Capítulo 7

POV fera

Depois que Harry e a moça subiram as escadas, Charlotte e Paul se aproximaram e me perguntaram sobre ela, mas eu os afastei, disse que explicaria mais tarde e me fechei em uma das salas.

Sentei-me no sofá e fiquei pensando. Pensando em tudo. E me culpando pela minha gigantesca burrice. Com o que eu estava na cabeça quando pensei que uma menina como ela iria ter que ficar no castelo e aceitar tudo com a maior naturalidade? Com o que eu estava na cabeça quando pensei que ela iria me dizer alguma coisa sobre ela? Eu era um idiota. Um completo idiota por ter pensado em tudo isso. Mas eu só queria protege-la, ajuda-la, conhece-la...

É claro que eu deveria ter imaginado que ela não aceitaria nada disso, que iria se irritar e tudo o mais. Eu também não concordaria muito com isso e me acharia um doido se estivesse em seu lugar. Mas eu não imaginava que ela iria dizer o que disse. E aquilo realmente doeu.

Sempre soube que quando as pessoas me vissem, gritariam coisas cruéis e diriam que me odiavam, exatamente como ela tinha feito. Mas ela ainda NÃO tinha me visto! E já sentia ódio de mim. Eu devia ser muito ridículo e insuportável mesmo...

Ou será que era ela? Sim, podia ser, afinal, ela tinha me julgado sem ao menos me conhecer direito... Ah sinceramente, já que ela me odiava tanto, comecei a pensar seriamente em deixa-la ir e fingir que nada disso havia acontecido. Ela voltaria para sua perfeita vida de linda camponesa e eu voltaria para minha melancólica e amarga vida de monstro.

E eu realmente poderia ter feito isso. Mas eu não fiz. Porque algo dentro de mim me dizia que aquela garota era diferente. Que tinha algo de especial, que a diferia das outras garotas bonitas. E eu simplesmente sentia que precisava descobrir o que era.

E também porque, no momento em que estava me levantando para fazer justamente isso, Harry entrou na sala, junto de Paul e me perguntou:

– Quem é ela? O que faz aqui? Ou melhor, o que AINDA faz aqui?

Fingi não perceber a indireta no "ainda". Geralmente eu era um pouco fácil demais de irritar e provavelmente, ele, Paul e Charlotte estavam esperando que eu enlouquecesse quando a ouvisse dizer que me odiava. Na verdade eu também esperava isso de mim, mas, estranhamente, eu estava diferente naquele dia.

Parei de pensar nisso e apenas respondi, mais real impossível:

– Sinceramente, eu não sei.

Essa resposta os surpreendeu, porém não os satisfez. Portanto, contei a eles tudo o que estava sentindo e eles me ouviram atentamente. Assim que terminei e perguntei a eles o que devia fazer, Harry falou com a maior calma do mundo:

– Eu acho que você deve convida-la para jantar.

– COMO? - Paul e eu perguntamos, praticamente gritando, em uníssono.

– Eu acho... que você deve convida-la para jantar. - Ele respondeu, um tanto assustado com a pergunta coletiva e com todos os olhares voltados para si.

– Deixe de bobagens Harry - bronqueou Paul. Tive que concordar:

– Que loucura é essa Harry? Isso só vai piorar tudo! Ela me odeia, você não ouviu?

Aquela atitude maluca de Harry me decepcionou. Ele sempre foi o mais conselheiro, o que sempre soube o que fazer nas situações difíceis e de repente, vem com essa?

– Podem me achar louco - ele começou. - Mas já pararam para pensar que ela pode quebrar o feitiço? Se ele não fizer nada...

– Não, não parei para pensar. Isso é impossível. - disse. - Ela me odeia. Além disso, ela é tão linda e eu...

– TEM BELEZA INTERIOR - eles completaram juntos.

– ESSA COISA DE BELEZA INTERIOR NÃO IMPORTA! - esbravejei, já farto daquele discurso. - NINGUÉM NUNCA VAI AMAR UM MONSTRO!

Harry revirou os olhos, ao passo que Paul abriu a porta para deixar a sala, com a desculpa de que precisava arrumar a biblioteca. Enquanto Paul saía, Harry pôs a mão em meu ombro e falou, sorrindo:

– Aprenda: o que está por dentro é sempre mais importante do que o que está por fora. E se a garota for inteligente, ela perceberá isso.

Então saiu, me deixando sozinho com meus pensamentos e minha solidão, que naquele momento eu pensava que jamais iria acabar...