"Pois por detrás do muro, tem mais coisa aí"

Linha Tênue - Maria Gadu

João e eu assim que saímos do colégio, avistamos seu pai nos esperando, entramos no carro e partimos pra Ribalta. Ontem foi um dia que ficará marcado na minha vida por vários motivos: ver a K toda arrumadinha e gostosinha foi um momento único e muito proveitoso pra mim, foi uma pena que ela teve que sofrer tanto por causa daquele vestido. Mas no fim deu tudo certo tive a ideia de trocarmos de roupa, pois sabia que não adiantaria naquele momento brigar ou discutir com as pessoas que fizeram Karina se sentir daquele jeito. A hora daquelas duas já estava chegando.

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Quando chegamos no bairro, o pai do João parou perto da pracinha e descemos do carro, e quando olhamos pra porta da academia, vejo Cobra gritando com Marcão, Zé e Max enquanto Karina segurava seu braço impedindo de avançar. Na hora o ciúmes me consome, realmente não suporto essa intimidade que minha Esquentadinha tem com o Cobra.

– Esse cara está sempre querendo bater em alguém. – João reclama. – O que a K está fazendo ali?

– Vamos descobrir. – digo e atravessamos a rua.

– Vou avisar de novo: se eu ouvir ou ver alguma brincadeira relacionada com a foto da K, eu mato vocês. – Cobra está ameaçando os meninos.

– O que está acontecendo aqui? Que história é essa de foto? – logo pergunto. Já imagino que seja a foto que Jade tirou e colocou na internet, mas quero ter certeza.

– Pê, meu namorado, que saudade. – Karina diz, e eu estranho quando ela me beija na frente de todos. – Que tal irmos pra dentro. - e eu sei que ela quer me tirar dali.

– É muito sortudo mesmo. – Zé fala olhando para nós.

– Eu sou mesmo. – falo me separando da Esquentadinha. – Agora sem mais beijos, e me diga o que está acontecendo, linda.

– Esses três patetas estão fazendo brincadeiras o dia todo sobre a foto da loirinha. E eu estava avisando o quanto será perigoso se continuarem. – Cobra me explica.

– O namorado dela sou eu, você não tem nada a ver com isso. – digo com raiva, estou realmente cansado do Cobra querer ser herói da Karina em tudo.

– Pedro o cara só estava ajudando a Karina. – João tenta amenizar.

– E eu sou amigo dela, e você sabe que não poderia fazer nada. – Cobra diz ignorando João assim como eu.

– O que quer dizer com isso? - pergunto.

– Você só iria apanhar. - ele diz com um sorriso de lado.

– Só por que eu sei conversar, não parto pra briga por tudo? Você acha que não sei defender minha namorada. – digo.

– Sim, é exatamente isso que eu acho. Sua namorada foi humilhada ontem, e você apenas trocou de roupa com ela, e fingiu que tudo estava bem. – Cobra joga na minha cara.

– Você está tentando me ensinar como tratar minha própria namorada? Eu não acredito nisso. – falo balançando a cabeça, então me aproximo. – Você sabe que uma das que humilhou a K ontem, é sua namorada maluca .

– Parem os dois agora. – Karina se mete no nosso meio, e se vira para os meninos. - E quanto a vocês, se querem continuar com a gracinha, continuem, mas não esqueça que meu pai é o mestre de vocês, e se sonhar que vocês estão tirando uma com minha cara, acabará com vocês.

Os três realmente ficaram assustados, e entraram para a academia. Esse é um dos motivos que eu não me mete nos assuntos da Karina, ela sabe se defender sozinha. Fico preocupado e isso é óbvio, mas ela sabe se cuidar, e meu cuidado com ela é demonstrado diferente do que encarando e ameaçando caras que fizeram apenas brincadeiras com ela.

– Cobra você pode ir, e continuar o treino. Já que o Duca só vem de tarde, você sabe que quem fica no comando é você. – ela diz falando com o idiota.

– Você que manda, gatinha. – ele fala, e me encara e entra.

– João você pode dá uma sumida, para que eu converse com a Karina. – eu digo.

– Vai rolar uma DR né, então estou super fora. – ele diz e sobe pra Ribalta.

– Vai rolar uma DR por que? – Karina pergunta.

– Por que eu não aguento mais o Cobra em cima de você. – digo, e ela me olha com cara de deboche.

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– Eu e o Cobra somos amigos, e você sabe disso. Não sei de onde tirou esse ciúme do Cobra. – ela fala.

– Não é ciúmes, é apenas raiva que você não enxerga que o cara faz de tudo pra chamar sua atenção, e ter sua admiração.

– Eu não vou ficar aqui escutando essa merda que você está falando. – ela diz com raiva, e buda. - Vou para o colégio e de noite conversamos melhor.

Ela então me dá as costas e vai pra sua casa. Eu sigo direto para Ribalta, e tento achar qual aula está tendo no momento. Descubro que é a do Edgard, então vou direto para o auditório.

– Então vamos começar a aula? – ele diz, e eu entro e me sento ao lado do João que não para de encarar uma garota que está mexendo no celular no canto. – Camila sai desse celular agora.

Edgard vai até a menina que está no celular, e então pega o objeto e pede para ela se levantar.

– Gente deixa eu apresentar essa menina linda aqui. – ele fala e ela só olha para o chão. E eu até concordo a menina é bonita, não faz meu estilo mas é muito bonita. É alta poderia ser uma modelo apenas por sua altura, tem cabelos castanhos ondulados, e olhos marrons e redondos, e usa um óculos.

– Já estava me perguntando quem era a esquisitinha. – Jade diz, e eu olho pra ela.

– A esquisitinha é minha sobrinha, dona Jade. – Eddy fala, e Jade na hora pede desculpa. – Essa é a Camila, minha irmã pediu para que ela passasse um tempo aqui comigo, para fazer novos amigos. E acho que não tem lugar melhor para isso do que aqui na Ribalta.

– Eddy, a Camila pode ficar comigo. – Jade se oferece e eu até me assusto. Será que ela está armando?

– Que bom Jade. – ele fala, e a menina está olhando para mim, mas então percebo meu engano ela está encarando o João, mas quando ele olha pra ela na hora ela abaixa a cabeça. Só eu que senti um clima?

– Pode se sentar comigo, Camila. E me desculpe. – a Jade está muito estranha.

Continuamos com a aula do Edgard, e depois fomos para a aula da Dandara e não tivemos aula da Lucrécia que faltou de novo. Quando estávamos saindo da aula da tia, eu dei um puxão na Jade.

– Hei doida quero falar com você. – digo pra ela, e entramos no salão de dança.

– Não quero papo, Pedro. – ela diz, querendo sair mas a puxo de novo.

– O que fez com a Karina foi sacanagem, ela nunca fez nada contra a você. – eu digo. – Resolvi na hora que não iria falar com você e que levaria no humor a coisa toda, pra reverter a situação humilhante que a fez passar.

– Então deu tudo certo, e acho que ela já está bem grandinha pra todos ficarem defendendo ela. – ela diz debochando.

– Olha aqui, sei que não faço o tipo ameaçador, mas estou te avisando: não quero você se metendo com a Karina, se você tem problema, é carente, ou não consegue segurar o seu namorado e fica com ciúmes, vai se tratar.

Ela me olha e vejo seus olhos se encherem de lagrimas, e então ela balança a cabeça e se faz de forte.

– Quem disse que foi ciúmes? – ela pergunta.

– Eu estou dizendo, e pow Jade você não precisa disso. É linda e fica se rebaixando e tratando mal pessoas que não tem nada a ver com isso.

– Nem vem, Pedro. Eu sei que você também não gosta dessa proximidade dos dois.

– Não gosto mesmo, mas não passo em cima de ninguém por causa disso.

– Não aguento mais nenhuma lição de moral. Cobra já me encheu delas. E agora você também. – ela diz.

– Não me importo, já dei meu aviso. – digo, e então quando estou saindo Jade diz.

– Eu me arrependi assim que acabei de falar aquelas coisas para Karina. Sério, eu só não estou acostumada a não ter a atenção, e o Cobra ficou todo encantado.

– Então por que não pede desculpas a ela? Sério, Jade você não se cansa de não ter amigos, de ser sempre tachada como má? Tenta mudar isso, e ir atrás da K e mostrar esse arrependimento que estou vendo aqui, seria um bom começo.

Saio da sala e vou atrás de outra pessoa, mas ela não está mais na Ribalta. Então vou direto para a academia, e a acho no escritório.

– Bianca, posso bater um papo com você bem rápido. – digo, já entrando e fechando a porta.

– Pode falar, Pedro. – ela diz calma. Não entendo essa garota.

– Acho que você sabe o que quero falar com você. – digo me sentando.

– Não faço ideia. – ela fala.

– Karina me contou o que você fez ontem. – falo e não vejo nenhuma reação.

– Não sei do que está falando.

– Larga de ser atriz um momento. – eu digo com raiva. – Eu não entendo, um mês atrás você tratava a K tão bem, e era a irmã mais chiclete que eu conhecia e do nada começou a ser a irmã má com ela. Me explica.

– Pedro, não sei do que está falando.

– Pare com o fingimento, só está nós dois aqui. - digo.

– Não devo explicações para você. - ela desdenha.

– PARE COM ISSO, VOCÊ SABE QUE DESTRATOU ELA, E DEPOIS HUMILHOU A KARINA MOLHANDO SEU VESTIDO. – grito já não aguentando essa frieza da Bianca.

– Não grite comigo. - ela fala, e então me olha. - A Karina tem algo que eu sempre achei que era nosso, e agora descobri que é apenas dela.

– O QUE É PODE SER TÃO RUIM PARA QUE VOCÊ FIQUE HUMILHANDO SUA IRMÃ DA MANEIRA QUE FAZ?

– VOU CONTINUAR A FAZER O QUE QUERO. EU ODEIO A KARINA. – ela grita e a porta se abre, o Duca olha pasmo pra ela.

– O que você disse? – ele pergunta.

– Olha Duca, vou ser sincero: tenta descobrir o que se passa na cabeça da sua namorada pois ela está tratando mal a K e eu não vou permitir que continue, nem que eu precise falar com o pai delas.

– Você não ousaria. – Bianca diz, e vejo um certo medo nela.

– Sim eu ousaria. Posso parecer um idiota, mas quando se trata da pessoa que amo, não meço esforços para que ela não sofre. – digo, e saio do escritório.

Minha cabeça doí, e eu não consigo compreender o que se passa com a Bianca, mas vou descobrir, não quero que ela trate mal a Karina.

**

A banda e eu combinamos de tocar no Perfeitão hoje, enquanto o pessoal arrumava os equipamentos, e a Sol como sempre ainda não tinha chegado, resolvo ir na casa da Karina, o clima entre a gente estava meio chato pela coisa que aconteceu, e eu queria pedir desculpas e a chamar pra jantar lá no Perfeitão e assistir a banda tocar, mas quando atravesso a rua vejo ela, seu Gael e Dandara.

– Vim só dá um beijinho na minha gatinha, pedir desculpas por hoje cedo e ainda chamar minha musa para assistir a banda do namorado gato dela. – digo, abraçando Karina por trás e lhe dando um cheiro no pescoço. Mas então vejo Dandara balançando a cabeça, e percebo que a coisa está tensa. – Cheguei em mal hora?

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– Em péssima. – Karina diz, olhando com raiva para o pai.

– Pelo contrário, você chegou numa excelente hora. – seu Gael fala. - Aproveita e leva a Karina pra longe daqui.

– Eu quero saber por que você não quer me deixar lutar no campeonato? – Karina pergunta, então é esse o motivo das caras feias.

– Pelos motivos de sempre, você não vai lutar. – Gael diz.

– Mais pai você sabe que eu consigo. E outra pensei que estávamos nos dando bem agora.

– Sim estávamos, mas já repeti milhares de vezes que não quero minha filha no ringue.

– Gael deixa a menina tentar, é o sonho dela. – Dandara tenta ajudar a Karina.

– Pedro, vem cá. – Gael diz me puxando pelo pescoço. – Você gostaria de ver sua namorada lutando num campeonato de Muay Thai, ficando de olho roxo, sem dente. Toda machucada.

– E aí Pedro, vem cá. – Karina diz, e é a vez dela me puxar e apertar meu braço, quase o esmagando. – Você não ia gostar de me ver lutar, não ia ficar orgulhoso, vê eu fazendo o que gosto, me vendo feliz.

– Pensa bem no que você vai falar. – Gael pega meu pescoço, enquanto Karina agarra meu braço. – Você gostaria de ver sua namorada linda se arrebentando num campeonato.

– Você não gostaria de me ver feliz, namorado? – K fala, e eu fico num maldito impasse.

– É ... Bom ... Eu ... Na verdade não tem muito como eu impedir a Esquentadinha de fazer nada, né. Senão ela me bate. – digo, pois essa é minha primeira preocupação.

– E se eu garantisse que ninguém iria te bater, e isso eu garanto. No meu lugar você deixaria? – o pai dela diz.

– Annh! Não? – digo pois acho que tenho mais medo do pai do que da filha.

– O que? Pedro! – Karina diz com raiva.

– Quem que gosta de ver a namorada apanhar. – eu tento explicar. Apesar de saber que ela é mais do que capaz.

– Quem disse que eu vou apanhar? – ela fala.

– Eu disse. – Gael responde.

– Chega! – Dandara grita. – Gael o que você me prometeu? O que disse que iria fazer.

– Mas Dandara, a Karina ainda é uma criança, ela vai se machucar. – ele diz.

– O que ele prometeu? – K pergunta interessada.

– Ele prometeu deixar você lutar, e se ganhasse a luta, talvez aceitaria que fosse lutadora.

– Sério, pai? – Karina diz feliz.

– Não vale, a Dandara sempre conversa comigo sobre essas coisas, e depois vem com os beijos. – o pai dela fala, e eu seguro o riso. Um homem daquele tamanho sendo controlado por uma mulher. Espera? O que eu estou pensando, a mesma coisa acontece comigo.

– Você prometeu. E achei errado você meter o Pedrinho nessa história.

– Okay, mas Karina se você sair um pouquinho machucada daquele ringue. Não deixarei lutar em outro campeonato e em lugar nenhum. Decorou? – ele diz.

– Obrigado pai, e você não vai se arrepender, mestre Gael, pois sou treinada pelo melhor.

Então ela abraça o pai, e ele suspira, Dandara pisca pra mim, e eu sorrio com a cena.

– Agora vamos, pois já pedi pra Delma reservar uma mesa pra gente. Bianca está na casa do Duca. Então será Gael, Karina e eu. – Dandara fala.

– Opa, eu vim aqui até pra chamar vocês pois hoje a banda toca no bar. – digo, incluindo eles já que vão do mesmo jeito.

– Já vamos, antes eu quero conversar com meu namorado, muito apoiador. – Karina diz, me olhando estranho. E já sei que vai sobrar pra mim.