As mãos da Rainha

Capítulo 3 - Rainha Veranda


No último capítulo de “As mãos da rainha”

– O que pensa que está fazendo? - uma voz a repreendeu. Sofi virou-se lentamente, ainda com a mão na maçaneta da porta fechada. Rainha Veranda estava parada vermelha de raiva na porta do quarto. - Quem você pensa que é?

***

– Estou conhecendo seus aposentos, senhora. – A mente de Sofi improvisou. Droga, acabei de chegar e já irritei a rainha. Repreendeu-se, sabendo que toda a situação era completamente inevitável, afinal sua personalidade sempre gerava situações como aquela. Desde criança levava broncas em cima de broncas por meter o nariz onde não devia. Sua mãe sempre lhe dizia que um dia ela iria se colocar em uma situação que lhe custaria caro.

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Acho que chegou a hora.

– Como assim, conhecendo meus aposentos? – ironizou Veranda. Sofi mal percebeu a presença de outro serviçal ao lado da rainha. Só conseguia focalizar o olhar irritado da soberana.

– Muito bem, eu não sei ao certo o que irei fazer, – riu sem graça – mas sei que serei sua dama. Presumi que deveria saber onde estão suas coisas, para melhor servi-la. Sei que devo parecer intrometida aos seus olhos, porém meu único desejo é superar suas expectativas e ... – contudo, antes de concluir sua desculpa de última hora, foi interrompida.

– Tentando entrar no quarto do meu marido? – estufou-se. – Se seu desejo é crescer aos olhos do rei, o seduzindo, pode perder as esperanças. Você só vai conseguir perder sua cabeça por traição.

A boca de Sofi abriu em descrença. Como a rainha pode concluir que ela queria seduzir o rei? Seduzir? Dentre todas as acusações, essa sem dúvida era a mais ilógica e absurda. – Não, majestade! – defendeu-se – A senhora entendeu errado, eu nem sabia que essa porta chegava ao quarto do rei. Eu nunca poderia fazer tais atos! Estou aqui para servi-la! Lutei arduamente para chegar até aqui, não jogaria tudo fora por algo assim. É ilógico. Sou completamente fiel a senhora. Juro!

– Abgail, está dispensada. Pelo que percebi, terei muito trabalho com esta aí. – a serviçal, curvou-se perante Veranda e saiu do quarto sem uma palavra, fechando a porta em seguida. Parte da mente de Sofi temeu pelo que haveria em seguida, mas a outra metade tentou achar respostas para a função da serviçal. Ela acreditou que sua mente estava somente tentando escapar do medo que a aprisionava, como sempre acontecia em situações do gênero. Ficou imaginando se a rainha havia dado alguma ordem ou instrução no trajeto, talvez sobre o jantar ou algum vestido a ser feito. Seus pensamentos de escape foram interrompidos pelo inevitável presente. Mas isso a acalmou, permitindo um pouco de clareza em meio ao medo. – Não tente dar uma de espertinha. E espero que no futuro a senhorita não se refira as minhas ações e palavras como ilógicas. Sou sua Rainha. Não pense que esquecerei, por mim mesma você voltaria direto pra casa somente pela audácia de tentar me enrolar. Se o rei descobrir, seu destino pode ser ainda pior!

– Eu não estava te enrolando.

– Silêncio! Eu estou falando. E quando sua rainha fala, você escuta. Estamos entendidas? – Sofi queria chorar. Deitar no chão e espernear. Se bater, até. Mas não podia, infelizmente. Invés, sorriu docemente e concordou se desculpando. – Muito bem, parece que talvez possamos nos entender, afinal. Eu sei que você não ousaria seduzir meu marido. Você não me parece burra. Somente ingênua e intrometida. Eu só... esqueça. Não preciso dar satisfações. – Veranda respirou profundamente. Algo na rainha a incomodou, e não era seu tom de voz ou seus olhos. Porém não sabia o quê, ao certo. – Espero que guarde meu conselho. Não se intrometa demais, pode custar caro. – O tom de voz mudou completamente na última sentença. O aviso e até medo eram palpáveis nas palavras da Rainha. Medo por Sofi, o que fez a jovem dama ficar ainda mais confusa.

– Sim, senhora. Não me intrometerei. Peço perdão por antes. Nunca quis irrita-la. E nunca quis criticar seus atos. Sinto muito!

– Muito bem. Chega disso. Vamos ao que interessa. Suas funções. – rainha Veranda dirigiu-se até a mesinha e sentou-se em uma das cadeiras. Logo em seguida convidou Sofi a se juntar a ela. Ficaram uma de frente para a outra. Sofi nunca havia visto uma mesa com a superfície de vidro. Já havia percebido este fato quando explorou o quarto assim que chegou, mas nunca imaginou a sensação de sentar e poder ver seus pés através da mesa. Ou colocar algum objeto sobre a superfície transparente. Como se estivesse flutuando. – Suas entrevistas foram bastante interessantes. Seus testes de movimentação motora também. Me responda, Sofi. Você realmente pode tocar piano?

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– Sim, majestade. Posso. E um pouco de violino. Mas muito pouco. – informou orgulhosa. Pela primeira vez vislumbrou o sorriso de Veranda. Um conjunto perfeito de dentes brancos. Por um segundo, que foi a duração do sorriso, Rainha Veranda ficou mais bela do que qualquer coisa que Sofi já vira, ela invejou sua beleza. Porém o segundo seguinte foi banhado com uma tristeza tão profunda que chocou a menina. A dor da rainha era quase palpável. – Rainha Veranda, a senhora está bem?

– Sim, estou. – recuperou-se. Conter a tristeza pareceu ser quase impossível. Ainda mais doloroso. Sofi visualizou claramente a nova mudança da rainha. Seus olhos endureceram. Agora Sofi não sentia nenhuma inveja. Sentia compaixão. Algo sombrio habitava o passado da rainha, algo que trouxe um terrível sofrimento. Agora, a amargura e rigidez da soberana não afetavam mais Sofi. Alguma coisa, relacionado à musica, talvez, destruiu a mulher na sua frente.

Sofi percebeu em um impulso. Essa não. Não havia escapatória. Ela precisava saber o quê.

– Então, - tentou distrair sua mente, mesmo sabendo que não haveria escapatória. Sofi se conhecia muito bem. Sua curiosidade sempre ganhava da razão. Ou do senso de sobrevivência. – o que exatamente irei fazer?

– Você será minhas mãos. – respondeu imediatamente.

– Suas... mãos? Como assim?