Parecia que eu estava despencando do sonho para o pesadelo. A realidade com certeza era mais amena. A Kamila parecia não acreditar no que ouviu. Ela não retrucou. Mas não dava para esconder a pessima surpresa. Minha amiga que tinha chegado contente para salvar um vida, teve a sua abalada em um instante. Ela se sentou na cadeira onde estava antes.

– Me perdoe Mari, me perdoe. Eu não consigo acreditar... parece tudo tão...

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ela estava em choque, sem palavras, sem reação, sem emoção. Eu por um momento afirmo que não sei quem tomou mais a minha mente. Minha dor e preocupação era mútua. Eu andei na direção oposta, mais lagrimas. Será que elas realmente vão cessar um dia? Segurei por poucos instantes, e voltei até a Kamila. Me ajoelhei proximo a ela, fiz ela me olhar, seus olhos estavam como vidro. Algumas lagrimas rolavam sem nenhuma mudança no rosto dela.

– Mila, vai dar tudo certo. Eu sempre vou estar do seu lado.

O rosto dela começou a ganhar alguma expressão. Mesmo sendo de dor, eu estava mais calma. Minha mãe não acreditava no que estava acontecendo, se aproximou de mim.

– Filha, eu preciso falar com voce.

Me levantei e nos afastamos, o André tomou meu posto e ficou com a Kamila.

– Olha, lembra que o doutor disse que a Gaby perdeu muito sangue? Houve um ferimento na cabeça tambem. Eu nao quis te contar para nao te deixar mais preocupada. Mas precisamos desse doador antes que seja tarde.

***

–Mãe?

– Oi filha, to aqui do seu lado.

Só pra variar eu perdi os sentidos novamente, estava realmente fraca. Completamente debilitada. Meu corpo ja estava fraco, minhas emoções confusas. Procurei o André e ele nao estava mais la. Segundo minha mãe ele correu quando ouviu a noticia. Ele tambem nao sabia. A Kamila estava no lado de fora, em uma area verde do hospital. Eu realmente não sabia o que fazer, não tinha saida, não havia solução. Tudo que podia ser feito eu ja fiz. Me afastei de minha mãe e caminhei até uma janela de onde podia ver a Kamila, e talvez pela primeira vez na vida, conversei com Deus.

– Olha, eu não sei o que fazer. Sei que ja fiz muita coisa errada, mas minha filha não. Ela não tem culpa de absolutamente nada. Deus, ela é tão fragil, tão fraquinha. - a imagem dela sozinha numa maca de hospital me deu uma dor no peito, solucei e continuei - E eu preciso dela. Por favor, cuida dela e da Mila pra mim, eu nao sei por onde ir... O André sempre me fala de voce, como o medico dos medicos. Se depender da minha fé pra mudar esse quadro, eu creio. Eu creio de toda a minha alma. Muda tudo isso, por favor...

Enxuguei minhas lagrimas e me agarrei a boneca de pano da Gaby que tinha ficado comigo. Vi alguem com uma capa escura no meio das arvores do portão principal. E me imaginei vivendo assim, a espreita da felicidade, esperando ela acontecer... Fui até a Kamila. Tinha medo do que estava passando naquela cabecinha. Ela percebeu minha presença.

– Marina, me perdoe.

– Shi, Kamila, pare de loucura. Voce nao pode ficar se culpando.

– Mari, nao é isso... Eu precisei fazer uma coisa.

– Não importa, vamos esquecer isso.

– Mari... eu...

Ela não concluiu, olhou para a entrada do hospital, o carro de André. Me aliviei até ver ele tirando o Sergio do banco carona. Fui na direção deles, Kamila esboçou uma vontade de me segurar, mas não o fez. Senti os passos dela vindo atras de mim.

– André, para que voce trouxe o Sergio?

– Mari, minhas duvidas se transformaram em certeza.

Ele olhou para Kamila, e eu entendi. Ele continuou:

– E ainda que nao soubesse, voce deixou bem claro desde o carro que a Gaby é sua filha. Mas tive a confirmação da paternidade dela. E voce ja parou pra pensar que o pai pode ter o mesmo tipo sanguineo da filha? - Comecei a entender. - Vou levar ele agora pra fazer o exame.

Sergio não subiu logo. Ficou me encarando.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Então quer dizer que é verdade? Eu sou pai daquela menina mesmo? Voce nunca pensou em me contar? Porque voce nao abortou?

Dei um tapa no rosto dele como nunca tinha dado em ninguem.

– Nunca mais fale isso. Eu nunca precisei de voce para educar minha filha. Voce não precisa registrar, nem interferir na vida dela.

Não pesei as palavras. Ele me olhou com a mão no rosto ainda.

– Tudo bem, eu nao vou interferir.

Ele ia saindo e percebi que joguei a ultima chance da minha filha no lixo. André correu na direção dele.

– Hei, pra onde voce esta indo? - Segurou-o pelo braço

– André, ela pediu pra nao interferir, ganhei um tapa no rosto e só me chamaram porque precisam do sangue. Ela passou mais de um ano sem me contar o que houve...

– E se contasse voce ia forçar ela abortar. Largue de criancice. Sua filha esta morrendo e talvez só voce possa ajudar ela. Voce pode ter sido um menino durante muito tempo, mas nao acredito que vai continuar sendo. Espero que o homem e pai grite mais alto.

E assim ficamos os tres, esperando a decisão dele.