Conto I - Unforgettable Wars

Resultados do Esforço: Confiança!


Correndo pelos desvios do labirinto, Ulysses encontrava um beco sem saída a cada esquina. Estava perdido e sentia que Fênix se aproximava cada vez mais.

Não gostava de ter uma criança o seguindo, mas depois que passou um tempo junto a ela começou a aceitar sua companhia... Não importava se ele sairia dali, só queria ter a chance de perguntar se ela estava bem.

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Pegou a moeda na mão e pensou em atirá-la longe, mas não o fez. Desta vez tentaria apreciar aquele artefato, tentando lembrar dos momentos bons que ele o proporcionara – infelizmente, não se lembrou de nenhum.

Ele sabia que podia vencer aquele desafio, e ia realizar isso agora. Não era um desejo, mas sim um voto de confiança. Do nada uma porta apareceu em sua frente.

– A... a s-saída? N-não pode ser!

Olhou por entre as grades e não viu nada. O que quer que houvesse do outro lado, não era visível.

Tentou abrí-la mas havia um cadeado. E o pior de tudo: ele não tinha a chave.

Tentou não pensar em nada e elevou seu cosmo, tentando estourar a tranca.

Nada aconteceu.

Usou seu ataque, mas não houve efeito. Ele tinha a resposta mas não podia usá-la a seu favor.

Fechou os olhos e se concentrou. Lembrou do sentimento da paz, da garota que o ajudara em sua missão, de seu tutor, da maldita moeda em seu bolso, que no fim o ajudou muito – embora ele não quisesse admitir – e no que perderia se ficasse ali. Deixaria Athos e Jhesebel sozinhos e admitiria que Niyati estava certa sobre ele. Seria um inútil.

Percebeu que suas últimas atitudes não haviam sido as melhores. Brigara com amigos, desmerecera pessoas, maltratara todos que o tentavam ajudar... Ele não era assim. Sua insegurança viera falando mais alto do que seu coração.

Um crec ecoou pelo labirinto. O cadeado estava no chão e a porta entreaberta, convidando-o a sair.

Surpreso, demorou para processar a informação.

Rapidamente saiu pelo portão, deixando tudo para trás.

***

No mesmo instante Fênix chegou à casa de Virgem, se deparando com Ulysses e a dourada meditando.

– U-Ulysses? – ela se aproximou, tentando tocar seu ombro

– Por favor, não encoste nele. – advertiu a amazona

– Q-quem está falando?

– Eu sou Niyati de Virgem.

– Eu sou Soranin de Fênix. Por quê não devo mexer em Ulysses?

– Ele está voltando para esse plano neste momento. Se tocá-lo ele pode não conseguir retornar.

Foi só terminar sua frase que ambos abriram os olhos.

– Onde estou? – indagou Ulysses

– Na casa de Virgem. Bem vindo de volta. – a voz de Niyati respondeu

– Ah...

– Hum, o que aconteceu? – questionou Soranin

Virgem tentou explicar da melhor forma que pode, e por incrível que pareça a amazona pareceu acreditar, não se surpreendendo ao saber que a guardiã era muda. Apenas agradeceu a informação e perguntou se poderia seguir adiante, obtendo um sim como resposta – mas seu amigo teria de ficar.

– O quê? Por quê? – ele protestou

– Nossa batalha ainda não terminou.

– Hum, ok... Nos vemos em Libra então. Obrigada de novo, Niyati! Você realmente se parece muito com Pema!

– Quem agradece sou eu, querida. – ela esperou que Soranin deixasse a casa e se voltou para o Santo – Agora, cavaleiro, temos assuntos a tratar.

– Lá vem o sermão... – murmurou

– Pelo visto não tirou nenhuma lição do ocorrido, não é? Pois bem, agora entraremos em um combate físico.

– Pra quê? Eu já te venci!

– Não, você não me venceu. Não chegou nem perto.

– Aff.

A amazona começou a flutuar, meditando.

– A luta não era física? – questionou Ulysses

– Ela é. Pode atacar primeiro.

– Que seja... Chifre do Unicórnio! (1)

Kahn! (2)

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Uma esfera de cosmo-energia se formou em volta dela, bloqueando o ataque do Santo.

– Eu já esperava... – ele admitiu

– Acha que vai perder, Unicórnio? – Niyati disse, sarcástica

– Você é a "mais próxima de deus".

– E o que isso tem demais? Humanos tem o dom de superar barreiras. Eles fazem seu destino... É justamente isso que nos diferencia dos deuses.

O cavaleiro não respondeu.

– Se duvida, vou deixar seu ataque me acertar, e assim você verá que é capaz de realizar milagres.

– Tanto faz... Chifre do Unicórnio!

Niyati deixou que o golpe a acertasse, mas mesmo assim foi fraco. Uma fina gota de sangue escorreu de sua testa.

Benção do Senhor das Trevas. (3) – ela riu enquanto limpava a gota e a atirava na direção do chão

Nada aconteceu por alguns segundos, mas Ulysses notou que o que antes era uma mínima mancha vermelha já era uma poça, e vinha se expandindo.

– O-o que é isso?!

– Um inferno de sangue.

O líquido fervia e já estava na altura da cintura. Ulysses sabia nadar, mas seus pés não saiam do chão. Ele estava preso, prestes a se afogar.

Não viu outra alternativa. Ou atacava ou morria... Mas, do que adiantaria contra aquela mulher?

Seu poder era incrível!

Galope dos Mil Unicórnios!! (4)

Não adiantou. O sangue já lhe chegava ao pescoço e queimava como fogo.

Lembrou-se da ilusão. Aquela pequena garotinha parecia mais real agora que estava imerso, segurando a respiração. Viu-a parada a sua frente. O que ela diria se o visse assim?

"Aqueles que estão livres de pensamentos rancorosos certamente encontram a paz.", pensou.

Fez o mesmo que pouco antes de sair do labirinto: fechou os olhos e não pensou em nada. Branco absoluto.

Faith! – a ouviu sussurrar em sua mente – Meu nome é Faith!

Como uma leve brisa, um cosmo poderoso se instalou ao redor do Santo e explodiu. O sangue se dissipou no mesmo instante.

– Hum, nada mal... – a dourada aplaudiu

– Nada mal? Eu quase me afoguei!

– Mas algo o salvou, não foi? Algo não, alguém.

– E...?

– Você ainda não entendeu o que aquela menina representava? A resposta está em seu nome.

Refletiu por alguns instantes e compreendeu. Era tão óbvio que ele nem mesmo percebera.

Faith... – disse, hesitante – Fé!

– Fé, senso de justiça, livre arbítrio... Chame como quiser.

– Ah... Então, esse tempo todo eu estava fugindo de mim mesmo? Tranquei minha fé naquele labirinto, a deixei morrer, para que a mesma renascesse agora?

Niyati assentiu de olhos fechados. Ela agora estava de pé e mostrava um leve sorriso. Nada foi dito até que Unicórnio disse com convicção:

– Me ataque.

– Perdão?

– Me ataque. – repetiu – Quero sentir sua verdadeira força. Use a técnica que preferir.

– Como preferir... Rendição Divina!! (5)

Uma rajada de cosmo semelhante a uma flor de lótus seguiu na direção do cavaleiro, o atingindo em cheio. Imagens budistas apareceram – inclusive o próprio Buda, que repousava entre duas árvores, calmo e tranquilo, com paz no coração.

Ulysses foi jogado para o alto e caiu de cabeça. Demorou para se recompor, mas Niyati teve paciência – afinal, essa era a essência do budismo.

– O que... aconteceu? – perguntou ao abrir os olhos e ver a Santa olhando fixamente para ele

– Você se livrou da ilusão.

– O quê?! Então quer dizer que a nossa luta não existiu?

– Talvez sim, talvez não... Eu não sei. Só depende de você descobrir isso. – ela fez uma pausa – Independente, você é digno de sua armadura, Ulysses, você sabe disso. Lute pelo que é certo e terá exito em tudo.

– Obrigado, Niyati. – ele agradeceu e se levantou

Passou por ela, caminhou alguns passos e hesitou. Ela tinha algo a dizer, e ele sabia.

– Não desista de seus sonhos.

– Não vou. – garantiu a ela – Faith não deixaria, mesmo se eu quisesse.

Ela assentiu, fez uma saudação budista, deu as costas e voltou a meditar. Ele já podia seguir rumo à Libra para encontrar seus amigos. Finalmente ela o reconhecera, e isso era gratificante – mais do que ele imaginava.

Estava claro que ela sabia o motivo de ele ter pedido para receber a técnica, então não eram necessárias explicações. As vezes certas coisas nos fazem ter uma visão diferente do mundo.

Mesmo hesitante, agradeceu Niyati em seu pensamento por tudo que o ensinara e fizera por ele.

Ela era mesmo a mais próxima de Deus.

Rapidamente levou a mão ao bolso e percebeu que a moeda estava ali. Espantado, imaginou se ela tinha vindo junto com ele do labirinto, e se algum dia o deixaria livre. Não persistiu muito pois pensou que essa seria uma boa forma de agradecer. Carregá-la mais algum tempo não faria mal, ele se lembraria de sua fé dessa maneira – não só dela, mas de outras pessoas também.

***

Pouco depois de deixar Ulysses partir, Niyati sentiu algo estranho. Uma energia diferente se manifestava e, embora afastada do Santuário, era possível sentí-la. Não era um cosmo, mas mesmo assim era imensa.

– Por Atena! Mas já?! – ela abriu os olhos cinzentos, idênticos aos de Pema

Ficou ali, parada, refletindo sobre isso durante algum tempo, até que chegou a conclusão de que seria melhor falar com sua irmã por telecinese.

– Pema, está aí? – perguntou

– N-Niyati?! – ainda na escadaria de Áries, a amazona se levantou abruptamente – A-ah... Há quanto tempo!

– Realmente faz algum tempo mesmo... Irmã, o assunto é importante. Você está sentindo essa energia?

Áries ficou pensativa por um instante.

– Agora que você disse... Sim, estou... – disse enquanto franzia o cenho – Será que são eles?

– Não tenho ideia, mas é poderoso e se aproxima cada vez mais... Se forem eles, superaram as minhas expectativas.

– Atena já sabe então... Devemos avisar nossos companheiros?

– Creio que eles já saibam. Caso não, logo saberão... Muitas surpresas aguardam esses cavaleiros de Bronze ainda...

– S-surpresas?

– Sim. E não são nada boas... As profecias de seu discípulo podem acabar pior do que você imagina, irmã.

– D-do que está falando?

– Ele está com a Anciã, não está?

– Sim, mas...

– Então você sabe do que estou falando.

– Ah... – Pema estremeceu

Um breve silêncio ocorreu até que Niyati retomasse a palavra.

– Já falou com Abati?

– Sim. Ele saiu há algumas horas. Pouco depois de... você sabe...

– Compreendo... Ele disse algo sobre ela?

– Foi por isso que eu o chamei aqui. Ele se sentiu culpado, como todos nós que a vimos, mas está se recuperando. Muitos estão pior do que ele...

– É verdade, eu percebi pelo olhar dos Santos... Mas foi por um bem maior, tenho certeza.

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– Será, Niyati? Será mesmo que tudo isso é necessário? Crianças lutam e morrem no lugar de adultos, e ainda somos obrigados a aceitar? Fico pensando se ela não tinha uma família... Eu tenho você e Rimo, e mesmo que todos os outros estivessem vivos, uma morte é algo delicado. Não é aceita de primeira... O que os amigos deles lá embaixo vão dizer quando descobrirem?

– Melhor nem pensar nisso... Mas você pode ter razão. Não me parece algo justo... Bem, vou ficar dentro de casa, qualquer coisa me avise... Estou com um mau pressentimento sobre essa força descomunal. Vou rezar para que tudo acabe bem... Você deveria fazer o mesmo.

– Eu vou... – a amazona se impressionou ao notar a aflição em sua voz e fez uma breve pausa – T-tudo bem... Até outra hora então...

– Se cuida, irmã.

***

Falar é fácil, pensou Pema.

Entrou e deitou no frio e seco chão de mármore, com as mãos no rosto. Mil sentimentos, mil pensamentos. Impossível se acalmar. Rimo ainda estava em Rozan, e isso era bom, de certa forma, pois traria notícias daquela energia. Pema sentia que ele não era mais um garotinho, estava pronto para as batalhas que viriam pela frente.

***

Niyati sentia um pouco de receio, e embora tivesse mais controle sobre o cosmo, o mesmo estava instável – e não era por causa da luta com Ulysses.

Ninguém falava com a Anciã, tirando sua única discípula, e talvez isso pudesse ser um tanto quanto perigoso. Preferiu não dar tanta atenção ao fato, mas não evitou imaginar o que os Santos enfrentariam na próxima casa. Era enfrentar os medos ou morrer tentando.