The Seventh Zone

Start: First day


Atualmente – Primeiro dia na floresta.

Já se passaram dois dias desde a lamentável tragédia. Foram dois dias de medo, lágrimas e solidão. Percorri três quilômetros naquele dia e me alojei na caverna de uma alta montanha. Por sorte, eu sempre carregava um pouco de comida e água, assim como mudas de roupas e armaduras, na minha bolsa mágica. Todos soldados deveriam ter uma de precaução. Era um tipo de espaço vácuo, porém era limitado. E infelizmente meus suprimentos se esgotaram, portanto terei que caçar e conseguir água.

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Fazia um tremendo calor, deveria ser por volta de onze horas da manhã. O Sol ardente queimava minha pele. Há alguns metros adiante da caverna, olhei ao horizonte logo atrás. Foi a pior ideia que tive. Olhar para trás nem sempre é uma boa ideia, apertei meus olhos, que já estavam inchados depois da noite anterior, e voltei à caminhada. Não choraria mais, afinal, nada iria mudar com isto. Minhas lágrimas não trariam eles de volta, e aceitar a realidade faz parte da vida.

Descia com cuidado a montanha, o que não era difícil, parecia que ela já fora povoada por algum tipo de grupo, pois o caminho até a base estava escavado e desgastado de tantas pegadas. O céu estava límpido, o que era estranho devido as fortes chuvas dos outros dias.

— Parece que o dia hoje será bom. – Murmurei pulando uma pedra.

Longos dias ainda passariam até que eu cruzasse o desfiladeiro da morte, por volta de vinte dias. Ou seja, vinte dias sozinha em uma região selvagem, onde há poucos rios devido a altitude, e o frio à noite é congelante, em alguns casos pode nevar. Sobreviver seria complicado, então meu cronograma seria conseguir por ora algo para comer, recolher folhas e gravetos para uma fogueira, e achar um lugar para passar a noite. Deveria terminar tudo antes das seis horas, quando começa a anoitecer.

Caminhei até a floresta que se estendia cercada por enormes cordilheiras, e planaltos. Andando por entre grossas árvores, tive dificuldade em encontrar galhos finos e leves para carregar, muitas vezes cortava alguns de árvores baixas. Encontrei alguns frutos como amoras e as guardei no lenço bordado, antes branco, que tinha comigo usando como sacolinha. Descia a trilha na esperança de ouvir o som de água, a fome apertava e eu não encontrava um animal sequer. Apenas som de pássaros que se escondiam em meio as folhas das plantas.

Pela localização do Sol, já se passava de três horas. Comecei a ficar preocupada, pois ainda não havia achado algum lugar para estabelecer. Estava exausta de tanto andar e mesmo assim, sem um gole d'água. Desabei na grama, encostando-me em uma árvore. Fechei os olhos e aspirei o doce cheiro das folhas verdes. Estava para cair no sono, mas como se fosse um aviso para não adormecer, ouvi um barulho. Despertei imediatamente, atenta. Levantei-me olhando ao redor e escutei mais uma vez, só que agora reconheci como o som de um miado. Continuou persistindo até que eu finalmente localizasse o ser barulhento.

Era um pequeno gatinho que estranhamente tinha a pelagem azul clara. Ele estava sentado, olhando para mim com olhinhos brilhantes. Logo entendi o recado. Um gato perdido miando repetidamente e te encarando significa uma coisa. Fome. Suspirei e peguei a trouxinha com minhas últimas amoras, não tive como não ceder diante daquele olhar desolado. Entreguei ao felino faminto, que logo as devorou.

— Mas que fome, hein? – Soltei uma breve risada.

— Aye. – Miou de uma maneira anormal e engraçada, enquanto roçava a cabeça no meu braço.

— O que um gatinho inofensivo como você faz aqui sem dono? – Perguntei. Mais para mim mesma, porque eu sabia que ele não responderia.

Ele sentou e continuou a me encarar.

— Bem, não posso ficar aqui com você, tenho que continuar. – Apoiei as mãos no joelho e levantei, seguindo o caminho, na esperança de encontrar um riacho, lago, rio, fonte, qualquer coisa que houvesse água.

Segui caminho pela trilha, deixando o pequeno azulado para trás, observando meu afastamento. E assim se foi mais uma hora sem produtividade. Parecia até que estava andando em círculos, porque tinha a sensação de andar pelo mesmo lugar, várias vezes, ou realmente era tudo igual. Meu estômago roncava, as amoras não foram suficientes, afinal desde manhã só havia comido cinco delas para sobrar para mais tarde, só que no final houve um breve imprevisto.

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Enquanto subia em uma árvore para apanhar um fruto, ouvi miados novamente. Olhei para baixo e vi aquele mesmo gato me fitando. Suspirei. Ele estava me seguindo? Foi então que percebi que o mesmo carregava um peixe na boca. Desci do tronco rapidamente, antes mesmo de pegar o fruto, ao perceber que o felino estava indo embora.

— Ei! Espere! – Chamei, correndo atrás. – Onde você conseguiu esse peixe?!

O caminho era irregular, cheio de raízes e pedras. Com dificuldade pulei os obstáculos e continuei o perseguindo. Era um bichinho rápido, quase que o perdi de vista. Por mais que andara por aquela floresta e estive em todos os lugares possíveis, não reconhecia aquele caminho. Estranhei este fato. Será que eu tinha um péssimo senso de direção? Localizei um barranco logo a frente. Porém estava em tal velocidade que derrapei quase caindo neste. O gatinho desceu facilmente e já ia sumindo por entre a mata.

— Ah. Ótimo. – Resmunguei.

Não havia tempo para pensar, ou para ser lenta. Simplesmente, ao ver que a terra estava úmida, agachei de lado e escorreguei. Quando desci, ele já havia se infiltrado e sumido pelas folhas. Porém uma luz de esperança acendeu quando escutei o barulho d'água. Estava mais a frente. Era o som de cachoeira, tinha certeza. Só de imaginar, senti a garganta seca, e o estômago reclamando. Corri, o som ficava mais forte a cada passo, fazendo-me correr mais rápido ainda.

Foi quando vi aquela maravilha que tanto havia procurado. O barulho do impacto da água no riacho que se formava, peixes pulando sem parar, o cheiro úmido, nem pensei uma segunda vez e já pulei para dentro de armadura e tudo, sentando-me, pois era raso. O cansaço e o suor foram se dissipando, levados pela corrente.

Apanhei com as mãos uma quantidade do líquido e bebi.

— Água… Finalmente. – Senti-me revigorada.

— Aye. – Escutei o estranho miado, e logo uma bola de pelos pulou sobre minha cabeça.

— Hey. É você! – Segurei o mesmo, tirando-o do meu cabelo, e o encarei.

Sorri. Ele era fofinho. Coloquei-o na margem, e me levantei pronta para pegar alguns peixes. O que foi um tanto difícil. No final, eu só consegui três peixes em uma hora, mesmo tendo centenas deles pulando sem parar.

— Não levo jeito para o ramo. Acho que vou me aposentar. – Joguei-me na grama, derrotada. Automaticamente encarei o céu, percebendo que já estava escurecendo e com aparência de que cairia uma tempestade logo. – Droga.

Levantei-me rapidamente, guardei o alimento na bolsa mágica, assim como a garrafa d'água, só que agora cheia. Começava a bater um vento gélido. E como estava encharcada, o frio era mais intenso. Caminhava a procura de um lugar para passar a noite, acompanhada do pequeno felino. Pensei se ele tinha dono, ou estava perdido de sua mãe, porque, com certeza, não vivia sozinho, ele parecia bem cuidado e era inofensivo.

Despertei de meus devaneios quando escutei uivos de lobos. Logo lembrei que a região era conhecida por lobos agressivos. Um arrepio de desespero passou por meu corpo. De imediato peguei o animal no colo e disparei em direção a montanha mais próxima, onde provavelmente teria alguma caverna. Porém, eu sentia a presença deles se aproximando. Não daria tempo. A única solução que consegui pensar em meio às pressas, foi escalar uma árvore de grande porte. Com alguma dificuldade devido carregar o azulado, e poder usar apenas uma mão, consegui subir no momento exato em que três lobos negros rodearam árvore. Respirei fundo tentando me acalmar, mas foi em vão. Um dos lobos tentava me alcançar. Nisso, o gato deu um pulo assustado, descendo da árvore.

— Eeeei! Nãão!! – Gritei apavorada. Minha mente ficou atordoada. O que eu deveria fazer?

Começou a miar alto e agudo, como se pedisse ajuda a alguém. Seu pêlo estava todo eriçado, e tremia, enquanto os lobos o cercavam. Sem opção, não continuaria assistindo aquilo, pulei para ajudar o indefeso, chamando a atenção dos três, que se viraram para mim. Rapidamente, atirei os peixes que conseguira mais cedo para cada um, que os abocanharam. Durante o tempo em que estariam ocupados comendo, peguei o felino, e fugi para o mais longe que conseguisse. Mas a sorte resolveu se livrar de mim, pois dei de cara com quatro outros lobos.

— Ai meu Deus… – Suplicava ofegante. Eu estava cansada, meu corpo congelava. Mesmo assim, retirei a espada da bainha e apontei para os selvagens. Permaneci na defesa, só reagiria se os mesmos atacassem, talvez até fossem embora. Era o que mais desejava naquele momento, afinal não comia nada além de cinco amoras por mais de doze horas, e os peixes foram por água abaixo.

E o gato continuava miando alto.

— Silêncio! Quer atrair mais deles?

No momento em que proferi tais palavras, o lobo da direita me atacou. Consegui me esquivar, e quando daria um golpe certeiro em suas patas, o outro reagiu. Senti uma enorme dor na perna esquerda, fazendo-me gritar no mesmo instante. Ele prendia a mesma entre seus dentes afiados. O local sangrava muito, caí no chão. Droga. A última cena que vi ao fechar os olhos instintivamente, foi os quatro se preparando para atacar juntos.

Esperei o pior, mas não aconteceu. Abri os olhos e vi os bichanos fugirem assustados. De início não entendi, mas bastou um segundo para descobrir o que tinha os espantados. Levantei-me e andei mancando para de trás de um tronco, no intuito de me esconder, mas o que fora completamente em vão, pois uma trilha de sangue dedurava meu esconderijo. Apenas rezei para que não fosse encontrada, não agora, por mais impossível que fosse, por mais que a chance de sair viva dali fosse de um por cento.

A luz flamejante de suas chamas fizeram todo o local brilhar. Seus passos se aproximavam, quando de repente, parou. Meu coração falhou uma batida. Eu tremia de frio, de dor, e de medo.

— Happy. – Ouvi sua voz séria chamar.

Instantaneamente, o felino que até então estava no meu colo, saiu forçadamente dos meus braços e foi na direção da voz. Tentei impedi-lo, e chamá-lo com um “hey” silencioso, mas o som não saiu, pois agora notava que prendia a respiração.

— Cheiro de sangue humano. – Disse provocativo. Como para falar que sabia da minha presença.

O medo me encurralou. Ele estava ali, a poucos passos de distância. O que eu deveria fazer? Minhas pernas não se mexiam, eu estava paralisada e suava muito. Meu coração palpitava, meu corpo doía e estava exausto.

— Você pode fugir, mas não pode se esconder.

Senti meu corpo gelar. A voz rouca dele ecoou em minha cabeça. Eu tremia muito. Ele sabia onde eu estava. Eu irei morrer? Depois de todo o sacrifício de meus amigos que confiaram tanto em mim, esse seria meu fim?

Arrisquei a olhar por trás do tronco de árvore. Ele estava olhando para mim. Ele realmente sabia onde eu estava. Ao fitar aqueles olhos ônix, nunca senti tanto medo e temor quanto ao presenciá-los. Nunca tive tanto medo de alguém quanto agora.

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— Posso até ouvir seu coração desesperado. – Sorriu cruelmente, se aproximando.

Fechei os olhos fortemente.

Não chore, Lucy. Você vai ficar bem.

Com a mão direita, procurei minha espada, segurando fortemente seu cabo.

Acalme-se.

O som dos passos ia se aproximando. Ele iria me matar. Não posso ter medo agora. Pelos meus amigos, eu sobreviverei.

Com cuidado, ergui-me, fazendo a perna latejar. Preparada para batalha ou algum ataque surpresa, proferi ainda sem sair do lugar.

— Se você acha que vou fugir amedrontada igual aos lobos, está enganado.

— Que valente. – Debochou.

Cerrei os punhos.

— Você é uma sobrevivente? – Perguntou arrogantemente, dando ênfase em “sobrevivente”.

Engoli em seco. Todo meu medo agora se transformara em ódio. Ele estava ridicularizando os que morreram? Meus companheiros? Imperdoável.

— Você matou todos eles, maldito. – Sibilei afiadamente.

— E você fugiu com o rabo entre as pernas. – Riu sarcasticamente.

Sem ao menos pensar mais uma vez, lancei-me para fora do tronco, encostando a lâmina da espada no pescoço de Dragneel. Agora pude ver atentamente seu rosto. Os tão falados olhos ônix, cabelos rosados arrepiados, e uma feição intimidadora. Não podia negar que ele ainda me dava calafrios, mas mesmo assim não podia perder a compostura.

— Não fale de coisas que não sabe. – Encarei-o séria.

Ele arregalou levemente os olhos, impressionado, por algum motivo que não entendi, porém logo voltou a sua feição tradicional, tocou a lâmina com o pulso em chamas, fazendo-a derreter.

— Não pode ser… - Murmurei incrédula, desfazendo-me da espada. Nunca que eu o venceria desta maneira.

O filho do dragão simplesmente jogou a espada, como se fosse um brinquedo, para longe com tal força, que ao bater na árvore ela fincou e entortou.

— O que há com você… Layla? – Indagou, com as orbes negras entreabertas.