Scape

Prologue


Meus pais, Joshua e Amanda Hill, casaram-se conformados com a impossibilidade de terem filhos. Minha mãe tivera ao todo 4 abortos espontâneos o que lhe causara sofrimento suficiente para parar de tentar.

Certa tarde, enquanto meu pai cortava a grama do jardim e minha mãe desenformava um bolo de chocolate na cozinha, um garotinho sujo de roupas queimadas entrou pela porta aberta dos fundos. Ele esperou até que minha mãe estivesse distraída o suficiente lavando a forma e caminhou silenciosamente para o lado oposto do balcão. Em um movimento rápido, subiu na banqueta para conseguir roubar um pedaço, pegando-o ainda quente e saltando em seguida para seu esconderijo embaixo do balcão. O cheiro do bolo de chocolate imediatamente fez o estômago do garotinho se contrair tamanha a fome que ele estava. Suas pequenas mãos nem se incomodavam com a ardência. Ele não fazia ideia de quando tinha sido sua ultima refeição e a primeira mordida fora como um oásis no deserto.

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Quando minha mãe se virou para o bolo percebeu que claramente faltava um pedaço. Ela abriu a janela que dava para o jardim e chamou pelo meu pai. Para ela, os ratos haviam voltado. Nesse curto espaço de tempo o garotinho já havia pego mais dois pedaços, um em cada mão. Josh entrou pelas portas dos fundos a tempo de ver uma pequena mãozinha avançando em seu quarto pedaço. Amanda também estava virada para o balcão e viu a cena. Atônitos, ambos trocaram um olhar de rabo de olho e meu pai foi o primeiro a se mexer. Sem muito alarde, andou com passos curtos até o outro lado do balcão. Minha mãe o seguiu, passado o choque, e o que ela viu despertou completamente seu instinto maternal.

De boca lambuzada e grandes olhos castanhos expressivos, estava um garotinho magrelo e assustado encolhido no chão, com um pedaço de bolo de chocolate ainda na mão. Ele não devia passar de 5 anos e mesmo sem nenhum ferimento, suas roupas queimadas o faziam parecer que tinha acabado de sair de um incêndio.

Tanto meu pai como minha mãe o acolheram como um filho, e, quando a polícia deu o caso de busca pelos pais do garoto por encerrado, eles o adotaram legalmente e o criaram com todo o amor que podiam. Seu nome era Oliver.

Logo em seguida eu nasci.

Os médicos acreditaram que era um milagre, porém, nenhum deles sobreviveu para contar a história. Todos os que trabalharam no meu parto morreram logo em seguida. O estranho acontecimento chegou a repercutir no país inteiro. Todos morreram por problemas cardíacos.

Meus pais e os céticos acreditavam piamente que tudo não passava de uma fatal coincidência, todos deram o fato por esquecido depois de um tempo. Todos menos Oliver.

Oliver sempre soube que havia algo de errado comigo. Ele era uma criança excepcional, inteligente, carismático e até mesmo sedutor desde pequeno. Não havia uma vizinha que não caísse de amores pelo garoto pálido de cabelos pretos, principalmente enquanto ele foi crescendo, e, mesmo apesar de todas essas qualidades, ele nunca se aproximou de mim.

Nunca é uma palavra muito forte. Houveram pouquíssimas tentativas. A primeira de que me recordo foi quando eu tinha uns 8 anos e era verão em Lexington.