Capítulo 12 - Só Hoje

"Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria
Em estar vivo"

Só Hoje - Jota Quest

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Eu geralmente conseguia passar os dias sem ele, sem pensar que havia quilômetros nos separando. Mas não hoje.

'Oi...' disse escondendo meu rosto atrás de meus joelhos assim que ele atendeu a chamada de vídeo no Skype. Ele sorriu.

'Oi.' corei um pouco ao notar o quão lindo ele estava. 'Como você tá?'

'É...' suspirei. 'Indo... E você?' seu sorriso ficou um pouco triste.

'Eu to bem. Por que indo?' dei de ombros e fiz uma careta, ele entendeu que eu não queria falar sobre aquilo. 'Fazia tempo que a gente não conversava, né...' assenti.

Ficamos em um silêncio constrangedor. Eu quase não conseguia olhar para ele na tela, tinha que desviar os olhos sempre que sentia que uma lágrima escorreria. Marco parecia preocupado, mas não falava nada.

'Eu...' comecei, mas parei, logo em seguida, afundando minha cabeça ente meus joelhos novamente. Marco estava sentado reto em sua cadeira e eu todo torto, com os pés em cima dela. Só esse detalhe já falava tanto sobre nós dois.

'Você?' me encorajou a continuar. Balancei a cabeça, negando. 'Jean... Assim não dá...' ele não estava bravo, seu tom era calmo e suave. 'Você nunca me fala as coisa, tá mais do que claro que alguma coisa tá acontecendo e você não me conta...'

'Desculpa.' o cortei. 'É que é difícil.' fechei os olhos e respirei fundo. 'Eu não to bem.' mordi meu lábio inferior.

'Fala mais.' meus fones de ouvido faziam parecer que ele estava ao meu lado, mordi mais forte. 'Jean?'

'Eu preciso de você.' a frase saiu de minha garganta naturalmente. Abri os olhos assustado por ter dito aquilo. 'Quer dizer...' comecei a tentar concertar, gaguejando um pouco ele sorria. 'Só hoje, sabe. Porque eu não to bem e você é meu amigo, sabe? Não é como se eu precisasse de você sempre e...'

'Eu sei.' ele não havia parado de sorrir. 'Só hoje.' disse ironizando, eu ri baixinho. Marco me conhecia tão bem, não adiantava mentir pra ele.

'É...' voltei a colocar minha cabeça na perna. 'Quando você volta?'

'Nas férias de dezembro. Vou passar dezembro e janeiro com meus pais.' ele passou a mão pelo cabelo. O corte dele havia mudado, não era mais o corte do nerdzinho do colégio, agora estava bem moderno. Marco havia ficado parecido com um galã de filme hollywoodiano desde que se mudara pra capital após passar no vestibular.

Ele passou e eu não. Por isso fiquei em nossa cidade natal sozinho. Não nos víamos havia um ano, o que era muito para mim considerando que havíamos crescidos juntos.

'Jean.' me chamou, me tirando de meu transe. 'Quando eu for praí...' mordeu o lábio inferior e desviou o olhar da tela. 'Será que você não quer... Sair comigo?'

'Isso não é algo que você precisa pedir, Marco.' ele continuava sem olhar para mim.

'Não... Eu quero dizer tipo... Um encontro...' meu coração pulou uma batida.

'Você quer ter um encontro... Comigo?' perguntei surpreso. Marco, meu amigo inteligente, lindo, bom, por quem eu era apaixonado havia três anos estava querendo um encontro comigo?

'Eu sei que é estranho, mas... Eu...' respirou fundo e olhou para a câmera. 'Desde que eu vim embora eu não paro de pensar que talvez eu goste de você mais do que eu acreditava que gostasse...' olhou para baixo, para ver como eu estava reagindo, e encontrou a imagem de um idiota sorrindo e assentindo. Ele sorriu também.

Ficamos mais um vez em silêncio, nos encarando, compartilhando o sentimento do necessidade um do outro, finalmente.

'Jean?' chamou timidamente.

'Diga...' fechei meus olhos para me concentrar apenas em sua voz e fingir que ele estava ao meu lado.

'Eu também preciso de você.' sorri, ele riu. 'Só hoje.' disse ironicamente. Ri junto.