O caminho que me leva a você

Você está na sombra do olhar


Tinha gente que gostava de chamá-lo de louco. João, particularmente, o havia apelidado de masoquista. Porque não havia, no mundo, ninguém que entendesse como ele conseguia ser apaixonado por ela, nem como aguentava suas patadas e gritarias. Certa vez Gael havia o perguntado se ele estava tentando vencer alguma aposta.

Mas a verdade mais pura e sincera era que Pedro Ramos era completamente louco por Karina Duarte, sua esquentadinha, e ele esperava fervosamente que um dia, sua namorada.

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“Bom dia, esquentadinha.” Ele a esperava na porta da casa dela, um sorriso sapeca no rosto. Ela tirou os fones de ouvido, revirando os olhos teatralmente. “Vim te convidar para almoçar lá no restaurante. Pedi para o Lincoln fazer aquele arroz com fritas e frango que você gosta.”

“Tá tentando me amolecer, é palhaço?” Ela perguntou parando em frente a ele.

“Depende, tá funcionando?”

“Talvez... Se tiver uma taça de sorvete depois.” Os dois riram e Pedro segurou a mão dela. “Você gosta, né?”

“Do quê? De segurar a sua mão?” A lutadora assentiu. “É o máximo que você me deixa fazer, então eu aproveito.”

“Não dramatiza.” A loira bufou, enquanto eles entravam no restaurante. “Oi seu Marcelo, dona Delma.”

“Oi Karina... A mesa de vocês já tá pronta.” Avisou a mãe do guitarrista, apontando os fundos do restaurante. “Dá a sua mochila, eu coloco junto com a do Pedro ali na cozinha.”

“Valeu.” Pedro pegou a bolsa e passou para a mãe, enquanto os dois iam para o lugar de sempre. “Que é isso?”

“Sabe o que é, ô esquentadinha... Hoje tá fazendo dois meses que você, como eu posso dizer...? Ah sim, baixou a guarda e me deixou te dar uns beijos de vez em quando, sabe?”

“Cê tá me zoando que você guardou a data?” Ela se abismou.

“Claro que sim. Tá anotadinho no meu diário, junto com o primeiro sorriso que você me deu, a primeira vez que você me deu uma joelhada nos ‘países baixos’, e até o primeiro abraço que você me deu.” Ela riu da graça dele. “Alguém tem que ser o sensível nessa relação, né?”

“Moleque idiota.” Ela sentou na cadeira, tentando que as bochechas não ruborizassem. “E cadê esse rango? Nem comi na escola hoje, to morrendo de fome.”

~P&K~

“Karina? Tá com a cabeça onde, hein menina?” Fabi parou em frente a amiga, que estava com o olhar perdido.

“Hoje faz dois meses que eu e o Pedro ‘tamo junto’.” Contou a loira.

“E você sabe a data?” Se surpreendeu a outra.

“Sei por que ele me contou. Ele me levou almoçar no Perfeitão, mandou fazer o prato que eu curto... Até falou que assiste o UFC comigo hoje.”

“Nossa, que romântico.” Fabi comentou com ironia, mas Karina não percebeu.

“Eu sei... Será que ele está esperando que eu faça alguma coisa pra ele?” Perguntou temerosa.

“O Pedro é maluco, mas nem tanto. Ele conhece a esquentadinha que tem.” Garantiu a amiga. “Agora vem, vamos treinar. Ou vou achar que tá virando uma melosinha.”

“Vou te mostrar a melosinha.” A loira levantou, começando a desferir golpes, enquanto Fabi ria.

~P&K~

“Vai sair com o Duca?” Perguntou Karina, entrando no quarto e encontrando a irmã se arrumando.

“Vou sim... Nós vamos ao cinema e depois jantar.” Confirmou a mais velha. “Só não sei que horas voltaremos, porque hoje o papai vai passar a noite na Dandara.”

“Jura? A noite toda?” A lutadora ficou surpresa.

“Foi o que ele disse. O João vai passar a noite com o René, e ele vai aproveitar.” As duas fizeram cara de nojo. “E você, vai fazer o que hoje?”

“Ah, o Pedro vai colar por aqui, vamos assistir UFC.” Comentou casualmente, tentando ignorar o olhar de Bianca.

“Hum, então vocês dois vão ficar sozinhos aqui em casa, é?” Karina deu de ombros.

“Até a hora que você chegar, sim.”

“K, não sei se você entendeu o meu ‘não sei que hora voltamos’... Quer dizer: vou chegar às 7h da manhã, depois de passar a noite com o meu namorado.” A atriz riu. “Tá pretendendo que o Pedro tome café da manhã aqui, é?”

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“ai, cala a boca garota.” A loira se jogou na cama, enquanto a morena ria. “Você acha que ele tá pensando nisso? Tipo, em passar a noite aqui?”

“Olha, digamos que o Pedro não é exatamente uma pessoa que tem pensamentos normais, prova disso é o fato de ele te aguentar.” Pirraçou, recebendo uma careta. “Mas acho que, como qualquer outro cara, ele espera sim para passar a noite com você, algum dia.” Karina assentiu, em silêncio. “K, você sabe que não é obrigada a fazer nada que não queira.”

“Eu sei disso.” Retrucou grosseiramente, fazendo a irmã erguer as mãos em rendição.

“Tudo bem, não está mais aqui quem falou.” Bianca pegou sua bolsa. “Beijo K, boa noite para vocês.”

~P&K~

“Pera, cê tá falando sério cara?” Perguntou Pedro, um sorriso no rosto.

To, infelizmente to.” Resmungou João. “Eu tava entrando no carro com o panacão e vi o Gael parando o carro. Ele desceu com uma bolsa, provavelmente de roupa. Ele vai passar a noite com a minha mãe, que nojo.

“João, eu acho que te amo cara.”

Tá maluco?” O amigo se assustou.

“A Bianca falou para a Mari que ia passar a noite com o Duca hoje, o que significa que eu vou ficar sozinho com a esquentadinha.”

Hum, agora to gostando...” O guitarrista revirou os olhos.

“Claro, ela mal me deixa beijar ela, com certeza vai me deixar passar a noite na cama dela.” O comentário irônico arrancou risos do amigo. “O que eu to falando é que...”

Você vai mesmo mostrar aquilo para ela?

“Por quê? Não ficou legal?” Perguntou inseguro.

Ficou, já falei. Qualquer mina curtiria, mas essa tua é estranha, então é provável que ela não.” Pedro bufou. “Droga, o René voltou com a pizza. Boa sorte.”

E desligou, deixando Pedro aos risos. O rapaz foi até o armário, pegando a camiseta mais nova que tinha e vestindo. Colocou o jeans menos surrado que tinha e o tênis mais limpo, depois de encher de talco para disfarçar o chulé. Tentou arrumar o desgrenho que chamava de cabelo e pegou o estojo da guitarra, saindo de casa.

~P&K~

Karina estava sentada no sofá da sala, perdida em pensamentos. A ideia de ficar sozinha em casa com Pedro, sem Gael podendo chegar a qualquer momento, ou ainda Bianca, começava a lhe aterrorizar.

Não que achasse que o rapaz seria insano o suficiente para tentar ultrapassar o sinal com ela, ele ainda tinha neurônios. Mas será que ela queria que ele não ultrapassasse o sinal?

Por isso preferia lutar. Não exigia decisões, você simplesmente se deixava levar pelo momento.

Mas o amor é assim também, você se deixa levar pelo que sente.

Amor? Não, não podia ser. Só havia amado Duca na vida inteira, e depois que ele partira seu coração, prometeu que nunca amaria outra pessoa novamente.

Ora Karina, pare de tentar se enganar. Você já está apaixonada pelo Pedro há muito tempo.”

Que voz maldita era aquela? Quem a havia convidado? Passar bem, essa é uma discussão privada.

Você pode fugir de tudo, menos de mim. Eu estou dentro de você.

Maldita constatação.

Foi salva pelo gongo, literalmente, quando a campainha tocou. Se levantou depressa, indo abrir a porta. Encontrou o sorriso de Pedro e logo sorriu de volta, se repreendendo mentalmente pela maneira débil que fez isso.

“Trouxe pizza. Meia frango para mim, meia calabresa para você. Mas pedi sem cebola, pra ninguém reclamar que o outro tá com bafo.” Ele brincou, mostrando a caixa redonda.

“Idiota.” Ela riu, pegando a caixa da mão dele e sendo surpreendida por um selinho. “Quem deixou?”

“Vai esquentadinha, só hoje.” Ele tentou fazer cara de cachorrinho pidão, mas sua expressão se transfigurou em uma careta.

“Se você desfizer essa careta bizarra, pode fazer o que quiser.” Ela fechou a porta, saindo para a cozinha.

“Opa, o que eu quiser?” Ela lançou um olhar frio. “Relaxa, conheço os limites.” Prometeu, abrindo um sorriso gigante, daqueles que faz os olhos se fecharem.

“Vou pegar os pratos, vai pra sala.” Ela mandou, revirando os olhos.

Ele foi para a sala, tirando o estojo da guitarra das costas e apoiando no sofá. Abriu a sacola que levava, tirando duas latas de suco (já que a lutadora se recusava a tomar refrigerante) e uma caixa de chocolate, com um laço.

Fixou a atenção na TV quando a ouviu voltando.

“Ah, aprendeu a não trazer refrigerante para essa casa?” Zombou a loira, sentando ao lado dele e colocando as coisas na mesa. “O que é isso?”

“Minha mãe comprou para eu te dar.” Mentiu ele. “Aí eu trouxe para nós comermos juntos.”

“Ah.” Karina corou. “Legal... Podemos comer na hora da luta, para aliviar os nervos.”

“É...” Ele assentiu, os dois em silêncio. “Bom, vamos comer?”

~P&K~

“VAI, VAI. NO PEITO, CARA, NO PEITO.”Karina gritava a plenos pulmões, pulando no sofá, desesperada. “Esse imbecil tá entregando a luta, não é possível... Pedro? Tá vivo?”

O rapaz estava esparramado no sofá, quase roncando. Karina se irritou, pegando a almofada e batendo nele, que acordou em um pulo.

“O que? Que foi? O que eu perdi?” Ele começou a olhar para os lados, vendo Karina brava. “Que foi, ô criatura?”

“Criatura?”

“Se eu te chamar de ‘amor’, apanho. Então eu improviso.” Ele disse no ato, se arrependendo logo depois.

“Qual é, foi você que propôs que a gente assistisse a luta juntos.” Karina tentou ignorar o ocorrido, torcendo para não ruborizar.

“Claro, porque eu queria ficar com você hoje, e eu sabia que você não iria querer fazer nada, a não ser ver a luta.” Ele revirou os olhos, vendo-a cruzar os braços e emburrar. “Ah, vai emburrar?”

“Cê baixa esse tom de voz para falar comigo.” A garota se irritou.

“Posso ser irônico até sussurrando, se você quiser.” Ele não sabia de onde havia vindo toda aquela irritação. Talvez do fato de ela não ter lhe dado atenção a noite toda.

“Qual o seu problema?” Perguntou ela, se levantando e ficando de frente com ele.

“Meu problema, Karina, é que eu sou apaixonado por uma esquentadinha, uma droga de uma esquentadinha. Eu tinha planejado te levar no cinema hoje, ir naquele parque de diversões que chegou perto da minha escola, cantar a música que eu compus para você. Mas eu sei como você é, e sei que não ia gostar disso. Então eu trouxe pizza, vim assistir a luta que você adora e tentar um minuto da sua atenção para cantar a música, já que não tem ninguém aqui. Mas o que eu consegui foi ficar esquecido no sofá, junto com a caixa de chocolates que eu comprei, enquanto você grita palavrões e atrocidades para um bando de gorilas malhados na TV.”

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“Você compôs uma música?” O cérebro da garota ficou atado àquela sentença, não ouvindo o resto do discurso.

“Faz dois meses que eu to trabalhando nela. A Sol me disse que eu precisava encontrar algo que me inspirasse, então eu resolvi fazer uma música sobre você.” Ele parecia desarmado, sem conseguir encará-la.

“Toca para mim, por favor.” Ela pediu em voz baixa.

Ele caminhou até o sofá, sentando e apanhando a guitarra.

(N/A: Gente, eu não sei escrever músicas, então peguei uma de um vídeo deles no Youtube, que eu achei linda. É da banda Malta, ok?)

Você está na sombra do olhar
Pensei em te guardar, mas foi melhor assim
Na sombra do olhar
Tentei te encontrar, mas nada além de mim
De onde estou posso ver
O caminho que me leva a você

Diz pra mim o que eu já sei
Tenho tanta coisa nova
Pra contar de mim
Diz pra mim sobre você

Você está na sombra do olhar
Pensei em te guardar
Pra nunca mais ter fim
Na sombra do olhar
Tentei te encontrar, mas nada além de mim
De onde estou posso ver
O caminho que me leva a você

Diz pra mim o que eu já sei
Tenho tanta coisa nova
Pra contar de mim
Diz pra mim sobre você
É a hora certa pra recomeçar do fim

Diz pra mim o que eu já sei
Tenho tanta coisa nova
Pra contar de mim
Diz pra mim sobre você
É a hora certa pra recomeçar do fim

Diz pra mim o que eu já sei
Tenho tanta coisa nova
Pra contar
Diz pra mim o que eu já sei
Tenho tanta coisa nova
Pra contar de mim
Diz pra mim sobre você

Ele terminou de cantar, ainda sem encará-la. Ela estava de pé, abraçando a si mesma, tentando que os olhos não marejassem.

“A letra não faz muito sentido, eu sei. Mas...” Ele deu de ombros, guardando a guitarra. Ela não disse nada, ainda encarando qualquer lugar que não fosse ele. “Acho que eu vou embora.”

Como ela não disse nada, ele tomou como um consentimento. Colocou o estojo nas costas, passando por ela e batendo a porta. Desceu as escadas fungando, secando os olhos com as costas da mão.

Droga de garota difícil pela qual ele foi se apaixonar. Definitivamente era um masoquista.

“Pedro.” Já estava atravessando a praçinha quando a ouviu gritar seu nome. Virou-se, vendo-a correr até ele.

“Que foi, Karina?” Perguntou tentando que a voz não falhasse.

Ao invés de responder, a loira atirou os braços ao redor do pescoço dele, selando seus lábios no beijo mais apaixonado que ele já havia recebido dela.

“Fica.” Ela pediu, quando quebrou o beijo.

“Karina, eu...”

“Fica, por favor.” Ela pediu de novo, segurando a mão dele e começando a puxá-lo. Subiu as escadas o puxando pela mão. O empurrou para dentro do apartamento, fechando a porta e passando a chave.

“Karina, o que você vai...”

“Não fala nada, Pedro, por favor.” Ela pediu, engolindo em seco. “Na luta, não é preciso pensar, só se levar pelo que sente. No amor também é assim, não é?”

“No am... A-acho que sim.” Ele respondeu, começando a entender onde aquilo poderia ir parar.

“Então não pensa, e não me pede para pensar. Por favor.”

Ele assentiu, ainda incerto sobre o que iria se suceder. Karina caminhou até ele, puxando o estojo da guitarra e colocando sobre o sofá. Inspirou profundamente, caminhando até Pedro e novamente o beijando.

Sem pressa ou afobação, acabaram se encaminhando para o quarto das irmãs. E a porta sendo fechada, indica que essa história se encerra aqui.

Pelo menos, esse capítulo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.