Seventh Zone

(Sétima Zona)

Atualmente – Quarto dia.

— Você está dizendo que aquilo lá atrás eram zumbis? – Indaguei, incrédula, enquanto caminhávamos em direção à montanha, e alguns pingos de chuva já caíam solitariamente. No entanto, ele não me respondeu e continuou a andar, ignorando minha existência. Que novidade. Mas isso não fica assim. — Vai ficar mesmo sem me responder? Não acho uma boa ideia.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ele parou bruscamente, e finalmente, me encarou.

— Ah é? E por quê? Pois acho que você continuar tagarelando que não é boa ideia. – Ameaçou pela milésima vez.

— Porque se você continuar me ignorando e me ameaçando eu não vou lhe entregar a caixa. – Afirmei seriamente. Para muitos aquele ato pareceria ser muito imprudente e precipitado, mas eu sabia exatamente onde chegaria com isto.

Ele começou a rir sarcasticamente do quão ingênua eu poderia ser.

— Por acaso você não tem medo de morrer? – Puxou meus cabelos para cima. Isso doía muito, mas me esforcei para não expor.

— Na verdade, tenho. Mas se você continuar desta maneira, eu não lhe entregarei, e se quiser pode me matar aqui mesmo. – Minhas palavras transpassavam convicção. O rosado estranhou, irritado, pois eu não demonstrava nenhum medo sequer diante de sua presença. – Só saiba de uma coisa. – Proferi pausadamente. – Eu sou a única que sei onde a caixa está guardada, então se me matar perderá algo valioso. Talvez a resposta que tanto procura.

— Como sabe que procuro uma resposta? – Estreitou os olhos. E assim que terminou a pergunta, gotas de chuva grossas começaram a infestar o chão e não demorou muito para ficarmos encharcados.

— Todos procuram uma resposta na vida, Dragneel. – Falei calmamente, e tentei tirar meus cabelos molhados de seus dedos. O híbrido não agiu contra, por sorte. Ele podia estar ali com seu olhar fixo no meu, mas parecia profundo em pensamentos. – Além disso, lembro-me perfeitamente de um envelope com uma carta ser colocado dentro da caixa, por minha mãe.

— Por que eu acreditaria no que você diz?

— Não sei. Não tenho como provar. – Dei de ombros. – Mas acho que às vezes, vale a pena arriscar… Por coisas importantes.

Calou-se por algum tempo, repensando sobre o que dissera.

— Caso seja um blefe ou esteja tramando alguma, imagino que saiba o que acontecerá. – Mencionou, concordando implicitamente com a minha proposta.

Isso só se você descobrir, meu caro. O que nunca acontecerá.

— Você adora me relembrar que perderei a cabeça por causa disso. – Sorri ironicamente.

— Ah, claro, arrancar cabeças são uma das minhas especialidades. – Formou um sorriso cruel em seus lábios. – E adoro mais ainda ver a sua expressão de pânico.

Suspirei.

— Você é desprezível. – Cruzei os braços, cerrando meus olhos castanhos.

— Como se eu ligasse para o que você acha. – Colocou os braços atrás da nuca, já voltando a caminhar. Comecei a perder as esperanças de que fosse possível encontrar algo de bom nele, e que eu pudesse fazê-lo confiar plenamente em mim.

Ter confiança em alguém é um laço muito forte. É conhecer a outra tão bem e ter certeza que ela nunca o trairia, que você pudesse lhe revelar seus segredos mais importantes, talvez até deixar sua vida nas mãos da pessoa. É algo que precisa ser recíproco. Se não confia em alguém, como pode acreditar que o outro confia mesmo em você? Se você não gosta de alguém e mesmo assim quer a confiança dele, você não será honesta, então se este confia, ele não lhe conhece, logo, ou é muito tolo, ou na verdade, não confia e você se enganou quanto a isso. Conquistar alguém por fingimento não é fácil, ainda mais alguém que não confia em ninguém. Senti-me desanimada, tal feito seria quase impossível. Eu nunca seria tão importante para ele, ao ponto, dele confiar cegamente. O plano era praticamente um fracasso, e não é como se pudesse desistir agora, teria que ir até o fim. Respirei fundo. Mas como eu disse, é quase impossível. Eu tinha lá minhas pequenas chances. Eu só precisava conhecê-lo e então era apenas usar as palavras certas. E era isso que eu faria.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Voltamos a andar, porém agora, era com chuva. Estávamos ensopados. As gotas frias deslizavam pela minha pele, causando-me arrepios, e graças aos ventos estas chocavam fortemente contra meu corpo que ficava levemente dolorido. Ainda estávamos a alguns quilômetros longe, e logo Happy começou a espirrar e tremer de frio.

— Happy ficou doente… De quem será a culpa? – Fitou-me, bravo. – Ah! É mesmo. É sua.

— Em primeiro lugar, você nunca me avisou sobre zumbis, eu não tinha ideia que aquilo aconteceria. E em segundo lugar, se não fosse sua implicância comigo já teríamos chegado! – Defendi-me, falando alto devido o barulho da tempestade.

— Agora é minha culpa?! – Vociferou, olhando-me mortalmente. – Foi você quem não me obedeceu!

— Porque eu n- – Já ia começar a retrucar quando percebi o que estava fazendo. Brigar não adiantaria em nada. Procurei me acalmar. – Está bem. Uma parte é minha culpa sim, confesso, eu deveria ter te ouvido, porém, você também deveria ter me explicado. – Proferi suavemente, balançando a mão em sinal para mantermos a calma.

— Tsc. – Grunhiu. – Se isso fizer você se calar, eu lhe explico tudo o que quiser. – Quando eu ia abrir a boca para fazer as perguntas, ele levantou a mão em sinal de pare, e depois apontou para mim. – Primeiro, vá caçar, eu explico depois. – Mandou. – Não se atreva a demorar, não estou a fim de ficar na chuva esperando a senhorita.

— Se é tão impaciente, por que você não caça e eu cozinho depois? – Cruzei os braços e comecei a sentir uma ardência no nariz. Droga. Ficar doente era só o que me faltava.

— Por mim tudo bem. Mas você não poderá comer. – Deu de ombros.

— Como é?! – Questionei nervosa. Ele era mesquinho a esse ponto?

— Minhas presas são venenosas. Ao morder um animal eu enveneno a carne. Você morreria em poucas horas. – Deu um sorriso debochado ao dizer a última frase. Ele se divertia fazendo aquilo. Era o cúmulo. Dragneel queria mostrar quem é que mandava ali de todas as formas e a todo o momento.

Bufei irritada, arrancando-lhe gargalhadas. Logo peguei o meu arco e flecha e saí pisando forte. Como ele conseguia me deixar irada naquele jeito? Dá vontade de pular no pescoço e estrangular. Ignorei estes pensamentos, focando-me no meu objetivo daquela hora. Caminhei por alguns minutos na mata procurando algum animal suficiente para dois, considerando a fome do rosado, que não era lá muito pequena. No entanto, passados dez minutos e nem mesmo a sombra de um mísero coelho foi vista. Todos já deviam estar devidamente abrigados. Enquanto eu estava ali, pronta para pegar uma pneumonia. Bom, de certa forma, eu também era culpada.

— Loira. – Ouvi o rosado me chamar, desviei minha atenção para o mesmo que estava sentado num galho de árvore junto a Happy. – Há vinte metros, atrás das moitas. – Falou indiferente, apontando para a direita. Era possível ele escutar tão bem assim em meio a uma tempestade? Aproximei lentamente do local indicado, não via a hora de acabar com aquilo, e me surpreendi ao ver um veado-vermelho solitário, deveria ter se separado do grupo. Bem, era um ótimo alimento. Carne de veado é bem nutritiva.

Escondida atrás da folhagem, estiquei a flecha no arco, e com uma mira perfeita acertei as pernas. O animal ao sentir-se em apuros, tentou escapar mesmo ferido, porém eu, rapidamente, atirei mais duas flechas no dorso. Ele desabou, sem forças, e imediatamente fui até onde caíra ensanguentado. Tirei a faca da bolsa mágica, fechei os olhos e ataquei-lhe no pescoço.

— Desculpe. – Sussurrei. Não me sentia confortável fazendo algo do tipo. — Terminei! – Gritei, avisando o híbrido, que se aproximou em passadas largas, e pegou o animal, carregando-o nas costas.

— Finalmente. – Olhou-me torto, e começou a caminhar velozmente para fora da floresta. Senhor, dê-me paciência! E corri o mais rápido que conseguia para alcançá-lo.

[…]

Com a fogueira já acesa, depois de encontrarmos uma gruta, comecei a cozinhar a carne recém-cortada. Eu tremia de frio, mas aos poucos fui me aquecendo. Aquele calor das brasas era aconchegante. Fitei Dragneel que observava a tempestade, cheia de clarões e trovoadas, com olhos entediados e sonolentos. Já deveriam ser por volta de oito ou nove horas da noite. Eu não sabia o que pensar ou sentir, era uma sensação muito estranha estar sentada, dividindo um lugar consideravelmente pequeno com um inimigo mortal e fazer comida para o mesmo. Pelo menos me sentia mais confortável já que ele pararia com as ameaças, senão seria impossível conviver com ele durante este tempo. O cheiro da carne já estava deixando o rosado agoniado, que tornava a olhar repetidamente a fogueira com olhos esfomeados. Decidi que, enquanto o alimento cozinhava, faria minhas perguntas.

— Então… – Comecei cautelosamente para ver qual seria sua reação, e este virou o rosto para mim. – Explique-me… Sobre os zumbis e as outras criaturas…

Suspirou, voltando a observar a chuva.

— Aqui é uma zona que nunca foi civilizada, e por consequência disso existem várias tribos, alheias umas às outras, e com culturas diferentes. – Ao ver que ele explicaria, tratei de sentar de pernas cruzadas como índio, na melhor posição para me concentrar. Tinha que aproveitar o momento em que ele ficava mais tranquilo, como aquele, e obter informações. – A maioria são fugitivos das outras zonas.

— Espera um pouco, com assim “zonas”? – Arqueei a sobrancelha, sem entender.

— Fugitivos de outros lugares. – Corrigiu, deixando claro que não falaria sobre o que quer que sejam essas “zonas”. – Houve guerras aqui. Doenças. Além de ser um lugar onde criaturas mágicas abrigam.

— Que tipos de criaturas? – Indaguei curiosa. Nunca soubera nada sobre aquilo, mesmo estando tão próxima da floresta por tantos anos.

— Dragões, sereias, monstros do subsolo… De qualquer forma, a tribo do norte foi infectada por uma praga há alguns anos e agora eles estão descendo, como você pode ver hoje.

— Descendo?! – Exclamei, incrédula.

Dragneel bufou e passou as mãos no cabelo, irritado.

— O que acha que uma mulher em transição, que veio há cento e vinte quilômetros do norte, estaria fazendo aqui?! Dando uma volta? – Falou como se fosse óbvio. – Zumbis são atraídos por barulhos, o som é a única coisa que os guia.

— Phoenix… – Murmurei compreendendo. Eles foram atraídos pelo estrondo do vulcão quando entrou em erupção. – Então, tecnicamente, é culpa sua? – Cerrei os olhos, acusando-o, e o mesmo achou ruim.

— Zumbis não são ameaça para mim, eu pouco me importo se estão vindo ou não. – Colocou as mãos atrás da nuca despreocupadamente e encarou meus olhos em seguida. – Vocêé quem está com problemas. Porém, se me obedecer, garanto que chegará inteira. Então, deixe de ser irritante e faça o que eu mandar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Revirei os olhos, cansada de escutar aquilo, levantando-me e indo até a fogueira. Apanhei a carne já pronta no espeto improvisado e dei uma mordida para ver quão cozida já estava. Só então percebi o quanto eu estava faminta. A carne estava ao ponto e era deliciosa. Logo, o rosado aproximou-se e começou a comer. Não falamos nada por um bom tempo, apenas comendo e encarando um ao outro de relance, enquanto estranhávamos a presença um do outro.

Ele tinha comido quase tudo, junto com Happy que por mais que fosse pequeno tinha a mesma gula do mais velho. Sentei perto da entrada da gruta e fiquei novamente observando o céu, só que agora estava carregado de nuvens. Comia meu último espeto mas logo isso acabou quando notei dois pares de olhos encarando a minha carne e lambendo os beiços. Fala sério. Era só que me faltava. Joguei o alimento para o saco sem fundo que era o rosado para que parassem de encarar e me deixassem em paz. O mesmo me olhou surpreso, mas rapidamente voltou a sua expressão séria de sempre.

— Não espere que eu agradeça.

— Eu não esperaria isso de você. – Comentei simplesmente com a língua afiada. Eu não esperava mesmo que ele agradecesse, não tinha esperanças quanto a isso, mas ouvir isso de sua própria boca sendo tão indiferente, só aumentava minha raiva.

— Não é nem um pouco como a Layla… – Resmungou para si mesmo, no entanto eu acabei ouvindo. Sua expressão era levemente aborrecida.

— O quê? – Questionei, cravando o olhar no dele, mas ele desviou no mesmo instante. – Você disse algo sobre minha mãe, não foi? – Levantei-me abruptamente. Odiava quando escondiam algo de mim, ainda mais tratando da minha própria mãe. Por que ela nunca me contou? Eu precisava saber de tudo. – Qual era a sua relação com ela?

— Se ela não te contou, é porque você não deveria saber. – Cuspiu as palavras de forma cortante. Cerrei os punhos, mas procurei tranquilizar-me. Se eu fosse pra cima dele, eu poderia acabar mal, ele era muito forte. Não era humano depois de tudo. Ia dar meia volta quando algo me chamou a atenção.

— Onde…? – Virou-se novamente para mim, já não aguentando mais as minhas perguntas, e pronto para rebater, só que fui mais rápida. – Onde está o seu ferimento no braço? – Tinha visto o estrago que o menino fez com o rosado, então por que sua pele estava lisa sem nem mesmo um arranhão?

— Cicatrizou. – Disse apenas, mas ao ver que aquilo não tirava a minha dúvida, tratou de explicar antes de eu começar a questionar. – Eu sou um híbrido, esqueceu? Sangue de dragão percorre em minhas veias, portanto, ferimentos como esse são facilmente cicatrizados, podendo inutilizar até mesmo veneno. – Ergueu-se e andou até mim lentamente. – Se fosse você… Uma mera humana… – Apontou na minha direção. – Estaria infectada pela praga neste momento. – Aproximou os lábios da minha orelha e sussurrou com uma voz debochada. – Eu salvei sua vida… Me deve uma, loirinha. – Afastou-se o suficiente para fitar minhas orbes.

Ele estava adorando bancar o dominador ali, mas se ele queria jogar comigo, eu jogaria com ele, usando os mesmos lances. Foi a minha vez de aproximar os meus lábios do seu ouvido e pronunciar. — Fizemos um acordo… Leve-me sã e salva até Magnólia e eu te entrego a caixa. O que você fez foi apenas a sua parte… Não te devo nada. – Sorri vitoriosa ao ver sua expressão enraivecida enquanto rangia os dentes.

Distanciei-me dele, andando adentro da caverna, no qual, a cada passada ficava mais escura.

— Vai dormir aí, é? – Ouvi sua voz zombeteira, dando breves risadas. Não entendi qual era a dele, mas ignorei a gracinha que o mesmo fazia.

— Não aguentaria dormir perto de você. – Fui cínica.

— Está bem, está bem. – Fingiu sentir-se ofendido, fechando os olhos, mas quando abriu estes, revelou um sorriso sarcástico. – Boa sorte com seus os amiguinhos morcegos-vampiros.

Parei de andar imediatamente, virando-me para Dragneel.

— Você está brincando, não é? Existem mais de 1.100 espécies de morcegos, vai me dizer estamos compartilhando a caverna com umas das três espécies que bebem sangue? – Indaguei descrente, mas com um leve tom de preocupação na voz.

— Pode ficar aí e descobrir. – Deu de ombros, escorando as costas na parede e prontamente Happy já estava deitado outra vez nos cabelos róseos do outro. – Mas posso ouvir a ânsia de sangue deles. – Fechou as pálpebras, acomodando-se para dormir, e com o aquele mesmo sorriso, que eu tanto odiava, estampado no rosto. – Realmente… Isso será muito interessante… – Riu.

— Droga. – Resmunguei e fui para perto da luz da fogueira para que os morcegos não se aproximassem. Deitei no chão duro e irregular, virada para parede, impedindo-me de olhar a cara arrogante do híbrido e ter vontade de socá-la. Teria que descansar bastante para aguentar mais um longo dia, e o pior é que, com certeza, já começaria o dia dolorida devido a esse maldito chão rochoso.

Suspirei. Quantas vezes eu já tinha suspirado desde quando o conheci? Só sei que daqui em diante serão jogadas e mais jogadas para ver quem ali era esperto o bastante pra ser o dominador. Pelo menos, aprendi finalmente a lidar com elas, e agora eu tinha as minhas. Um sorriso triunfante formou em meus lábios. Qual será seu próximo lance, Dragneel?