E então eu volto a ficar admirando a minha pequena, totalmente alheio ao mundo. Mas depois do que parecem alguns minutos, eu sinto que não estamos sozinhos e levanto o meu olhar. O que vejo é nada mais nada menos que a minha sogra parada à porta do quarto, olhando-nos intensamente com uma expressão de surpresa no rosto. É como se ela não acreditasse que a cena à sua frente é real.

— Senhora Everdeen... – digo, encorajando-a a entrar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ela coloca sua mala no chão e se aproxima de nós.

— Eu me encontrei com a médica de Katniss quando cheguei aqui e ela me falou que o bebê nasceu – diz ela, e a emoção em sua voz é palpável.

— Sim – digo com orgulho. – Sua netinha nasceu, e ela é linda e perfeita.

A Sra. Everdeen começa a chorar de emoção, e quando dou por mim, estou chorando mais uma vez.

— Ela é muito linda, Peeta – comenta ela, olhando para a minha pequena. – Muito linda. E é muito parecida com a Katniss quando nasceu. Mas ela tem a sua pele.

— E os meus olhos, também – complemento.

— Ela é a mistura perfeita de vocês dois – diz a sra. Everdeen, sorrindo. – Mas me diga: Como ela se chama?

— Felicity. Nós nunca sentimos uma felicidade tão grande – ao dizer isso, eu choro mais um pouco, e a minha sogra me imita.

— Lindo nome – elogia ela, enxugando suas lágrimas com a mão. – Mas me diga: Como está Katniss?

— Está bem – respondo. – Está lá no quarto, dormindo. Ela foi uma guerreira no parto.

Ela sorri.

— Posso imaginar. Minha filha sempre foi muito forte e decidida. Eu gostaria de ter estado ao lado dela no parto, como ela me pediu, mas essa mocinha aí não quis esperar.

— Sim. Não quis mesmo – digo, sorrindo.

E então nós ficamos em silêncio, simplesmente admirando Lily. Em pouco tempo, porém, ela começa a se agitar, mexendo seus bracinhos e suas perninhas e fazendo uns gemidinhos. Apesar de conhecer minha filha há apenas poucas horas, já sei que isso significa que ela vai acordar.

— Ela tá acordando de novo – digo para a minha sogra.

— Deve ser – concorda ela.

Porém, quando os gemidinhos fracos de Lily se transformam num choro agudo e forte, sou pego de surpresa. Por que ela está chorando, afinal? Sem saber o que fazer, eu começo a balançá-la. Sem muito sucesso.

— O que será que ela tem? – pergunto à minha sogra, nervoso.

— Deve ser fome – responde ela, com um jeito sábio. Em sua face, há uma expressão tranquila de quem já viu um recém nascido chorar muitas vezes.

— Mas será que é isso mesmo? – pergunto, incerto. – Ela terminou de mamar há umas duas horas.

— Recém-nascido mama muito, mesmo. É normal. Agora vamos logo levá-la para Katniss, pois ela deve estar com fome.

Fico relutante em acordar Katniss, mas diante do choro da minha filha, eu não tenho alternativa senão levá-la até a mãe.

***

Ponto de vista de Katniss:

— Katniss, acorde, minha filha.

Ouço uma voz longínqua falar. E junto a essa voz, ouço um chorinho de recém nascido.

É Lily!

Acordo num sobressalto, me sentando na cama e procurando onde está minha filha. Olho para o meu lado e me deparo com a minha mãe sentada junto de mim.

— Mãe?! – exclamo, totalmente confusa. – Onde está Lily?

Olho mais acima e vejo Peeta com nossa filhinha nos braços, tentando acalmar o choro dela.

— Por que ela tá chorando? O que tá acontecendo? – pergunto, me sentindo nervosa.

— Shiiii! Calma – diz minha mãe carinhosamente, colocando uns travesseiros para apoiar as minhas costas.

— Tá tudo bem, meu amor – diz Peeta, ainda balançando a nossa filha. – Nós viemos te acordar porque Lily está com fome, e só você pode resolver esse problema.

Ah, claro. Ela quer mamar.

Já me sentindo mais calma, eu me acomodo melhor na cama e estendo os braços para que Peeta me entregue o bebê. Dessa vez, ela consegue pegar o peito sem dificuldade. E então fica lá, mamando tranquila. Ainda estou cansada e ligeiramente confusa pelo sono abruptamente interrompido, mas nem por isso deixo de sentir a felicidade de poder alimentar a minha filha.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Essa fome já vai passar, meu amor – digo a ela com carinho, acariciando sua cabecinha levemente.

— Parabéns pela sua filha, Katniss – diz minha mãe, fazendo-me lembrar de sua presença. Quando olho para ela, percebo que seus olhos estão marejados.

— Obrigada, mãe – digo emocionada. – Queria que você tivesse estado aqui durante o parto, mas Lily não quis esperar.

— É, ela foi meio apressadinha. Mas eu já soube que você foi muito corajosa e determinada no seu parto.

— E foi mesmo – diz Peeta, que continua de pé ao lado da cama. – Ela foi incrível.

— Só porque eu tive alguém me apoiando o tempo inteiro – digo olhando nos olhos dele.

Um sorriso envergonhado se forma no rosto dele.

— Tenho certeza de que vocês dois foram incríveis, cada um em sua função – diz minha mãe, olhando para Peeta e depois para mim. – Vocês não têm idéia de como eu estou feliz por vocês dois.

Ela fala isso e em seguida cai no choro, cobrindo seu rosto com as mãos.

— Mãe? – chamo por ela, preocupada.

Ela enxuga suas lágrimas e volta a olhar para mim.

— Eu estou bem – diz ela com a voz embargada. – Eu estou chorando de alegria. Eu sei como vocês estão se sentindo. Eu já passei pelo mesmo.

Ela enxuga seu rosto mais uma vez e em seguida continua:

— Eu posso não ter sido a melhor das mães, filha, mas o dia em que você nasceu foi um dos dias mais felizes da minha vida. Você foi muito desejada por mim e pelo seu pai, apesar de todas as dificuldades com as quais nós vivíamos. Nós dois nos amávamos muito, e você veio para completar esse amor.

Um nó se forma em minha garganta ao ouvir minha mãe falar assim. Sei que ela não foi para mim a mãe que eu gostaria que ela tivesse sido. Sei que eu gostaria que muitas coisas tivessem sido diferentes em nosso passado. Mas agora, que eu sou mãe, eu sei o que minha mãe sentiu ao me ter em seus braços pela primeira vez. E também sei por que ela acha que eu vim para completar o amor que ela sentia pelo meu pai.

— Eu entendo como você se sentiu – digo à minha mãe, lutando para não chorar.

— Sei que sim – ela sorri. – E Peeta entende como seu pai se sentiu. Não é, Peeta?

— Sim, eu entendo – concorda ele, emocionado.

Lily solta o meu peito e fica fazendo aqueles gemidinhos, o que corta o clima emocional e atrai a nossa atenção.

— Acho que é hora de trocá-la de peito – digo.

— Acho que é bom colocá-la para arrotar primeiro – opina Peeta. – Se ela soltou o peito, é porque engoliu ar e está com gases. A pediatra me explicou.

— Peeta tem razão – diz minha mãe. – Coloque-a pra arrotar.

Eu faço o que eles disseram, colocando Lily em posição vertical para ela arrotar. Depois que ela arrota, porém, ela adormece.

— Será que não seria bom eu acordá-la para dar o outro peito? – pergunto, sem saber muito bem o que fazer. – Ela parecia estar com tanta fome.

— Não. Se ela ainda estivesse com fome, ficaria acordada – explica a minha mãe. – Respeite o tempo dela. Quando ela quiser mamar novamente, você dá o peito a ela.

Assinto com a cabeça.

E então eu fico lá admirando a minha filhinha, que dorme tranquila em meus braços. Mas é por pouco tempo, pois Peeta logo fala:

— Katniss?

— Hm? – levanto a cabeça para olhar para ele. Ele parece meio desconsertado.

— Sei que sua vontade é ficar com Lily o dia inteiro. Eu estou me sentindo da mesma forma – eu dou um risinho e ele me imita. – Mas a doutora Brooks recomendou que eu te desse comida assim que você acordasse. Posso ir buscar?

— Tudo bem – digo.

Ele assente com a cabeça e depois se retira do quarto. Minha mãe também se retira, dizendo que irá trocar de roupa e lavar as mãos para me ajudar com Lily. Mas ela volta rápido, antes mesmo de Peeta voltar.

— Ela é tão linda – comenta ela, acariciando a cabecinha de Lily. – Parece muito com você quando nasceu.

— É? – indago.

— Sim. Mas tem os olhos azuis e a pele clara de Peeta. Como eu já disse a ele, ele é a mistura perfeita de vocês dois.

Não posso evitar sorrir.

Quando Peeta volta ao quarto, o delicioso cheiro do meu café da manhã penetra as minhas narinas antes mesmo que a bandeja que ele tem em mãos esteja perto de mim. Minha boca saliva e o meu estômago dá sinal de vida em resposta.

— Chegou o café da manhã da mais nova mamãe de Panem – diz ele com doçura.

— Percebi. E o cheiro está maravilhoso – digo sorrindo.

Cuidadosamente, eu entrego Lily à minha mãe, que a aconchega em seus braços. Depois disso, Peeta acomoda a bandeja em meu colo, e o que eu vejo em cima dela é um caldo de carne e legumes, torradas, geleia de amoras e suco de laranja. Sem mais delongas, eu começo a comer vorazmente.

Quando finalmente termino de comer, eu me lembro de que Peeta ainda não comeu.

— Peeta, você não vai comer nada? – pergunto, preocupada.

— Eu comi enquanto preparava o seu café da manhã, não se preocupe – responde ele.

— Tudo bem.

— Por que você não aproveita que Lily tá dormindo e toma um banho? Eu posso te ajudar. Aí depois, quando ela acordar, a gente dá o primeiro banho dela.

— Ótima ideia! – digo, animada.

Depois que Peeta leva a bandeja de volta a cozinha, ele me ajuda a tomar banho. A água morna faz milagres no meu corpo dolorido e cansado, e quando saio do banho, estou me sentindo bem mais disposta. Peeta me ajuda a me vestir e até mesmo penteia os meus cabelos. Eu digo a ele que não precisa de tanto, mas ele insiste que eu preciso de cuidados. Diante disso, desisto de discutir e simplesmente aproveito os cuidados que o meu marido tem a me oferecer.

Quando já estou limpa e vestida, eu retorno minha atenção para a minha pequena, que continua dormindo tranquila nos braços da avó. Minha mãe anda de um lado para o outro no quarto, embalando-a carinhosamente.

— Ela parece super satisfeita no seu colo – comento, e minha mãe para sua “caminhada” para olhar para mim.

— Eu também estou super satisfeita de tê-la no meu colo – diz ela, sorrindo, e eu a imito.

— Ela deve acordar daqui a pouco – informa Peeta. – É melhor eu ir logo preparar o banho dela.

Ele vai até o quarto de Lily e pega tudo o que nós vamos precisar para banhá-la e vesti-la. Depois ele leva a banheira até o banheiro para enchê-la com a água morna do chuveiro. Antes mesmo que ele volte, Lily começa a se agitar nos braços da minha mãe.

— Bem que Peeta falou – digo, sorrindo.

— Ele já conhece muito bem a filhinha dele – comenta a minha mãe.

— Melhor a gente ir logo tirando a fralda dela.

— Sim – concorda ela.

Quando acomodamos Lily na cama e começamos a tirar sua mantinha e sua fralda, ela não gosta nem um pouco. Simplesmente abre o berreiro.

Fico nervosa ao vê-la chorar assim. E se eu estiver fazendo algo errado?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Não se preocupe – diz minha mãe, percebendo o meu nervosismo. – Bebês choram assim mesmo quando a gente os deixa sem roupa. Eles têm frio.

— Será que não é melhor cobri-la um pouco? – pergunto, mas antes que a minha mãe possa me responder, Peeta chega com a banheira.

— Por que ela tá chorando assim? – pergunta ele, preocupado, enquanto apoia a banheira no suporte.

— Não é nada – responde minha mãe. – Está só incomodada porque nós tiramos o agasalho dela. Vamos começar o banho?

Eu e Peeta assentimos com a cabeça.

Minha mãe pega Lily e a coloca cuidadosamente dentro da banheira. Ela chora ainda mais quando sente a água em seu corpinho, mas depois que a minha mãe a vira de bruços e começa a ensaboá-la delicadamente, ela fica bem quietinha.

— Ela adorou essa posição – comenta Peeta, e quando eu olho para ele, vejo um sorriso bobo em seu rosto.

— Os bebês adoram essa posição – explica a minha mãe. – Acho que é porque parece a posição em que eles ficam na barriga.

— Deve ser – concordo.

É um pouco estranho lembrar que Lily estava na minha barriga até poucas horas atrás. É incrível como meu corpo pôde gerar um bebê tão lindo e tão perfeito. Fico alheia ao mundo por um tempo, apenas admirando a minha filha. Mas quando minha mãe a vira novamente e ela volta a chorar, sou obrigada a voltar à realidade.

— Chora não, filha – diz Peeta docemente, acariciando o bracinho dela. Ela não para totalmente de chorar, mas fica um pouco mais calma ao sentir o contato do pai.

Eu também coloco minhas mãos sobre ela, ajudando minha mãe a limpá-la. No começo, eu não sei bem como fazer isso, mas minha mãe me ensina e logo estou conseguindo.

Peeta experimenta apoiar a nossa pequena na banheira enquanto eu e minha mãe terminamos de limpá-la, e eu fico impressionada com o tanto de jeito que ele leva. Não parece mesmo que é a primeira vez que ele faz isso.

Quando o banho de Lily já está quase acabando, Peeta fala de repente:

— Nós temos que tirar uma foto desse momento.

Eu aprovo a ideia.

— Pega lá a câmera, Peeta – digo.

Minha mãe volta a apoiar Lily e ele se retira para ir buscar a câmera.

Nos minutos que se seguem, Peeta registra o final do banho, eu e minha mãe vestindo Lily e, por fim, Lily com sua primeira roupinha.

É aquele lindo macacãozinho de lã na cor bege que Peeta me deu no meu aniversário. Nós combinamos que essa seria a primeira roupinha dela, e assim está sendo. Mas ela está muito mais linda do que eu imaginei que ela ia ficar.

— Prontinho, agora tem que ter foto com a mamãe – diz Peeta, tirando-me dos meus pensamentos.

Eu não gosto muito de sair em fotografias, mas aceito o pedido dele sem titubear. Pego Lily nos braços e poso para a foto, com um grande e verdadeiro sorriso no rosto.

— Agora tem que ter foto com o papai também – diz minha mãe, e Peeta entrega a ela a câmera para que ela tire uma foto de nós três.

Assim que ela termina de tirar a foto, nós ouvimos a campainha tocar.

— Quem será? – pergunto.

Continua...