Pouco tempo que seu aprendiz lemuriano havia chegado em Jamiel, ainda de tenra idade, tal qual era de costume e tivera sido com seus antecessores, Kiki já dispunha de uma certeza que nem todos os aspirantes possuíam.

A casa de áries era diferente das outras, por assim dizer, uma vez que pertencia aos lemurianos há muitas gerações e, embora não fossem muitos a pisar na Terra, ainda era de seu povo a missão de guardar a primeira casa.

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Kiki era um lemuriano com ascendência desconhecida, embora desconfiável. Isso não era o de maior importância para o atual cavaleiro de Áries, Mu. Treinaria o aspirante e o cuidaria como a um filho, dando-lhe treinamento de guerra e uma família.

O menino mal havia entrado para o clã e já se deparava com o isolamento. O treinamento dos cavaleiros de Áries comumente se dava em Jamiel e com Kiki não foi diferente, porém havia mais um pormenor que não era comum aos aspirantes.

Acontece que Mu se mantinha exilado naquelas terras, por conhecer a verdadeira natureza do Mestre do Santuário, assim como o fez Mestre Ancião. O cavaleiro de Áries sabia que não poderia enfrentar todo o Santuário, pois que uma acusação sem provas o faria se chocar contra todos os outros cavaleiros que acreditavam no Mestre. Tampouco poderia compactuar com aquela farsa, o que o fez se exilar em Jamiel até que Athena voltasse para recuperar seu lugar, o que sabia estar bem próximo.

Aparentemente o Santuário, embora contrariado, não havia oferecido resistência a sua decisão de deixar a primeira casa. Alguns poucos amigos companheiros de batalha, como o honradíssimo Cavaleiro de Touro, Aldebaran, se mantinham neutros ante a sua decisão, enquanto outros não tão próximo e defensores mais acalorado, como o Cavaleiro de Capricórnio, Shura, não o havia perdoado pela afronta julgando-o como traidor, assim como o Cavaleiro de Sagitário, Aiolos.

Porém, havia um em especial que não parecia convencido o bastante. O que era curioso, considerando quem se tratava. O poderoso Cavaleiro de Virgem, Shaka, o homem mais próximo de Deus.

Volta e meia Mu percebia a cosmo-energia do amigo virginiano sondando Jamiel. A verdade é que eles eram grandes amigos. Conheceram-se na tenra idade de Kiki e Shaka certamente sabia de seus princípios. Imaginava que para ele devia ser uma incógnita a sua situação, embora não fosse a única.

Aquilo se perdurou por algum tempo antes que o próprio aparecesse. Em cosmo, armadura e corpo. O ariano sentiu a chegada do virginiano à distância, já que o amigo não parecia fazer questão de esconder seu cosmo, que lhe soava mais como um cumprimento do que como uma ameaça, o que lhe dava um tempo razoável para pensar a respeito do motivo daquela visita.

No topo da torre avistou quando o Cavaleiro de Virgem chegou. O tempo estava bom, uma leve brisa balançava os fios longos e loiros do visitante, assim como o sári simples que vestia, deixando-o com a aparência mística que lhe era característica.

A que devo a sua visita, Cavaleiro? – O ariano perguntou pouco tempo depois de Shaka ter estancado o passo diante de sua morada. Aproximou-se devagar analisando sua face serena, os olhos fechados como de costume.

Como sempre, direto e objetivo, Cavaleiro. – O santo de virgem comentou ainda com a serenidade estampada na face.

Algumas coisas nunca mudam... – Comentou, lembrando-se de que em outros tempos tinham sido muito próximos. – Já o recebi em minha casa algumas vezes, porém sem conhecer o motivo de tanta insistência. Agora, que veio de corpo presente, acho justo conhecer suas razões.

– De certo que é justo, lemuriano. Mas não há motivo para inquietações, pois como vê... – Estendeu os braços. – Vim em missão de paz.

– Veio em nome do Santuário?

– Não, mas não nego que este é um dos motivos de minha visita.

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– Então... – A reticência em sua fala mostrando que esperava uma resposta.

– Vim, cavaleiro, em nome de nossa antiga e estimada amizade. – Shaka começou a dizer e depois parou, como se pensasse bem no que diria, sabendo-o ser analisado minuciosamente pelo outro. Um leve incomodo se abateu sobre o homem mais próximo de Deus, porque ainda o considerava muito amigo, mesmo que os pensamentos divergentes sobre os assuntos do Santuário tivessem afastado a ambos. – Vim porque ainda creio conhecer o seu caráter nobre e espírito de cavaleiro, e devo dizer que não costumo me enganar. De modo que ainda me deixa perplexo a sua atitude radical de se exilar aqui, em Jamiel. Quando o seu lugar é ao lado de seus companheiros de batalha.

O Cavaleiro de Áries ouviu atentamente as palavras do homem que já fora um grande amigo. A lembrança deixou seu cosmo mais melancólico, o que foi notado pelo virginiano. Quando a decisão se tornou resoluta, um dos primeiros que se opôs veemente fora Shaka de Virgem. Assim como outros, este acreditava na honradez do Mestre e era difícil convencê-lo do contrário. O virginiano tinha um gênio, e um ego, um tanto difícil. Nada que o próprio ariano não compartilhasse, é verdade.

– A verdade é que o meu lugar é onde minha consciência me colocar, Shaka... – A frase poderia soar agressiva e até arrogante, mas não era o caso. Entendia muito bem a colocação do outro e se sentia até comovido por sua disposição em tentar convencê-lo de voltar ao Santuário, porém esse não era um assunto que o ariano pudesse reconsiderar.

Não sei se tem conhecimento, Mu, mas o Santuário passará por seu momento mais difícil com o avanço crescente de uma linha de traidores que insiste em prosseguir em ataque a revelia do poder das doze casas. Fala-se, inclusive, de uma impostora que tenta se passar por Athena...

– Sim, estou sabendo...

– E ainda assim insiste em se manter longe? Sua consciência não está em consonância com seu dever de proteger o Santuário? – Era nítida a revolta, mesmo que contida, na voz de Shaka.

– Minha consciência está em consonância em proteger Athena daquele a quem julgo ser o verdadeiro traidor. – Percebeu que diante de sua fala, o santo de virgem pareceu engolir em seco, incomodado. Suspirou pesaroso. Bem queria que ele compreendesse, e até melhor, que percebesse sua razão. Mas não parecia ser o caso. – Acho melhor que se vá, cavaleiro... Não encontrará o que veio buscar...

O ariano parecia mais conformado do que propriamente confiante de sua decisão ao ver aquele a quem aprendeu a admirar tão reticente quanto a sua decisão, ainda mais ele cujo coração era nobre como a de um bom santo de Athena, cuja sabedora se estendia além do que poderia imaginar. Sentiu um pesar se abater sobre seu coração, sem entender o porquê da insistência do virginiano. Virou-se de costas e já se preparava para voltar ao seu templo quando sentiu o cosmo do outro elevar-se.

Era incompreensível e até mesmo insólita a recusa do Cavaleiro de Áries voltasse para a primeira casa. Por um momento achou que ele pudesse ter algum envolvimento misterioso com os traidores, como aventou o Mestre do Santuário, coisa que Shaka jamais pôde admitir para si mesmo.

– Eu não posso admitir tal coisa, Mu... – Afirmou, elevando seu cosmo demonstrando que não sairia dali se não convencido de seus motivos.

Shaka... – O ariano se virou novamente para, incrédulo, perceber que o virginiano havia tomado uma postura de ataque, inflamado o cosmo, mas não havia agressividade. – O que pretende?

– Há muito que não treinamos... – O indiano disse, fazendo o ariano se perder nas atitudes daquele homem. Fechou os olhos e ponderou. Era verdade que, antes de serem santos, treinaram algumas vezes juntos, quando visitava o Santuário com seu mestre Shion.

– ... – O lemuriano não soube o que dizer, mas acatou. Voltou a se aproximar, elevando o seu cosmo e colocando-se em posição de combate.

As energias se fundiam e percorriam vastos campos enquanto se olhavam. Folhas secas eram levadas pelo vento e formava caminhos por entre os dois, a agitação chamando a atenção do aprendiz que logo se aproximou para ver o que acontecia, assustando-se ao mesmo tempo em que se admirava ao ver a cena dos dois Santos em posição de luta. Era uma cena linda...

A atenção do menino era total, a animação diante daquele acontecimento era imensa e era perceptível pelos seus olhos arregalados. Ver o seu mestre em ação com outro cavaleiro era uma oportunidade rara já que vivam tão isolados.

Os dois homens que duelavam estavam alheios ao pequeno espectador. A atenção era total um ao outro, analisando antes dos golpes começarem. Os movimentos começaram lentos, graciosos, o misto de ataque e defesa de ambos mais parecia uma dança do que uma luta. E, mesmo pequeno e inexperiente, o pequeno Kiki percebeu que aquela luta não era como as outras. Tinha um algo diferente que não sabia explicar...

Até que em determinado momento o menino não mais conseguiu distinguir os movimentos e depois nem mesmo era possível ver os combatentes. Eles, no entanto, viam tudo a passos vagarosos. Não viam movimentos, e sim os olhares. Não notavam golpes, mas experimentavam intenções. Não sentiam os golpes, sentiam a força do espírito guerreiro.

Então, inesperadamente, assim como tinha começado, o embate terminou. Eles estavam suados, ofegantes, mas sorridentes levando estranheza ao menino que observava.

Você continua o mesmo... – Shaka comentou, com um sorriso aberto nos lábios. Era o que ele precisava saber.

– Você também não mudou muito... – O ariano comentou ante ao trabalho que o outro dava. Acompanhou o outro no sorriso. Havia entendido o motivo daquilo. Ambos respiraram fundo para recuperar as energias enquanto se olhavam, calados...

...

Mestre! – O silêncio fora interrompido pela animação do pupilo. – Nossa! Isso foi demais! – Comentou achando graça de tudo aquilo. – Um dia quero ser tão forte quanto você!

– Você será... – Paciente, Mu explicou sem desviar o olhar do amigo.

– Bem, eu vou indo...

– Shaka, espero que tenha encontrado as respostas que buscava... – O virginiano sorriu.

– E eu espero que você volte... por nós... Algum dia, meu amigo. – Cumprimentou-o gestualmente, discreto, e se retirou aliviado. Assim como o cavaleiro de Áries, satisfeito posto que sabia que ao final de tudo ainda o teria... para si.

Fim

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.