BRANDON FLORENCE

“As mulheres não são aquilo que nós queremos que elas sejam” – Júlio Dantas

Bran esticou as pernas, que estavam dobradas há muito tempo. Encarando as outras seis pessoas a sua frente, tentou imaginar quem delas morreria primeiro, mas não se demorou sobre isso. Ela tinha salvado seu irmão gêmeo, Brandon, que por sinal tinha o mesmo nome que ela. Agora tinha de fingir ser um rapaz. O que não era muito difícil, afinal viveram rodeada de homens na fazenda.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ela tinha de ser chamada de Bran, embora o apelido verdadeiro fosse Branly. Sua família não gostou do que fizera, mas como evitar? Não podia deixar Bran ir para os Jogos com o pé machucado, ou semi-machucado. Fungou.

Tinha feito amizade com Luar Catt, ou Lucy, como gostava de chamá-la. A menina tinha vindo aos Jogos com o irmão mais velho, Adam Scott, ou apenas Adam. Eles tinham uma boa amizade, e aceitaram Branly na Aliança. Mas ainda não sabiam que ela era uma menina. Não podia dizer, e se a Capital descobrisse e fosse buscar Bran para ir no lugar dela, como deveria ser? Mordeu os lábios.

Ao seu lado, os pés de Lucy tamborilavam pelo chão, tocando-o apenas com a ponta dos pés.

– Vamos correr para longe da Cornucópia. – ela contou, num sussurro – Adam vai buscar suprimentos e nos encontrará depois. Você segura minha mão, Brandon?

– Claro – concordou, forçando a voz grave, sem sucesso. Ainda não sabia como não tinham descoberto que era uma garota.

A mão de Lucy era macia e leve, fria. Ela dava pequenos espasmos, como se estivesse com frio. Ao seu lado, o irmão estava pacientemente falando que tudo ficaria bem com ambos, que ele jamais abandonaria os dois e que custe o que custar estariam juntos. Adam prometeu trazer suprimentos. O Aerodeslizador pousou na plataforma e a porta se abriu, revelando a luz intensa de um corredor, onde portas e mais portas estavam distribuídas. Um a um, os tributos foram saindo, com seus estilistas guiando-os. Como estavam no final da nave, seriam os últimos. Assim que saiu, olhou por cima do ombro e saiu segurando a mão de seu estilista. Entraram em uma das salas e ele mostrou-lhe sua roupa: uma bermuda que ia até os joelhos, jeans, com uma camiseta de manga comprida e um cinto que cortava seu peito, como um suporte para alguma coisa. Meias e tênis de caminhada. Um gorro para os cabelos e luvas de escalar.

– Para quê tudo isso?

– Você irá precisar – o estilista sorriu, indicando o elevador que a levaria até a Arena.

Subiu nele e a porta se fechou. Não tinha criado vinculo com as pessoas da Capital, mas o seu estilista derramava lágrimas mesmo assim. Eu só preciso sair, encontrar Lucy, correr com ela e então esperar por Adam. Era fácil. Contou os minutos até que o elevador começou a subir. A voz anunciando que faltavam 59 segundos para a abertura dos Jogos.

A luz era intensa e a cegou por um instante, até que pôde visualizar a Cornucópia e então a Arena.

Abafado, com um mormaço escaldante, Branly rodou os olhos para os céus, azuis e então voltou a encarar a Cornucópia. Era o mesmo chifre de sempre, com as armas e tudo mais, mas desta vez havia um bestante bloqueando a passagem. E não um bestante qualquer. Um touro que andava com apenas duas patas, segurando um machado de guerra de duas mãos e com chifres de sessenta centímetros. Ele berrou aos tributos, esperando a contagem terminar para poder matar todos. Branly rodou a cabeça para a direita e então para a esquerda: paredes. Paredes altas e cinzentas, que subiam do chão e alcançava os céus. No mínimo vinte metros cada.

O chão era de pedra, assim como as paredes, e lascas enormes deformavam todos os lados. Algumas plantas cresciam entre as rachaduras. Os tributos olhavam ao redor, tentando encontrar alguma saída daquele círculo de paredes de pedra, mas não havia. Seriam todos mortos pelo bestante touro. Ele berrou, quando o cronômetro marcou 10 segundos.

Todos começaram a se desesperar, afinal não havia escapatória para aquilo. Quando o tempo zerou, o bestante saiu de seu lugar e se virou para todos, escolhendo sua vítima. Alguns desceram dos pedestais, mas ninguém ousou correr. Foi então que um dos Carreiristas, nas costas do Bestante, passou por ele sem que fosse notado e agarrou uma lança, usando-a para intimar o bestante. O touro se voltou para a ameaça e berrou, rodando o machado. Alguns tributos aproveitaram para ir buscar armas, suprimentos ou fugir. Lucy agarrou sua mão em meio a correria e Branly deixou-se ser puxada pela pequena.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Elas se afastaram e ficaram próximas a uma das paredes. Quando olhou para cima, notou que eram muito mais altas do que pareciam. Mordeu os lábios, procurando Adam pelos tributos que foram buscar os suprimentos, mas não o encontrou. Então, quando o bestante touro fincou seu machado no peito de um dos garotos próximos, o chão começou a tremer e as paredes se distanciaram. Uma abertura entre as rachaduras ao lado de Branly se formou, e ela olhou para os outros, enquanto a parte do piso onde estava se elevava às alturas. Lucy apertou ainda mais forte sua mão.

– Adam! – gritou, para baixo, olhando o irmão parado diante do abismo. – Adam! Não... Não!

– Calma – Branly a abraçou, mas Lucy estava chorando demais. Alguns dos tributos que também foram separados dos demais murmuravam pragas ou corriam para fora da plataforma, caindo sobre as paredes, a vinte metros de distancia do chão.

Quando a plataforma onde estavam parou de subir, olharam ao redor. Eram as únicas ainda lá, e havia apenas uma ponte ligando-as a outra plataforma adiante.

– Temos de ir – Branly chamou, mas Lucy continuou murmurando o nome do irmão e insistiu em ficar encarando o precipício.

– Não, temos de esperar ele.

– Não podemos. Alguma coisa vai acontecer se não sairmos daqui. – Brandon segurou seu pulso firmemente – São os Jogos. Não podemos ficar esperando que peguem leve conosco porque temos doze anos. Vamos.

Lucy a observou e então assentiu, correndo junto da aliada pela ponte. Quando estavam na metade dela, a plataforma que outrora as tinha levado até lá, ruiu, despedaçando. Branly sentiu que a sorte estava a seu favor, e puxou Lucy com mais força, até alcançarem o outro lado. Desta vez a plataforma era maior e ninguém parecia estar próximo. Olharam para baixo, para a queda de vinte metros, e então respiraram fundo. O Sol era intenso.

– Vamos ficar aqui, até algo acontecer, e então... – sua voz foi cortada pelo disparo de um canhão. E então outro.

Lucy estremeceu.

– Adam...

– Não! Não pense nele. Ele sobreviveu, está bem. Vamos encontrá-lo alguma hora, você verá. – e então olhou ao redor. – Isso só pode ser uma piada...

A frente, dos lados e atrás. As paredes continuavam por todos os lados, altas. Algumas mais altas que as outras, algumas movendo-se. Finas, grossas, elas formavam uma corrente, que não tinha fim. Era uma Arena interminável. Era um... Um...

– Labirinto – caiu de joelhos, sentindo uma leve brilha soprar o calor para longe.