Candidatos a Deuses

Capítulo 7


Ainda levou algum tempo até Softhe se juntar a L no buffet. Chegou entretanto a hora do teste de condição física e as duas raparigas acabaram por não se conseguir encontrar com Tech e Dest antes de eles seguirem para a entrevista.

– Achas que essa rapariga que conheceste, a Bella, estava a falar a sério quando disse que o teste era puxado? – perguntou Softhe, inquieta, enquanto se diriam para a sala onde seria feito o teste.

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– Talvez ela tenha só exagerado – sugeriu L.

– Espero que sim – murmurou Softhe, ainda não completamente convencida.

– Mas, conta-me – pediu L – Como foi a tua entrevista?

Softhe encolheu os ombros.

– Normal, diria. Perguntaram-me porque queria ir para Atlantis, perguntaram-me sobre os meus pais e sobre as notas na escola e pronto, mandaram-me embora. E a ti, como foi?

– A mesma coisa – disse L, vagamente, sem querer explicar à amiga tudo o que acontecera. Confiava em Softhe, mas havia coisas que L preferia manter apenas para si. L não gostava de espalhar o seu sofrimento e as suas preocupações pelos outros, para mais quando se tratavam dos seus amigos. Eles não mereciam isso.

Por outro lado, Softhe sabia que a amiga estava a esconder alguma coisa. Conhecia-a o suficiente para saber. Porém, também sabia que não valia a pena insistir ou preocupar-se com esse assunto. Quando Softhe confrontara a amiga e lhe perguntara se não confiava nela, L respondera:

– Não se trata de confiança, Sofia. Trata-se de eu não querer que fiques triste ou preocupada com um assunto que não te diz respeito. Ficarás triste por mim e eu não quero isso. Sou tua amiga, quero que te sintas bem. Quero fazer com que te sintas bem. E não é partilhando contigo os meus problemas que isso vai acontecer. Portanto, não insistas.

E Softhe não insistira.

A quem ia fazer o último teste, o de condição física, pediram que entrasse numa sala quadrada, com chão de mármore, grandes janelas e uma parede completamente forrada por espelho. Parecia um estúdio de ballet. No centro da sala estava um homem alto e musculado, com Bella alguns passos atrás e ao lado dele. A rapariga dirigiu um pequeno sorriso a L, que o retribuiu.

– Okay, chega de conversa! – ordenou o deus, muito direito e de mãos dadas atrás das costas – Vamos agora começar o teste de condição física e não admito menos do que ótimos resultados.

L e Softhe trocaram um pequeno olhar preocupado. Parecia que, afinal, Bella não tinha exagerado.

– A cada nome que chamar, vocês entregam a folha de inscrição à Bella – disse, fazendo um gesto para a rapariga loira – para ela assinar. E depois fazem exatamente o que eu disser! Se eu disse “senta”, vocês sentaram-se, se eu disser “rebola”, vocês rebolam e se eu disse “ladra”, vocês ladram. Sem discussão! Estamos entendidos?!

– Sim, senhor! – exclamaram algumas vozes nervosas, como se estivessem no exército.

– Então vamos começar – decidiu ele, virando-se para Bella.

A rapariga olhou para uma prancheta que tinha na mão e chamou:

– Gina.

Toda a gente se virou para a rapariga de cabelos negros que estava atrás do grupo, de cabeça baixa e com os polegares enganchados na cintura das calças de ganga negra. As pessoas mais próximas dela afastaram-se alguns passos e, quando ela avançou, um corredor largo abriu-se na sua frente. Podia parecer uma cena saída de um filme, mas a verdade era que ninguém ficava indiferente à aura fria de perigo e ameaça que a rapariga transmitia.

Gina avançou lenta e despreocupadamente pelo corredor que lhe fora aberto, entregou a folha de inscrição a Bella, e depois colocou-se na frente do deus.

– Parece que saíste de um filme de terror de má qualidade – disse o deus, nada intimidado pela rapariga – Aposto que passas o tempo toda sentada no sofá.

Gina não respondeu, mantendo a cabeça baixa enquanto olhava o deus através das pestanas.

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– Não falas, tu? – insistiu o deus – O gato comeu-te a língua?

Gina limitou-se a inclinar a cabeça para o lado.

– Ah, que seja – resmungou o deus – Levanta os braços.

Gina ficou um segundo imóvel, os seus ombros descaíram levemente como se tivesse libertado um suspiro, e depois estendeu os braços acima da cabeça, revelando a pele pálida dos pulsos e a arrepiante pulseira em forma de cobra.

O deus olhou Gina algum tempo, deu uma volta em seu redor para a observar de todos os ângulos, e depois poisou-lhe uma mão nas costas curvadas dizendo:

– Endireita-te, rapariga, essa não é a posição de…

E depois soltou um grito, quando a rapariga se virou de repente, agarrando-lhe no pulso e lhe torceu violentamente o braço atrás das costas, fazendo o deus ajoelhar-se no chão.

– Não. Me toques. – disse Gina, lenta e deliberadamente, numa voz fria e baixa, mas muito suave e bonita, o seu olhar verde fixo no do deus.

L, Softhe, Bella e todos os outros soltaram um arquejo de espanto.

Nunca, jamais, um humano seria capaz de subjugar um deus. Mas Gina fizera-o. E o deus nem sequer parecia importar-se com isso, olhava para Gina como se hipnotizado, encantado, deliciado… como se a venerasse. L conseguia compreender porquê. Toda a lentidão de gestos de Gina desaparecera e ela parecia uma chita, ágil e forte, pronta a atacar.

Mas tudo durou somente um segundo. Logo Gina soltava o deus, recuando alguns passos, voltando à sua pose encurvada e com os cabelos negros na frente da cara. O deus levantou-se lentamente, ainda a fixá-la de modo estranho.

– Okay – murmurou ele – Podes ir.

E Gina arrancou das mãos de Bella a folha assinada e saiu da sala, sem sequer olhar para trás, para os olhares admirados e chocados que lhe queimavam as costas.

– Aquilo foi… mesmo muito estranho – murmurou Softhe, de boca escancarada.

– Podes crer – murmurou L.

– Vamos continuar – pediu o deus, batendo as mãos.

L e Softhe não tiveram mais tempo para se preocupar com Gina, quando os seus nomes foram chamados. Também o deus lhes pediu que levantassem os braços, corrigiu umas coisas na sua forma de estar, e depois pediu-lhes que realizassem vários exercícios, que avaliavam a força, a flexibilidade e o equilíbrio.

– Amanhã não me consigo mexer – gemer Softhe, rodando os ombros doridos.

– Podes crer – concordou L – Que tal se voltarmos ao centro comercial e formos lanchar? Já começo a ficar com fome.

– ‘Bora! – aprontou-se Softhe.

As duas seguiram para o centro comercial a pé, conversando alegremente, livres da tensão dos Testes. Agora teriam apenas de esperar, para ver os resultados. E, com eles, saber se teriam ou não sido aceites na escola Atlantis.