Capítulo Oito

Eu passei a hora do almoço sentindo falta do meu homem. Deus como eu o amava, como eu sentia falta de seu cheiro. Pensei em ligar, ou deixar uma mensagem, mas abandonei aquele pensamento pelo mesmo motivo que sempre abandonava. Mandei uma mensagem para Vanessa, falando de como tinha sido minha viagem. Claro que me resumi a "Me diverti muito, realmente valeu a pena." Falando em mensagem, meu irmão me disse que os amigos dele haviam me amado. E ninguém disse que eu era velha. Aquilo me fez ganhar o dia. A resposta da mensagem que eu mandei para Vanessa veio mais tarde.

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Ela se desculpou dizendo que estava atendendo um paciente e que não parava por nada. Notei que eu contava as coisas para ela como se ela fosse minha psicóloga ou como se tivesse a obrigação de achar minha vida interessante. Decidi que pararia de mandar mensagens para ela, a não ser que ela me mandasse primeiro. E se íamos ser amigas, era justo que meu marido soubesse da existência dela. Deixar tudo obscuro daquela maneira era ridículo, como se eu tivesse algo a esconder. Não tinha.

A noite, quando fui encontrar com Matheus, ele foi um pouco confuso:

–Como foi o seu fim de semana? -Eu perguntava deitada sobre ele no sofá.

–Foi ótimo. E o seu?

–"Foi ótimo" é uma descrição muito pobre. O que fez?

–Saí com o pessoal, dormi na casa do Diego. Ele tinha cerveja, uns games legais. Acabou todo mundo indo pra lá. -Matheus tinha uns amigos muito esquisitos. Alguns eram médicos também, e outros eram vagabundos que viviam não sei com qual dinheiro. Diego era um deles. E totalmente contra o nosso casamento. Dizia que eu estava estragando os melhores anos da vida de Matheus toda vez que ficava bêbado nos churrascos daqui de casa. Matheus sabia que eu não gostava muito dele. Mas relevei.

–Eu me diverti tanto! Andei de bike, saí com meu irmão, conversei com minha mãe... Revi um pessoal de muito tempo atrás. -Ele sorriu e eu também. -Acha que foi bom pra nós?

–Acho que sim. -Ele respirou fundo. -Só quero que tenhamos a oportunidade de ir pra Serra um dia desses. Penso insistentemente nisso.

–Estou vendo. -E rimos. -Sabe, no dia em que eu saí acabei conhecendo uma mulher num bar. Ela é bem legal, a Vanessa. É psicóloga... -E lésbica. Porque eu não terminei a frase? Não havia nada de errado. Eu dizia a mim mesma, e ainda sim não verbalizei.

–Ah, que legal! -Ele falou sem sinceridade alguma. -Mais uma amiga. Talvez alguns dos rapazes gostem dela. -Os amigos de Matheus eram como urubus sobre as minhas amigas, eu já nem argumentava sobre isso. Só que com aquela eu acho que eles não teriam muita chance. Aqueles solteirões convictos de trinta anos.

–Ela é legal. - completei. -Temos conversado um bocado.

–Tem visto o gato? -Ele perguntou subitamente.

–Não... Porquê?

–A comida dele não está mexida faz um dia inteiro. -Respondeu. Eu estava sem paciência para aquilo. Eu tentava, mas a cada dia ficava ainda mais indiferente àquele gato.

–Ah... -Foi o que eu disse. -Vamos dormir? -Dormimos depois de fazer amor. Significava trégua, pazes, saudade e eu fiquei feliz em dormir abraçada com ele de novo. Parecia que a gente não dormia assim há meses. Meses não. Pela nossa distância, pareciam anos, décadas. E eu gostava tanto daquela proximidade!