Inferno

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Inferno

- Julieta!

Ele a vê em meio às chamas. Seu rosto se contorce em dor e sofrimento ao vê-la se retorcer ao ritmo das faíscas que a cercam.

Suas mãos, atadas por correntes, tão grossas quanto o corpo de uma anaconda, prendem-no contra a parede, impossibilitando-o de alcança-la.

Ela está tão perto... Se ao menos ele conseguisse se libertar, suas mãos conseguiriam atingi-la, tocá-la...

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Salva-la.

- Romeu!

Ecoa o seu grito. Contudo, as labaredas consomem o som, abafando-o, distorcendo-o. E tudo o que resta de seu lamento é o crepitar do fogo que a cerca.

Sua face, uma vez tão angelical, está contorcida em caretas de mágoa e dor. Sempre a dor.

Ela está queimando viva, mas não percebe, não se importa... Porque Romeu está logo ali, sofrendo.

E isso é pior do que qualquer coisa.

- JULIETA!

Ele a ouvira... A voz de sua amada, daquela por quem ele dera e daria mais um milhão de vezes a sua própria vida.

As correntes deixam suas mãos em carne viva enquanto ele luta para se libertar, cortando-o, dilacerando-o. Porém, nada em todo esse Inferno poderia machuca-lo mais do que ver sua Julieta morrer, sem que ele possa fazer nada para impedir que isso aconteça.

Ele está tão desesperado, há tanto tempo, que não conhece outro sentimento que não este.

Ele está se afundando em tormenta... Mas quem liga?

Julieta está logo ali. Talvez se ele se esforçar um pouco mais, suas mãos possam tira-la dali...

Mas ele sabe que sua esperança é vã.

- ROMEU!

Ela tenta atravessar correndo o fogo, as chamas lambendo seus calcanhares. Porém, por algum estranho motivo, por mais que ela corra, não consegue sair do lugar.

Julieta grita de frustração, deixando que todas as suas emoções escorram por ele. Sem que ela queira, seus olhos se enchem de lágrimas. Ela tenta se convencer de que é devido à fumaça, mas sabe que não é.

Com um esforço que ela jamais havia feito em vida, lança seus pés sobre o incêndio, forçando-os a continuarem correndo, mesmo que sangrando e ardendo.

Durante anos ela corre, sem parar para descansar ou reclamar, nem mesmo respirar. Afinal, de que adianta qualquer uma dessas coisas quando se está morta?

Ele a vê se aproximando cada vez mais. Seu coração se acelera involuntariamente. Sua respiração, ofegante. Sua mente pensando o quanto ela ainda o ama apesar de tudo. E no quanto ele ainda a ama. No quanto ele sempre a amaria.

Seus braços se flexionam, pois ele sabe que não há muito tempo. Ela vai chegar, e ele quer conseguir abraça-la de volta.

Aquelas correntes, grossas e pesadas como chumbo, não são reais, apesar de parecer. (Pelo menos, é disso que ele tenta se convencer ao fazer força para quebrá-las.)

Seus dentes estão trincados, e por sua testa escorrem gotas de suor, devido ao esforço.

E de repente, como num passe de mágica, os grilhões se rompem da parede.

Romeu está perplexo, mas não deixa que o sentimento o cegue nem por um instante.

Pois Julieta está na sua frente, e, agora, a perplexidade é o sentimento com que ele menos se importa.

Ele olha nos olhos dela, e ela não consegue evitar o riso ou as lágrimas de escorrerem.

As mãos dele estão em suas costas, pressionando seu corpo contra o dele. O cheiro dele invade suas narinas, misturado com o de cinzas e suor.

Os dois sabem que não há muito tempo.

Os dedos dele traçam-na desesperadamente, querendo sentir todas as suas curvas antes que o tempo se esgote… Ela faz o mesmo, pois sabe que inevitavelmente esse momento acabará.

De repente, suas mãos encontram o caminho para o rosto dele, puxando-o em direção ao dela. Seus lábios se tocam em um beijo que deve acabar a qualquer instante…

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Uma risada maligna ecoa, vinda de lugar nenhum, mas de todos os lugares ao mesmo tempo. É fria e aguda, capaz de gelar todo o fogo daquele Inferno.

As chamas se apagam, e o que resta é apenas a escuridão.

Como ímãs de pólos opostos, Romeu e Julieta são puxados, cada um para seu próprio canto, por demônios alados.

O fogo recomeça.

Ele está preso em suas correntes.

Ela queima.

O dois gritam o nome uns dos outros.

Como planejado no castigo a que foram condenados.

Isso era como um ritual. Durante séculos, eras, éons, aquilo se repetiria. Eles poderiam se ver, ouvir os gritos de desespero que cada um deles dizia... Porém, sem nunca ter paz, tranquilidade, sentir a paixão que um dia os consumira tão desesperadamente se acalmar.

Nunca poderiam se tocar por mais tempo do que o necessário para se lembrar de como era.

E isso tudo era um Inferno.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.