Miguel e Davi

Capítulo 1 - Happy - 02/12


Miguel nunca tinha estado em uma balada gay antes. Então, não sabia o que esperar daquela. Se estava animada, parada ou qualquer coisa do tipo que precisasse de uma referencia anterior, ele não sabia dizer. Mas Davi - que já estivera em meia centena de baladas como aquela, se pudesse acreditar na palavra do outro - parecia estar se divertindo, então Miguel supôs que as coisas estavam particularmente quentes naquela noite.

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A verdade, é que, mais tarde quando voltasse para o apartamento que divida com uma amiga, e Bia perguntasse como fora, ele não teria muito a dizer. Sabia que havia luzes piscando para todos os lados e só tinha uma noção que havia música da Lady Gaga tocando porque a voz dela berrava em suas orelhas.

Claro, outros cantores também enchiam a noite e foi ao som de Happy, do Pharrell Williams, que ele finalmente aceitou dançar com Davi.

– Você devia se soltar mais, Miguel! - o namorado berrou, rindo, quando percebeu o quão travado ele estava.

Estava nervoso. Era glorioso imaginar que Davi era, finalmente e de uma vez por todas, seu namorado oficial, com direito a aliança de tudo. Sem "nós estamos, tipo, mais ou menos juntos" ou "sim, eu já beijei ele, mas não foi nada sério". Agora era pra valer. Por quanto tempo? Miguel também não sabia.

Naquele momento, encarando os olhos de Davi, ele não entendia de onde vinha tanto nervosismo. Tá certo que nunca fora a uma balada gay e certamente nunca vira tantas drags reunidas em um mesmo lugar, mas não era razão para estar tão travado. Ainda mais com Davi se esfregando por seu corpo.

Novo demais para essas safadezas, a voz da mãe lhe soava na cabeça o tempo todo no meio das luzes piscando ao seu redor na balada.

Novo demais? Talvez. Tinha dezessete anos, talvez fosse muito novo mesmo. Só conseguira entrar com documentos falsos e depois de uma mãozinha de um amigo de Davi. Mas existia idade para amar? E, inferno, se não acontecesse naquela noite, acontecera em alguma outra, que diferença faria quando tinha sido?

E amava Davi, lembrou a si mesmo. O que sentia pelo outro era mais do que uma pequena atração como tinha sido com os outros caras antes. Davi era diferente. Com os cabelos castanhos sempre espetados e os olhos daquele mel pingado de verde - Miguel achava que nunca tinha visto olhos mais bonitos - e a pele sempre quente por baixo da blusa onde ele encontrava os músculos quando queria. Mesmo Bia, um tanto quanto exigente com homens, tinha concordado sobre a beleza de Davi. Podia não ser tão bonito quanto o namorado de Bia, mas ela o pegaria se estivesse solteira (nas palavras da menina).

Finalmente, decidindo que não tinha porque ficar tão nervoso, ele sorriu para Davi e viu a surpresa momentânea no rosto dele quando a mão de Miguel se instalou em sua parte traseira.

Davi um abriu um sorriu. Um sorriso tão quente quanto mil sóis que obrigou o resto do nervosismo de Miguel a sumir.

Finalmente, livre de todo o nervosismo e ansiedade, ele se sentiu leve como uma pena e avançou para Davi.

Eles se beijaram.

Um selinho bobo, mas o bastante para alegrar a alma de Miguel.

E, pela primeira vez na noite, ele percebeu o quanto estava feliz. Estava acostumado a suportar a dor o tempo todo, tanto emocional quanto física, e talvez por isso tenha demorado a perceber o quão feliz estava. Mas, a verdade era que estava feliz. Muito feliz. Afinal, se soltou, dançando tão bem quanto sabia - apesar de Davi sempre lhe dizer que era desajeitado, então não deve ter sido tão bem. Naquela noite, porém, o namorado não pareceu achá-lo desajeitado. Parecia tão feliz quanto ele. E, se os dois estavam felizes, nada mais importava. Estavam juntos, estavam felizes e se amavam. E isso era tudo.

Quanto tempo duraria? Um mês, seis meses, um ano, a vida inteira? Miguel não sabia.

E, pela primeira vez, ele não se importava.

Sabia que estava feliz e isso era o bastante.

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