Capítulo 17 - Talvez a gente encontre explicação

A prostituta ao lado de Crowley tinha os mesmos traços latinos que Lavignia, porém seu sangue já sabia amargo como a vida que ela certamente tivera. Seria fácil ele designar algum demônio para persegui-la e possui-la, mas essa ideia o arrepiava de um ciúme que ele não podia definir.

Olhou a mulher que estava a seu lado. Tratara-a como a mais vil das criaturas, colocando em prática todas as obscenidades que nunca direcionou à outra, que não seria capaz sequer de senti-lo.

Pra ser sincero eu não espero de você

Mais do que educação,

[...]

Aperto de mãos,

Apenas bons amigos...

Talvez fosse demasiada droga em seu organismo… Mas aquele esquema fora muito conveniente. Isso, claro, se ele não tivesse se apegado. E apegar-se implicava ter rancor e o rancor não acabava nunca.

Nós dois temos os mesmos defeitos

Sabemos tudo a nosso respeito

Somos suspeitos de um crime perfeito,

Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos.

Talvez fosse tempo de estar limpo, de retornar à letargia do nada, porque as circunstâncias pediam que o Rei do Inferno fosse minimamente racional… Arranhou de leve as costas da mulher ao seu lado, sentindo outras tessituras, aqueles emaranhados de si para consigo.

Pra ser sincero não espero que você

Me perdoe

Por ter perdido a calma

Por ter vendido a alma ao diabo

Talvez, my dear

Num desses encontros casuais

Talvez a gente se encontre

Talvez a gente encontre explicação