Crônicas de nós dois

Por Enquanto


–Já é primavera - Wilson disse em tom casual, sentindo a brisa de cheiro fresco lhe acertar o rosto de forma suave.

–Pois é, não pude deixar de notar, com toda essa quantidade de casais melosos andando pela rua - disse em tom sarcástico.

Wilson sorriu para o grisalho e levou a mão até a esquerda de House. Entrelaçou os dedos nos dele e os apertou de forma leve, sentindo a pele quente contra a sua. Recebeu um olhar constrangido dos azuis de House, mas o grisalho não soltou a mão da dele.

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Caminhavam sob a luz morna do sol, apenas aproveitando o pouco do domingo de primavera daquele final de semana. Depois de muito insistir, Wilson convencera House a sair do apartamento. House não era o maior fã de caminhadas - por motivos óbvios. -, mas era bom estar com Wilson ao seu lado.

Era bom pensar em como o tempo havia passado e as coisas ainda eram como antes. Nada havia mudado, mas tudo era diferente. Um paradoxo delicioso que mostrava como conseguiam misturar a amizade que perdurara entre eles durante anos e os novos sentimentos que nasciam a cada novo toque e cada novo olhar trocado. E a mão de Wilson na sua era quase como uma confirmação de que aquilo era real.

O sol morno brilhava contra sua pele, a brisa fria refrescava seu rosto, as vozes de crianças com seus pais lhe traziam uma estranha sensação de paz interior. O vento fazia as árvores balançarem seus ramos pesando com flores coloridas. O mundo parecia cantar pra si, e House teve que culpar a primavera pelo seu pequeno delírio romântico e meloso.

Era difícil se deixar levar pela primavera quando sabia bem o que toda aquela baboseira romântica significava. Havia vivido o suficiente pra saber que todas as juras de amor eterno não se cumpririam e que o pra sempre, sempre acabava. Sabia bem de tudo aquilo, mas aquele aperto em sua mão o fazia esquecer de tudo. O fazia pensar que nunca o esqueceria, que nada nunca poderia mudar o que haviam passado juntos. Foram anos com Wilson e nada levaria as lembranças daqueles anos de sua memória.

–O que você quer de dia dos namorados? - a voz de Wilson soou um tanto distraída, enquanto continuavam a caminhar de mãos dadas pelo parque.

House até cogitou a ideia de dizer a Wilson que não precisava de mais nada. Que aquilo: aquela mão na sua, e sua presença ao seu lado, eram o suficiente por toda uma vida. Mas desistiu. Era péssimo com coisas assim e não sabia como dizer o quanto o amava. Que quando pensava em alguém, apenas pensava nele. E que ele era o melhor presente que já havia ganhado.

–Um par de algemas seria uma boa ideia - zombou enquanto se inclinava para roubar um beijo leve dos lábios do moreno.

Teria tempo o suficiente pra dizer coisas assim. Por enquanto, estava bem apenas deixar as coisas como estavam.