Crônicas de nós dois

Back to Black


O vicio dele sempre seria sua perdição.

A sensação de torpor era simplesmente boa demais para se deixar para trás.

Perdido fora da realidade. Ali ele não sentia dor. Não sentia medo. Ali ele não era infeliz.

Wilson sabia de todas essa coisas e, exatamente por isso, seu coração pesava cada vez mais, e seu medo por House aumentava a cada dia.

Já não sabia quando a primeira overdose de Vicodin havia acontecido. Perdera a conta de quantas vezes ligara no celular dele, apenas para escutar a voz feminina dizer que ele não podia atender agora.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Havia bebida, Vicodin, noites escuras e prostitutas. Havia um infectologista sozinho em sua miséria e um oncologista perdido em um desespero de não saber o que fazer.

Não importava quantas vezes Wilson tentasse manter House firme, parecia que ele não era suficiente pra que valesse a pena enfrentar a realidade. Porque era mais fácil fingir que ela não existia.

E não importava quantas vezes Wilson o tirasse daquele poço úmido e escuro. House sempre voltava pra lá. Por conta própria. Porque ele era assim.

E agora ele estava alucinando. Perdido, sem saber o que era real ou apenas produto do Vicodin. Amber aparecia para ele e Wilson não podia fazer nada.

Os olhos azuis pediam socorro, mas os lábios queimavam em fúria desdenhosa. Ele tinha dores, mas quem não tinha?

E Wilson não podia fazer nada.

Mas fora ele quem achara Mayfield. Fora ele quem dera o máximo de apoio a House. Fora ele quem escutara todos os medos do grisalho. Quem o ajudara com as malas. Que o levara até lá. Quem o observara uma última vez antes daquelas portas se fecharem. Separando a ambos. Fora Wilson quem estivera ali e, consequentemente, fora Wilson quem House odiara em seu delírio.

Palavras não foram usadas na despedida. Como se elas precisassem ser usadas entre os dois. Se despediram com os olhos e, embora fosse o que o moreno mais queria, não com gestos ou palavras de reencontros. Sem promessas ou juras. Ambos sabiam que Wilson estaria bem ali quando tudo isso enfim terminasse. Ele sempre estaria. E sabiam também que House voltaria para ele. Ele sempre voltaria.

Era difícil, mas Wilson se manteve longe, e ele rezou todas as noites. Rezava para que ele estivesse bem. Para que a abstinência por ficar sem o Vicodin durasse o menos possível. Pra que ainda houvesse um pouco de esperança no coração frio de House.

E ele o teria visitado todas as vezes se soubesse que isso o ajudaria. Mas sabia que não. Sabia que vê-lo ali apenas machucaria a ambos. Que House não queria ser visto daquela forma e que ele mesmo, no fundo, também não queria vê-lo ali.

Porque se pudesse levaria House de volta para casa na primeira oportunidade.

E assim ficaram separados por dois meses. E agora, que ele estava voltando, Wilson ainda conservava aquele mesmo medo de que House voltasse a sua normalidade absurda e autodestrutiva.

Voltasse para a sua escuridão.