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Dia 36: Ao menos uma tentativa


Dia 36

Eu tinha que saber se era verdade ou não, eu não acreditei. Eu não tive sonhos com a Janice hoje, tomei meus remédios antes do jantar. Mas eu tenho que limpar meus olhos com sabão... Eu juro que vi Cassandra com maquiagem leve e sorrindo.

Ela parecia cansada na escola aquele dia, amarrou os cabelos para trás e se sentou na cadeira e tentando não forçar o joelho. As garotas da sala, claro, estranharam e invejaram a "novíssima" Cassandra. Parecia que não era ela, mas o seu âmago ela continuava a mesma. Respostas ácidas as garotas acéfalas da escola, atenção apenas direcionada a mim. Não que eu não me sinta bem com isso. Eu estava me sentindo o máximo com isso. Ela me passou o telefone, ontem, esqueci de falar... Então ficamos burlando o sistema da escola, e mandando mensagens de texto durante todas as aulas. Às vezes o professor me pegava segurando o riso ou a pegava disfarçando algum movimento de pulso que sugeria digitação.

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Foi uma manhã um tanto divertida, na verdade, embora Cássio estivesse no meu pé por causa dos estudos, eu o lembrava que estava naquilo apenas pela aposta. Na verdade Cássio estava sendo impossível nas últimas semanas, e eu estava realmente odiando isso tudo nele, parece que queria que sentissem pena de ele ter quebrado o braço...

Essa semana na verdade tem me revelado grandes surpresas como o fato de eu descobrir que sei tocar violão... Eu fui para minha consulta semanal na doutora Martha, e disse isso para ela. Ela realmente se animou, me passou algumas músicas dos The Beatles para eu aprender a tocar no violão dela. Não acredite na surpresa que foi descobrir que Yesterday eu conseguia tocar sem muito ensaio. As notas me vinham na cabeça sem pensar muito. Parecia mágica.

Quando Júlia chegou para me buscar eu juro que a vi chorando. Me lembrei que foi a música que tocou no casamento dela com o meu pai...Queria ter sido mais legal com meu pai nesse dia, ele estava nervoso e cheio de expectativas, queria que eu estivesse ao lado dele quando ela entrasse na igreja, mas ele que nunca teve jeito comigo me jogou de lado e não conseguiu se expressar direito comigo. Fiquei irado e só de raiva elogiei apenas a Júlia no brinde. Fui o convidado mais enjoadinho e insuportável da face da Terra. Mas esqueça isso. Por que consegui duas coisas hoje: não passar mal o dia inteiro e falar com meu pai direito. E isso é algo que vale a pena. Eu tive uma tontura depois de acordar de manhã cedo. Mas foi só isso.

Bom, eu tive um tempinho antes de ir a psicóloga hoje depois da escola. Eu estava arrumando minhas coisas naquela hora, e hoje era o dia do meu pai me levar, saiu mais cedo só por isso. Eu estava separando algumas coisas antigas que ela me pediu para levar.

—Filho? -ele bate na minha porta com um fio de voz.

—Pai? -eu o olho da cama enquanto coloco alguns CDs que ela me emprestou na minha mochila.

—Então... -ele entra no quarto desajeitado e senta do meu lado na cama- Já arrumou tudo?

Eu suspiro em resposta cansado e ele tira o violão de minhas mãos.

—Você tocava isso... Muito bem... -ele parecia querer chorar, o que é algo milagroso, já que meu pai é secretamente um androide.

—Você me falava isso todos os dias de manhã... -eu suspiro nervoso- Durante um ano inteiro foi: Você tocava isso muito bem, você amava futebol, você costumava ser bom em matemática! Eu não sou mais assim pai...

Um longo e tenebroso silêncio se segue após a resposta.

— Martha tem te tratado bem?

—Sim, ela é a primeira que não me trata como uma criança de três anos. -eu engoli a raiva- Eu gostei dela.

—É. -ele suspira e um grande silêncio se segue- Ela não gostou de mim...

—Sério? -tento engolir o meu sarcasmo- Ela é tão de boa com todos...

—Talvez eu tenha me exaltado com ela... Eu faço isso, sou uma pessoa horrível. -ele me olha fixo nos olhos- Não gostei de suas sugestões.

—De fazer terapia de casal? -eu não me contenho.

—Isso... -continuo guardar o que falta e ignoro o seu silêncio imenso- Queria que pedisse desculpas a ela, por mim, quando a encontrar novamente hoje...

—Você fez a burrada, você conserta! -eu digo a ele seco- Quem ofende é que pede as desculpas... Não usa um mediador como muleta!

—É isso que você quer? -ele abaixa a cabeça e põe as mãos no joelho- Quer que eu peça desculpas? -sua expressão é cansada e basicamente essa todo o fim de expediente.

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—Sim, basicamente isso. -eu respondo.

—Me desculpe Daniel. -ele engole as palavras, me sinto estranho por um momento, por um segundo eu senti emoção quando ele disse aquilo- Me desculpe por tudo acho... Eu vou tentar me retratar com Martha...

—Espero mesmo que sim... -eu continuo estático, mas apenas pelo choque.

Ele me puxa de repente para um abraço inesperado.

—Sei o que pensa sobre mim, mas... Eu só... Só estou tentando... -ele diz de seu modo robótico e nada emocionado. Suspiro, por um momento achei que finalmente íamos nos abrir um com o outro.

—Tente um pouco mais... -murmurei frustrado.

Ainda sim, foi muito bom sentir que ele estava tentando. Mas ele tinha que ver o meu ponto de vista. Eu era a pessoa que ele mais feriu em quatro anos. Então eu podia ser tão rebelde quanto eu quisesse. Embora não fosse... Me pergunto se estou tão errado em cobrar algo assim.

Ele sai do meu quarto calado e sem dizer uma única palavra depois. Foi a conversa mais longa que tive com ele em três anos...

Agora minha segunda vitória? Eu dei uma enrolada no meu pai e disse que ia entregar algumas coisas para os meninos naquela tarde, antes de sair. Ele me deu uma hora para ir e voltar.

Passei na casa dela para levar alguns livros e encontrei Janice na casa. Assim que eu entro pela cozinha, para não ser visto pelo meu pai, a vejo já com roupa normal colocando algumas frutas na fruteira.

—Como vai Danizinho? -ela me apelidou assim- Vai ver a Cassandra hoje?

—Vou sim Janice, onde está a Cláudia?

—Estou aqui na sala! -ela grita da sala já aparecendo na cozinha alguns instantes depois.

—Estava... -Janice ri- Deixe tudo arrumado, não quero que a Gaya tenha um treco... Se ela descobrir que eu faltei a aula hoje ela me mata.

—Vai sair com o seu namorado secreto... - Cláudia faz aquela expressão de malícia que me deixa vermelho- Espero que se divirtam bastante!

—Vou sim! -ela pega a bolsa e me dá um beijo na bochecha e diz para mim e para Cláudia- Esse vai ser nosso segredinho, ok?

—O-ok! -afirmo vermelho e ainda estático na porta da cozinha.

—Vai ficar aí para sempre ou vai ver a Cassandrinha? -ela me acorda do meu breve devaneio e eu subo as escadas tentando desviar do pavor daquele gato psicopata dela, me atacar.

—Daniel! -ela me estende os braços empurrando mais uma montanha de livros lidos no chão- Vem aqui!

—Não! Você vem aqui! -digo no pé da escada- Brincadeira! -me jogo na sua cama.

—Estou entediada... Odeio ficar aqui sem fazer nada... -ela suspira, parece realmente morta de cansada- Pelo menos ainda tenho minha juventude inabalável! Olhe para minha pele impecável! -ela faz caretas.

—Precisa de um espelho, você está horrível! -brinco.

—Se eu continuar com essa pele de doente, nenhum garoto vai me olhar... Não é mesmo? -ela estica o rosto fazendo uma careta ainda maior- Espere... Eu não ligo para isso! -ela suspira- As garotas do colégio hoje estavam insuportáveis...

—Tem inveja de você... Você é a mais bonita de lá...

—Não diga que eu sou bonita! -ela revira os olhos- Eu vou te bater se disser.

—Os outros não sabem o que estão perdendo! -eu agarro sua mão- Garota feia.

—Daniel! -ela tira a mão rápido- Pode me trazer um livro que não está na estante? -ela baixa os olhos tristes- Esta na caixa, no segundo quarto... Pode me trazer a caixa toda... Faz tempo que não leio nada de lá...

—Tudo bem...- eu saio de lá e pego a caixa, mas antes vejo o livro inchado que vi antes,eu acabo o escondendo debaixo da minha blusa e coloco a caixa sobre a sua cama, apenas para descansar- Tem certeza que quer ler tudo isso?

—Sim... -ela sorri amarelo e depois suspira- Não... Não tenho... Me leva lá para baixo um pouco?

—Como? Você não pode andar muito... -eu digo colocando a caixa no chão e escondendo melhor o livro.

—Tem razão... Não é uma boa ideia... -ela suspira.

—Eu tenho uma ideia... -eu me sento na cama e puxei suas pernas com delicadeza para se encaixarem nas minhas costas- Segure firme, cowgirl!

Eu me levantei de supetão, ela desequilibra, mas se agarra no meu pescoço rindo.

Eu desço as escadas jogando o peso dela delicadamente para lados opostos apenas brincando com ela e fazendo ela se agarrar mais forte a mim... Foi a primeira vez que eu ouvi gargalhadas verdadeiras dela.

Comemos algumas coxinhas que Cláudia nos trouxe e ouvimos um CD inteiro do Jake Bugg, rimos falando de assuntos diversos. Me senti finalmente conectado a ela... Acho que posso chamar isso de fase bônus... Minha alegria, claro só foi quebrada pelo meu pai me ligando. Levei ela para cima novamente e me despedi.

O resto você já sabe. Consulta, violão, alegria, pai se desculpando...

Acho que vou dar uma olhada no livro de poesias que eu roubei dela amanhã... Não sei... Só tem algo que me diz que é importante.

Bem vou dormir agora, acho que tirando os elefantes na sala, minha vida caminha para tempos de paz.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.