Capítulo 21

–Então está certo.

–Obrigada pela informação.

–Trato é trato...

Ele abriu o sorriso amarelo e a mulher o fitou com desdém.

–Espero que seus homens sejam competentes.

–Ah eles são. Você já os viu em ação.

A velha sorriu satisfeita, acenou a cabeça em um sinal de cumprimento, deu a volta seguindo de volta a floresta, agora invisível aos olhos do homem.

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Vougan foi buscar Mayta que já estava fora da segunda caverna do silêncio com os dois guardas( tanto o de Chad quanto o da amiga de sua mãe) o esperando.

Dessa vez foi-lhe permitido voar, já que a queriam longe antes de iniciar o ritual de Elvira.

–Vougan!- Ela gritou e ele correu para abraça-la. Suas mãos ainda estavam amarradas a impedindo de retribuir ao abraço. Seus cabelos tinham perdido o brilho negro e a menina assumia uma postura curvada, como se não aguentasse o peso do próprio corpo. “Definitivamente deram novamente a erva a ela” pesou o rapaz. Seus olhos tinham olheiras e Mayta parecia muito frágil.

Quando se separaram ela revelou os olhos umedecidos. Já sabia qual era o seu destino.

– Estou com medo.

–Vai dar tudo certo. Você não se parece com uma fênix. Mantenha-se em sua forma humana e encontre um refugio onde possa se transformar quando sentir necessidade. Você sabe caçar e cultivar. Eu mesmo lhe ensinei e sei muito bem que a sua mentora, aquela senhora maravilhosa, lhe contou toda a teoria necessária. Você conseguirá, tenho certeza.

–Vougan, ainda assim, não quero... Quero ficar! Prefiro morrer...

–Não diga isso de novo, Mayta. Ouviu bem? Pare de falar besteiras.

Ela baixou o olhar em desespero. Vougan acalmou sua própria expressão antes de falar novamente.

–Escute aqui mocinha, você é uma sobrevivente. Já quiseram lhe matar e machucar outras vezes e em todas você se safou. Desde bebê! Se alguém consegue viver em um mundo hostil esse alguém é você. – Ele sorriu e ela o fitou não muito convencida- Mas agora temos de ir. Já está na hora.

Ele virou para os guardas e sinalizou que os seguissem. Os dois agradeceram ao sol, mentalmente, pois só deixaram aqueles dois conversarem por serem ambos da realeza. Tudo que queriam era ir logo para casa. Principalmente o de Chad. O guerreiro da direita estava convencido de que iria receber uma promoção. Fizera tudo que a chefe mandara, inclusive, disse detalhadamente aonde a menina seria deixada. Agora era só concluir o trabalho com calma.

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A noite estava extremamente escura. Tão escura que Ícaro mal conseguia enxergar. Piscou o olho duas vezes tentando adaptar a visão. Aos poucos se acostumou. Quanto tempo à presa demoraria a aparecer? Seu chefe, quem lhe ensinara tudo desde novo e a quem seguia (quase) sem questionar, o mandara para lá e dissera que capturasse uma mulher.

–Ela é um pássaro. Não se engane pelos cabelos pretos e a pele branca. Ela é um deles. – Foi o que disse e isso bastou a ele. Odiava as fênix e se pudesse as destruiria. Cada uma delas.

E aquele parecia ser um pássaro importante.

–Nós vamos conseguir uma fortuna com essa. Ela é diferente. Vou estar do outro lado. No outro possível ponto. A velha me disse que ou iriam a um ou ao outro.

– O que o senhor pretende?

– Estuda-la.

–Você?- Perguntou surpreso.

–Claro que não! E eu lá sei estudar esse tipo de coisa? Meu amigo George é quem vai. Lembra-se dele? Pois então, ele estuda essas aves imundas e ficou louco quando contei sobre essa menina. Ele mora perto. Passaremos uns meses em sua propriedade enquanto estuda a criatura, assim saberemos seu real valor e ganharemos muito dinheiro. Ainda bem que os outros caçadores já se foram. Sem concorrência para obter o tesouro.

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– Eu o escutei outro dia com uma velha. Foi esse pássaro que ela veio negociar?

–Sim, foi esse mesmo.

–Quase tenho pena. Ela deve ser tão ruim que nem sua espécie a quer.

Ícaro lembrou-se das gargalhadas do mestre. Ele próprio não riu. Aqueles bichos eram ruins. Que ser entregava sua própria raça ao “inimigo”?

“Os humanos.” Pensou por um segundo, mas logo colocou a afirmação de lado. Os humanos podiam ser ruins, mas as fênix eram de longe piores.

Remexeu-se atrás da árvore em que estava sentado, aprumando o arco com a flecha de modo a ficar confortável.

–Venha logo, pássaro. - murmurou- Estou cansando de esperar.

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–Adeus, Mayta.

–Adeus, Vougan.

Aquelas palavras foram ditas com tristeza e decepção. Ambos queriam falar mais, ambos desejavam ardentemente que o outro encontrasse o que dizer.

Vougan tentou dar um sorriso animado enquanto desamarrava os braços da prima.

–Será que um dia nos veremos de novo?

– Eu tenho certeza, Mayta. - Após um momento longo se abraçaram e a garota permitiu-se esconder o rosto no peito do primo.

–Consegui um vestido humano para você. Está naquela pedra ali. Se cuide, pássaro do gelo.

–Você também seu insuportável!

Riram e se soltaram.

Vougan subitamente sentiu um pressentimento ruim. Olhou ao redor a procura de algo suspeito. Sentia como se lhes estivessem observando. Mas não encontrou nada e assumiu que fora apenas sua imaginação o pregando peças. Estava triste e estressado, afinal.

Acenou uma última vez para a prima que o observou se virar e seguir com os guardas para a floresta a deixando naquele limite tênue entre um mundo e outro.

Ela nunca poderia voltar. Se o fizesse seria morta. Chorou mais uma vez em silêncio. Mayta nunca soube que, enquanto caminhava, seu primo também chorava discretamente.

Quando enfim acalmou-se resolveu procurar o vestido. Saiu da floresta e, com poucos passos, já pisava em solo humano.

“Onde está?” Pensou.

Agachou-se perto da pedra encontrando as roupas caídas. Suspirou. Esticou-se para pegar o vestido quando algo atingiu seu ombro. A dor foi lancinante. Mayta olhou para trás e viu um par de olhos escuros a observando. Então a sua própria visão escureceu.