Capítulo 10 – Hoje a noite não tem luar

Amor. Esse era o sentimento que me preenchia naquele momento. Sentia amor à beleza surreal natureza, principalmente ao mar. À vida, às pessoas, à agua de côco e, é claro, ao Mickey. Quem diria que um Milkovich poderia roubar meu coração? Deus... Os Milkovich nunca foram capazes de amar ou serem amados. Exceto agora, que Mickey estava comigo.

Depois que passei alguns minutos no mar, voltei para a areia e o encontrei pensativo.

— Você está tão sozinho — falei enquanto me sentava ao seu lado. Ele não estava literalmente sozinho, mas ele parecia distante como se estivesse sozinho.

— Não estou não, estou com você — respondeu.

Mickey se virou para mim e me beijou. Eu deveria ter estranhado isso, mas a única coisa que pude fazer foi sorrir enquanto nos beijávamos. As nuvens como desenhos no céu; o sol nos iluminando impecavelmente, o calor que só aumentava durante nossos toques... Parecia um sonho ou um filme.

Passamos quase o dia todo na praia, até o ensinei a nadar.

Anoiteceu estranhamente rápido demais, e saímos juntos novamente — dessa vez pra nenhum lugar específico, apenas passeávamos por aí. Não paramos em lugar algum, só estávamos caminhando e conversando, até que eu lhe pedi um beijo e ele negou. "Muita gente olhando, cara", disse ele, como se de tarde não tivesse ninguém na praia... Se bem que, pensando bem, no momento do beijo eu não me lembro de ter visto alguém. Estranho.

— Escondido dos outros, então? — perguntei.

— É claro. — sorriu de lado.

Entramos num beco vazio. Livre dos olhares alheios, nos beijamos.

O beijo foi totalmente diferente daquele que rolou na praia. Esse foi iluminado pela luz da lua e das estrelas, enquanto nossos corpos se arrepiavam com a brisa gelada que batia.

Mas então sons estrondosos de trovões cortaram o clima, e começou a chover. A água em meu rosto me incomodava; com a chuva, Mickey começou a se dissolver. Meu coração acelerou e, num sobressalto, acordei.

Era um sonho, nada tinha sido real. Nada de ir com Mickey para a praia; nada de passar o dia e a noite com ele; nada de nos beijarmos. Não havia dia ensolarado, e a noite não tinha luar.

O que era real, era essa tempestade com ventania e a ausência de Mickey.