Certa noite, na hora de dormir, eu começo a sentir umas cólicas mais fortes. A princípio, eu penso que podem ser contrações falsas, mas quando a memória do parto de Lily vem à minha mente, sei que não é isso.

Eu entrei em trabalho de parto.

O meu bebê vai nascer!

Sentindo um misto de felicidade, excitação e medo, eu vou até Peeta, que está sentado na cama lendo um livro, e digo:

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— Peeta?

— Hmm? – diz ele, sem tirar o olhar do livro.

— Chegou a hora. O bebê vai nascer.

Ele ergue o olhar na minha direção e larga o livro para o lado.

— Você tem certeza? – indaga ele, parecendo um pouco nervoso.

— Sim – respondo. – Eu já estou tendo umas contrações.

Peeta se levanta da cama e vem até mim.

— Isso começou há quanto tempo? – pergunta ele, passando sua mão direita nos meus cabelos num gesto de carinho.

— Não sei ao certo... Uma hora, ou duas... Só sei que... Ai!

Uma nova contração chega, cortando a minha fala.

Peeta, imitando o que fez no parto de Lily, me abraça por trás, fazendo com que minhas costas fiquem apoiadas em seu tronco. Como da outra vez, o gesto alivia um pouco a minha dor.

Depois de um tempo que não sei exatamente precisar, a contração passa e eu respiro aliviada. Peeta percebe, pois logo me solta.

— Meu amor, eu tentei contar quanto tempo durou sua contração – diz ele.

— E aí?

— Durou mais ou menos uns 50 segundos. Acho que a gente devia chamar logo a doutora Brooks.

— Será que tem necessidade? A minha bolsa ainda nem estourou.

— Eu já ouvi falar que às vezes a bolsa só se rompe mais pro final do trabalho de parto. E, bem... – ele para de falar no meio da frase, com uma expressão de quem refletiu e achou melhor ficar calado.

— O que foi, Peeta? – sem saber por que, eu sinto um ligeiro abalo de nervosismo no estômago.

— Não é nada – ao ver minha expressão de reprovação, ele continua. – Bem, é que essa noite está nevando um pouco, e o hospital não fica tão perto daqui. Se a gente demorar pra avisar, talvez a doutora não consiga chegar aqui a tempo.

Um novo abalo de nervosismo atinge o meu estômago, dessa vez mais forte.

Peeta tem razão. A neve pode atrapalhar a vinda da doutora Brooks. Eu não tinha pensado nessa possibilidade até agora, mas ela é real.

E se ela realmente não conseguir vir? Quem vai me ajudar a ter o meu bebê?

Eu fico tão tensa que começo a hiperventilar. Peeta percebe, pois logo fala:

— Ei, calma, meu amor! Eu não vou sair do seu lado, e o que quer que aconteça, nós vamos resolver juntos.

— Ok – digo, embora ainda esteja um pouco nervosa.

— Vai dar tudo certo, viu? – diz ele, e em seguida me dá um abraço bem reconfortante.

E então nós ficamos lá, parados, apenas sentindo o calor um do outro por um bom tempo. Quando nos separamos, eu já estou me sentindo bem mais tranquila.

— Agora eu vou lá embaixo telefonar para a doutora, ok? – diz Peeta.

— Ok – assinto com a cabeça.

Quando ele já está a caminho da saída do nosso quarto, uma nova contração me atinge, fazendo com que um gemido forte me escape dos lábios. Ele dá meia volta e vem até mim.

Mais uma vez, Peeta me abraça por trás para aliviar minha dor até que a contração tenha passado. Quando ela finalmente passa, ele diz:

— Durou mais ou menos um minuto. Acho que esse parto está evoluindo bem mais rápido que o de Lily.

— É, dizem que o segundo filho é mais rápido – digo, tentando disfarçar meu nervosismo. Está tudo acontecendo muito rápido, e embora esse seja o meu segundo parto, eu não sei bem lidar com isso.

— Fica calma, tá? – diz Peeta. – Eu vou chamar sua mãe pra ficar aqui com você e vou ligar pra sua médica.

Minha mãe.

Até o momento, eu tinha me esquecido completamente de sua presença em nossa casa. Por algum motivo, lembrar-me de que ela está aqui me enche de uma grande sensação de alívio.

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— Katniss? – Peeta chama por mim, me trazendo de volta à realidade.

— Tudo bem – assinto com a cabeça.

Ele me dá um beijinho nos lábios e em seguida sai do quarto. E eu me sento na cama e fico esperando a próxima contração.

***

— Filha, como você está se sentindo? – diz minha mãe, adentrando o meu quarto. – Peeta me disse que você entrou em trabalho de parto.

Ao ver minha mãe, eu sinto um alívio ainda maior.

— Minhas contrações estão durando mais ou menos um minuto, segundo Peeta.

— Certo. E qual está sendo o intervalo entre elas? – pergunta minha mãe, sentando-se na ponta da cama.

— Isso nós não fizemos ainda – digo, me sentindo estúpida por não ter me lembrado de pegar o relógio para contar.

— Tudo bem, filha – diz ela me tranquilizando. – Depois da sua próxima contração, nós faremos isso.

— Ok – dou um sorriso.

Depois de pouco tempo, uma nova contração me atinge. Minha mãe oferece a sua mão para eu apertar, num gesto de conforto.

Quando a contração finalmente passa, ela diz:

— É, essa contração foi bem longa. Seu parto parece estar evoluindo bem rápido.

— Mas a minha bolsa ainda não estourou.

Assim que essas palavras deixam os meus lábios, eu sinto algo quente me escorrer por entre as pernas. Eu levanto a coberta para checar o que aconteceu, e quando vejo minha camisola e o lençol da cama molhados por um líquido que parece água, sei que foi a bolsa.

— É, parece que agora ela estourou – diz minha mãe, com um leve sorriso nos lábios. – Agora vamos contar em quanto tempo a próxima contração chega.

Ela pega o relógio da mesa de cabeceira e fica contando. Depois de cerca de três minutos, a próxima contração chega, me causando uma dor lancinante.

Eu me levanto da cama, agoniada demais para ficar sentada. Quando a dor passa e eu posso novamente me sentar na cama, Peeta volta ao quarto. Há uma expressão de preocupação em seu rosto.

— Você falou com a médica? – pergunto, já temendo a resposta.

Ele fica um tempo calado, como se não quisesse contar o que aconteceu. Mas depois fala:

— Infelizmente eu não consegui. A linha do telefone está muito ruim, acho que por causa da neve.

— Mas você insistiu? – indago, nervosa.

— Insisti bastante, mas não consegui – diz ele, chateado. – Mas eu vou tentar de novo depois.

— Minha bolsa estourou, meu parto está evoluindo super rápido... Se a médica não vier, o que vamos fazer? – pergunto, sentindo uma onda crescente de ansiedade tomar conta de todo o meu ser.

— Minha filha, você esqueceu que eu sei fazer parto? – questiona minha mãe.

É verdade. Minha mãe é uma curandeira muito experiente. Inúmeras crianças já nasceram pelas mãos dela. Com o nervosismo do momento, eu acabei me esquecendo disso.

— Verdade, mãe – digo, já me sentindo um pouco mais calma.

— Sei que você está mais acostumada com sua médica, mas se você confiar em mim, eu posso ajudar o seu bebê a nascer. Eu não tenho equipamentos médicos aqui, mas tenho a minha experiência e um kit de primeiros socorros que eu sempre tenho comigo. Sei exatamente como proceder.

— Eu confio em você, mãe – digo com sinceridade.

— Bem, acho que temos uma solução aqui, então – diz Peeta, claramente aliviado.

— Mas eu quero tentar ligar pra doutora Brooks mais uma vez depois. Se a gente realmente não conseguir falar com ela, aí sim você ajuda o meu bebê a nascer, ok? – digo para a minha mãe.

Porém, assim que as palavras deixam os meus lábios, eu me arrependo. A forma como eu falei não soou bem. Pareceu que eu não tenho confiança na minha mãe, que eu acho que somente a minha médica pode me ajudar.

Minha mãe, no entanto, sorri de forma compreensiva e fala:

— Tudo bem, minha filha. Mas até sua médica chegar, deixe que eu cuide de você.

— Tudo bem. Eu deixo – assinto com a cabeça.

***

Minha mãe realmente cuida de mim, e bem. Ela me faz umas massagens para aliviar a dor das contrações, e depois ensina Peeta como fazê-las em mim, para respeitar o espaço dele de pai e marido. Ela me indica posições e movimentos para ajudar na dilatação, me ensina um exercício de respiração para aliviar a dor e me ajudar a ter mais fôlego no momento em que o bebê for nascer... E, acima de tudo, me passa uma calma e uma segurança que nenhum outro profissional de saúde me passou até hoje.

Deve ser porque ela é minha mãe, presumo.

Peeta também fica ao meu lado, me aliviando e me passando tranquilidade. Eu me sinto tão confortável com os dois que, por um momento, até me esqueço que tinha combinado de ligar para a minha médica. Peeta é quem me lembra.

Quando ele, mais uma vez, não consegue falar com a minha médica, eu não sinto medo nem insegurança. Sei que minha mãe pode me dar o suporte de que necessito no momento.

Quando ela me diz que precisa fazer o exame de toque, eu deixo. Com as mãos limpas e envoltas por um par de luvas que ela achou em seu kit de primeiros socorros, ela me examina e constata que eu já estou com 7 cm de dilatação. Meu parto está evoluindo muito rápido, e logo mais o meu bebê estará aqui. Isso me deixa nervosa, mas eu não dou vazão a nenhum nervosismo. Neste momento, preciso me ocupar em fazer o meu filho nascer.

O tempo vai passando, e as contrações vão ficando cada vez mais intensas e constantes. Suor brota do meu corpo, apesar do tempo frio, e fortes gemidos escapam da minha garganta. Por um momento, eu fico com receio de acordar Lily, que está no quarto ao lado. Mas ela continua dormindo, sem ter a menor ideia de que o seu irmãozinho tão querido e tão esperado está prestes a nascer.

Eu tomo um banho quente, recebo massagens, ando de um lado para o outro do quarto, respiro fundo, me apoio em Peeta... E assim o meu trabalho de parto vai passando, até que chega ao seu momento mais importante.

No meio da madrugada, eu enfim alcanço os 10 cm de dilatação. É a hora de eu, oficialmente, fazer o meu bebê vir ao mundo. Os panos limpos, a água quente e a tesoura esterilizada já estão a postos. Agora, é comigo.

Mais uma vez, eu decido parir de cócoras. Exatamente como fiz no parto de Lily, eu tiro a minha camisola e me acocoro na cama com Peeta atrás de mim, me apoiando pelas axilas e segurando minhas mãos.

— Respire fundo e faça uma força bem comprida, filha! – ordena minha mãe quando a contração chega, e eu lhe obedeço.

Eu faço a força mais longa que consigo. Meu rosto se retorce e gritos escapam da minha garganta, mas o bebê não sai de primeira.

— A cabecinha já está aqui. Em mais uma ou duas contrações, o bebê vai sair – diz minha mãe, me enchendo de uma determinação maior que qualquer cansaço.

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Na segunda contração, ele ainda não sai, mas eu não fico desapontada. Quando a terceira contração chega, eu fecho os olhos, encho os meus pulmões de ar e faço uma força que nem eu sabia que era capaz de fazer. Uma sensação de peso se forma em meu baixo ventre e eu começo a sentir o meu bebê saindo de dentro de mim.

— Tá nascendo, Katniss! – anuncia minha mãe, emocionada. – O meu netinho!

— Ele tá vindo, meu amor! – diz Peeta no meu ouvido, com a voz embargada. – O nosso filhinho tá vindo!

De repente, é como se o mundo parasse. Eu sinto o meu bebê escorregar por completo para fora do meu corpo e na mesma hora o seu chorinho forte e agudo chega aos meus ouvidos.

— Ele nasceu! O nosso filho nasceu! – exclama Peeta, sua voz abafada pelo seu choro de emoção.

— Olha aqui o seu filho, Katniss! Ele é muito lindo! – exclama a minha mãe, que também parece estar chorando.

Eu abro os olhos e lá está ele, nas mãos da minha mãe. Sua pele é clara e seu cabelinho é loiro, como o de seu pai. Sua boquinha está aberta, deixando escapar o som que soa como música para os meus ouvidos.

Mesmo coberto por uma nata esbranquiçada e um pouco de sangue, ele é lindo. Absolutamente lindo. A coisa mais perfeita que eu já vi na minha vida.

Sem que eu possa evitar, lágrimas escorrem pelos meus olhos. Pareço que vou explodir de tanta emoção e felicidade.

— Seja bem-vindo, meu amor – digo a ele em meio às minhas lágrimas. Minhas mãos se soltam das de Peeta e se projetam para a frente, ansiosas para tocar no meu bebê pela primeira vez.

Eu me desequilibro um pouco com o movimento e caio sentada na cama. Diante da cena, minha mãe pede que Peeta me ajude a deitar.

Quando estou devidamente acomodada, minha mãe põe o meu bebê sobre o meu peito, o cordão umbilical ainda unindo nós dois. Depois ela envolve o bebê num paninho e me cobre com um lençol, para que fiquemos aquecidos. Eu envolvo o meu filho em meus braços e o choro dele cessa na hora, como se ele soubesse que quem o está acalentando é sua mãe.

— Obrigado, meu amor! Obrigado! – diz Peeta. Quando olho para ele, vejo a mais pura emoção refletida em seu rosto.

— Você sabe que te ver feliz é minha recompensa – digo, sorrindo.

Ele dá um beijo no topo da minha cabeça e depois dá um beijo no topo da cabecinha do nosso filho. Eu sou transportada para quatro anos atrás, no nascimento de Lily. Ele fez exatamente esse gesto.

— Mamãe? Papai? – uma voz fininha muito conhecida por mim soa no ar, tirando-me dos meus pensamentos.

Quando levanto o olhar, vejo Lily parada à porta do quarto. Uma expressão de espanto em seu rostinho.

Continua...