Chains

Capitulo 12 - O Livro


O Livro

Itachi Uchiha era o vampiro mais falante que eu conheci. Ele também era gentil e paciente, mesmo com uma desconhecida como eu.

— Acho que vai gostar disso. – Ele me entregou uma tigela com sopa e sorriu ao sentar-se no lugar vago ao meu lado. – Ao menos eu espero que goste. – O sorriso constrangido em seu rosto me fez rir baixo.

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Aquiesci e provei um pouco do que ele tinha me dado. Era um caldo forte com legumes e alguns pedaços de carne, boa o suficiente para me aquecer e me lembrar da fome que todo o estresse me fez esquecer.

— Obrigada, Itachi. – Agradeci antes de comer mais um pouco. – Não sei quando foi a última vez que comi algo.

— Nem eu. – Ele brincou divertido e seus olhos ficaram vagos por um momento, mesmo que seu rosto estivesse na direção de onde as escadas misteriosas ficavam. – Como está se sentindo?

— Me sentiria melhor se você fingisse que não está escutando o que acontece lá embaixo. – Confessei e Itachi concordou com o que eu havia dito com um riso baixo. – Me sinto melhor agora.

— Então coma depressa. – Itachi me apressou. – Tenho certeza de que conhecer o lugar em que você está ficando te deixará mais confortável.

X-X-X

Itachi me contou sobre cada cômodo pelos quais passamos. Os donos dos quartos, de acordo com ele, tinham desaparecido com o passar dos anos e boa parte deles não tinha sido encontrado. Os que foram, eram apenas corpos deformados.

— É uma história de terror boba. – O Uchiha mais velho disse com um sorriso travesso. – Não encontramos tantos corpos assim.

Meu olhar surpreso fez com que ele risse, mas mesmo desconfiando de sua mentira, Itachi não disse nada sobre o assunto.

Ele ria a todo o momento, lembrando de piadas internas, das quais ele não fazia questão de me explicar. Admito que quando ele tentou, eu é que não consegui entender.

— Daqui pra frente são quartos e cômodos comuns. – Itachi me indicou um corredor e eu franzi o cenho ao ver uma porta branca, diferente das demais, que eram escuras.

— Por que aquela porta é diferente? – Poderia ser apenas um gosto peculiar, mas algo nela me atraía. – Eu posso entrar? – Comecei a me dirigir à porta, mas Itachi me interrompeu.

— É um quarto especial. – O Uchiha respondeu baixo e se posicionou ao meu lado. – Guarda uma grande quantidade de lembranças de Sasuke. – Me encarou esperando por algum comentário. – E infelizmente, não podemos entrar.

— Vai me dizer que Sasuke anda com uma chave pendurada no pescoço? – Ironizei revezando meu olhar entre Itachi e a porta.

— Pior do que isso. – Itachi, de forma indignada, cruzou os braços e se apoiou em uma das paredes. – Sasuke conhece uma bruxa e fez com que ela lançasse um feitiço. – Revirou os olhos no mesmo instante que eu. – Ele pode acessar esse quarto de qualquer lugar, apenas com uma chave.

— Uma chave de portal?

— Não. – Itachi riu e eu, mais uma vez, fiquei sem entender. – A chave que foi enfeitiçada para essa porta. – Explicou. – Então, se quiser entrar aí, dê um jeito de dobra-lo. – Arqueei uma sobrancelha, aceitando aquilo como um desafio. – E mais do que qualquer coisa, consiga uma permissão.

— Eu só preciso da chave.

— Se você não tem permissão, o escudo vai te repelir da mesma forma. – Voltei a encarar a porta procurando por algo que denunciasse tal proteção. – E antes que você tente. – Foi até uma das gavetas da mesinha que estava no corredor e tirou uma bolinha.

Itachi disse para que eu prestasse atenção e jogou a bolinha em direção à porta. No mesmo instante, um escudo rosado a repeliu.

— Quando eu tentei, a cor do escudo era vermelha. – Itachi disse pensativo, enquanto tamborilava os dedos no próprio braço. – Acredito que ele mude conforme o seu poder ou chances de conseguir invadi-lo. – Murmurou para si mesmo.

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— Se eu tentasse, que cor seria? – Segui em direção à porta novamente, porém Itachi me deteve. – Qual o problema?

— É melhor não arriscar.

— É meio obvio que sou mais fraca que você, Itachi. – Rebati tentando voltar para a porta. – Não vou sentir a mesma dor.

— O fato de que você é o pacto do Sasuke, pode transformar a dor que eu senti em algo extremamente pior. – Ele respondeu sem me encarar e continuou me guiando para longe da porta.

— Não sou tudo isso.

— Não se subestime demais.

Apesar de não ser totalmente convencida por Itachi, deixei que ele me guiasse novamente pela casa até que chegássemos ao piso inferior. Entramos em mais um dos corredores e paramos em frente à uma porta dupla de carvalho, as maçanetas, pelo que percebi, pareciam de ouro com rubis incrustrados.

— Você pode explorar aqui da forma que quiser. – Disse animado e eu ri de sua expressão. – Preciso...Fazer algumas coisas, mas volto em alguns minutos.

— Achei que você fosse o responsável por me contar toda a verdade. – Falei enquanto abria a porta. A quantidade imensurável de livros me assustou. – Uau...

— Te trouxe no lugar certo então. – Itachi disse atraindo a minha atenção novamente. – Volto logo. Não tenha...pudores na sua exploração.

Não respondi. Estava perdida na imensidão de livros que estava à minha frente.

Incontáveis prateleiras formavam inúmeros corredores. Haviam livros mais velhos, outros que pareciam não ter sido tocados e alguns estavam tão surrados que suas capas pendiam de forma precária.

Nunca fui fã de livros, mas era algo realmente magnifico.

Caminhei por entre os corredores, observando todos os detalhes que decoravam as prateleiras.

O barulho de algo caindo me assustou e quando me virei, havia um livro de capa azulada no chão. Quando o peguei, notei que não havia nenhuma palavra escrita, embora ele parecesse surrado por ter sido folheado muitas vezes.

O reino estava em seus dias de glória quando tudo começou.

Quando pensei em desistir de compreende-lo, as palavras surgiram como mágica. E após a primeira frase, uma folha inteira foi preenchida e depois dela, mais duas folhas e logo o livro inteiro estava repleto de anotações feitas em uma caligrafia caprichosa.

Pensei em deixa-lo ali, no chão como eu encontrei, mas não resisti a curiosidade e voltei para a entrada da biblioteca, me sentando em um tapete que havia ali. O silêncio do lugar me deixaria assustada em outro momento, mas nada seria capaz de me fazer deixar o livro de lado. Algo me prendeu à ele e era mais forte do que eu pensava.

Enviamos dois mensageiros. E obtivemos respostas por mais dois.

Sempre achei irônica a forma com que os destinos eram selados tão facilmente onde vivemos. Não há esperança para o amor e nem esperança para a própria esperança.

Todos somos fadados à um destino, seja ele de seu agrado ou não.

Confesso que fiquei aflita. Passei metade do meu dia presa em frente à janela criando expectativas que não me eram de direito, fingi um mal-estar para que ninguém questionasse sobre minha ausência.

Eu não queria que os visitantes aparecessem. Não queria que suas presenças impregnassem minha casa e nem que mudassem o curso do destino daqueles que eram importantes para mim.

Eu não os queria.

E não podia fazer nada quanto a isso. Escutei tais palavras mais vezes do que achei necessário e ainda assim, elas não foram suficientes para impregnar meu coração.

Eu os detestava antes mesmo de conhece-los.

Antes mesmo que as três carruagens chegassem até o meu castelo.

— Gosta do que lê? – Levantei o rosto assustada e encontrei Itachi me encarando divertido. – Você não devia ler isso. – Ralhou e eu fechei o livro rapidamente.

— Ele caiu aberto. – Menti nervosa. – Acabei lendo sem querer. – Acrescentei rápido. Me levantei do chão e segurei a capa do livro firmemente. – Tome, pegue! – Estendi o livro e ele arqueou uma sobrancelha, exatamente como Sasuke quando eu fazia algo que ele sabia que era contra a minha vontade.

— Eu não quero isso. – Itachi ao menos se moveu. – Achei peculiar, que dentre todos esses livros, você tenha escolhido justamente esse. – Baixei o olhar para o livro em minhas mãos.

— Que tipo de livro é esse? – Perguntei e ele fez uma expressão pensativa. – Há poucos instantes ele estava cheio! –Indiquei as páginas amareladas que estavam vazias novamente.

— Tem certeza de que não as imaginou? – Ele ignorou minha pergunta e pendeu a cabeça levemente para o lado. – Esse livro é um dos vários abandonados. Não há nada escrito.

— Você mesmo me perguntou se eu gostava do que estava lendo!

— Eu estava tentando entender o que você estava tentando ler. – Itachi deu bastante ênfase no “tentando”. – Talvez o que tenha acontecido lá em baixo, tenha feito sua mente ficar fértil demais, Sakura.

— Eu não estou louca. – Respondi Itachi com rispidez e não me arrependi mesmo vendo sua expressão de surpresa. – Havia uma história aqui, Itachi.

— Acredito em você. – Itachi me disse em um tom pacificador. Tive certeza de que ele não acreditou em nenhuma palavra do que eu disse. – Leve-o com você. Terá mais utilidade para alguém que consegue ler.

— Tem certeza de que posso leva-lo?

— É claro. – O Uchiha mais velho ergueu a mão em minha direção para me ajudar a levantar. – Terá mais utilidade para alguém que consegue ler.

Olhei para ele com desconfiança, mas aceitei levar o livro comigo mesmo assim. Tinha algo de familiar naquelas palavras, como se eu conseguisse ouvir quem escrevia e pudesse sentir a raiva que partiam daquelas páginas.

— Obrigada, Itachi. – Agradeci enquanto ele me guiava em direção ao meu quarto. – E me desculpe por...Ter sido ríspida. – Sorri amarelo e ele ergueu os ombros com descaso.

— Passar tantos anos convivendo com Sasuke e não ter um traço da personalidade ruim dele seria um milagre. – Itachi disse antes de colocar as mãos nos bolsos de sua calça. – Sabe Sakura, pactos são como casamentos. Com a diferença de que são por toda a eternidade.

— É, eu sei. – Suspirei e o olhar curioso dele me deixou confortável para continuar a falar. – Fico me perguntando porque Sasuke me escolheu. Eu não...Não tenho nada de especial para oferecer.

— Sempre foi você, Sakura. – Itachi abriu a porta do quarto para mim. – Mas eu tenho certeza de que você já sabe disso.

— Eu não...

— Se precisar de mim, estarei por aqui. – Ele encerrou a conversa com classe e começou a se afastar. – Pode assobiar para me chamar também.

Não entendi o que ele quis dizer com aquilo, mas assisti Itachi se afastando até que resolvi fechar a porta.

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Deixei o livro sobre a cama e fui até o banheiro para tomar um banho quente. Ainda que ninguém tenha dito, eu estava manchada de sangue seco.

Lavei meu cabelo e pude constatar que o corte em minha perna havia fechado, mesmo que ainda restasse uma mancha vermelha onde ele estava. Os demais ferimentos do meu corpo também, ao amanhecer, tudo estaria apenas em minhas lembranças.

Encontrei uma camisa dentro de um dos armários e após procurar muito, uma calça cumprida o suficiente para que eu precisasse dobrá-la algumas vezes.

Me sentei na cama e após olhar para a porta com o pressentimento de que Sasuke estava prestes a retornar, decidi abrir o livro novamente.

Precisei me esforçar para não ser uma péssima anfitriã. Todos esperavam o máximo de mim, como sempre.

O peso de uma coroa era muito maior do que apenas alguns diamantes.

Sorri como fui instruída a fazer toda a minha vida. Abracei minha velha amiga e sorri para suas filhas que não tinham ideia do que aconteceria ali.

Elas eram crianças adoráveis, embora uma delas fosse esperta como um adulto deveria ser. Sei que me apeguei à uma delas, ela era gentil e senti que facilmente poderia ser uma das minhas crianças.

Meus filhos, pelo contrário, estavam eretos como tinham sido ensinados desde à infância. Eles eram pequenos lordes, mas não conseguiram manter a pose por mais do que dois dias.

Os visitantes mudaram a nossa rotina.

Os olhos de Sasuke brilhavam e ele cochichava com Itachi pelos cantos, tentando disfarçar todas as vezes em que me via.

Quando o veredito chegou meus filhos mantiveram-se impassíveis e cordiais como sempre. Mesmo diante da minha aflição, eles nunca me disseram uma palavra de desconforto diante daquela situação.

Os filhos do Rei Uchiha foram criados para não lutar contra o que não estava em seu alcance.

Eles eram guerreiros e dominadores, mesmo que partissem seus corações.