Tom & Mary - jornada musical

Eu não consigo tirar meus olhos de você


Que Lady Mary era bonita, não era novidade para ninguém, muito menos para ele, que a cada dia mais era traído pelos seus próprios olhos e se pegava olhando fixamente para ela tantas vezes ao dia, que tinha medo que isso fosse evidente para todos, em especial para o objeto de sua quase adoração.

E hoje, mais do que qualquer outro dia seria quase impossível para ele tirar os olhos de sobre ela, e Tom logo percebeu isso enquanto ela descia as escadas, vestindo um vestido claro, florido e esvoaçante, algo tão incomum à Mary que ele teve que olhar duas vezes para se certificar de que era realmente ela. Ao se aproximar, notou suas bochechas e lábios mais rosados do que de costume e logo concluiu que ela havia comprado tudo isso na sua última viajem à Londres.

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Tentou se concentrar mentalmente e parecer minimamente indiferente, desviando os olhos e se fixando no quadro que ficava ao pé da escada, enquanto esperava ela descer.

—O que você achou da nova moda de Londres? Você pareceu surpreso, assim que me viu. — Mary tocou seu braço, sorrindo com um ar tão inocente que perturbou ainda mais os pensamentos de Tom.

—Eu acho que lhe caiu muito bem! Me desculpe se fui indiscreto. — Disse balançando desajeitadamente o chapéu que estava nas mãos, desesperado para esconder o real tamanho de sua admiração. —Mas acha que é o mais adequado para uma tarde de trabalho?— ele continuou.

—Tom, está um calor terrível lá fora! Esse vestido é fresco, perfeito para o dia de hoje! Você não gostaria de me ouvir reclamando do calor a viagem toda, não é mesmo?

—Mas vai chover, e eu também não quero te ouvir reclamando sobre a chuva a viagem toda. —Disse sorrindo, com um tom provocador.

—Eu prometo que não vou reclamar de nada a não ser do fato de você implicar tanto com as minhas roupas— Replicou ela, provocando-o igualmente.

—Carson, diga a mamãe que não nos espere para o jantar, temos muitos inquilinos para visitar e compras para fazer, Tom precisará fazer uma parada para descansar um pouco antes de voltarmos, vamos comer em algum lugar em Ripon.

—Sim, milady.

O carro chegou, e como um bom cavalheiro, Tom acomodou Mary antes de seguir viagem. A sra Hughes entregou uma cesta cheia de quitutes, feitos com todo carinho pela Sra Patmore para que eles pudessem se refrescar e beliscar alguma coisinha entre tantas tarefas do dia. Todos ainda estavam tentando se acostumar com a ideia de que a filha mais velha do conde era agora uma mulher que acordava cedo e trabalhava arduamente ao lado de Tom para manter a propriedade a salvo. Acreditavam que em poucos dias, Mary desistiria de tudo e voltaria à sua vida monótona de Lady, mas depois de tudo que aconteceu em sua vida, Mary finalmente se sentia no lugar em que deveria estar.

Era tão engraçado para ela que aquele homem tão quieto e tímido durante os jantares, ou o pai que deixava as crianças fazerem tudo o que queriam e não levava nenhuma recomendação feita por ela sobre isso a sério, também fosse esse homem tão inteligente e bom para os negócios, dando direções tão seguras aos homens que estavam naquela terra há mais anos de que sua avó tinha de vida, e que se impunha sobre qualquer reclamação que fizessem porque ele sabia o que era o melhor para Downton. E essas mesmas pessoas, tão logo se tornavam agradecidas a ele, pois colhiam rápido o fruto de terem seguido as recomendações de Tom, que também estava sempre disposto a ajudar a qualquer um que fosse. Mary tentava prestar atenção em tudo o que ele e os fazendeiros discutiam, mas seus pensamentos eram todos absorvidos por um pensamento muito maior que permeava sua mente, a de que ele era bom demais para ser real. E a cada dia, ela tinha mais medo, pois percebia o quanto ela precisava e queria ele ao seu lado. O quanto não queria abrir mão de tudo o que tinham conquistado juntos. O quanto era pendente dele.

—Mary, podemos ir?— Tom tocou suavemente em seu ombro. —Porque você está olhando para mim desse jeito?— Ele perguntou sorrindo, confuso e curioso.

—Olhando para você? Não... eu estava olhando através de você... para aqueles pêssegos quase maduros— Ela respondeu tentando disfarçar sua fixação nele.

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—Na cidade encontraremos alguns já maduros para comprar e você sana a sua vontade, certo?—

Ela revirou os olhos, tentando recompor mais uma vez a Mary de sempre —Não precisa, não estou com uma vontade tão imediata assim, tudo bem.

—Tem certeza? Porque pelo seu olhar, parecia que sim.

No meio do caminho Mary avistou uma estradinha familiar, a qual sabia que levaria para o lugar onde tinha a sua vista favorita de Downton, onde ela poderia ver praticamente quase tudo que lhe pertencia

—Tom, entre aqui, me leve lá novamente.

Ele sabia exatamente do que ela estava falando, se lembrou da primeira vez em que a levou até ali para saber mais sobre a propriedade e de como ela tinha lhe dito amar a vista lá de cima. Fez a curva e seguiu em direção ao lugar que se tornara, de certa forma, tão especial para os dois.

Mary desceu do carro, olhando para tudo com um sorriso suave e satisfeito. Tom só tinha olhos para ela. Se lembrou de como ela se transformou de "a cunhada arrogante" para a mulher que se manteve ao seu lado no momento mais difícil de sua vida. Ela agora era sua melhor amiga e uma das pessoas mais importantes para ele.

—Agora eu acho que é você que está me olhando de um jeito meio estranho!— Ela disse sorrindo, um pouco corada.

—Me perdoe pelo jeito que tenho te olhando tão fixamente... é que você está tão bonita hoje. —Tom disse desviando o olhar, sabendo que agora era impossível negar.

—Só hoje? Devo tomar isso como um elogio? Não foi só hoje que eu me esforcei para ficar bonita. —Ela disse, com o blush mais acentuado nas bochechas por seu próprio corar.

—Não seja boba, você sabe que nunca precisou se esforçar para isso. Eu só não sou um homem bom com as palavras. — Ele olhava agora para o horizonte, tentando entender o que estava acontecendo entre eles, e também com o céu, que mudava de cor. Um silêncio se instaurou, talvez nenhum dos dois tivesse ainda coragem o suficiente para levar essa conversa adiante.

—Olhe Tom, esta vendo lá embaixo? São pêssegos, papai já me levou lá quando era criança. Aposto que os pêssegos de lá já estão maduros! Vamos dar uma olhada!— Mary puxou a mão de Tom, não esperando qualquer resposta além de "Sim, Mary", "Claro, Mary", o habitual de todos, exceto para a pessoa em questão.

—Mas Mary, o tempo está virando e—

Ela não o deixou terminar —É rápido, o carro está aqui pertinho, vamos!

Chegando lá, de fato alguns pêssegos já estavam realmente bons, mas na parte mais alta da árvore.

—Vem Tom, me ajude a subir aqui, eu consigo pegar estes. — Ela disse, apontando para alguns deles.

—Você por acaso já subiu em uma arvore alguma vez na vida?— Ele disse, já sabendo a resposta

—Obviamente que não, mas tudo tem sua primeira vez, não é? E você é muito pesado para estes galhos— Como ele de repente se viu doido para vê-la metida nessa aventura, não se opôs a sugestão, ajudou-a a subir e ficou por perto caso alguma coisa saísse errado.

Mary apanhou dois pêssegos e quando tentava agarrar o terceiro, se desequilibrou e caiu. Mas Tom estava lá para segurá-la, ou talvez apenas para amortecer a queda, já que os dois se espatifaram no chão. Mary estava caída sobre Tom, e Tom sobre alguns pêssegos e folhas. Por alguns segundos se assustaram, e depois de alguns segundos Tom tentou dizer algumas palavras reprovadoras, mas tê-la tão perto era como ter os céus ao toque de suas mãos, ter a visão de seu rosto tão próximo e sentir sua respiração contra a dele o deixou fraco, sem palavras ou dizendo coisas incoerentes. Quando a tensão cresceu entre os dois e o silêncio se tornou constrangedor e perigoso, Mary começou a gargalhar, tirando por fim, um dos sorrisos mais bonitos de Tom. Um sorriso torto e maroto que lhe deu uns dez anos a menos.

—Eu sabia que isso não ia acabar bem, mas não se pode contrariar a Lady Mary, não é?— ele disse tentando se apoiar sobre seus dois cotovelos.

—Eu juro que não foi minha culpa!— ela gargalhava, saindo de cima dele e sentando ao seu lado, pegando o pêssego que havia caído no chão com o rosto triunfante. Tom se levantou, desgrudando os pêssegos podres de seu terno amarrotado, estendendo a mão para Mary se levantar também.

—Aiiiiii!— Mary gritou —Meu pé, eu não consigo pisar com esse pé, está doendo muito, Tom! —ela dizia levando a mão ao calcanhar. Nesse momento Tom sentiu algumas gotas caindo progressivamente sobre eles e fez um careta que prenunciava desastre.

—Que ótimo, era tudo o que eu precisava! No meio do nada, com o pé machucado e chovendo!—ela reclamou melancolicamente.

—Ponha seus braços sobre o meu ombro!— Tom disse, já puxando Mary para o seu colo —Eu te levo, não estamos tão longe assim do carro. — Na verdade estavam, e com a chuva aumentando, mesmo Tom tentando ir o mais rápido que pôde, no meio do caminho os dois estavam encharcados.

Por mais que Mary estivesse se sentindo mal por tudo aquilo acontecendo, ela não conseguia parar de olhar admirada para o rosto de Tom, que não conseguia esconder que, apesar de tudo, estava se divertindo. De pouco em pouco ela delicadamente limpava a chuva dos olhos dele com a manga de seu vestido e retirava a franja que caia na testa. Ele sorriu e agradeceu, passando a ir até mais devagar para que ela fizesse isso tantas vezes fosse necessário. O toque dela era um refrigério para sua alma cansada.

Chegaram no carro e Tom fez um esforço sobre-humano para abrir a porta e colocá-la sentada, deu meia volta, entrou no carro, tentou dar partida. O carro não pegava. Será que tudo estava dando errado, ou era exatamente o contrário? Porque tudo o que ele tinha vontade de fazer era rir. Mary tremia de frio, seu casaco estava encharcado demais para oferecer para cobri-la. Ele tirou o casaco, sua camisa ainda se salvava, então ele envolveu-a em seus braços sem dizer nada e ela se aconchegou sem dizer uma palavra.

Depois de um tempo no conforto dos braços dele, Mary criou coragem para dizer: —É tão bom ter alguém pra nos aquecer, eu nem me lembrava mais de como era isso. Já me cansei de todas essas noites solitárias, você me entende não é? Eu sinto que eu preciso de você, e que talvez tudo isso seja bom demais para ser verdade. —Ela disse, se aconchegando mais em seu corpo, sem coragem para olhá-lo nos olhos nesse momento.

—É claro que eu te entendo...— De repente ela sentiu seus braços a envolverem mais forte, a voz dele saindo rouca perto de seu ouvido: —eu queria tanto te segurar, tanto te abraçar e te envolver, Mary. Te tocar é como tocar o céu! Quando eu estou com você, eu agradeço a Deus por estar vivo, mas isso é tão bom demais para ser real. — Ele finalmente desabafou, apertando ela contra seu peito, lhe dando um beijo rápido no topo da cabeça.

—Eu só precisava saber se você também se sente como me sinto. — Ela disse, ansiosa.

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—Eu te amo, Mary, se é isso que quer saber. — Ele puxou delicadamente seu rosto para olhá-la nos olhos, inseguro.

—Eu também te amo...então, está tudo bem!—E eles fizeram aquilo que há muito tempo desejavam fazer. Lentamente, ela ergueu mais seu rosto, num convite silencioso para que ele desse agora um beijo em seus lábios. Ela se abriu pra ele, que afundou sua língua na dela, em um beijo apaixonado. Seu peito parecia ter fogo líquido enquanto ele delicadamente explorava com as mãos a borda do decote e o interior de sua boca com a língua. —E como nós vamos para casa agora? Será que queremos voltar? — Ela resmungou entre um beijo e outro, ofegante.

—Podemos pensar nisso depois?— ele respondeu sorrindo, a puxando novamente para os seus braços. —Me desculpe se eu nunca mais conseguir tirar os olhos de você a partir de hoje. —Ele balbuciou, com os lábios dormentes de tanto se beijarem, de se amarem tão apaixonadamente com a boca. Queriam muito mais, mas estavam satisfeitos com o que podiam ter um do outro naqueles beijos. Era mais do que tinham tido até agora. Valia realmente como um mundo. E então, adormeceram, pois a noite e a escuridão rapidamente se abateram sobre eles.