Our love is like a song

Capítulo 1 - Happy


"It might seem crazy what I'm about to say

Sunshine,(s)he's here, you can take a break"

Happy - Pharrell Wiliams

~~

Felicidade é tão relativo.

Se eu dissesse isso em voz alta ele diria:"tudo é relativo, Jean".Eu reviraria meus olhos, mas não diria nada. Em meu cérebro pensaria em diversos exemplos de coisas que não são relativas. O fato do sol ser uma estrela, por exemplo. Gostaria de ver Marco tentar me explicar a relatividade disso. Mas a felicidade, ela sim é extremamente relativa. Sentimentos no geral, como ela, o amor, a raiva, não são concretos como o sol ou um sorriso ou sardas.

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De qualquer maneira, esse não é meu ponto. O que estou tentando dizer é que a felicidade varia de pessoa para pessoa. É fácil perceber isso só por perguntar a diferentes pessoas o que é felicidade para elas.

Tudo aconteceu em uma aula de Filosofia. A aula seria sobre Epicuro, então o professor questionou a sala sobre o que era felicidade para cada um e como era possível alcança-la. Tínhamos de escrever em um pedaço de papel, anonimamente, dobra-lo e colocar em um saco de plástico que ele levara à aula aquele dia. Ele leria cada um dos papéis na aula seguinte. Minha cabeça travou na hora.

Eu via todas as pessoas escrevendo, mas eu não conseguia pensar em nada para escrever a não ser um nome. Um único nome.

Felicidade não tem um nome que não seja ele próprio. O nome da felicidade é "felicidade", mas meu cérebro insistia em renomear o sentimento. E quanto ao motivo daquilo ser felicidade eu não sabia como colocar no papel. Em resumo da situação: entreguei meu papel em branco - o que, provavelmente, deixaria o professor ou muito puto ou muito preocupado. Desde então o tópico ficou em minha cabeça, martelando sem parar.

'Jean!' sua voz me tirou de meus devaneios. 'Você prestouqualquer atenção no que eu acabei de explicar?' pisquei algumas vezes e olhei para o que ele havia rabiscado na folha de papel em cima de minha escrivaninha.

'O que você escreveu no papel?' ele olhou para a mesa, depois para mim, para a mesa de novo, fez uma cara de quem estava confuso e abriu a boca para responder. 'Não aí, cara.' o interrompi rindo. 'Na aula de filosofia. O que você escreveu no papel?' ele corou e abaixou o olhar para suas mãos. Ele as esfregava juntas, mexia seus dedos sem nenhum ritmo constante, o que significava que ele estava nervoso.

'Ah, nada de mais...' disse sem olhar para mim. Ah, se ele soubesse como aquilo me matava... Ficar guardando segredos de mim... 'Tipo... Você vai saber, eu acho, não sei, e-eu...' segurei suas mãos. Marco olhou para mim rapidamente, um pouco assustado e corado. 'O que você escreveu?' tentei ignorar o fato de suas mãos serem extremamente macias e de suas pupilas estarem extremamente dilatadas.

'Nada.' não consegui me conter e corri meus dedos por sua pele. Meus pensamentos conflitavam fortemente, era como se houvessem duas pessoas gritando dentro de minha cabeça. Enquanto uma dizia que eu devia largar Marco e mudar de assunto, a outra me mandava sentir melhor suas mãos e entrelaçar nossos dedos, ignorando o quanto meu rosto queimava e o quão vermelho meu melhor amigo estava. A primeira parte frisava a expressãomelhor amigo e a segunda reforçava que aquilo não era a relação que eu queria com Marco. 'Entreguei meu papel em branco.'

'Por quê?' sua voz saiu baixa, ele abaixara o olhar novamente. Dessa vez ele encarava o chão. 'Não tem nada que te faça feliz?' disse quase que como se estivesse ofendido. Meu corpo obedeceu meu lado racional e largou sua mão.

'Tem.' peguei meu lápis na mão e comecei a gira-lo entre meus dedos, para tentar me restringir de toca-lo novamente. 'Te conto se você me contar.' sorri um sorriso de canto de lábio e arqueei uma sobrancelha. Aquilo fez Marco corar ainda mais.

'E-eu...' ele me olhou, voltando a mexer as mãos sem propósito algum. Meu coração batia mais rápido do que o normal. 'Jean...'

'A gente pode escrever em um pedaço de papel e mostrar ao mesmo tempo, que tal?' ele assentiu. Cada um pegou uma metade do próximo papel de seu caderno e virou de costas para o outro.

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Respirei fundo e mandei ao inferno minha relutância de escrever um nome novo para algo que já tinha um. Eu poderia escrever uma redação sobre o que me fazia feliz. Poderia citar todas as vezes que nossas mãos relaram sem querer, poderia dizer que felicidade era contar as sardas de Marco quando ele estava distraído, poderia apontar felicidade como toda vez que ele dormia em minha casa, poderia descrever felicidade como seu sorriso - que iluminava os dias mais escuros. Me contive em escrever apenas"Marco Bodt". E me contentei ao ver que em sua folha de papel havia meu nome escrito.

Ele colou nossos lábios e, naquele momento, eu tive certeza de que eu nunca estive tão certo na minha vida quanto naquela definição de felicidade.