Capítulo 22

Regina e a mãe tem um jantar tranquilo, enquanto Emma e Milah se divertem com os policias em um bar que eles sempre frequentavam em Independence. Pertencente a um xerife já aposentado.

Depois de uma bronca de Milah, Emma manda uma mensagem de boa noite para Regina, conversa mais um pouco com ela, depois liga para o pai e fala com o filho também e logo coloca o telefone no silencioso. Milah havia prometido quebrar aquele celular se ela o pegasse novamente.

Na manhã seguinte, sexta-feira, Regina vai cedo para o Haras e deixa a mãe ainda dormindo em casa. Ela precisaria deixar algumas coisas encaminhadas, já que passaria a tarde fora e ainda precisava pegar a faixa de Henry, que havia esquecido sobre sua mesa no dia anterior.

Assim que chega ao escritório, antes mesmo de Ashley, ela liga na cozinha e pede um café, que não demora muita a ser entregue por um dos assistentes do chefe, acompanhado por uma fatia de bolo de tapioca que ela amava, receita brasileira que o chefe reproduzia muito bem. Era sempre uma grande pedida no restaurante.

Por volta de umas nove da manhã seu celular vibra sobre a mesa e ela ri ao identificar o número de Ashley. Ela recusa a ligação e abre a porta de sua sala a tempo de ver a assistente com o telefone na mão.

— Já estou aqui.- Ela sorri.- Bom dia.

— Bom dia!- Ashley coloca o telefone no gancho.- Alguém caiu da cama hoje.

— Alguns sonhos não me deixaram dormir direito.- Ela fecha a porta da sala atrás de si, torcendo para Ashley não notar o rubor em seu rosto, pois o sentia pegar fogo ao lembrar dos sonhos com Emma.

— Detesto quando isso acontece.

— Ruim não poder fazer nada mesmo.- Força um sorriso agora.- Mas então, estava me ligando para...? Pois não me lembro de nada específico agendado para hoje.

— E não tem, pois como pediu eu reagendei tudo para amanhã, mas surgiu um imprevisto com a Aurora e...

— O que houve?- Regina a interrompe.

Aurora era uma égua premiada do haras e estava prestes a parir.

— Jamie está com ela agora nas baias e ela pediu para que a encontrasse o quanto antes.

— Diga a ela que estou indo agora.

A morena não espera por uma resposta e sai á passos largos, enquanto Ashley liga para a estagiária do veterinário.

Regina andava tão rápido que praticamente voava pelo haras rumo às baias e por pouco não se desequilibra enquanto descia alguns degraus de dois em dois ao ver Ruby subindo a mesma escada, vindo em sua direção.

— Regina!

— Ruby!- A morena congela no meio da escada.

“Ai meu Deus, uma cena aqui não.” Ela pede em pensamento.

— Estava indo vê-la agora.- A moça continua com um sorriso caloroso.- Bom dia!

— Bom dia!- Regina a encara intrigada, porque aquele sorriso parecia verdadeiro demais para quem estaca ali apenas para xingá-la.

— Você pode conversar agora? Parecia meio apressada.

— Bom, Ruby, na verdade eu...

— Eu...eu posso...

— Olha, se não se importar de conversar enquanto andamos.- Regina indica uma direção com a mão.- Parece que houve um problema com uma de nossas éguas e estou indo checar isso.

— Não tem problema algum.- A moça a segue.- Bom, a não ser com uma certa policial loira.

Regina novamente gela por dentro, pois queria mesmo evitar uma cena no seu local de trabalho e Emma ainda não havia entrado em contato com ela, então não poderia saber o que a loira dissera a Ruby.

Como Regina se mostra desentendida, Ruby continua enquanto andam:

— Te acompanhar não tem problema. Só não consigo falar com Emma e nem com o pai dela e como sei que Henry não tem aula hoje e sempre está por aqui, pensei que poderia encontra-los.

— Henry tem aquela cerimônia de troca de faixa hoje e ele comentou que iria treinar algumas coisas com os amigos antes, então o avô deve ter acompanhado ele.- As duas ainda seguiam a passos rápidos.- E quanto a Emma...

— Eu falei com ela ontem antes do almoço.- Ruby a interrompe.- Mas depois ela sumiu e não consegui mais falar com ela. Espero que ela ao menos tenha recebido minhas mensagens, ou vai acabar na fazenda me procurando.

— Senhora Mills!- Jamie, a estagiária de veterinária, vem esbaforida na direção delas.- Aurora está com problemas e não consigo identificar o que é.

— E Whale?- Regina pergunta seguindo a moça de volta para a baia, com Ruby em seu encalço.

— Ele já deveria estar aqui, sempre é o primeiro a chegar, mas hoje não consigo nem falar com ele.

Regina entra na baia, a égua amuada deitada no chão e mais três funcionários do haras ao redor dela, aos quais Regina cumprimenta com um “Senhores!” e um aceno de cabeça antes de se agachar ao lado da égua e dizer fazendo carinho em sua cabeça:

— Garota, o que é que você tem, hein!?

— Trouxemos ela para cá ontem, para já ir se acostumando.- Jamie informa.- Mas hoje cheguei e já a encontrei deitada aqui e não quis mais se levantar.

— Senhora, durante a noite aparentemente estava tudo ok.- Diz um dos funcionários.

— Quanto tempo de gestação?- Ruby os interrompe, também se agachando ao lado do animal.

— Uns 300 dias!?- Regina questiona olhando para Jamie.

— Uns 310, senhora.- A moça olha para Ruby.

— E as vacinas?- Ruby continua.

Embora deitada. A égua estava inquieta.

— Todas em dia.- A moça responde novamente.

— Você me consegue umas luvas? Eu...- Ruby se interrompe e olha para Regina.- Eu posso?

— Por favor!- Regina tinha um olhar meio suplicante.- Jamie pode te auxiliar em tudo.

— Ok!- Ruby olha para a estagiária.- Jamie, vou precisar de luvas e ajuda com uns exames rápidos.

— Certo! Vem comigo.

Ruby rapidamente a segue para um tipo de sala adjacente.

E enquanto Jamie ajudava Ruby a se preparar e pegava alguns instrumentos, Regina continuava ao lado da égua.

Aurora estava inquieta, com sudorese e estressada. Ainda era um pouco cedo para o parto, mas Ruby sabia bem que com essas coisas não podia se ter muita certeza, então faz alguns exames rápidos com a ajuda de Jamie e as duas preparam Aurora para expelir o potro.

Ruby garantiu a Regina que não era nada demais e tentava acalmar a empresária enquanto fazia Aurora dar algumas voltas pelo lugar e realmente não era nada demais, só estavam um pouco adiantados, tanto que cerca de vinte minutos depois a égua já tinha parido, deixando Regina muito mais aliviada.

A morena pega o telefone de um dos funcionários, já que deixara o seu sobre sua mesa na sala e liga para Ashley enquanto Ruby e Jamie cuidam dos detalhes pós-parto. A assistente tentaria localizar Whale.

Cerca de duas horas depois, após a expulsão da placenta e anexos fetais, Ruby deixa tudo por conta de Jamie e vai se limpar no vestiário.

Alguns minutos após a veterinária entrar no vestiário, Regina diz entrando atrás dela:

— Ele acaba de chegar.- Regina fica sem graça por ela estar apenas de sutiã, lavando uma parte da blusa na pia.- Me desculpe.

— Até parece, Regina!- Ela sorri.

— Tem toalha por aqui em algum lugar.- A morena olha em volta e abre um dos armários.

— Obrigada!- Ela pega uma das toalhas que Regina oferecia.

Regina coloca a outra toalha sobre a pia e começa a desabotoar o blazer, enquanto diz:

— Você não vai poder usar isso.- Ela estende o blazer a Ruby.- Acho que deve servir.

— Regina, não precisa.

— Precisa sim.- Ela coloca seu blazer na mão de Ruby e tira a camisa molhada da outra mão dela.- Tome um banho enquanto vou pedir que alguém na lavanderia cuide disso para você.- O tom dela não deixava espaço para discussão.- Meu armário é o 92 e o segredo é 403. Não tenho roupas aí, mas vai achar chinelos e escova de cabelo.- Ela sorri se dirigindo á saída.- Ah, sabonete nos mesmo armário das toalhas.

Ela se retira e deixa Ruby sozinha.

— Philip.- A empresária diz ao deixar o vestiário.

— Sim, senhora!?- Ele se aproxima.

— Poderia levar isso a lavanderia, por favor!? Pedir para que a lavem para a senhorita Luccas.

— Claro e eu mesmo levarei em sua sala quando estiver pronta.

— Obrigada!- Regina sorri enquanto observa o jovem se afastar. Ele não havia tirados os olhos de Ruby nem por um segundo enquanto ela estivera lá.

A morena divagava sobre a situação enquanto o rapaz se afastava. Apesar de agradecida, se sentia extremamente desconfortável agora que tudo terminara. Seria estranho olhar para Ruby agora, sabendo que assim que ela conseguisse encontrar Emma, a loira terminaria com ela. E por sua causa.

Estava tão distraída, que só ouve Whale quando este toca seu braço.

— Está tudo bem?- Ele pergunta.

— Só estou distraída. Mas me diga você se está tudo bem.

— Aparentemente sim. Examinei Aurora agora e Jamie disse que...

— Aurora não, Whale. Eu estava aqui e pude acompanhar o ótimo trabalho de Ruby e Jamie. Estou me referindo ao seu irmão. Ashley disse que tiveram que leva-lo ás pressas ao hospital.

— Foi uma queda muito feia e ele ficou desacordado por algum tempo, mas fora um braço quebrado, ele está bem.

— Você pode voltar para o hospital.- Ela ajeita o cabelo atrás da orelha.- Ruby já deu um jeito em tudo por aqui e Jamie pode cuidar...

— Muito obrigado, mas agora está tudo dominado por lá.- Ele sorri.- A esposa dele trabalha no hospital, então aquele desordeiro ficará muito bem assistido.

— Bom saber.

Ruby deixa o vestiário minutos depois, após secar os cabelos o máximo que pudera com uma toalha e sorri para Regina ao avistá-la com Whale em frente a baia de Aurora.

A empresária sorri de volta e faz um gesto a chamando.

— Senhorita Luccas.- Regina diz quando ela se aproxima.- Como a senhorita está elegante.

A moça usava sua calça jeans mesmo e o blazer preto bem cortado do terninho de Regina.

— Um pouco demais para mim, acho. – Ruby ri sem graça.

— Quê isso, ficou perfeito!- Regina nota o olhar de Whale para o decote da moça e revira os olhos.- Não é verdade, Whale!?

— Está muito bonita, senhorita.- Ele sorri e estende a mão a cumprimentando.- Victor e muito obrigado por cuidar tão bem de Aurora.

— Imagina.- Ela sorri.- Só estava no lugar certo e na hora certa.

— Mesmo assim, eu agradeço.

— De nada então.- Ruby sorri.

Regina estava se sentindo mais que péssima. Além de linda, boa profissional, experiente, a moça era prestativa e muito simpática.

Ruby a olha com uma expressão de “Me salve” e Regina ri enquanto a puxa pelo braço, dizendo:

— Nós já vamos, Whale. Até mais! E qualquer coisa a Ashley consegue me achar.

— Ok!- Ele diz para a chefe já de costas.- E foi um prazer, senhorita Luccas.

Ruby apenas se vira e dá um tchauzinho.

Quando se afastam, Regina solta o braço da moça, que diz sorrindo enquanto andam:

— Socorro! Que cara é esse!?

— Me desculpe.- Regina também ri.- Mas juro que antes de o vir te comendo com os olhos, tinha certeza que ele era gay.

— Obrigada por me tirar rápido de lá. Estava desconfortável já.

— Obrigada você por salvar o dia e me desculpe por tudo, mesmo.

— Imagina, foi um prazer ajudar.

Elas param próximo a escada onde se encontraram mais cedo e Regina comenta:

— Está um pouco em cima da hora e eu espero que não tenha outros planos, mas gostaria de te convidar para almoçar.

— Juro que adoraria aceitar.- Ruby olha seu relógio.- Mas tenho um compromisso. Uma entrevista importante.

— Ah, está voltando pra cidade?

— Estou sim.- Ela confirma sorrindo.- Corri bastante e terminei tudo na fazenda esta madrugada, aí corri para casa. Já tinha essa entrevista agendada a algum tempo e passei aqui só pra tentar encontrar mesmo aqueles Swan’s.

Regina dá um sorriso, nada verdadeiro, e torce para não ter deixado transparecer; e Ruby continua:

— Eu vou passar em casa correndo e me trocar. Posso devolver a sua roupa na cerimônia do Henry?

— Claro que sim, mas não precisa ter pressa para isso.

— Eu vejo você lá então.- Ruby se inclina rapidamente e a beija no rosto.- Até mais tarde.

— Até e obrigada!- Regina diz e ela começa a se afastar rumo a saída.- E desculpe, Ruby. Por tudo, de verdade.

— Relaxe, Regina! Imprevistos acontecem.

A moça acena e vai de vez. Deixando para trás uma Regina aliviada por ela não ter aceitado almoçar e confusa por não saber pelo quê de fato se desculpava.

Ao entrar no escritório, Regina se depara com a mãe de pé em frente à mesa de Ashley.

— E Aurora?- Cora pergunta.

— Tudo mais que bem, com os dois.- Ela garante.- Apenas se adiantou mesmo e ela estava estressada com o local.

— Ashley disse que por sorte uma amiga sua que é veterinária estava por aqui.

— Namorada de uma amiga.- Regina corrige.- Segunda vez que nos víamos, mas ainda bem que ela estava por aqui.

— Ok então!- Cora concorda.- Ainda não almocei, preferi esperar por você.

— Ashley, você já...?

— Já fui e Jonas está pronto para recebe-las assim que decidirem.

— Ok! Avise a ele que estamos indo então, por favor. Só vou pegar minha bolsa, celular e não volto mais hoje.

Regina pega seus pertences enquanto a assistente avisa ao chefe que ela e a mãe desceriam para o almoço.

Enquanto seguem para o restaurante do haras, Regina checa o telefone e nem sinal de Emma. A loira não havia nem recebido as mensagens que havia lhe enviado de manhã, mas mesmo assim lhe envia outra: “Emma, me ligue assim que possível. Ruby acaba de sair do haras, mas não se preocupe que está tudo bem.”

— Mesmo estando tudo bem, querida, você parece estressada.- Cora observa enquanto se sentam a mesa de sempre.

— Hoje encontrei a última pessoa que queria ver.

— Não acredito! Robin disse que não a amolaria.

— Robin!?- Regina a olha curiosa.- Quando falou com ele?

— Não era ele?

— Não, mamãe. Não era o Robin.

— Então quem era?

— A senhora não conhece, mãe.- Ela pega o cardápio que o garçom lhe oferecia.- Obrigada.

Pegara apenas por hábito, já que grande maioria das vezes fazia seu pedido a Ashley e ela transmitia a Jonas e hoje, apesar da correria, não fora diferente.

— Bom, se puder ajudar.- Cora deixa a frase morrer e agradece ao pegar o cardápio.- Obrigada, meu bem. Só nos dê uns minutinhos.

— Sim, senhora.- Ele concorda se afastando.

— Eu pedi uma salada tropical e frango.- Regina informa á mãe.- Ashley ligou mais cedo.

— Acho que vou querer o mesmo então.

Regina faz um sinal ao garçom e diz quando ele se aproxima:

— Billy, minha mãe vai querer o mesmo que eu, por favor. E para beber vou querer uma água.

— Ok, senhora!

— E pra mim um suco de laranja, Billy. Jonas sabe como gosto.

— Está certo, senhora. Não demoro.

Regina informa a mãe mais algumas coisas sobre a égua e seu potro enquanto aguardam por seus pratos, mas a senhora Mills acaba tirando o restante das dúvidas quando Whale passa por elas e ela o convida para acompanha-las.

Ao que ele prontamente aceita e faz um sinal para Billy, que parece entender na hora, sumindo pela porta de acesso à cozinha.

A salada de Cora e Regina rapidamente é servida, junto com o sanduíche de Whale e a jovem se mantém um pouco alheia á conversa dos dois, até que a mãe chama sua atenção:

— Querida, o que me diz?- Pergunta enquanto analisa sua fisionomia.

— O que digo sobre o quê?- Regina pergunta.- Estava perdida em outros assuntos aqui.

— Sobre Ruby.

— Ruby? O que tem ela?- Olha confusa da mãe para Whale.

E é ele quem responde:

— Jamie disse que ela acaba de encerrar um contrato em uma fazenda e está voltando para a cidade. O que acha de lhe oferecermos a vaga do Jared? Afinal ainda não o substituímos.

— Não.- Regina responde tomando um pouco de sua água.

— Não!?- Whale e Cora perguntam juntos.

— Isso mesmo, não!- Ela confirma.

Cora não entendia a filha, já que tanto ela quanto Whale falaram coisas boas a respeito da moça.

— Querida, podíamos convidá-la para passar uns dias. Umas duas semanas, quem sabe!? E se gostar do trabalho dela...

— Mãe, Ruby é uma excelente profissional e eu sei disso.- Regina a interrompe com cara de poucos amigos.- Mas ainda assim minha resposta é não.- A morena conhecia o trabalho de Ruby por uma série de fóruns na internet sobre veterinária, após pesquisar sobre ela depois de conhece-la no aniversário de Henry.

Whale permanecia calado enquanto o embate rolava entre as duas.

— Regina, sinceramente não entendo sua recusa se a moça é tão boa. Vou pedir a Ashley que...

— Mãe!- Regina se levanta visivelmente irritada.- Ruby tem uma namorada que vai terminar com ela hoje e por minha causa, então, apesar da ótima profissional que ela é, prefiro evitar o estresse.- Ela pega sua bolsa.- Espero pela senhora no carro, se quiser voltar comigo.

Ela olha para Whale da mesma forma dura que olhara para a mãe e se despede:

— Whale!

— Regina!- Ele acena com a cabeça.

E a jovem empresária deixa o restaurante pisando duro.

Cora para com seu copo de suco a meio caminho da boca e acompanha com os olhos a filha deixar o restaurante.

Ela e Whale ficam em silêncio, até que a senhora pousa o copo sobre a mesa, leva o guardanapo aos lábios e logo se levanta, dizendo:

— Whale, me dê licença e desculpe pela explosão.

— Nada aconteceu, Cora.- Ele também se levanta e só volta a se sentar quando ela se afasta.

Sabia que Regina era uma ótima pessoa, mesmo tendo mãos firmes para os negócios, mas quando ela se estressava e dizia não, nem Cora Mills podia com ela.

Ao avistar a mãe entrando no estacionamento, Regina já dá partida no carro e assim que ela entra, arranca com o mesmo.

Elas andam uns bons quilômetros em silêncio, até que Cora toma a iniciativa e pergunta:

— O que quis dizer com terminar por sua causa?

Regina permanece em silêncio na intenção de ignorar a mãe, mas a estava estudando de rabo de olho quando podia e sabia que não adiantaria, então respira fundo e diz com a atenção no trânsito, sem olhá-la agora:

— Emma, a mãe do Henry. Ela é namorada da veterinária, a Ruby e nós acabamos nos envolvendo.

— Emma, a mãe do Henry e namorada da Ruby!?- Cora repete.

— Sim, mamãe. E ela vai terminar com a Ruby hoje, então as coisas no haras ficariam bem tensas.

Mais um longo silêncio entre elas e novamente Cora o quebra com outra pergunta:

— Você...era com ela que tanto falava ao telefone?

Regina apenas afirma com a cabeça e Cora parte para mais uma pergunta:

— Desde quando você é lésbica!? Eu nunca...nunca soube...nunca soube de nada.

— É, nem eu sabia.- Ela volta a olhar a mãe de rabo de olho e esta tinha uma expressão pensativa.

Novamente o silêncio reina entre elas e assim permanece até que chegam em casa, onde Regina estaciona junto á calçada e informa a mãe enquanto desembarca:

— Eu vou tomar um banho e me trocar para a troca de faixa do Henry e caso a senhora queira ir, sinta-se convidada.

— Não, eu...eu tenho outros planos.- Cora não tirara nem o cinto ainda.- Querida, você se importaria em...em me deixar com seu carro e ir de Uber?

Regina nega com a cabeça e diz estendendo as chaves a ela:

— Os documentos estão no quebra-sol.

— Ok!- Cora concorda e agora sim tira o cinto de segurança, para trocar de lugar.

Enquanto Regina nem a implica por pedir o carro, o que faria normalmente após a mãe ter reclamado do mesmo, ela apenas olha para a mãe mais uma vez e vai rumo a porta de casa.