Maybe

✗ Talvez ela esteja ficando louca...


E de repente ela se sentia bombardeada com palavras e frases que ela havia escrito em um passado não tão distante assim, mas que parecia ter acontecido há anos. O coração dela acelerava, a mente trabalhava tão rapidamente que ela não conseguia controlar e então ela deitava, como se houvesse sido baleada, assim, de repente. Porque as palavras e frases que um dia existiram com tanto vigor, sentimento e orgulho, não existiam mais. E então ela se sentia vazia, mais uma vez. Porque dentro dela queimava com força impiedosa a vontade e o intenso desejo de ter todas aquelas palavras de volta. Porque ela tinha a absoluta certeza de que tudo aquilo existira em algum ponto real de sua vida. Mas de vez em quando o passado virava fumaça e se misturava confusamente com o presente e ela se pegava duvidando do que era passado o que é presente e o que seria futuro. Ela estava absurdamente confusa, perdida, sozinha. Mas de repente ela já não se sentia vazia. Por quê? Porque ela estava cheia de muito ultimamente. Havia muito dentro dela e nela. Muitos pensamentos, muitos sentimentos, muitas vontades, muitos desejos. Havia uma imensidade de coisas que ela já não conseguia conter. Havia muita tristeza também, e, com isso, muitas lágrimas. Mas também havia alguma dolorosa esperança solta, e, com isso, alguns sorrisos e risadas que não podiam ser controlados. Porque, no geral, havia muito descontrole nela nas últimas semanas. Hoje pela manhã ela chorou por algumas horas descontroladamente, seus pensamentos vagavam entre o nada e o tudo com uma velocidade inimaginável. Talvez ela esteja ficando louca no final das contas. Mas dentro dela há o desconhecido. Nela há a incerteza que bate sem piedade e sem cessar. É involuntário o pensar quando ela deita no escuro, olha para o infinito do teto de seu quarto e reza em silêncio. Talvez ela esteja pedindo para que consiga dormir em paz, e que, se possível, tudo aquilo fosse só apenas mais um pesadelo. Talvez ela pense que, talvez, tudo aquilo fosse apenas uma mentira de alguém, ou até mesmo uma brincadeira sem graça. Ou talvez aquilo tudo fosse uma pequena peça de teatro. Ela queria ver o fechar das pesadas cortinas aveludadas a anunciar o fim da peça, e então ela voltaria ao camarim de apenas personagem secundária e voltaria a ter a sua vida real de volta. Porque ela parecia estar vivendo um constante pesadelo sem fim. Ela parecia estar atuando em uma peça cruel onde o autor era o destino e ela era apenas a personagem principal. Ela rezava pelo fim da peça. Ela chorava pela dor da incerteza e pela quase certeza de que tudo aquilo era mesmo real. Ela apenas ainda não se conformava, e então ela rezava para que pudesse ter mais um pouco de paciência e um pouco mais de fé. Ela queria a capacidade de ter controle sobre si e sobre o seu papel, ela apenas queria voltar a viver como antes. Talvez com mais tolerância a acontecimentos cruéis de um destino impiedoso. Talvez agora ela amaldiçoasse o destino. Porque de repente as frestas de luz de sua vida lhe foram tiradas repentinamente, restou o escuro e depois a solidão. A tristeza apenas continuou ali, nela, só que dessa vez com uma intensidade nunca antes imaginada por ela que fosse ser possível. Estava sendo absurdamente difícil erguer a cabeça e focar o olhar no caminho à frente. Tudo o que ela conseguia enxergar era o abismo que existia entre o ponto em que ela atualmente estava e o seu passado. Havia uma cratera no chão. Então ela viu suas esperanças todas fincadas no passado, e ela já não mais conseguia enxergar o horizonte ao direcionar os olhos afrente, ela agora apenas mirava o chão árido e infértil, incapaz de fazer florescer uma fina flor. Ela queria de volta aquela primavera de palavras que outrora enfeitara o seu caminho, aquela primavera de palavras que fizera sorrisos nascerem em seus lábios e levar o brilho aos olhos castanhos, iluminando, assim, aquele já então escuro quarto.

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Mariana Neves

12-09-2014; 00h24min

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.