A Raposa & A Fada

Guerra de travesseiros


Lydia e Edgar tinham se casado há pouco tempo. Ele andava radiante, quase nunca o via mal-humorado, ria até para os inimigos. Sempre foi vaidoso, mas desta vez, ele caprichava em cada detalhe. E só havia uma razão para isso: Lydia.

Enquanto isso, a fairy doctor se acostumava com toda aquela pompa e circunstância. Outra coisa que ela tinha certa dificuldade eram os detalhes bobos da realeza. Mas ela lutava bravamente. Quanto ao perímetro intimidade, Lydia também tentava se adaptar com a proximidade de Edgar todos os dias. Não que era puritana, mas como foi educada a ser discreta, ponderada e sincera, às vezes, aos olhos da condessa, o marido extrapolava. Mas, para os dois, estar juntos significava algo como uma bênção. Sejam nas noites de frio, nos passeios corriqueiros, nas festas enfadonhas, nas tarde ensolaradas, no dia a dia. Sempre que podiam, almoçavam juntos, jantavam e muitas xícaras de chá foram compartilhadas antes de dormir.

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Conversavam até tarde. Muitas dessas conversas evoluíam para beijos, abraços, afagos e algo mais. Era tudo tão natural, que a princípio, mesmo para Lydia, uma garota criada dentro dos parâmetros vitorianos, o clima fluía tão suave e sensual que, quando percebiam, estavam no meio de um rodamoinho de emoções. E sim, eles adoravam pregar peças entre si. Naquela manhã não seria diferente.

Era o final do verão, a estação preferida de ambos, portanto, aproveitavam o quanto podiam. Principalmente aos fins de semana, que tanto as obrigações de Edgar como o trabalho de Lydia podiam esperar até a segunda-feira. Era sábado, e com certeza, eles poderiam dormir até mais tarde. E assim o fizeram. Tinham voltado tarde de uma daquelas festas tediosas da nobreza que era preciso dar às caras. Antigamente, até Edgar gostava, mas agora, casado com Lydia, a sua vontade era ficar ao lado dela. Também, foi tão difícil conquista-la que queria suprir toda aquela espera.

Edgar ressonava tão tranquilo que nem percebeu que Lydia estava começando a despertar. Ela abriu os olhos lentamente e tentou reconhecer o lugar: “Ah, sim, aqui é minha casa agora!”. Estava envolta pelos braços dele, sendo que continuava calmo e tranquilo. Era raro vê-lo assim, digo, quieto e calmo. Com jeitinho, ela virou-se com delicadeza para não acordá-lo e começou a acariciar o rosto do rapaz. Ele tinha uma beleza tão clássica. Parecia que tinha saído de uma pintura, como se fosse planejado antes mesmo ser “feito”. Sabe-se lá que tipo de magia ou algo sobrenatural os pais tinham praticado. Sua pele era macia, mesmo despontando alguns fios da barba que era tão clara quanto os cabelos. E de repente, ele sorriu de canto de boca. Ela também sorriu enternecida. Logo, a fairy doctor que há algum tempo atrás vestia a máscara de uma mulher durona, estava agora toda derretida.

E de uma forma sapeca, ele abriu um dos olhos.

— Então, o senhor fingiu que estava dormindo?

— Não, necessariamente, disse com certo deboche, agora com os dois olhos abertos.

— Percebo que me casei com um ator...

Ele tentou se espreguiçar. Digo, tentou porque seu braço direito estava embaixo das costas de Lydia. E o que pior, formigava como louco, parecia dormente.

— Ly, você poderia...

— Desculpe-me, meu amorzinho. – disse enquanto se levantava e ia para beirada da cama.

Ele começou a chacoalhar o braço com intuito que a dormência desaparecesse, mas nada!

— Acredito que depois que nos casamos, você engordou...

— Como que é? – ela perguntou entre indignada e divertida.

Agora ele estava sentado, disfarçando a dormência que custava a passar, encostado na cabeceira da cama, tendo um travesseiro como apoio e com as pernas sobrepostas uma sobre a outra.

— É... Então, como você me explica que meu braço ficou assim?

Ela fez uma expressão zombeteira, apanhou o seu travesseiro e jogo na cara dele.

— Oh!! Essa é uma provocação, mocinha?

— Considere como quiser...

— Ah, é? – o marido aproveitou que ela estava virada de costas para ele, a acertou em cheio.

A garota virou-se lentamente para o conde e perguntou:

— Isso é uma guerra?

Ele deu de ombros com um sorriso traquina e respondeu:

— Considere como quiser...

A fairy doctor não pensou duas vezes, revidou com o travesseiro, agora no peito do marido. Ele não perdeu tempo, pegou o que estava nas suas costas e daí partiram para uma “batalha”.

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Ele avançava sobre ela, e Lydia ria fechando os olhos tentando desvencilhar dos golpes do marido. E começaram a “guerrear” pelo quarto. E daí, a garota correu para cama de novo e subiu nela, jogando os outros travesseiros sobre ele. Quando o conde ameaçou a subir, Lydia soltou um gritinho e correu para outro lado.

— Agora você não me escapa! – alertou-a contornando a cama para “enfrenta-la” do outro lado.

Ela soltou outro gritinho e pulou para o outro lado, enquanto que o rapaz ria descontroladamente. Mesmo assim, o jovem conde correu em direção à esposa, que agora estava preparada com outros dois travesseiros. Mas, quando ela foi “aterrissar”, quase caiu. Ele a amparou. Entre risos dos dois, quase sem fôlego, Edgar sugeriu:

— Chega, né?

— Que nada! – Agora ela acertou em cheio a cabeça do marido. Ele meio tonto conseguiu desvencilhar.

Enquanto isso, três toques foram dados na porta. Mas eles ouviram? Imagine! E o casal ainda corria de um lado para outro guerreando com os travesseiros. Mais três toques e aí, Edgar disse:

— Pode vir!

Só que o conde estava desafiando a esposa, em frente à porta. Mas, o mordomo, do outro lado, acreditou que esse era o consentimento do rapaz para que entrasse. Enquanto isso, Lydia mirou o travesseiro contra Edgar e jogou contra ele. O marido se abaixou, e nesse exato momento, ele foi parar justamente na cara de Tompkins, o mordomo.

Quando Edgar se virou e viu que o travesseiro tinha atingido o pobre mordomo sereiano, caiu ao chão gargalhando como um doido. Lydia se escorou no biombo enquanto dava seu ataque de risadas.

Mas aí, a jovem condessa percebeu que... Estava de camisola e sem ceroulas. E, diga-se de passagem, a vestimenta era de um algodão tão fino, quase transparente. Quando a fairy doctor percebeu num lapso sua situação, levou a mão à boca e correu para trás do biombo.

Tompkins ainda meio atordoado esperava alguma reação do jovem conde, que então, falou de forma divertida:

— Ora, Tompkins, não vê que estamos discutindo assuntos de Estado? Bata na porta, não?

O pobre mordomo só pode falar:

— Perdoe-me, meu descuido, milord!

— Tudo bem, meu caro Tompkins, deixe-nos terminar esse assunto tão importante, e logo mais o chamaremos. – disse o conde Ashenbert descabelado, de camisola sem ceroulas e fazendo uma mesura como fosse um ator bufão.

O mordomo sereiano fez uma reverência, e saiu fechando a porta. E assim que Tompkins deixou os aposentos, os Ashenbert voltaram a “guerrear”. Quando o mordomo chegava ao pé da escada, pôde ouvir a condessa dando mais gritinhos, entre as risadas do casal. E parecia que a “guerra” não iria terminar tão cedo. Tompkins sorriu e balançou a cabeça enquanto descia as escadas.

Aos olhos da sociedade britânica, os Ashenbert eram respeitadíssimos, mas mal sabiam que na sua intimidade, eles brincavam como duas crianças. Algo que se a Rainha Vitória desconfiasse, iria morrer de inveja!

Fim!