo
– Meu marido a detesta, ele é muito natural - Ela comenta, com nojo na voz
– Você é a madrasta deles? - Pergunto
– Sim
Suspiro , escondendo a curiosidade sobre o que aconteceu com a mãe deles .
– Diana, Não encha a paciência da visitante. -Um homem diz, descendo as escadas rapidamente.
O encaro. Ele deve ser o pai
– Sou o pai dos irmãos Vieira - Ele diz, como se lesse minha mente - Meu nome é Carlos
Ele aperta minha mão. Não posse deixar de comentar sobre o quanto ele e os filhos são diferentes. O homem exibe olhos castanhos atrás de óculos. Ele é magro e tem a minha altura (Para um homem, é baixinho). A pele bronzeada traz a sensação de estar na praia e os cabelos loiros não se parecem em nada com a negritude do mesmo em seus filhos.
– Eles puxaram a mãe - Ele diz, novamente come se lesse minha mente
– Legal.
Clara puxa meu braço , me arrastando pela escada
– Foi um prazer conhece-los - grito
Ian vem logo atrás de mim, rindo
Clara me joga para dentro do primeiro quarto que vejo, deve ser o dela. A parede é de um tom azul bebe.], com uma enorme cama com mosquiteiro no centro do quarto. Uma mesa habita quatro cadeiras e uma prateleira sustenta discos de vinil da banda Beatles.
– Fuja da Diana, é meu conselho
Faço cara de confusa
– Senta, é uma longa história.
Ian arrasta uma cadeira giratória e eu me sento.
Um cachorro pequeno, que até então eu não havia percebido, pula em meu colo.
– Paulo josé, pro chão. Agora - Ian fala
– Seu cachorro chama Paulo José?
– Algo contra?
Dou de ombros e acaricio o cachorro.
– Agora, vou contar a história da minha vida. Era uma vez uma família feliz. Carlos e Sabrina Vieira eram casados e eladeu a luz a dois filhos, um dia, a Sabrina fez uma cirurgia na coluna, pegou infecção hospitalar e morreu. Dois anos depois, uma doida chamada Diana apareceu. Ela se casou com Carlos e virou madrasta dos irmãos.Ian nem liga muito, pois ela é legal com ele. Mas Clara é obrigada a manter seu guarda roupa sempre com sapatos glamourosos de salto, quando isso Não acontece, a doida da Diana queima todas as roupas da menina. Essa guria ficou traumatizada e tem pavor de vestidos anos 50 e qualquer pessoa chamada Diana.
– Uau - Falo
– Ela é legal, bem maluca, mas legal - Ian fala
– Isso porque ela te joga pra cima das meninas
Ele fica vermelho
– Posso perguntar uma coisa?
– Pode - Ian fala
– Qual foi o crime que vocês testemunharam?
– Você conta, Ian - A irmã diz
Ele suspira e começa
– Minha irmã fazia aula de francês. Eu tinha de busca-la todos os dias, pois Diana não gostava que Clara voltasse sozinha para casa. Em um desses dias, o ônibus quebrou , e nós tivemos que ir para casa a pé. Quando chegamos em frente a um parque, escutamos um grito apavorado. Corremos para ver o que era - Ela faz uma pausa - Era uma menininha, ela estava sofrendo um estupro.
– Que horrível- Comento
– Foi isso que pensamos - Ele fala - Clara discou para a policia, mas um dos caras que estavam lá deram um tiro em seu ombro. Eu a peguei no colo e nós corremos até a delegacia.
– Os caras foram encontrados - Clara interrompe - mas o líder deles ainda está a solta, e está nos procurando. Se ele me pegasse, ia fazer a mesma coisa que fez com a menina, e depois mataria eu e meu irmão.
– Credo
Eles assentem
– É um papo muito pesado, pesado demais para tão cedo do dia. - Ian fala
– Não tenho dúvida - Falo
Nesse momento, Diana abre a porta do quarto
– Venham comer, eu fiz bolo
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