Moran

Segundo homem mais perigoso de Londres


A luz néon do computador era uma intrusa em meio ao negrume do cômodo. Somente metade da face do homem era iluminada pela claridade, o que lhe conferia uma aparência espectral, etérea. As pálpebras caídas eram traço de um cansaço inexistente. Ele estava preparado. Era a hora certa. Ergueu um dedo e, ao clicar enter, estava consciente do fato de todos os aparelhos televisivos de Londres estarem recebendo a mesma transmissão.

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“Você sentiu minha falta? Você sentiu minha falta?”

Apanhou a xícara na que continha chá e saboreou lentamente a bebida, com uma satisfação selvagem no olhar. Subitamente, um som agourento lhe escapou pelos lábios. Uma risada repleta de adrenalina e expectativa.

–Tudo bem por aqui? - Ronald Adair disse, abrindo somente uma fresta da porta e fazendo surgir uma pequena fenda retangular na escuridão do quarto. - Precisa de algo? - insistiu quando não obteve resposta.

–Ah, meu caro amigo, muito obrigado por me deixar usar sua casa essa tarde, mas receio informar que seu trabalho está concluído e isso só pode significar que…

Com movimentos tranquilos, que adquiriram ar corriqueiro graças a naturalidade com o que foram realizados, o homem retirou sua arma que estava enganchada no cinto e a apontou na direção de Adair.

–Ei, ei, ei! O que é isso, cara? Você não precisa… Escuta, se é sobre as ameaças que eu fiz… Sabe que elas eram vazias, não é? Eu sou assim mesmo, às vezes não tenho controle sobre minha língua e isso foi há quase um ano. - riu sem humor, na tentativa de manter a postura decorosa.

–Claro que eu sei disso, Ronald - respondeu, gargalhando. - Você não achava que eu estava realmente tinha a intenção de disparar, não? - falava com um tom brincalhão que fez com que Ronald suspirasse, aliviado.

–Você me assustou, Sebastian.

–Se os anos te tornaram tão assustadiço assim, Ronald, talvez seja hora de se aposentar, hein? - zombou. - Me acompanhe até a porta, por favor.

Ronald Adair segurou o amigo pelo ombro e o conduziu até a saída.

–Bom ver você, Sebastian. - falou com falsa cordialidade.

–Você também, Ronald. Obrigada por me deixar usar seu computador.

Já estava com ambos os pés na soleira da porta enquanto Ronald a fechava quando, abruptamente, deu meia volta.

–Ah, quase esqueci. Preciso de mais um favor - pediu franzindo o cenho como se realmente estivesse incomodado com algo.

–O que é? - a boa vontade sumira da voz do anfitrião.

–Preciso que você morra.

E pronunciando aquelas palavras, atirou em Ronald Adair, porém o disparo não fora ouvido pela vizinhança graças ao silenciador da arma. À medida em que o homem moribundo ia desfalecendo, Sebastian sustentou seu corpo mole e fitou o semblante surpreso que o encarava de volta.

–Muito obrigada, fico devendo essa.

Deixou que Ronald tombasse e fechou a porta. Vestiu o sobretudo para acobertar a mancha de sangue na camisa alva e saiu em passadas largas.

Sebastian Moran estava de volta para presentear Sherlock Holmes com a conclusão de alguns casos em aberto e, acima de tudo, revelar a verdade bruta e fria de que o detetive não era de todo imbatível.

A ruína era iminente e o primeiro pilar da estabilidade havia sido derrubado.