30 Day OTP Challenge

Capítulo 01 - Only You


A noite já se tornara menos que um confuso borrão de pontos brilhantes no céu. Quanto de bebida tomara? Não sabia mais. Doses o bastante para atrapalhar os movimentos, bagunçar a fala e confundir os olhos. A ponto de desistir de caminhar pela floresta e jogar-se em um canto, encostado em uma árvore de onde podia observar o céu enquanto bebia direto da garrafa que roubara do estoque do pai.

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Não era a primeira vez que Stiles fazia isso: se embebedar para tentar afastar os sentimentos que o sufocavam. Mas era a primeira vez que fazia isso sozinho. Não queria Scott ao seu lado, falando que não tinha culpa do que acontecia, sem poder disfarçar a dor pela perda de Allison que embaçava o olhar do jovem Alpha.

O jipe jazia esquecido, praticamente abandonado no limite da reserva. Caminhar no silêncio da noite não o assustava, nem antes nem agora. Precisava beber sem ter a preocupação de colocar a vida de alguém em perigo, por isso se refugiara na solidão da floresta, acreditando-se inalcançável.

Não queria a companhia de ninguém. A não ser da culpa, da auto-acusação. Stiles sabia que não podia ser responsabilizado por tudo que fizera, pois estava sob domínio de uma criatura das trevas, mas mesmo assim; no fundo, a sensação não ia embora. Tal sensação permanecia em seu coração, como um dedo apontando e acusando: você deixou a porta entreaberta. Você criou a brecha... você o convidou a entrar. Não... você mergulhou na escuridão e o trouxe consigo.

Levou a garrafa aos lábios para um novo gole, mas o objeto foi rapidamente tomado de sua mão. Confuso, ficou olhando os dedos longos, magros e -mais importante- vazios. Franziu as sobrancelhas sem compreender o que acontecera até notar que alguém sentava-se ao seu lado, encostando-se igualmente ao tronco da árvore.

Derek. E o lobisomem segurava a garrafa de whisky.

– Ei... isso é... meu – Stilinski tentou protestar. As palavras saíram engroladas, lentas e engraçadas. Apesar da reclamação não fez nada para pegar a garrafa de volta, assistindo aborrecido enquanto Derek virava toda a bebida no chão.

Resmungou baixinho, enquanto encostava a nuca na árvore. Os olhos castanhos voltaram-se para o céu. Sorriu de leve.

– As estre... las... estão... dançando!

– Não. Você está bêbado – Derek respondeu seco.

Stiles virou-se para Hale. Estavam próximos o bastante para que se tornasse constrangedor em uma ocasião diferente. Mas em uma ocasião diferente Derek nunca ficaria tão perto do garoto. Talvez nem Stiles. Talvez.

– Sourwolf – o filho do xerife desdenhou, intimamente aliviado por ter conseguido pronunciar a palavrinha sem tropeçar nas letras.

Derek não disse nada, apenas observou a face corada do rapaz por breves instantes, ignorando o fato de que era observado de volta, apenas para finalizar a análise pouco discreta mirando aquelas íris chocolate borradas pela bebida, pela dor e solidão. Já tinha visto algo similar antes, quando perdera quase toda sua família no incêndio. Quando se culpara por não estar lá. Por sobreviver.

Sobreviver custava caro. Seguir em frente e enfrentar as conseqüências...

– Não vai... dizer que a culpa... não foi... minha? – Stiles perguntou chateado. Afinal, aquilo era o que mais ouvira nos últimos dias. Scott lhe dissera aquilo, assim como seu pai, a senhora McCall, Lydia... todos vivam jogando isso em sua cara, como se o garoto não fosse inteligente o bastante para saber.

A culpa não foi sua. O nogitsune estava no controle. A culpa foi dessa criatura. Stiles...

Stiles entendia isso perfeitamente, obrigado. Mas não sentia isso. Por mais que sua mente compreendesse a situação, seu coração ainda insistia em oprimir-se e auto flagelar-se segundo após segundo. Então que continuassem falando, falando e falando. Falando a troco de nada, pois Stiles não os escutava.

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Derek não disse nada.

O silêncio se prolongou por alguns instantes. Oprimido, Stiles abaixou a cabeça, amargurado, ferido. A companhia silenciosa que Derek Hale lhe oferecia foi efetiva, tocou o direto onde doía mais. Não pode controlar as palavras quando vieram aos seus lábios. Talvez nem quisesse.

– Ela olhou para mim... – confessou. Não tinha certeza se revelava para Derek ou para si mesmo o que tanto o assustava – A Allison... ela olhou para mim... ela sabia que... era o fim... e eu sabia também...

A voz tremeu nas palavras finais. Nunca conseguira colocar aquilo para fora e a sensação vinha consumindo-o como um tumor maligno. Naquele derradeiro instante em que a Argent fora ferida o tempo parecera desacelerar por um instante. E nesse ínfimo instante os olhares de ambos se cruzaram, com intensidade o suficiente para criar uma marca na alma de Stiles. Um mísero segundo que jamais esqueceria.

Stiles não tinha certeza do que refletia nos olhos de Allison através daquela mirada. Medo? Desespero? Dor? Decepção?

Sabia somente o que atravessara seu coração em igual proporção. Culpa. Culpa por não ter sido capaz de...

Nesse instante a reflexão do garoto foi cortada. Ele sentiu que uma mão grande e forte se entrelaçava a sua. E só podia ser de...

Chocado, Stiles percebeu que era a mão de Derek que segurava a sua. De um modo desajeitado e um tanto forte demais. Porém quente e sólida, confiante.

– Derek...

O lobisomem parecia um tanto sem jeito. Não era bom com palavras. E agora começava a achar que era péssimo com gestos também!

– Não vou dizer que não foi sua culpa – Hale começou no tom de voz um tanto neutro – Você já está cansado de ouvir isso e de saber disso.

– Eu... – Stiles começou a falar, mas sua mente estava um branco total. Derek virou o rosto e os dois rapazes se observaram. Havia um brilho nas íris esverdeadas... algo que Stilinski não teve certeza de como interpretar, mas que era bom. Sem dúvidas o olhar de Hale o envolveu e o aqueceu, tanto quanto os dedos de ambos entrelaçados.

– Pode sentir-se culpado se quiser – o mais velho foi dizendo – Mas não precisa passar por isso sozinho. Quero estar com você, se me deixar...

Stiles engoliu em seco, sem ter certeza do que dizer. O coração disparado e o rosto corado foi resposta mais do que suficiente pra Derek. O rapaz puxou a mão, segurando a de Stiles com firmeza, de modo que ele acabasse entre seus braços, aconchegado contra seu peito forte.

O garoto relaxou e se deixou acolher. O que Derek estava oferecendo era muito mais do que podia ter desejado. Ou imaginado se tornar realidade. E Stiles seria egoísta o bastante para aceitar. Sem pensar nas conseqüências ou implicações do ato de conforto. Derek mostrava que se importava o bastante para estar ali, apesar de tudo.

Pela primeira vez desde que a luta contra o Nogitsune começara e acabara Stiles permitiu-se mostrar o quão abalado e fragilizado ele estava, chorando silencioso nos braços e Derek.

E, igualmente pela primeira vez, ele pensou que talvez aquele brilho no último olhar de Allison destinado a ele não fosse medo, dor ou decepção.

Talvez fosse perdão.

Fim