Cinco anos...

Meu nome é Katniss Everdeen. Eu tenho 23 anos. Meu lar é o distrito 12, que após a rebelião, enfim, tornou-se um lugar digno para se viver.

Nesta linda tarde de verão, deixarei de ser apenas Katniss Everdeen para ser Katniss Everdeen Mellark. Peeta e eu estivemos juntos por cinco anos, dormindo sobre a mesma cama e dividindo o mesmo teto. Para mim, casamento com papel passado, ritual dos pães e afins nunca foi algo importante. Eu sei o que sinto por Peeta, e também sei o que ele sente por mim. Isso sempre foi o suficiente.

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Para ele, porém, a situação era diferente. Eu já havia percebido que ele achava casamento algo especial. Eu via seu semblante ao confeitar bolos de casamento. Eu via a doçura de suas palavras ao felicitar algum conhecido que havia se casado ou que ia se casar. Eu vi sua emoção no dia em que fomos ao casamento de Henry com uma moça da antiga Costura.

Ele, porém, não me pressionava a realizar seu desejo. Sequer tocava no assunto comigo. Deve ter sido pelo fato de eu haver dito a ele uma vez que não queria rótulos em nossa relação. Refletir sobre isso fez com que eu, de certa forma, me sentisse culpada. Eu sabia que Peeta estava abrindo mão de um desejo profundo e significativo por minha causa.

Porém, enquanto assistíamos a um belo pôr do sol na Campina no dia em que completamos cinco anos juntos, ele falou sobre isso pela primeira vez.

O sol vai se pondo, deixando o céu num leve tom alaranjado. Não há uma vez sequer que eu veja isso sem me lembrar do dia em que Peeta me disse que o laranja do pôr do sol era sua cor favorita.

Hoje, completam-se cinco anos do dia em que o levei ao lago da floresta e declarei meu amor a ele. Cinco anos do dia em que dei uma chance a ser feliz, a recomeçar a minha vida, por mais dolorosas que fossem as minhas perdas.

Hoje é domingo e nós estamos na Campina assistindo ao pôr do sol. Hoje é dia de descanso, então não há ninguém por aqui para nos perturbar. Encontro-me com a cabeça no colo de Peeta, que está acariciando levemente os meus cabelos. Estou quase cochilando com seu carinho gostoso, até que o ouço dizer:

– Cinco anos. Parece que foi ontem que você me levou ao lago e me disse todas aquelas coisas. Foi o dia mais feliz da minha vida.

Dou um sorriso.

– Acho que nunca mais vou conseguir falar sobre sentimentos com aquela desenvoltura – digo. – Não espere outra declaração de amor como aquela. Isso está acima das minhas capacidades.

Peeta solta uma gargalhada.

– Sei disso. Até hoje custo a acreditar que Katniss Everdeen me disse todas aquelas coisas. Às vezes, acho que foi um sonho.

Não encontro nada bom para dizer, então simplesmente fico calada, apreciando os carinhos de Peeta. Logo ele continua:

– Sabe, desde criança eu sonhava com o dia em que você declararia seu amor por mim. Depois de conhecer a teimosa e durona Katniss Everdeen de perto, achei que esse dia nunca iria chegar. Foi uma agradável e inesquecível surpresa, devo admitir.

– Isso mostra que você me conhece muito bem, até mais do que eu mesma, talvez – digo, rindo.

Peeta solta um risinho e depois fica calado. Passamos algum tempo assim, apenas curtindo a paz de estar perto um do outro. Antes que eu enfim cochile, ele diz:

– Eu sempre sonhei com muitas coisas a seu respeito.

– E que coisas seriam essas? – pergunto.

– Você ao meu lado, me amando, me querendo...

– Tudo isso você já tem – digo.

– Nem tudo. Sei que você me ama e me quer ao seu lado, mas eu queria que... – ele hesita.

– Queria que...?

– Queria poder mostrar a todos que eu te amo e que eu quero estar ao seu lado para o resto da minha vida.

Fico intrigada com o que ele diz, sem entender direito aonde ele quer chegar. Saio de seu colo e me sento em frente a ele.

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– O que você tá querendo dizer com isso, Peeta? – pergunto.

Ele respira fundo, como se estivesse criando coragem. Logo entrelaça minha mão direita com a esquerda dele e começa a dizer:

– Que eu quero me casar com você. Com certidão, alianças, ritual dos pães e festa. Quero fazer do que nós vivemos juntos algo oficial. Quero mostrar a todos que amo você mais do que tudo nesse mundo, que você é e sempre será o grande amor da minha vida, que é com você que eu quero passar o resto dos meus dias. É isso que eu quero.

– Peeta... – é a única coisa que consigo dizer. Suas palavras mexem comigo de forma inexplicável, e não posso evitar que lágrimas nublem meus olhos.

– Você quer, Katniss? Se casar comigo? – pergunta ele, e eu posso ver que seus olhos estão marejados.

Seus olhos me encaram com expectativa. Por um momento, tento ignorar toda a emoção que me toma para tentar pensar de forma racional acerca do pedido que ele me fez. Não há por que eu negar a Peeta a alegria de se casar comigo. Não é como ter filhos, que envolve fantasmas que provavelmente nunca irão embora.

Mas será que ele casaria comigo mesmo sabendo que eu provavelmente nunca conseguirei lhe dar filhos? Bom, eu disse isso a ele mais de uma vez nesses cinco anos, e ainda assim ele me pediu em casamento. Não creio que isso realmente seja um problema para ele.

– Sim, eu quero me casar com você – digo, convicta.

Peeta dá um sorriso genuíno e se aproxima de mim, beijando-me com paixão. Abraço-o pelo pescoço e ele me abraça pelas costas. Quando o ar nos falta e somos obrigados a nos separar, ele enfia a mão no bolso da calça e tira uma caixinha de veludo. Em seguida, ele a abre e eu vejo um lindo anel de ouro com uma pérola em cima.

– Peeta, você... – começo, mas ele me interrompe.

– Sim. Eu peguei a pérola para fazer esse anel de noivado. Me desculpe por ter te deixado procurando por ela que nem louca.

Eu rio, mas há lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

– Katniss Everdeen, você aceita se casar comigo e me fazer o homem mais feliz desse mundo?

– Sim, eu aceito!

Eu me aproximo dele e lhe dou um beijo. Quando nos separamos, ele coloca o anel no meu dedo anelar da mão direita.

– Vou começar a preparar o nosso casamento, então – diz ele, e a emoção em sua voz é notável.

– Só não quero uma festa exagerada, certo? Algo simples em nossa casa, só para os mais íntimos, já é o suficiente.

– Eu não me importo – diz ele, rindo, enquanto acaricia o meu rosto. – Contanto que você me deixe fazer o bolo.

– Sim, eu deixo – digo, sorrindo.

Brinco com o anel no meu dedo anelar da mão direita, lembrando-me do dia em que Peeta me pediu em casamento. Já se passou um mês desde aquele dia.

Olho para o meu reflexo no espelho do quarto. Estou usando um simples vestido branco de manga curta que vai até os joelhos. Meus cabelos estão presos num coque ligeiramente bagunçado. No meu rosto, há uma leve maquiagem.

Meu vestido foi encomendado a uma talentosa costureira da cidade (eu não quis nada da Capital). Quem me preparou foi uma amiga de Delly que tem um salão de beleza. Depois de estar pronta, pedi a ela para ficar um tempo sozinha, para refletir a respeito do dia de hoje.

Casamento nunca fez parte dos meus planos, mas hoje eu sei que estou pronta para me tornar Katniss Mellark. Já vivo com Peeta há cinco anos, então nada será muito diferente.

Batidas na porta é que me tiram de meus pensamentos.

– Pode entrar! – grito, e então vejo a figura de minha mãe entrando. Ela chegou ontem para o meu casamento.

Minha mãe me olha dos pés à cabeça, estudando cada detalhe da minha produção de noiva.

– Minha filha, você está linda! – diz ela, emocionada.

– Obrigada, mãe – digo, ligeiramente envergonhada.

– Agora vamos lá, que Peeta já está te esperando no Edifício da Justiça.

– Vamos.

– Mas vamos pela porta dos fundos. Peeta não quer que você veja o bolo lá na sala.

– Tudo bem.

O caminho para o Edifício da Justiça é tenso. Por algum motivo que não sei exatamente precisar, estou muito nervosa. Minha mãe, que está sentada ao meu lado no táxi (sim, agora há tráfego de carros normalmente no distrito 12), percebe minha inquietação.

– Tudo bem, Katniss? – pergunta ela.

– Sim. Estou só um pouco nervosa.

– É normal – diz ela, sorrindo.

Quando chego ao Edifício da Justiça, sou surpreendida por pessoas e mais pessoas me olhando com curiosidade. Há até pessoas com o visual estranho da Capital. Saber que meu casamento tornou-se um evento de conhecimento público aumenta ainda mais o meu nervosismo. Minha mãe percebe e me conduz para dentro do edifício com um jeito protetor.

Assim que entro, vejo Haymitch no corredor. Ele me olha de cima a baixo, e então seus olhos ficam ligeiramente marejados. Ele tosse, parecendo desconfortável com seu rompante de emoção.

– Você está linda, docinho – diz ele, esforçando-se para não transparecer a emoção em sua voz. – Agora vamos lá pra sala do juiz que o garoto já está suando de ansiedade.

– Sim, vamos – digo, tentando conter o meu nervosismo.

Assim que entro na sala, vejo de longe Peeta andando de um lado para o outro, visivelmente nervoso. Ele está usando um terno simples e claro. Em seu peito, há uma rosa branca.

– Olha ela ali, Peeta – diz Effie, que está ao lado dele.

Seus olhos se iluminam ao me ver. Seu olhar percorre o meu corpo, observando atentamente o meu vestido. Eu me aproximo dele e ele pega minha mão esquerda, depositando um beijo na palma.

– Você está tão, tão, tão linda – diz ele, emocionado.

– Você também – digo, sorrindo.

Durante um tempo que não consigo precisar, ficamos apenas assim, encarando um ao outro com emoção e nervosismo. O juiz é que nos tira de nosso “transe”.

Ele nos chama para assinarmos os documentos. Haymitch, Effie e minha mãe se juntam a nós, para assinar como testemunhas. Em seguida, Peeta coloca a aliança no meu dedo e eu coloco no dedo dele. Após isso, o juiz declara:

– Pela justiça de Panem, eu os declaro casados.

Peeta abre um sorriso imenso e em seguida me dá um suave beijo. Após separar nossos lábios, ele coloca a testa dele sobre a minha.

– Obrigado por isso, meu amor – diz ele, com a voz embargada.

– Não há o que agradecer – digo, sorrindo.

***

Ao chegar em casa, vejo que há em cima da mesa, que está coberta com uma toalha branca de linho, um lindo bolo de três andares coberto com glacê branco e flores; não flores quaisquer, mas sim dentes-de-leão. Em cima do bolo, há dois bonequinhos de biscuit. Uma noiva segurando um arco e um noivo vestindo um avental e segurando um pão.

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– Está tudo lindo, Peeta – digo a ele, me esforçando ao máximo para não fazer algo estúpido como chorar e borrar a maquiagem.

– Sabia que você ia gostar – diz ele, e se aproxima de mim para dar um beijo.

A sala não está realmente decorada, já que é uma comemoração realmente simples, mas Peeta colocou alguns jarros de flores para enfeitar e afastou alguns móveis, para dar mais espaço para os convidados.

Logo, os convidados vão chegando. Greasy Sae e sua neta, Delly e seu irmão, Thom (ele e Delly estão juntos), o pessoal da padaria, Hazelle e os meninos, Annie e Finn, além de Haymitch, Effie e minha mãe, que já estavam conosco antes. Peeta contratou dois garçons, o que nos dispensa do trabalho de servi-los.

A “festa” vai transcorrendo normalmente. Somos cumprimentados por todos e recebemos presentes e votos de felicidade. Um fotógrafo que Peeta contratou registra todos os momentos, para que nenhum deles se perca em nossa memória (posei com um buquê de rosas brancas em algumas fotos, mas deixei claro a Peeta que não vou jogá-lo para as mulheres). O som é ligado e todos dançam, inclusive eu e ele.

Quando chega o momento de cortarmos o bolo, os convidados se reúnem ao redor da mesa. Eu não sei muito o que falar, mas Peeta, com seu indiscutível talento com as palavras, resolve fazer um discurso.

– Antes de cortarmos o bolo e brindarmos, eu gostaria de dizer algumas palavras. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todos pela presença. Katniss e eu optamos por comemorar nosso casamento em uma festa simples, apenas para os mais íntimos, então tenham a certeza de que são muito especiais para nós.

Ele dá um suspiro profundo e continua.

– Eu amo Katniss desde que eu tinha cinco anos de idade. Só falei com ela pela primeira vez aos 16 anos, após sermos sorteados para os Jogos. Passamos por muitas dificuldades, mas eu passaria por todas novamente se isso garantisse que eu estaria aqui, casado com a mulher que eu amo mais do que tudo nesse mundo.

Tento conter as lágrimas, mas simplesmente não consigo. Peeta se vira para mim e diz, olhando nos meus olhos:

– Eu sonho com o dia de hoje desde que eu era criança, no dia em que vi você cantar a Canção do Vale na escola com aquele vestidinho vermelho. Preparei os nervos para falar com você por onze anos, mas nós só nos conhecemos nos primeiros Jogos. Foi duro para mim esperar que você retribuísse os meus sentimentos por você. Foi duro para mim ver a Capital tentar destruir todos esses sentimentos. Mas o meu amor por você é tão grande que não houve telessequestro que conseguisse fazê-lo morrer. E depois, ao me recuperar e ver você retribuir o meu amor, eu vi que tudo valeu a pena. Hoje estamos aqui, casados, e é assim que eu quero ficar para o resto da minha vida. Obrigado por isso, Katniss. Eu te amo.

Os convidados batem palmas e assobiam, o que me deixa meio envergonhada. Peeta sorri para mim e em seguida me dá um beijo carinhoso na testa.

– Obrigada por tudo. Eu também te amo – sussurro baixinho, de modo que só Peeta possa ouvir. Ele sabe que não sou boa com as palavras, e que para mim seria impossível fazer-lhe uma declaração de amor em público. Mas ele não me cobra isso. Ele sabe o que sinto por ele.

Os garçons chegam e nos servem de champanhe. Antes que possamos brindar, Haymitch diz subitamente:

– Eu gostaria de dizer algumas coisas – diz ele. Olho para seu rosto, e vejo que ele parece meio tenso.

– Pode falar, Haymitch – diz Peeta, sorrindo para encorajá-lo.

– Bem, eu não sou bom com as palavras, mas gostaria de dizer que fico muito feliz de ver vocês dois se casando. Fui forçado a ser o mentor de vocês duas vezes, e vocês se tornaram como... bem, uma família para mim.

Ele tosse ligeiramente, como se estivesse se esforçando para conter as lágrimas. Suas palavras mexem comigo, e eu mesma também tenho que segurar as lágrimas. Logo, ele continua:

– Eu vi a história de vocês nascer. Não foi bem do jeito certo, mas eu sempre soube que vocês ficariam juntos – sei que ele está se referindo ao fingimento dos amantes desafortunados, mas, fora eu e Peeta, apenas minha mãe, Delly e Greasy Sae entenderam o sentido real do que ele disse. – Enfim, desejo que vocês sejam muito felizes juntos. É isso.

Os convidados aplaudem e ele se aproxima de mim e de Peeta, nos dando um abraço carinhoso.

Depois disso, nós brindamos e Peeta me dá um suave beijo nos lábios.

– Eca, tio Peeta! Você beijou a tia Katniss na boca! – diz Finn torcendo o nariz de nojo, fazendo todos rirem.

O bolo é cortado e cada um come um pedaço. Depois de algum tempo, todos vão embora (minha mãe ficará na casa de Haymitch e Effie) e a “festa” termina. Ainda é necessário arrumar a casa, mas faremos isso depois. Agora é hora do momento mais importante do nosso casamento: O ritual dos pães. Eu e Peeta decidimos fazer isso a sós, na lareira de nossa cozinha. Já é noite quando eu me sento ao chão em frente à lareira. Colocamos um fogo baixo, pois além de não estar no inverno, não queremos queimar muito os pães.

– Escolhi pães recheados com nozes e passas, como os que eu joguei para você naquele dia – diz ele, sorrindo.

Meus pés estão descalços, assim como os dele, e ele já está sem o paletó.

– Você ainda lembra? – digo, surpresa, enquanto o vejo se sentar ao meu lado. Um espeto com os dois pães em suas mãos.

– Eu me lembro de tudo relacionado a você, lembra?

Isso me leva de volta ao passado, quando ele me disse isso na caverna da primeira arena. Àquela época, eu não sabia do que sentia por ele, mas hoje, analisando a situação com a experiência de uma pessoa sete anos mais velha, sei que já havia algum sentimento, que não era tudo fingimento.

– Você me disse isso na caverna da primeira arena. Real ou não real?

– Real – confirma ele, sorrindo.

Dou um sorriso de volta para ele.

– Mas então, vamos queimar os pães? – digo.

– Claro. Eu coloco o espeto na lareira e você segura o cabo junto comigo.

Assinto com a cabeça, sorrindo, e faço o que ele pediu. Ficamos em silêncio, apenas esperando o fogo torrar os pães. Acaricio de leve as costas da mão de Peeta, que está sob a minha no cabo do espeto, e ele sorri para mim.

Antes que os pães torrem muito, decidimos tirá-los do fogo. Peeta se levanta para colocá-los num prato e logo volta para junto de mim.

– Já podemos comer? – pergunto.

– Temos que esperar esfriar um pouco – diz ele, colocando o prato no chão.

Sei que esse é o momento oportuno para falar sobre meus sentimentos para ele, já que não consigo falar em público.

– Sabe, Peeta, eu sempre pensei em você como “o garoto com o pão”...

– Garoto com o pão? – ele dá uma risadinha.

Reviro os olhos.

– Quer parar de rir? Desse jeito, vou parar minha declaração de amor agora mesmo.

Ele ri mais ainda, mas eu acabo rindo, também. Depois que conseguimos parar, eu continuo:

– Como eu ia dizendo, eu sempre pensei em você como “o garoto com o pão”, por causa daquele pão que você me deu e salvou minha vida. Já eu fui apelidada de “Garota em Chamas”. O ritual de casamento no nosso distrito é queimar pães no fogo – eu pego a mão direita de Peeta e coloco entre as minhas, sobre o meu colo. – É como se o destino, de alguma forma, tivesse nos destinado um ao outro.

Peeta abre um sorriso enorme e em seguida se aproxima de mim, me dando um leve beijo nos lábios. Depois ele diz, enquanto acaricia meu rosto:

– E nossa primeira interação foi após eu queimar um pão e dá-lo a você. Olha aí, mais um sinal do destino.

Eu rio, e Peeta também.

– Eu realmente acho que nós ficarmos juntos é algo que aconteceria de um jeito ou de outro. Eu tive certeza disso na noite em que nós nos amamos pela primeira vez.

– Eu nunca vou me esquecer daquela noite – diz Peeta, colocando atrás da minha orelha esquerda alguns fios de cabelo teimosos que caíram do coque. – Você não sabe como eu me senti ao ter você como minha mulher pela primeira vez.

Dou um sorriso.

– Sim, eu posso imaginar. Aquilo também foi muito especial para mim.

Peeta sorri para mim e logo diz:

– Pronto, agora podemos comer.

Ele tira um pedaço do pão e coloca na minha boca, e eu faço o mesmo com ele. Alimentamos um ao outro em silêncio, sem quebrar nosso contato visual.

O pão é pequeno e gostoso, então não demoramos muito a terminar.

– Agora estamos oficialmente casados – digo.

– Não, ainda não estamos. Temos que consumar o casamento primeiro – ele dá um sorriso safado, me deixando ligeiramente envergonhada.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, Peeta segura meu rosto com as duas mãos e me beija. Não é um beijo suave, como os que trocamos ao longo do dia, mas um beijo faminto, ardente, como se ele quisesse fundir sua boca com a minha. Eu retribuo com a mesma intensidade, abrindo bem minha boca para dar as boas vindas à língua dele e logo a acariciando. Estou sentindo aquela ânsia mais uma vez, que senti pela primeira vez na caverna e que não deixei de sentir desde então. Meu corpo reage a Peeta de forma muito fácil. Anos atrás, eu não entendia por que os beijos com Gale nunca me davam essas sensações. Hoje eu entendo.

Quando o ar nos falta, Peeta afasta sua boca da minha e diz, ofegante, ainda segurando meu rosto com suas mãos:

– Você quer, Katniss? Quer ir para o nosso quarto comigo e ser oficialmente minha mulher?

– É o que eu mais quero – digo.

Peeta não pergunta duas vezes. Simplesmente se levanta e me pega nos braços. Eu enlaço meus braços em seu pescoço e encosto o nariz nele, sentindo o cheiro de que tanto gosto. Tendo a força como uma de suas maiores qualidades, Peeta me carrega escada acima sem dificuldade.

Continua...